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sábado, 25 de maio de 2024

A resposta psiquiátrica à crítica contracultural

“Em primeiro lugar, o establishment, que a princípio ficou desconcertado com tantos problemas que não conseguia resolver, e que se sentiu aliviado, em alguns casos, por descartá-los, não demorou a montar uma contra-ofensiva. A crise passou, o sistema recuperou o controle da situação ao garantir que as leis que regem os padrões institucionais e profissionais no campo paramédico fossem mais rigorosas, tornando as concessões de ajuda financeira dependentes da prova de competência profissional (presumivelmente monopolizada pelo próprio sistema médico); e ao criticar e repudiar membros da profissão que se comprometeram ao se envolverem profundamente em atividades supostamente subversivas, os médicos estão agora de acordo geral que os “abusos” dos anos 60 devem ser lamentados e que a psiquiatria deve permanecer segura no seu nicho médico." (pág. 301-302).

"A saúde mental comunitária sobreviveu através do desenvolvimento de novas técnicas como a intervenção em crises, a psicoterapia de curto prazo, formas sofisticadas de aconselhamento para pessoas em posições de responsabilidade, e assim por diante. O problema era redefinir a relação entre a profissão psiquiátrica e a população, de modo a permitir a extensão dos serviços a novos grupos da sociedade: era necessária uma série de técnicas de intervenção específica e rápida, dirigidas mais aos sintomas do que à etiologia dos problemas subjacentes e concebidas para trabalhar tanto o ambiente como o equilíbrio interno do indivíduo, técnicas que dispensavam entrevistas prolongadas e que se centravam na neutralização de conflitos potencialmente explosivos. Esta nova ênfase representou uma ruptura com as noções tradicionais de técnica, mas não uma rejeição da técnica como tal. Na verdade, resultou numa renovada insistência nas virtudes do conhecimento especializado enraizado nos conhecimentos básicos ensinados pelas escolas médicas e que exigem uma longa aprendizagem profissional". (pág. 301-302)

Capítulo O MUNDO PSY. A sociedade psiquiátrica. Castel, Castel e Lovell.

[A questão da competência técnica, evidências validadas e a profissionalização utilizada nas práticas baseadas em evidências (medicina baseada em evidências e psicologia baseada em evidências) é semelhante à contraestratégia de reconquista de influência pela psiquiatria biológica após a críticas da contracultura nos anos 60. De forma semelhante, é possível utilizar essa proposta para restringir a influência da perspectiva crítica com ênfase social ou biológica.]

quarta-feira, 22 de maio de 2024

Significado explícito de estabilidade de dose

O significado explícito de estabilidade de dose é:

Estabilidade de administração de curva de dosagem suficiente.

Detalhando mais a variável temos mais duas variáveis: 

o nível mínimo da curva de dosagem

o grau de variação da curva de dosagem

É considerado um requisito necessário para a "compensação e estabilidade do quadro ou estado psiquiátrico orgânico".

terça-feira, 21 de maio de 2024

Saúde e doença: aprendizagem operante vs. medicalização

As concepções de saúde e doença segundo a aprendizagem operante e a concepção médica diferem quase que por oposição:

Na concepção de aprendizagem operante:

A vida é um processo difícil em que o ser humano vive sem aprender os pré-requisitos necessários (classes de comportamento operante).

Logo, a saúde é construída ativamente através da aprendizagem.

Na concepção médica:

A vida é um processo fácil para as pessoas intactas.

Logo, a saúde ocorre naturalmente sem necessidade de construção ativa de aprendizagens. Se houver esforço e dificuldade há patologia.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Reforma psiquiátrica: comunidades multiculturais versus incorporação

A reforma psiquiátrica e luta antimanicomial analisada do ponto de vista sociopolítico é a busca da criação de uma comunidade multicultural da loucura com subsídios públicos, um padrão de esquerda.

A crítica que se faz à adaptação é a rejeição da incorporação à sociedade majoritária por ser vista como opressora e excludente para pessoas diferentes (fobia ao diferente).

A concepção de direita da loucura é que deve ser corrigida para possibilitar incorporação na sociedade majoritária. Por isso a ênfase nos tratamentos biológicos. Uma vez que possa haver dificuldade de incorporação recorre a formas de lidar com a exclusão.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Transtornos mentais e padrões sociais

Para uma compreensão social das atribuições de transtorno mental como domínio de experiência seria preciso ampla compreensão de valores sociais, expectativas culturais, normas sociais, relações de poder e outros fenômenos sociais. Usos da razão, usos do corpo, valores estéticos, padrões de religiosidade, costumes, normas de higiene, expectativas de gênero, usos linguísticos, senso crítico sobre colonialismo, experiências de privação econômica e seus motivos, e muito mais. Felizmente essas caracterizações difíceis são substituíveis por acessíveis descrições de contingências de reforçamento e suas condições de satisfação ou modificação.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Ficções e controle instrumental material: integração

Mesmo se conceitos sejam ficções do ponto de vista ontológico (Meinong), os mesmo ainda retém algum grau de relações instrumentais de controle material do mundo (operar sobre variáveis materiais). Ficções contribuem para construir ambientes culturais materiais. No entanto, descrições conceituais ficcionais mantém relações diluídas com as relações instrumentais mesmo que seja apenas agir de acordo com um entendimento que contribui para a predição em algum grau. Para solucionar problemas de forma mais efetiva é desejável ter domínio da linguagem extensional das relações instrumentais de controle material ou aproximar-se em maior grau da linguagem de tipo. A antropologia trabalha com as noções de construção simbólica (perspectiva dos atores sociais) e controle material como dois aspectos das culturas e é nesse sentido que a integração é interessante.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Psiquiatria como área pró-social

Um dos motivos pelo qual a psiquiatria é comumente vista como área pró-social é pela equiparação com a medicina física e a percepção social de heroísmo angelical a respeito dos médicos em geral. O contraste de identidades sociais entre psiquiatras, pessoas bem ajustadas e pessoas estigmatizadas e marginalizadas é um fator talvez mais profundo. O prestígio pela sua relação com o externo e o outro (ver Em defesa da Sociedade de Foucault) é mantido pelo desconhecimento das práticas internas da psiquiatria que não são facilmente analisáveis. Mesmo que sejam analisadas as práticas, as emoções frente ao contraste identitário mencionado acima não favorece o reconhecimento de limitações das práticas. Por isso, uma área que se propõe a ser realmente pró-social mantendo o distanciamento crítico em relação à sociedade (reforma psiquiátrica antimanicomial e perspectiva crítica) é mal-vista como área pró louco e contra a sociedade.