A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde não apenas como a ausência de doença, mas como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social. Essa definição, até avançada para a época em que foi realizada, é, no momento, irreal, ultrapassada e unilateral.*
Anormal, enquanto a-normal, é posterior a definição de normal, é a negação lógica deste conceito. Ser anormal consiste em se afastar, por sua própria organização, da grande maioria dos seres aos quais se deve ser comparado. Para a Medicina historicamente, doença, patologia e anormalidade passam a conotar a concepção de um único estado, enquanto que, por oposição, normalidade significa saúde.
O autor enfatiza que as anomalias não são os desvios estatísticos, mas sim um tipo normativo de vida. Quando a anomalia é interpretada em relação aos seus efeitos sobre a atividade do indivíduo e, portanto, à imagem que ele tem de seu valor e de seu destino, a anomalia é enfermidade. Mas nem toda anomalia é patológica, ou seja, a anomalia pode transformar-se em doença, mas não é, por si mesma, uma doença.
Nesse sentido, há a percepção da dificuldade de determinar em que momento a anomalia passa a ser doença (CANGUILHEM, 2000).
Estar doente, vulgarmente, pode significar ser nocivo ou indesejável, ou socialmente desvalorizado [...] O que é desejável é a vida, uma vida longa, a experimentação de sensações agradáveis, a capacidade de relacionar-se, a possibilidade de trocar vivências e afetos, a capacidade de reprodução, a capacidade de trabalho físico e mental, a força física e energética, a ausência de dor, um estado no qual o corpo sente o mínimo de desconforto e percebe a agradável sensação de “ser no mundo” (CANGUILHEM, 2000).
Assim sendo, perceber, observar e analisar o corpo através de tabelas ou médias, definir o que é ser normal ou patológico, entre o ser doente e o ser saudável, considerando apenas a dimensão orgânica e desconsiderando a dimensão cultural, é reduzi-lo apenas à uma dada visão.
CANGUILHEM (2000, p. 144) enfatiza que
Uma média obtida estatisticamente, não permite dizer se determinado indivíduo, presente diante de nós, é normal ou não. Não podemos partir dessa média para cumprir nosso dever médico com o indivíduo. Tratando-se de uma norma supra-individual é impossível determinar o “ser doente”.
SEGRE, Marco; FERRAZ, Flávio Carvalho. O conceito de saúde. Rev. Saúde Pública, São Paulo , v. 31, n. 5, Oct. 1997 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89101997000600016&lng=en&nrm=iso>. access on 15 Sept. 2014.
BONETTI, Albertina. O SER DOENTE: UMA VISÃO À LUZ DE GEORGES CANGUILHEM. Pensar a Prática, [S.l.], v. 7, n. 1, p. 45-58, nov. 2006. ISSN 1980-6183. Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/fef/article/view/65/2683>. Acesso em: 15 Set. 2014. doi:10.5216/rpp.v7i1.65.
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