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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Um filosofia do ser empobrecida


Um filosofia do ser empobrecida

A lista prévia de dano se relacionam com o impacto da psiquiatria na sociedade no âmbito médico. Corrupção institucional levou a prática da medicina numa maneira que violou os padrões do consentimento informado, e também danificou nossa sociedade como medido pela piora dos resultados na saúde mental, entre ambos adultos e crianças. Mas a instituição da psiquiatria também tem tido um profundo impacto como a criadora de uma filosofia moderna, a qual afeta o nosso entendimento do que significa ser “normal”, nossas narrativas internas, nossa resposta societal a injustiças sociais, e mesmo nossos valores democráticos.
Em cada sociedade, estórias são contadas que proveem um entendimento da “natureza humana” e se há um tema que permanece nessas estórias, é de que humanos são criaturas extremamente emocionais. O velho testamento conta de humanos frequentemente tomados por ganância, inveja, luxúria, amor e – ao mais extremo – impulsos homicidas. Nesse contexto, a luta essencial para uma pessoa está dentro do próprio eu. As emoções que produzem comportamento pecador deveria ser prevenidas, e dessa maneira uma pessoa pode ter a esperança de se comportar de maneiras que são agradáveis a Deus. Os épicos Gregos pintam esforços similares, e se nós irmos adiante na história literária nós rapidamente pousamos em Shakespeare, cujos personagens são regularmente adequadamente tomado por emoções hostis, sejam as dores do desejo não satisfeito em Romeu e Julieta, ou as raivas assassinas de Macbeth. Novelas nos proveem com uma similarmente rica tapeçaria, e em toda essa literatura, desde os tempos gregos adiante, nós vemos variações do mesmo tema: humanos sofrimento com suas mentes e emoções, as quais são raramente habitualmente bem organizadas.
A concepção Freudiana de mente encontra esse tema. Seu brilhantismo foi colocar dramatizações literárias do caráter humano num paradigma psicológico, com os diferentes elementos da mente – o id, ego e superego – regularmente em guerra (e com muito desse esforço ocorrendo fora da do âmbito da consciência). Seu retrato psicológico da mente refletem a fisiologia do cérebro humano, com seu centro reptiliano antigo, sobreposto por um córtex cerebral mamífero, e finalmente com os lobos frontais exagerados, com essa parte do cérebro regulamente dada a tarefa de criar uma narrativa para o “eu” que faz algum sentido, sem considerar o quanto precisa essa narrativa pode na realidade ser.
A beleza de tal literatura, e porque ultimamente pode ser tão consolador para um indivíduo, é que provê uma concepção expansiva da natureza humana. Nós todos nos esforçamos com nossas emoções e nossas mentes, e é raro o ser humano que nunca fez papel de tolo, e que não teve suas emoções fora de controle. Esse é um entendimento que nutre empatia, tanto para outros e para si. Também nos provê com um senso do que esperar da vida. A felicidade pode nos visitar agora ou outro momento, mas conte suas graças quando vem. Ansiedade, luto, raiva, ciúme, melancolia – espere tais emoções visitarem também.
A APA, com seu DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico) provê a sociedade com uma visão diferente na “normalidade” humana e o que nós podemos esperar das nossas mentes. Normalidade – como definida pelo construtos diagnósticos que falam de “doença” - é um lugar muito constrito. Emoções extremas, emoções dolorosas, e comportamentos difíceis todos se tornam “sintomas” de doenças. A mente, de acordo como o DSM-III, -IV, e -5, não deve ser um lugar caótico. Mesmo um sentimento comum de distresse, ansiedade, deve ser visto como “anormal”. Dessa maneira, o DSM prove a sociedade com uma filosofia do ser acentuadamente empobrecida.
O escritor Sam Kriss brilhantemente iluminou esse fato aos escrever uma resenha do DSM-5 como se fosse um romance. Há, ele nota, um senso de “solidão que satura o seu trabalho”, o livro escrito por um narrador sem habilidade de “apreciar outras pessoas”. Essa é uma estória sem quaisquer dos elementos que tradicionalmente sustentam uma trama. Poucos personagens fazem uma aparição, mas eles são sem nome, formas espectrais, os quais se movem enquanto a estória progride, curtamente corporificando suas várias doenças antes de desaparecer rapidamente como vieram – figuras comparáveis com cacofonia de vozes em A terra perdida ou as figuras universalmente anonimas da Cegueira de Jose Saramago. Um sofredor de depressão ou hipocondria pode ser revelado ser a mesma pessoa, mas para a maior parte dos limites entre os diagnósticos mantém seus personagens separados um do outro… A ideia emerge de que cada doença da pessoa é de alguma maneira sua própria culpa, que isso vem do nada além de si mesmos: seus genes, suas adicções, e seu insuficiência inerente humana. Nós entramos um mundo estranho de sombras onde para alguém se envolve com prostituição não é o resultado de fatores ambientais de diferente setores (relações de gênero, classe econômica, relacionamentos familiares e sociais) mas um sintoma de “transtorno de conduta” junto com “mentir, falta à escola e fugir”. Uma pessoa louca é como uma máquina defeituosa. A observação pseudo-objetiva apenas vê o que eles fazem, aos invés de o que eles pensam ou como eles se sentem. Uma pessoa que defeca no chão da cozinha porque isso dá a elas prazer erótico e uma pessoa que defeca no chão da cozinha para extirpar demônios são ambos agrupados por encopresis. Não é de que o processo de pensamento não importa, é como se não existissem. O ser humano é uma rede de carne sobre um vazio.
Kriss entitulou a sua resenha de “Livro das Lamentações”. Finalmente, ele concluiu, que o DSM apresenta aos leitores com uma descrição da normalidade que horroriza:
Se há normalidade aqui, é um estado de quase catatonia. DSM-5 parece não ter definição de felicidade a não ser a ausência de sofrimento. O indivíduo normal nesse livro é tranquilizado e parece um bovino, mudamente aceitando tudo num às vezes mundo doloroso sem nunca sentir muito que atrapalhe isso. Os excessos vastos e absurdos de paixão que formam a matéria bruta da arte, literatura, amor, e humanidade são muito estressantes; é mais fácil parar de ser humano de uma vez só, e simplesmente se mover como uma coleção de diagnósticos sobrepostos com um corpo vagamente anexado.

Esse é o livro que provê nossa sociedade com um paradigma para julgar aos outros, e a nós mesmos. Emoções e comportamentos que, nos trabalhos literários do passado, teriam sido apresentados como bem normais são ao invés disso descritos como “transtornos mentais”. A criança mal comportada – olá Tom Sawyer – é agora revista como uma criança sofrendo de Déficit de Atenção, a qual precisa ser tratada com estimulante. O adolescente mau humorado, o qual uma pessoa teria sido visto como passando por “tempestade e estresse” da adolescência, pode agora ser diagnosticado como deprimido e tratado com antidepressivo. O adulto que faz o luto por muito tempo sobre a morte de um esposo ou um dos pais agora tem “depressão maior” (talvez Shakespeare hoje iria recomendar uma dose de Cymbalta para Hamlet). E assim por diante.
[…] Resumindo, o DSM – como um livro de filosofia para nossa sociedade moderna – retira a poesia da vida. Ele nos diz para usar rédeas e evitar sentir muito profundamente. E aqui está a ligação com corrupção insitucional: a APA nos informou dos desequilíbrios químicos e doenças cerebrais conhecidas e transtornos validados, os quais são os tijolos construtores para a filosofia que criou, e ainda esses tijolos construtores tem que ainda ser encontrados na natureza.

[…] O “Eu” é encorajado para sempre estar em alerta para signais de anormalidade, com os pais tomando vigilância para suas crianças, mesmo quando eles estão na pré-escola. Além do mais, essa vigilância constante facilmente se transforma numa narrativa para a vida mais ampla. Dessa maneira, o modelo da doença da APA encoraja a narração interna que rouba o senso de responsabilidade e de resiliência. A pessoa não é encorajada a examinar o contexto de sua vida. O que aconteceu? O que pode ser mudado? Ou, ainda mais radical: Existes momentos em que o sofrimento deve ser abraçado?

Robert Whitaker e Lisa Cosgrove - Psiquiatria sob Influência

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