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quarta-feira, 12 de julho de 2017

Direitos, responsabilidades, capacidades e o paciente mental

"Os cínicos conhecem o preço de cada coisa, mas não conhecem o valor de nenhuma" Oscar Wilde

"Poucos de nós estão livres de doenças. No entanto, sofrer as agruras de uma doença séria - como diabetes, epilepsia, ou doença cardíaca - não diminui nossos direitos como cidadãos, nem nossas responsabilidades como pessoas. Talvez um dia possamos basear  nossa política psiquiátrica nesse "modelo médico"; ou seja, quando, ao invés de apregoar o chavão que diz que a doença mental é como qualquer outra doença, nossa política de saúde mental se baseie no princípio de que adultos tem direitos e responsabilidades que não são afetados muito menos anulados por diagnósticos psiquiátricos. Na prática significaria tratar a pessoa com diagnóstico psiquiátrico como um agente moral, de quem se espera que lide com seus problemas e que obedeça às leis. Se ela pedir ajuda, oferecemo-nos para ajudá-la em termos aceitáveis para ela e para nós. Se não, deixamo-a em paz. E se ela infringe a lei, tratamo-la como gostaríamos de ser tratados por um policial que nos detivesse por uma violação de trânsito."

"Embora a maior parte dos pacientes mentais pareça constituir-se de adultos fisicamente capazes, fingimos que sofrem de doenças genuínas, que os incapacitam genuinamente, e nos empenhamos em tratá-los como genuínos dependentes. É importante entender como esta ideia e essa política se originaram. A modernidade é mãe de gêmeos. Um deles é a ciência, a tecnologia e o governo limitado. O outro é o adulto fisicamente capaz mas improdutivo - e os esforços dos homens produtivos para controlá-lo e sustentá-lo. Inicialmente, os membros desta nova classe de dependentes foram rotulados como indigentes e tratados por meio das leis de pobreza e dos asilos para pobres. Gradualmente, o esforço para enfrentar a dependência adulta se misturou à nova pseudo-ciência da psiquiatria e levou à internação dos adultos dependentes nos hospitais mentais. Em suma, vejo nossas práticas psiquiátricas estatais-institucionais não como técnicas médicas especializadas para o tratamento de doenças mentais, senão como procedimentos socialmente aceitos para dispor dos indesejados, semelhantes às práticas sociais do passado de segregar os pobres em asilos, encarcerar devedores em prisões e exilar em colônias os epilépticos."

Do livro Cruel Compaixão - Autor: Thomas Szasz

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