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sexta-feira, 9 de março de 2018

Os riscos da prevenção em excesso

http://www.sbmfc.org.br/media/file/documentos/EXCESSO%20DE%20PREVENÇÃO%20ZH.pdf

09 de julho de 2011 | N° 16754 PALAVRA DE MÉDICO | JOSÉ MAURO CERATTI LOPES*

 *Médico de Família e Comunidade

Os riscos da prevenção em excesso 

Nos tempos do Jeca Tatu, prevenção era usar botinas, lavar as mãos, tomar biotônico com prazer, beber Emulsão de Scott fazendo careta, fazer abreugrafia, tomar poucas vacinas, pegar sol, tomar leite em pó e, ainda, fazer simpatias. Lavar as mãos e vacinas continua em alta. Hoje, estamos na Era da Informação, após grande desenvolvimento social, tecnológico e científico. Cuidar da saúde virou uma operação complexa e perigosa. O arsenal terapêutico e diagnóstico disponível é imenso. É preciso porte e treinamento para usá-lo adequadamente. Leavel & Clark criaram níveis de prevenção: primária é evitar doenças. Secundária é evitar as complicações das doenças. Terciária, é reabilitar. O objetivo quando se pensa em saúde é a “saúde top”, e na ânsia de buscá-la, pode-se reagir em excesso. A tecnologia propõe exames, procedimentos, medicamentos e aconselhamentos que podem ajudar ou causar danos. Ampliar o espectro conceitual da doença transforma o normal em anormal, e trata como doença os estados de pré-doença ou fatores de risco. Comercializar a saúde advém de medicar a normalidade ou intervir sem certeza. Ritalina, estatina, fluoxetina, eco, densitometria e ressonância são personagens do cotidiano muitas vezes sem papel definido. Mocinhos ou vilões? Surge com Mark Jamoulle a prevenção quaternária, um quarto tipo de prevenção, alertando para uma aplicação cautelosa do conhecimento médico, evitando os excessos no rastreamento de doenças e solicitação de exames, e os abusos na medicalização desnecessária de fatores de risco. Estes excessos e abusos são um risco para o adoecimento. A prevenção quaternária atenua ou evita as consequências do intervencionismo, valorizando a individualização dos protocolos médicos às pessoas. Sim, às pessoas, não mais aos pacientes, que hoje cuidam de sua saúde com autonomia e participam na tomada de decisões, buscando informações, argumentando e questionando, antes de submeterem-se aos pacotes preventivos ou tratamentos compulsórios. Hoje, os médicos é que devem ser pacientes. Para cuidar da saúde, o principal é uma relação entre médico e pessoa baseada em comunicação, confiança e parceria. O aparelho essencial utilizado pelo médico deve ser, antes de todos, o auditivo.


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