Diante de suas experiências, Mateus en-
tendia que a prescrição e a gestão do uso
dos medicamentos era uma experimentação,
tanto para os/as usuários/as como para os/
as prescritores/as. Nesse sentido, ambos es-
tariam no mesmo patamar de experimenta-
ção, distintos apenas na especificidade e na
hierarquia de seus saberes. Ele disse:
O médico ainda tem um poder muito grande, e eu
acho que, em psiquiatria, por mais que ele saiba,
ele também não sabe muita coisa. Eles fazem um
laboratório com a gente, eles vão dando esse re-
médio, esse remédio... Ah, se funciona, tudo bem!
Se não, eles tentam...
O argumento de Mateus indica uma
problematização do saber psiquiátrico
(FOUCAULT, 1997) . Ele reconhece que ‘o médico
tem um poder muito grande’, mesmo que
esteja no mesmo patamar de experimenta-
ção que os/as usuários/as, uma vez que ‘ele
também não sabe muita coisa’. Seu argu-
mento também aponta que, tal como propôs
Foucault (1997) , o saber psiquiátrico, ao insti-
tuir, em determinado momento histórico, a
doença mental como seu objeto, pressupôs
que ela deveria ser submetida a um trata-
mento que lhe correspondesse. Entretanto,
para Mateus, tanto o saber psiquiátrico
quanto a terapêutica medicamentosa se
ocupam de objetos imprecisos e, por isso,
demandam um exercício de experimenta-
ção. Neste sentido, usuário/a e profissional
partilham experiências e experimentações,
a partir de diferentes discursos, modelos
interpretativos e em processos relacionais.
Loucos/as, pacientes, usuários/as, experientes: o estatuto dos sujeitos no contexto da reforma psiquiátrica brasileira
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