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domingo, 4 de agosto de 2019

O modelo médico e o modelo psicológico

[Esse tema foi a primeira inspiração para o blogue]

O modelo médico e o modelo psicológico
Maria Luiza Marinho

1. O modelo médico

O modelo médico é a mais amplamente aceita formulação do comportamento maladaptativo, e o ponto de vista da modificação do comportamento tem se desenvolvido como uma abordagem alternativa dentro deste contexto.
Modelo médico ou de doença significa que o comportamento do indivíduo é consi­derado anormal ou doente devido a causas subjacentes. A analogia ó feita da medicina física em termos de germes, vírus, lesões e outros que tiram o organismo de seu trabalho normal e o levam à produção de sintomas. Essa abordagem representou o maior avanço da medicina física no século XIX. Isso permitiu tratamentos específicos efetivos ao estar doente, nos quais, antes, a história da medicina tinha estado completamente intervindo com placebo ou com a prescrição de remédios não específicos que dependiam de sugestão ou remissão espontânea.

2. O modelo médico na área do comportamento humano: noção de enfermidade

Este ponto de vista considera que o comportamento do indivíduo é anormal ou doente devido a causas subjacentes que tiram o organismo de um trabalho normal e levam à produção de sintomas. O comportamento dito "anormal" é considerado, então, sintoma de um problema interno (físico ou intrapsíquico). Segundo Szasz apud Ullmann & Krasner, 1965, os problemas psicológicos são considerados, sob o ponto de vista do modelo médico, como enfermidades essencialmen­te semelhantes a todas as outras (ou seja, as do corpo). A única diferença entre as enfermidades mentais e corporais é que as primeiras, ao afetarem o cérebro, manifestam-se mediante sintomas mentais; enquanto as últimas, que afetam outros sintomas orgânicos (por exemplo, a pele, o fígado, etc.), manifestam-se através de sintomas relacio-nados com estas partes do corpo." Dessa forma, os transtornos do comportamento são considerados enfermidades para as quais deve-se encontrar uma etiologia, que conduzirá a alguma forma especifica de tratamento. Dai a ênfase no diagnóstico e a crença de que existem causas especificas das enfermidades mentais.

2.1. Problemas metodológicos no modelo explicativo

Pesquisas não conseguem revelar qualquer patologia orgânica na maioria dos indivídu­os com ‘problemas’ comportamentais; 
Determinados "pacientes" podem apresentar pequena anomalia na química do corpo, mas isto ocorre com grande número de pessoas "normais”; 
Indivíduos com os mesmos sintomas não apresentam a mesma disfunção orgânica, ou ás vezes não apresentam nenhuma disfunção orgânica detectável; 
Dúvida em relação a se as alterações de funcionamento do corpo são causas ou conseqüências da alteração no comportamento.

2.2. Algumas conseqüências do modelo aplicado à “saúde mental” :

Hospitalização para tratamento.
Uso maciço de medicamentos.
Ênfase no diagnóstico.
Crença que existem similaridades entre as “enfermidades".
Noção de substituição de sintomas.

3. Modelo psicológico: uma abordagem alternativa ao modelo médico

Se o comportamento dito “anormal" não é o sintoma de causas subjacentes, como explicá-lo então?
(a Análise do Comportamento como modelo explicativo) “O comportamento anormal não é diferente do normal em seu desenvolvimento, em sua manutenção ou na maneira em que ele pode ser mudado. A diferença entro comportamento normal e anormal nâo é intrínseca: a diferença está na reação (julgamento) social." (Ullmann & Krasner, 1965) "Os estímulos do meio, ao invés de “doença" subjacente ou conflito intrapsíquico, determinam e mantêm o que é rotulado como comportamento desajustado, inadequa­do, desvantajoso ou disruptivo. A "anormalidade" não é um problema que se localiza dentro do indivíduo (...) mas é o resultado da Interação da pessoa com o meio social e representa o resultado compreensível da história do reforçamento do Indivíduo." (Ferster, 1972) 

"O ambiente modela o repertório comportamental do indivíduo, e as diferenças entre comportamento dito "normal" e “anormal" resultam de diferenças nos esquemas de reforçamento a que os indivíduos foram expostos.” (Ullmann & Krasner, 1973) "A principal técnica empregada no controle do indivíduo por qualquer grupo de pessoas é a seguinte: o comportamento do indivíduo é classificado como ‘bom’ ou 'mau', ou, com o mesmo efeito, como 'certo'e 'errado'e reforçado e punido de acordo com isso, (...) Geralmente se denomina o comportamento de um indivíduo bom ou certo na medida em que reforça outros membros do grupo, e mau ou errado na medida em que é aversivo, “ (Skinner, 1981)

"Ensinar as pessoas a considerarem certos tipos de problemas ou comportamentos extravagantes como doenças em vez de reações normais às tensões da vida, excentri­cidades inofensivas ou pequenos episódios de desânimo, pode causar alarme e aumentar a procura por psicoterapia. (...) Quanto maior o número de oportunidades para tratamento e mais ampla a informação a esse respeito, tanto maior o número de pessoas que procuram ajuda. " (Ulimann & Krasner, 1973)

3.1. Questões referentes ao diagnóstico

O que é comportamento certo e quem o define?
Quem classifica (diagnostica)?
Quais as conseqüências de se classificar?
Por que classificar?
Efetividade do diagnóstico (DSM)

Bibliografia

Ferster, C. B. (1972). Classificação da Patologia do Comportamento. In: L. Krasner e L. P
Ulimann. Pesquisas sobre modificação do comportamento. Sâo Paulo. Herder, p. 2-33
Kanfer, F. H. & Schefft, B. K. (1988). Guiding theprocess oftherapeuticchange. Illinois: Research
p. 7-31.
Skinner, B. F. (1981). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes.
Tharp, R. G. & Wetzel, R. J. (1969). Behavior modifícation in the natural environment. New York
Academic Press. Cap. 1.
Ullmann, L. P. & Krasner, L. (1965). Case studies in behavior modification. Holt. New York:
Rinehart & Winston. p. 1-63.
Yates, A. J. (1975). Terapia dei comportamiento. Trillas: México.

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