Em geral, também, ela é prevenida contra o fato de
aceitar completamente como suas as atitudes negativas que
outros têm para com ela. É provável que ela seja prevenida
contra a "desmenestrelização", por meio da qual a pessoa
estigmatizada deseja conquistar as graças dos normais
exibindo o repertório completo de qualidades negativas
imputadas a seus iguais, consolidando, assim, uma situação
vital dentro de um papel ridículo:
“Aprendi também que o aleijado deve ter cuidado em não
agir de maneira diferente da expectativa das pessoas. Acima
de tudo, eles esperam que o aleijado seja aleijado; seja
incapacitado e indefeso: inferior a eles e, assim, têm
desconfiança e sentem-se inseguros se os aleijados não
correspondem a essas expectativas. É bastante estranho, mas o
aleijado tem de desempenhar o papel de aleijado, assim como
as mulheres têm que ser o que os homens esperam delas, ou
seja, simplesmente mulheres; e os negros freqüentemente têm
que agir como palhaços frente a raça branca "superior", de
tal modo que o homem branco não fique amedrontado por seu
irmão negro.
Certa vez conheci uma anã que era uma exemplo patético
do que estou dizendo. Era muito pequena, tinha cerca de um
metro de altura e extremamente bem educada. Na frente de
outras pessoas, entretanto, tinha muito cuidado em não ser
94outra coisa que não "a anã", e desempenhava o papel de boba
com o mesmo riso de mofa e os mesmos movimentos rápidos e
engraçados que caracterizaram os bufões desde as cortes da
Idade Média. Quando estava com amigos, ela podia tirar o
gorro, os sinos e atrever-se a ser a mulher que realmente
era: inteligente, triste e muito solitária."
Autor: Goffman
Livro: Estigma
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