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sábado, 9 de julho de 2022

Perdas funcionais e tratamento psiquiátrico (reformulado 2)

Perdas funcionais e tratamento psiquiátrico (reformulado)

A linguagem psiquiátrica se refere à "perdas funcionais" quando os usuários param suas drogas psiquiátricas ou se envolvem em situações nomeadas como crise. 
 
A noção de "perdas funcionais" supõe uma etiologia conhecida (origem) e uma inferência a partir dessa etiologia. Se as evidências dessa etiologia tiverem baixa evidência, as inferências sobre "perdas funcionais" progressivas devido à duração do tempo sem tratamento psiquiátrico devem ser revistas.

Uma etiologia conhecida também é suposta para se propor uma definição operacional das perdas funcionais de um transtorno mental específico. A definição operacional de perdas funcionais envolveria a definição de um instrumento de observação e uma escala de mensuração para os componentes do conceito: estruturas cerebrais que são inferidas ou "observadas" (nem sempre de forma rigorosa ou correta) e que afetariam as realizações sociais (produto das estruturas). As realizações sociais seriam o componente de consequência desses comportamentos. Uma forma de evidência de produto. O componente de repertório comportamental aprendido, implícito em realizações sociais, seria um aspecto chave para reverter o que a psiquiatria chama de "perdas funcionais" decorrentes de alterações orgânicas, isto é, modificando comportamentos para obter consequências socialmente valorizadas. No momento de escrever a primeira versão do texto optei por não falar em estruturas pois isso é mentalismo orgânico (fazer inferências não observadas de estruturas orgânicas como uma explicação a partir dos comportamentos) e também porque duvido da etiologia suposta. A definição de "perdas funcionais" na área de psiquiatria envolveria apenas o impacto de estruturas orgânicas na qualidade do repertório comportamental, avaliado com estatísticas. Mas a aprendizagem de repertório comportamental e sua qualidade envolve muito mais variáveis, com destaque para variáveis ambientais. Além disso, o objetivo não era a coerência com o pensamento teórico sistemático da psiquiatria.

Uma alteração cerebral ou biológica alteraria o padrão dos parâmetros da aprendizagem de comportamentos. Um princípio pouco aceito da análise do comportamento é tomar como funcional todos os comportamentos (análise funcional sistemática). É possível que haja um ambiente hostil. Além disso, parece inverossímil tomar como funcional descrições de pessoas que estão longe das expectativas sociais ou dos gabaritos sociais e não atribuir disfuncionalidade orgânica (modelo sócio-científico com metodologia estatística). É possível que os padrões dos parâmetros de aprendizagem de comportamento estejam alterados. A análise funcional na biologia (função do comportamento) não permite afirmar algo sobre a estruturas biológicas, apesar de ser possível aumentar o peso do fator ambiental. É possível que seja necessário uma complementação com uma análise etiológica. Mas tomar os comportamentos como funcionais (modelo naturalista com metodologia que toma o indivíduo como própria referência) é assumir a responsabilidade em compreender comportamentos e promover a aprendizagem.
 
A descrição da realidade concreta dos usuários a partir de observação e relatos sem recorrer à expressão "perdas funcionais"  leva à delimitação de que são circunstâncias de perdas de realizações sociais nas áreas educacional, afetiva, profissional e social, isto é, perder emprego, interromper cursos e perder matrícula, terminar relacionamentos afetivos e a qualidade das interações sociais. Essa é a base de fatos da alegação de que a doença progride a cada crise e a aplicação de um cálculo aritmético a priori (não empírico) de progressão de doença. A consequência do modelo de "perdas funcionais" é uma dedução teórica e contrafactual de afirmar que o paciente poderia ter sido mais saudável e tido a vida melhor e mais bem sucedida.

Estudos demonstraram que drogas psiquiátricas são danosas para a saúde física, cerebral e comportamental e para a funcionalidade global. Também demonstraram que a melhora da funcionalidade global sem as drogas psiquiátricas é possível e que os transtornos mentais não são tóxicos para o cérebro. Mas sem entrar nessas pesquisas, fazendo uma leitura do componente social, pode-se descrever essas "perdas funcionais" ou perdas de realizações sociais como a quebra de expectativas sociais ou de contratualidade social que podem não ser reversíveis.

Uma leitura social das perdas funcionais a descreve como desacreditação social que acontece após um diagnóstico que usa linguagem psiquiátrica (estigma), as instituições sociais que produzem falta de acesso a direitos sociais e civis e produção de vida para a circunstância de histórico de usuária da psiquiatria mas não somente (o que é institucionalização) e a perda de funcionalidade global resultante dos efeitos das drogas psiquiátricas ou outros tratamentos psiquiátricos. A palavra saúde pode sugerir outro significado, o de saúde biológica, e não ficarem claro os aspectos circunstanciais ou sociais.

Os comportamentos e situações conflituosas ou não esperadas não são necessariamente degenerativas no sentido médico (etiológico), embora a aprendizagem de comportamentos altere o cérebro no sentido positivo e negativo.

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