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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

STARTS (Esquizofrenia e EMT)

Ensaio clínico STARTS na Unifesp em parceria com universidades de elite investigou efeito de estimulação magnética transcraniana no que a psiquiatria chama de sintomas positivos e negativos de esquizofrenia e nas funções cognitivas executivas. Obteve resultado nos sintomas negativos (características de apatia) e não obteve resultado de melhoramento cognitivo.

Eu refleti um pouco. A excitabilidade deve ser mais fácil modificar do que processos cognitivos. Mesmo assim não se sabe se com o seguimento dos participantes no tempo (follow-up) os resultados se mantiveram. Sintomas negativos são avaliados com questionários que podem ser respondidos com base em expectativas ou sutilmente treinados. A avaliação cognitiva é feita com mensurações diretas de desempenho. Por isso a avaliação dos sintomas negativos tem mais chance de viés do que a avaliação cognitiva.

Alterar comportamentos intelectuais modificando apenas o corpo me parece uma maneira indireta de alterar comportamentos e por isso pouco eficiente. Na área de teoria das molduras relacionais (uma derivação da análise do comportamento simbólico) já se conseguiu aumentar o coeficiente intelectual ensinando conceitos relacionados a formas de raciocínio como semelhante/diferente, maior que/menor que, etc (https://www.raiseyouriq.com/). O resultado é melhor porque estabelece novos controles de estímulos (ou comportamentos operantes) (aprender a agir em função de algumas características do ambiente) e apenas alterar o corpo não faz isso.

Já os sintomas negativos poderiam ser alterados com um ambiente mais interessante, enriquecido, acolhedor (para os usuários) e redução de dose. O foco no cérebro não vê isso. Quem já conviveu com usuários num bom Centro de Atenção Psicossocial já viu como um ambiente como esse ou uma redução de dose pode melhorar a apatia.

Instalação de comportamentos pré-requisitos para o desempenho educacional e profissional seriam outra forma mais direta de estabelecer uma recuperação funcional. As funções cognitivas executivas são variáveis mediadoras e indiretas. Se o desempenho for diretamente alterado a utilidade no ambiente permite estabelecer conexões neurais mais fortes. Os comportamentos instalados se mantém pelo efeito no sucesso. Comportamentos operantes bem estabelecidos podem ser sofisticados, rápidos se controle de estímulos for forte (e desenvolvidos com intervenções de ensino) apesar de prejuízos nas funções cognitivas executivas.

Observação: A ideia é trabalhar pre-julgamentos ou pressupostos que antecedem as pesquisas.

[Adicionado posteriormente em 7 de fevereiro: Duas concepções de inteligência diferentes subjazem as duas perspectivas. Uma considera a inteligência resultado automático de estruturas cerebrais intactas ou saudáveis. Outra considera que inteligência é um adjetivo para comportamentos operantes sofisticados e de qualidade. O ponto é que é possível ter estruturas cerebrais intactas e não ter desenvolvidos comportamentos operantes sofisticados e de qualidade. Também é possível não ter estruturas cerebrais intactas e ter desenvolvido comportamentos operantes sofisticados e de qualidade. Nesse caso, o dano na função cerebral/cognitiva terá menos relevância na inteligência e na capacidade ocupacional pois os comportamentos operantes aprendidos já estão estabelecidos e se há pré-requisitos para desenvolvê-los mais ainda a estrutura cerebral danificada terá pouca relevância salvo em casos de dano extremado. Além disso, é possível que seja mais importante a capacidade de apresentar comportamentos novos (uma das definições de inteligência) resultante de processos comportamentais do que ter estruturas cerebrais intactas e não ser capaz de apresentar comportamentos novos resultante do lado inverso dos processos comportamentais].

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