Menu

domingo, 25 de junho de 2023

As promessas de desempenho da dopamina

Opinião sobre a comercialização de conteúdo sobre desempenho e dopamina

A suposta manipulação da produção de dopamina é muito utilizada comercialmente como a fonte do alto desempenho. A dopamina é produzida quando uma atividade que supera as expectativas de previsão do cérebro ativa o sistema de recompensa no nível cerebral e no nível do comportamento produz reforço positivo. A restrição à linguagem neurobiológica obscurece o tratamento do tema. Muito se fala na internet que a dificuldade para ter alto desempenho surge do excesso de dopamina e que seria preciso fazer jejum de dopamina ou fazer atividades não tão prazerosas para alterar a produção de dopamina para um nível mais saudável. O nível comportamental esclarece e torna mais intuitivo: evitar dopamina demais pode deprimir pois a pessoa terá baixa densidade de reforçadores na vida e iniciar o "hábito" de fazer atividades não prazerosas na verdade é fortalecer classes de comportamentos de autocontrole/autogerenciamento e classes de comportamentos que tenham persistência através do reforço intermitente (intercalado). Uma classe fortalecida aumenta o comportamentos que pertencem a essa classe. Isso é válido para todo tipo de classe de comportamento. Supostamente a pessoa estaria alterando seu cérebro para um cérebro capaz de fazer atividades difíceis. O uso da linguagem no nível comportamental permitiria estabelecer os comportamentos requisitos e desejados. Outro aspecto é que uma vez que a pessoa obtém consequências naturais reforçadoras de sua atividade o comportamento se torna muito forte e persistente. Mais ainda que pela intermitência (intercalação) gradual e progressiva das consequências. Então uma pessoa que tem dificuldades com certas atividade pode simplesmente não gostar da atividade e se escolhesse uma atividade de que gostasse (se obter consequências reforçadoras, ter um histórico de reforço ou ter importância para suas privações e aversivos) naturalmente estaria motivada. A dificuldade de fazer o que não gosta é questão de comportamentos de autocontrole que consiste em manejar o ambiente para evitar atividades concorrentes e aumentar a probabilidade de comportamentos produtivos e desejados no futuro. As consequências são atrasadas, improváveis e incertas e isso torna difícil a motivação. Por meio de descrições claras das consequências futuras, repertório adquirido para as atividades e um bom planejamento que realmente possibilite obter as consequências no futuro, os comportamentos produtivos e desejados se fortaleceriam. Logo, é mais complexo do que simplesmente utilizar a linguagem neurobiológica para manipular o cérebro e supostamente reduzir o excesso de dopamina no cérebro. Outros processos comportamentais ainda poderiam estar envolvidos num olhar holístico para as condições de vida da pessoa e suas necessidades de aprendizagem de repertório.

Nenhum comentário:

Postar um comentário