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quarta-feira, 19 de julho de 2023

Capitalismo e loucura

Basaglia, autores da reforma psiquiátrica e da antipsiquiatria fizeram leituras sobre o papel do capitalismo na experiência social de loucura. Os psiquiatras tradicionais defendem que a habilidade para a produção e renda é sinal de aptidão ou saúde biológica. Livros de história da economia descrevem como as práticas do capitalismo tiveram que ser inculcadas no ambiente social e no repertório das pessoas e o custo social que foi retirar o apoio que os camponeses tinham durante o período feudal. Sociólogos descrevem como a cultura brasileira teve certa dificuldade de adotar as práticas de produção capitalista e como isso faz com que o desenvolvimento econômico seja reduzido. A industrialização e a urbanização aumentam as exigências sobre os comportamentos esperados e aumentam a necessidade de conquistar autonomia financeira (reduzem o apoio comunitário). Alguns modos de vida estão mais alinhados com as práticas de produção e consumo capitalistas enquanto outros modos de vida tangenciam a produção e consumo. Modos de vida que consistem em ambiente sociais, práticas e culturas. O preparo para os modos de vida mais compatíveis com a produção e consumo consiste numa aprendizagem progressiva de comportamentos os quais não são nada simples e quanto mais produtivo se deseja ser menos simples são essas aprendizagens. Por outro lado, observação social indica que existem atalhos para se inserir no modo de produção e consumo capitalista enquanto também existem modos mais difíceis de inserção nas práticas capitalistas. Um aspecto da avaliação psiquiátrica ou psicológica envolve o quanto a pessoa se comporta de acordo com certos padrões de adequação às práticas capitalistas os quais são entendidos como sinais de grau de aptidão/inaptidão e grau de saúde/doença. Além disso, o modo de pensar psiquiátrico presente em toda a sociedade sugere que automaticamente uma pessoa que recebe uma nomeação diagnóstica para seus comportamentos se torna incapaz. As condições sociais e institucionais que são construídas e mantidas em torno da noção de doença mental incapacitante também contribuem para o grau de dificuldade das pessoas nomeadas com um rótulo diagnóstico se inserirem na produção capitalista. O modo de pensar psiquiátrico assume que a incapacidade para o trabalho é uma característica intrínseca do organismo e que o espaço/tempo das circunstâncias sociais e suas consequências nas trajetórias de vida são irrelevantes. Essas problematizações anteriores indicam que a aptidão para o trabalho não deve ser reduzidas ao suposto aspecto orgânico (mesmo as caracterizações orgânicas específicas são discutíveis). Barreiras sociais atitudinais às pessoas diferentes do padrão normocêntrico indicam que a sociedade contribui na produção da experiência de deficiência (de dificuldade) e na privação de direitos sociais.

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