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segunda-feira, 17 de novembro de 2025

A omissão básica na avaliação psiquiátrica

Problemas de comportamento surgem e se agravam ou se resolvem e se amenizam uma vez que haja um ambiente suficientemente difícil ou suficientemente facilitado em termos de aumento ou diminuição de necessidade de aprendizagem para satisfação de contingências de reforçamento. Quando a avaliação psiquiátrica em consultório através apenas de uma conversa com o paciente e os familiares tem como o ponto de partida que problemas de comportamentos são apenas subconjuntos de alterações cerebrais e que não há relevância das circunstâncias (contingências de reforçamento) e aprendizagem (cf. série Hierarquia entre modelo biomédico e análise experimental do comportamento), funciona na prática como uma pessoa com "cérebro normal" pedindo para corrigir uma pessoa com "cérebro defeituoso". A implicação disso é que, ao ignorar que algumas pessoas tem maior domínio sobre o ambiente (as pessoas de "cérebro normal"), está induzindo e reforçando uma expectativa de que a pessoa com menor domínio sobre o ambiente (a pessoa com "cérebro defeituoso") além de ter problemas de comportamentos resultantes de um ambiente suficientemente difícil, seja em termos de desenvolvimento seja em termos de dificuldade de satisfação de contingências de reforçamento, ainda deve ser capaz de prover um ambiente o suficientemente facilitado para as pessoas com maior domínio sobre o ambiente. Logo, há uma duplicação de dificuldades e adicionalmente a dificuldade de adquirir um papel social de "doente mental", ser induzindo a seguir uma carreira moral de paciente psiquiátrico, lidar com as dificuldades relacionadas com o tratamento farmacológico, o sistema de saúde mental e o conjunto de desafios relacionados com o pensamento manicomial e sua difusão na sociedade e cultura. Para piorar ainda mais, a dificuldade adicional de não ter essa problematização reconhecida como válida. Portanto, é inteligível que uma pessoa nessas circunstâncias tenha uma piora progressiva de sua situação de saúde mental e que a suposta "capacidade orgânica de responder adequadamente" não seja suficiente. 

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