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quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Drama social e doença

No caso das narrativas siona ligadas à doença, a noção de drama so-
cial de Turner (1981) e sua relação com a narrativa é particularmente útil para
se pensar na maneira como a narrativa apresenta uma estrutura para entender
episódios de doença. A vida social é um processo dinâmico e não uma
estrutura fixa, e este processo é melhor visto como um drama, ou seja, como
composto de seqüências de dramas sociais que são resultado de uma contínua
tensão entre conflito e harmonia. A vida é como um drama, cheio de situações
desarmônicas ou de crises cujas resoluções desafiam os atores, envolvendo
conflito, volição, reflexão e escolha (Burke 1989). As doenças, como outras
formas de ruptura, tomam formas dramáticas e os atores tentam demonstrar
o que têm feito, o que estão fazendo e também tentam impor suas soluções
ou idéias aos outros (Turner 1981).
Os dramas sociais da vida cotidiana são unidades de seqüências de
ação que analiticamente podem ser separadas do fluxo contínuo do processo
social. São marcados pelas fases de ruptura da ordem normal, crise, tentativas
de compensação, e resolução –– quando a ruptura é resolvida ou a divisão do
grupo se torna permanente e reconhecida. A fase de compensação, como o
rito, tem qualidades quase imperceptíveis. São momentos da vida social de
negociações entre os atores que tentam impor ou convencer os outros de sua
visão ou “paradigma”. Fazem parte do aspecto indeterminado e o modo
subjuntivo na interação humana. A vida social está em jogo; há desejos,
esperanças e poderes diferentes; o resultado não é determinado. Vista assim,
a interação social é uma contínua negociação entre atores; é um processo
dramatúrgico (Goffman 1983) em que os atores realizam seus papéis para os
outros na platéia, tentando persuadi-los de sua posição.

A DOENÇA COMO EXPERIÊNCIA: O PAPEL DA NARRATIVA NA CONSTRUÇÃO SOCIOCULTURAL DA DOENÇA

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