Acabo de saber que morreu Scott Lilienfeld. Scott era um dos melhores críticos que conheço das bobagens que passam por psicoterapia.
Na minha época de estudante de psicologia na PUC-RS, haviam várias cadeiras sobre os chamados testes projetivos. Sabe aquele clássico Rorschach? Pois é, mas esse é só um dos tantos que existem. Outros exemplos são o TAT e o desenho da figura humana. O nome “projetivo” vem da premissa de que a personalidade se expressa—projeta—nesses desenhos. Não preciso dizer que essa é uma suposição bastante forte que precisa de evidências igualmente fortes para se sustentar. Nessa meta-análise (tipo de estudo com grau mais alto de confiabilidade científica) de 2000 [https://journals.sagepub.com/doi/10.1111/1529-1006.002] Scott mostra que a evidência disso é muito fraca, pelo menos nesses três testes que citei acima. De fato, me surpreende que ele ainda conseguiu encontrar alguma. Apesar disso, esses testes são usados rotineiramente pra decidir quem pode ou não portar armas, que crianças precisam ou não de terapia, que criminoso precisa ou não ser internado em hospital psiquiátrico, etc.
E esse monte de psicoterapia que existe por aí? Psicanálise, terapia cognitivo-comportamental, humanista, psicodrama, EMDR, etc. A maioria delas, senão todas, são mais prováveis de convencer o terapeuta e paciente de que funcionam do que de funcionar de verdade. Nesse paper de 2014 [https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1745691614535216] Scott mostra as tantas razões espúrias que levam psicoterapeutas a enganar-se e acreditar na eficácia de suas técnicas.
A página da wikipedia sobre ele é uma boa introdução ao seu trabalho, que vai muito além desses dois papers que citei.
-André
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