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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Invega Sustenna e variabilidade da frequência cardíaca (VFC)

Variabilidade da frequência cardíaca (VFC) e Invega Sustenna

[Atualizado em 9 de fevereiro de 2023]

Eduardo Popinhak Franco

Objetivo: avaliar alegação de estabilidade de dose

Revisão conceitual

A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) ou heart rate variability (HRV) é um indicador da atividade do sistema nervoso autônomo utilizado na medicina e na psicofisiologia da neurociência ou psicologia cognitiva. A variabilidade da frequência cardíaca consiste em quanto os batimentos cardíacos variam. As sessões devem ter no mínimo 2 minutos. Foi utilizado o aplicativo Nami criado pelo ex-professor de neurociência cognitiva da UFSC Emílio Takase. O sensor utilizado foi o microfone embutido de um celular Samsung sem capinha. Ajustes foram feitos do sinal conforme indicado em documento publicado na internet durante a pandemia de Covid-19.

A variável RMSSD indica ativação do freio parassimpático e valores maiores indicam maior resiliência psicológica do organismo e reações aumentadas de relaxamento, conforto e prazer. O nervo vago liga a parte superior do coração ao cérebro e está relacionado com o sistema nervoso parassimpático (RMSSD). O resto do coração é ligado ao resto do corpo através de outros nervos, têm efeito sobre o padrão de batidas do coração e está relacioado ao sistema nervoso simpático que aumenta as reações de estresse. A coerência cardíada indica o grau em que os recursos fisiológicos do organismo estão sincronizados, aumentando a eficiência fisiológica nas atividades diárias.

Método e análise de dados

O tratamento dos dados foi realizado ao obter-se a média diária de RMSSD ao longo do mês a partir de cinco ou seis mensurações na maior parte dos dias; comparar o valor de RMSSD nos três períodos do dia obtendo a média de todos os valores de cada período do dia nas duas primeiras semanas. A coerência diária e o RMSSD diário serão obtidos posteriormente por meio da importação dos arquivos de extensão CSV de cada dia para obter o cálculo automático de estatísticas feito pelo aplicativo Nami.

A opção por obter médias diárias de RMSSD foi feita pela semelhança de metabolização dentro de um mesmo dia que se distribui pelas diferentes mensurações num mesmo dia. A média permite balancear os valores de metabolização distribuiídos nas diferentes mensurações num dia e as interferências do ambiente (atividades diárias). Essa proposta de análise de dados se confirmaria se os valores médios diários obtidos forem graduais (paramétricos). Posteriormente poderia ser feita a mensuração logo ao despertar pela manhã ao longo dos dias do mês para evitar interferência das atividades diárias, o que facilitaria a replicação do resultado dessa coleta de dados. 

A pergunta que motivou a coleta de dados foi a verificação da alegação de estabilidade de dose promovida por Invega Sustenna e seu efeito terapêutico.  

Foi administrado 100mg (miligramas) da injeção Invega Sustenna no glúteo. Invega Sustenna é um metabólito da risperidona que é o equivalente a risperidona pré-processado para o músculo.

Tentou-se controlar a diferença do ritmo circadiano fazendo 2 mensurações da variabilidade da frequência cardíaca ou mais em cada período do dia ao longo do mês. A média da variabilidade da frequência cardíada com base nas média em cada período do dia nas duas primeiras semanas indicou uma diferença pequena entre os três períodos do dia. Tentou-se manter estável (controlar variável) a postura sentada na mesma cadeira, a saciação da fome, a hidratação, o tempo de repouso ereto antes da mensuração, a sensação de calor e os hábitos de exercício físico. Essas variáveis foram mantidas de maneira semelhante aos hábitos diários do participante.

Resultados

O valor médio de RMSSD no dia anterior  à administração de Invega Sustenna foi 28, valor não diferente do primeiro dia da administração. O valor de RMSSD foi semelhante (acima) do primeiro dia até aproximadamente o sexto dia. Do sétimo dia até o vigésimo dia o valor médio de RMSSD foi menor. Do dia vigésimo primeiro até o dia 30 o valor médio de RMSSD foi instável, com valores altos e baixos semelhantes aos da primeira semana até o dia seis e das segunda e terceira semanas. Nos dia 17, 20,21 e 29 a quantidade de mensurações foi menor do que seis, respectivamente cinco, quatro, quatro e três*. A mensuração não foi feita nos dias cinco, do décimo até décimo segundo e nos dias vigésimo sexto até vigésimo oitavo. No dia cinco houve um dia mais movimentado. Nos dias décimo até décimo segundo mudança de ambiente e de rotina. Nos dias vigésimo sexto até vigésimo nono houve mudança de ambiente, de rotina e evento altamente estressante no dia vigésimo sexto.





Os valores das mensurações de cada dia tiveram uma variação de no máximo [inserir valor]. Em alguns momentos o valor de RMSSD se estabilizou na maior parte da sessão entre cinco e dez. Mas os valores finais dessas sessões foram maiores, oito ou dez e aproxidamente treze a dezesete, devido às variações dentro da sessão e interferência de movimento e em alguns momentos contração do estômago. O aplicativo Nami corrige automaticamente as batidas do coração fora da curva (outliers), então é possível que as interferências sejam corrigidas.

Na quarta semana (dia vigésimo primeiro até dia trigésimo) os valores instáveis podem ter ocorrido devido a algum processo relacionado com a abstinência de redução de dose (já que o valor de RMSSD é inversamente proporcional à dose de neuroléptico metabolizado como foi avaliado com o comprimido Socian em 2014). Outra possibilidade é que tenha havido interferência do evento altamente estressante e da rotina. A quantidade de mensurações pode não ter afetado significativamente o valor médio de RMSSD por que valores instáveis semelhantes foram obtidos com quatro e seis mensurações por dia, respectivamente, nos dia vigésimo, vigésimo primeiro (quatro mensurações) e nos dias vigésimo segundo e vigésimo terceiro (seis mensurações). No dia vigésimo novo foram realizadas apenas três mensurações (verificar) mas o valor médio não foi diferente de outro dia em que foram realizadas seis mensurações. Adicionar uma mensuração (de cinco para seis) teve efeito pequeno no valor médio de RMSSD nos dias ao longo do mês.

Valores médios de RMSSD dos períodos dos dias das primeiras semanas obtidos para avaliar ritmo circadiano (relógio biológico).

m 17,375

t 18,9375

n 18,1875

Legenda: m=manhã, t=tarde e n=noite

Discussão

A variável RMSSD indica que o aumento da dose da injeção mensal Invega Sustenna aumenta a partir da segunda semana. Na terceira semana o efeito é maior na redução de RMSSD. Nas quarta e primeira semanas RMSSD indica que as doses são menores. É interessante que o usuário da injeção seja capaz de discriminar que nas segunda e terceira semanas se sentirá desanimado pelo efeito do aumento de dose para que a não discriminação disso não leve a pensamentos, sentimentos e comportamentos negativos sobre influência da redução da ativação da fisiologia do sistema nervoso parassimpático. A variação de dose que ocorre diariamente com comprimidos neurolépticos também ocorre ao longo do mês com a injeção mensal Invega Sustenna. O participante da coleta de dados se hidratava da forma habitual de sua rotina e isso pode ter aumentado os valores absolutos de RMSSD. Observando-se o padrão de RMSSD ao longo da sessão de 3, 4 ou 5 minutos notou-se uma variação irregular. Seria interessante comparar o grau de irregularidade do padrão de RMSSD dentro das sessões entre comprimidos neurolépticos e a injeção mensal Invega Sustenna. A diferença principal entre a primeira e quarta semanas foi que os valores maiores foram mais frequentes enquanto que na segunda e terceira semanas os valores menores foram mais frequentes. Valores menores de RMSSD indicam inibição e valores maiores espontaneidade. Portanto, a inibição (suposto efeito terapêutico) segundo esses resultados é maior nas segunda e terceira semanas e nas primeira e quarta semanas a espontaneidade é maior. A alegação de estabilidade de dose e seus efeitos terapêuticos deve ser relativizada pois somente a velocidade de metabolização menor foi capaz de manter a dose relativamente estável nos dois conjuntos de duas semanas diferentes. Substituindo-se a noção de estabilidade de dose por suficiência de dose terapêutica poderia-se inferir que o efeito terapêutico de inibição maior nas segunda e terceira semanas levaria a menos comportamentos problemas nessas semanas e mais comportamentos problemas nas primeira e quarta semanas, de forma análoga à dose menor no fim do período de metabolização de 24 horas de comprimidos neurolépticos (Socian e VFC, 2014). Na quarta semana a instabilidade de valores médios de RMSSD poderia indicar efeito de um processo relacionado com abstinência de redução de dose. É precipitado concluir que a instabilidade na quarta semana se deve à irregularidade de metabolização durante a transição do nível de dose já que seriam necessários mais dados para replicar o padrão de instabilidade e conhecimento do processo bioquímico e fisiológico. No entanto, não é implausível instabilidade da taxa de batimentos cardíacos já que em artigo sobre abstinência de álcool encontrou-se instabilidade acentuada. Segundo Martusevich, A., Zhukova, N., Dilenyan, L., Bocharin, I., & Mamonova, S. (2020): "Os nossos doentes com síndrome de abstinência alcoólica no período de reabilitação apresentaram uma acentuada instabilidade do ritmo cardíaco, manifestando-se no papel crescente dos seus mecanismos de regulação intracardíaca e no efeito estimulante da simpatiotonia." O efeito de abstinência com redução de dose é um processo já descrito na literatura científica. No entanto, é possível que haja lacuna na literatura científica sobre o efeito da abstinência de neurolépticos na variabilidade da frequência cardíaca, somando-se lacunas de artigos com método de sujeito único e sem o uso de estatística. [Com aplicativo Nami na Google Playstore e um celular qualquer pessoa em uso contínuo ou com possibilidade de descontinuar neurolépticos facilmente poderia coletar os dados. A coleta mais simples seria feita nos últimos 10 dias do mês e na primeira semana após a adminstração da Injeção Invega Sustenna. Outra possibilidade seria a coleta dados de abstinência de comprimidos neurolépticos ou outras drogas psiquiátricas.]

Pode-se afirmar que esse padrão de metabolização foi observado devido à administração da injeção no glúteo. A administração no músculo deltóide provavelmente só tornaria o início do padrão de metabolização acontecer antes mas a variação no grau de metabolização provavelmente também ocorreria.

Como os valores médios de RMSSD em dias adjacentes foi semelhante e porque os valores da quarta semana se assemelharam aos da primeira semana, optou-se por não mensurar RMSSD na quinta semana com o objetivo de replicação.

Também seria interessante avaliar o grau de regularidade ou irregularidade nos valores de RMSSD e valores máximo e mínimos para Invega Sustenna e comprimidos neurolépticos dentro de cada sessão e ao longo das sessões do mês para Invega Sustenna.

Observação: Quem tiver interesse em reanalisar os dados com a correção automática do Kubios pago. outros aplicativos e refazer os cálculos. Envie e-mail para crisedapsiquiatria.qma56@simplelogin.com

Referências:

TAKASE,Emílio - MOBILIZAÇÃO PARA SABER SE FREQUÊNCIA CARDÍACA COMO BIOMARCADOR ( INDICADOR ) PARA COVID-19 Gripe

Efeito da Medicação Neuroléptica Socian (100mg) na Variabilidade da Frequência Cardíaca
https://crisedapsiquiatria.blogspot.com/2014/07/efeito-da-medicacao-neuroleptica-socian.html


APRENDENDO A RESPIRAR: uma breve introdução ao biofeedback cardiorrespiratório Autores: Mariana Lopez Teixeira - Fernanda Vargas Amaral - Emilio Takase - Ruy Marra
Aplicativo Nami - Google Play store
Martusevich, A., Zhukova, N., Dilenyan, L., Bocharin, I., & Mamonova, S. (2020). Heart Rate Variability in Patients With Alcohol Withdrawal Syndrome. Iranian Heart Journal21(4), 100-106. Link: http://journal.iha.org.ir/article_115208.html

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