Efeito da Medicação
Neuroléptica Socian (100mg) na Variabilidade da Frequência Cardíaca
Eduardo Popinhak Franco
Resumo
A variabilidade da frequência cardíaca é um indicador de saúde do sistema vago, de saúde mental e resiliência. Efeito da Medicação Neuroléptica Socian (100mg) na Variabilidade da Frequência Cardíaca. A metabolização do neuroléptico Socian reduziu a variabilidade da frequência cardíaca. Confirmando os relatos de experiência subjetiva negativa relacionada ao uso de neuroléptico. A qualidade da experiência subjetiva é um aspecto que deve ser considerado ao avaliar a efetividade de um medicamento psicoativo.
1. Introdução
A partir de
pesquisas que indicam o prejuízo da medicação antipsicótica à
reabilitação de pacientes diagnosticados com esquizofrenia, psicose
e diagnósticos semelhantes julga-se necessário avaliar formas de
demonstrar esses efeitos e encontrar meios de retirada de medicação
eficazes. Um desses meios é o uso da técnica de treinamento por
biofeedback. Com o controle da fisiologia do sistema nervoso autônomo
simpático e parassimpático viabilizado pelo biofeedback
cardiovascular é possível reduzir sintomas incômodos sem que haja
o prejuízo que a medicação antipsicótica produz.
2. Justificativa
É preciso buscar
avaliar a eficácia dos tratamentos farmacológicos nas variáveis
psicofisiológicas da neurociência. Dessa forma, as decisões e os
tratamentos podem ser individualizados pelo psicólogo por meio do
biobeedback cardiovascular. Por existirem outras possibilidades de
intervenção além do medicamento farmacológico a efetividade de
cada tipo de tratamento pode ser verificada por meio da monitoração
da psicofisiologia do Sistema Nervoso Autônomo.
O tratamento de
pacientes psicóticos/esquizofrênicos por meio de biofeedback
contribuiria bastante para redução de custos do tratamento e das
perdas sociais relacionadas às doenças mentais. Assim como seria
possível comprovar o efeito do medicamento em cada paciente e julgar
a necessidade de mantê-lo ou retirá-lo.
A saúde pública e
o tratamento dos transtornos mentais ganharia muito em efetividade se
fosse ampliado o alcance e conhecimento desse tipo de tratamento e
monitoração.
3. Objetivo geral:
Verificar o efeito
da medicação antipsicótica na ativação autonômica (SNC) através
do biofeedback cardiovascular mais especificamente a Variabilidade da
Frequência Cardíaca.
3.1. Objetivos
específicos:
- Medir o valor de
VFC (Variabilidade da Frequência Cardíaca) antes e depois da
ingestão de 100mg do neuroléptico Amissulprida no período de 24
horas.
- Medir o valor de
VFC relativo ao metabolismo nos períodos da manhã, tarde e noite.
- Medir o efeito da
metabolização do medicamento no primeiro pico de 1 hora após a
ingestão.
4. Revisão de
Literatura
Segundo Seigman,
Pepple, Faraone, Kremen, Green, Brown, Tsuang (1993): “a melhora de
sintomas negativos como um resultado da redução de neurolépticos
provê algum apoio ao argumento de que disfunções lobo frontrais
podem ser, em parte, um efeito iatrogênico das medicações
antipsicóticas”.
Medalia, Gold,
Merrian (1988) afirmam que:
Essa interpretação
da literatura apoia a hipótese de Goldberg (1985) de que há efeitos
iatrogênicos frontais dos neurolépticos com base no bloqueio
dopaminérgico nas projeções mesocorticais, uma vez que o prejuízo
cognitivos pode também derivar de disfunção no lobo frontal
independente de medicação, a contribuição relativa à disfunção
lobo frontal integral e parcial na esquizofrenia necessita ser
delineada.
De acordo com
Seigman, Pepple, Faraone, Kremen, Green, Brown, Tsuang (1993):
uma abordagem
potenciamente útil seria uma tentativa de encontrar a menor dose de
manutenção que o paciente poderia tolerar sem recaída. (Marder
et
al 1987). Porque
existem alguns dados sugerindo que neurolépticos prejudicam
aprendizado humano por incentivo, Cutmore
and Beninger
(1990) sugerem que doses mais baixas de neurolépticos podem permitir
que aconteça maior aprendizagem por incentivo (ex: rehabilitação
social).
Conforme Medalia,
Gold, Merrian (1988):
Os achados dessa
revisão argumentam contra noções de que uma desordem de excitação
fisiológica é central na esquizofrenia. De acordo com essa teoria,
superexcitação fisiológica é a deficiência central e os
antipsicóticos agem de forma a reduzir a atividade autonômica
centralmente mediada, com o resultado de que o funcionamento da
atenção melhora. Apesar disso, nossa síntese dos resultados nessa
área não indica que o funcionamento da atenção melhora. Há
evidência fortes de que o prejuízo da atenção existe e pode ser
um traço da esquizofrenia que pode ser exacerbado durante estados
psicóticos. Apesar disso, as medicações não parecem afetar a
atenção mesmo quando estudos de eficácia clinica indicam que
melhoram a sintomatologia psicótica
Segundo Medalia,
Gold, Merrian (1988) com o uso de neurolépticos a memória,
coordenação motora fina e habilidade de planejamento são
negativamente afetadas frequentemente.
Segundo Medalia, Gold, Merrian (1988) anos de documentação clinica e pesquisas indicam que a esquizofrenia é caracterizada por sintomas psicóticos e prejuízo de habilidades cognitivas básicas.
Conforme Kaplan, Kotler, Cohen, Loewenthal (1999): “Nossos estudos preliminares mostraram que pacientes esquizofrênicos tratados com Clozapina tiveram um valor menor significativo de HF e valor maior de LF em comparação com pacientes tratados com Haloperidol”.
De acordo com Yeragani, 1995; Korpelainen et al., 1996; Haapaniemi et al., 2001; Ansakorpi et al., 2002 (apud Jh, Sh, Cs, Sa, Sc, Ky, Ym, Ug, Ys, 2004): “Recentemente, tem sido demonstrado que as medidas de VFC, que são conhecidas por ter significância diagnóstica e prognóstica na cardiopatia, estão significativamente diminuídas em várias doenças não-cardíacas incluindo transtornos psiquiátricos”.
Para Agelink et al.,
2001; Eschweiler et al., 2002: “Também foi relatado que sujeitos
esquizofrênicos tratados com drogas antipsicóticas, particularmente
clozapina, apresentam os parâmetros de VFC reduzidos (apud Jh, Sh,
Cs, Sa, Sc, Ky, Ym, Ug, Ys, 2004). Para Eschweiler et al., (2002)
(apud
Jh, Sh, Cs, Sa, Sc, Ky, Ym, Ug, Ys, 2004). “Esses
resultados foram interpretados principalmente como sendo uma
consequência dos efeitos do medicamento, como os efeitos
colinérgicos da clozapina”. De acordo com Zahn, 1977; Malaspina et
al. (2002) (apud
Jh, Sh, Cs, Sa, Sc, Ky, Ym, Ug, Ys, 2004)
“Além disso, há um número de relatórios mostrando disfunção
autonômica em pacientes esquizofrênicos que nunca foram medicados”.
Uma relação entre
modulação cardiovagal e estado psicótico em pacientes com
esquizofrenia paranóide. Nossos dados fornecem evidências para uma
modulação cardiovagal reduzida em pacientes esquizofrênicos não
medicados que podem ser mostrados pelo uso de registros de VFC
rotineiros. Nós também encontramos que pacientes apresentando
sintomas psicóticos mais intensos segundo o escore total de BPRS
exibem mais distúrbios autonômico cardíacos severos em comparação
com controles como indicado por uma redução no poder de HF e uma
proporção aumentada de LF/HF, refletindo uma mudança na regulação
autonômica cardíaca distante de uma modulação predominantemente
parassimpática. Para Pagani et al. (1986) apud Jh,
Sh, Cs, Sa, Sc, Ky, Ym, Ug, Ys (2004) poder
de baixa frequência, principalmente refletindo modulação
simpática, não foi diferente dos controles. Isso implica uma
influência indubitável da árvore simpática na regulação
cardíaca na esquizofrenia.
5. Metodologia
Pesquisa descritiva
quantitativa.
Instrumentos de coleta de dados: cinta de monitoramento cardíaco, os programas biomind e kubios.
Amostra: 1 usuário do antipsicótico Amissulprida.
Procedimento: 1) medição dos batimentos cardíacos uma hora antes de ingerir medicamento neuroléptico. 2) Medição dos batimentos cardíacos uma hora após ingestão de neuroléptico. 3) Medição dos batimentos cardíacos durante os período da manhã, tarde e noite no dia seguinte.
Resultados e
Discussão
RMSSD | D2 | LF/HF | |
1. Antes (21:05) | 26192 | -1,3998 | 1,9622 |
2. Antes 2 (21:41) | 35644 | -1,3998 | 2,5467 |
3. Antes (22:20) | 25566 | 1,3998 | 0,99539 |
4. Depois (22:45) | 18936 | -6,9992 | 2,8005 |
5. Depois (23:27) | 19297 | -6,9992 | 1,8510 |
6. Depois (12:33) | 10256 | 6,9992 | 7,2563 |
7. Depois (13:34) | 15420 | 6,9992 | 4,2441 |
8. Depois (17:30) | 34340 | 6,9992 | 1,1651 |
9. Depois (18:15) | 24570 | 6,9992 | 5,7755 |
10. Depois (22:14) | 29611 | 6,9992 | 1,8789 |
11. Depois (23:09) | 31059 | 6,9992 | 2,7340 |
Tabela 1.
O parâmetro RMSDD
indica o grau de Variabilidade da Frequência Cardíaca no sentido de
valor crescentes. O parâmetro D2 indica a resiliência do Sistema
Nervoso Autônomo e do sistema vagal ou a capacidade de se adaptar a
novas situações. O parâmetro LF/HF indica uma predominância de
ativação simpática versus uma predominância de ativação
parassimpática se os valores forem maior que 1 e menor que 1
respectivamente.
A tabela indica os
horários antes da ingestão da medicação e depois da ingestão da
medicação e os horários dos períodos da manhã, tarde e noite.
Tanto o metabolismo quanto o efeito do medicamento neuroléptico
precisam ser avaliados à medida que 24 horas se passaram.
A metabolização do
medicamento Amissulprida tem o primeiro pico uma hora depois da
ingestão e o segundo pico de 3 a 4 horas depois da ingestão. As
medições procuraram ser feitas em cada etapa dentro de uma hora.
Os valores de RMSDD
diminuíram após a ingestão da medicação indicando uma redução
na Variabilidade da Frequência Cardíaca. Os valores de RMSDD
aumentaram na medida em que o horário se aproximava da noite
indicando um metabolismo que facilita as atividades durante a noite.
Os valores de LF/HF
estão quase todos acima de 1 indicando uma predominância simpática
na ativação do sistema nervoso autônomo. Apenas no momento pouco
antes de ingestão da medicação houve um valor abaixo de 1 ou
praticamente equivalente a 1.
Os valores negativos
de D2 após a ingestão da medicação indicariam que a metabolização
do medicamento neuroléptico estaria reduzindo a resiliência do
sistema nervoso autônomo e do sistema vagal. Os valores de D2
permaneceram constantes e positivos ao longo do dia seguinte.
Conclusão
A metabolização do
medicamento neuroléptico reduz a Variabilidade da Frequência
Cardíaca, reduz a resiliência do Sistema Nervoso Autônomo
indicando também que contribui para o valor de ativação simpática
predominante registrado.
Esse trabalho
comprovou os artigos que indicam efeito iatrogênico do medicamento
neuroléptico e tendo como consequência o prejuízo da saúde
mental.
7. Referências
Medalia,
A., Gold, J., & Merriam A. (1988). The Effects of Neuroleptics on
Neuropsychological Test Results of Schizophrenics. Journal of
Clinical Neuropsychology, 3, 249-271.
Seidman
LJ, Pepple JR, Faraone SV, Kremen WS, Green AI, Brown WA, Tsuang MT.
Neuropsychological performance in chronic schizophrenia in response
to neuroleptic dose reduction. Biol Psychiatry. 1993 Apr 15-May 1;
33(8-9):575-84.
Kim JH, Yi SH, Yoo CS, Yang SA, Yoon SC, Lee KY, Ahn YM, Kang UG, Kim YS. Heart rate dynamics and their relationship to psychotic symptom severity in clozapine-treated schizophrenic subjects. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry. 2004 Mar;28(2):371-8.
U. Loewenthal, H. Cohen, Z. Kaplan, M. Kotler. Abnormal heart rate variability in clozapine treated patients. European Neuropsychopharmacology. 01/1999; 9:256-256.
Kim JH, Yi SH, Yoo CS, Yang SA, Yoon SC, Lee KY, Ahn YM, Kang UG, Kim YS. Heart rate dynamics and their relationship to psychotic symptom severity in clozapine-treated schizophrenic subjects. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry. 2004 Mar;28(2):371-8.
U. Loewenthal, H. Cohen, Z. Kaplan, M. Kotler. Abnormal heart rate variability in clozapine treated patients. European Neuropsychopharmacology. 01/1999; 9:256-256.
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