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quinta-feira, 4 de maio de 2023

Wundt e Kraepelin (atomismo e análises psicológicas)

[Interessante para instigar a pensar como as diferentes psiquiatrias se baseiam em formas diversas de análises psicológicas e como a noção de diagnóstico Kraepeliano como uma molécula composta de átomos isolaveis (sintomas) é consequência de um pressuposto filosófico como o atomismo (conceito filosófico) de Wundt (fundador da psicologia) e que não precisa ser assim.]

BERCHERIE, Paul - Os Fundamentos da Clínica: história e estrutura do saber psiquiátrico. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 1989.

Kraepelin antes de 1900

A. As três primeiras edições (1883-1889): de Wundt a Krafft-Ebing;

Na verdade, foi uma certa análise psicológica que estruturou essa nosologia. Kraepelin fora aluno de Wundt, que aliás lhe teria sugerido a redação do Compêndio. Como Pinel, estava convencido de que a investigação psicológica era indispensável para a compre­ensão das doenças mentais e de que, sendo assim, a psicologia "nor­mal" podia fornecer instrumentos conceituais à análise clínica.2 Por isso é que, com base no modelo da psicologia experimental de Wundt, deu-se a um bocado de trabalho para fazer experiências psi­cológicas em psiquiatria (ou seja, diversas medidas psicométricas nos diferentes estados mórbidos) . Por outro lado, encontramos constan­temente em sua obra uma preocupação com a análise psicológica.

[...]

Caracteristicamente, o critério evolutivo e uma análise psicológica cujo caráter atomista (wundtiano) há de ter sido notado de passagem permitiram o agrupamento de síndromes clinicamente heterogêneas numa "entidade mórbida". [O atomismo de Wundt investigava os elementos da consciência]
[...]

Por fim, as funções psíquicas superiores (consciência, apercep­ção, vontade) eram explicadas de maneira um pouco divergente, conforme fossem distribuídas entre todos os elementos mentais e, portanto, se fizesse delas a resultante do conjunto do funcionamento psíquico ( tendência inglesa ) , ou fossem atribuídas a uma função psicológica específica ( tendência mais alemã, ilustrada pela "apercepção" de Wundt) e a uma área cortical particular (zonas de asso­ciação e sobretudo o córtex pré-frontal)

[...]

ALEXANDER, Franz & SELESNICK, Sheldon - História da Psiquiatria. São Paulo, IBRASA,1980.

Mesmo antes da formatura de Kraepelin na Escola médica de Wiirzburg em 1878, ele estava interessado nos aspectos médicos da psiquiatria. Ele passou o verão de 1876 em Leipzig estudando com Wilhelm Max Wundt (1832-1920), um famoso psicólogo fisiológico [experimental], e logo depois escreveu um tratado sobre “A influência das doenças agudas na origem das doenças mentais”. Após a formatura, Kraepelin estudou em Munique com o neuroanatomista Bernhard von Gudden (1824-1886) por quatro anos e depois continuou seus estudos neuropatológicos em Leipzig com P. E. Flechsig (1847-1929), um famoso neuroanatomista que freqüentemente realizava autópsias em pacientes que morreram de doenças cerebrais orgânicas. Após um curto período de tempo, Kraepelin voltou à pesquisa psicofarmacológica e psicofisiológica experimental sob a orientação de Wundt e ficou tão impressionado com as ações das drogas no cérebro que decidiu que a pesquisa neurofisiológica era sua verdadeira vocação. Seguindo o conselho de Wundt e Erb, no entanto, Kraepelin voltou à psiquiatria clínica e por vários anos lecionou em Dorpat e depois em Heidelberg. Finalmente, em 1903, Kraepelin foi nomeado professor de psiquiatria clínica em Munique, onde passou os dezenove anos seguintes; em 1922, ele se aposentou do ensino para assumir o cargo de chefe do Instituto de Pesquisa de Psiquiatria em Munique.

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