THOMAS SZASZ (Resumo de algumas obras) - 23 respostas. Comunidade "O Mito da Doença Mental" Orkut
EL SEGUNDO PECADO – 1972
“Uma criança se torna adulto quando se dá conta de que tem o direito, não apenas a ter razão, mas também a estar em um erro.” (SZASZ, 1972: pág.14)
“Todo benfeitor quer controlar a pessoa a quem faz bem. O sacerdote controla em nome de Deus; o médico em nome da saúde. Esta propensão universal a controlar aos demais choca e se contradiz com o objetivo de fazer do homem um indivíduo responsável de si mesmo.” (SZASZ, 1972: 39)
“Nenhum fármaco pode expandir a consciência; a única coisa que um fármaco pode expandir são as ganâncias da companhia que o fabrica.” (SZASZ, 1972: 50)
“Chamam ao aborto “assassinato” ou “feticidio” quem o desaprova; quem são partidários dele ou não o condenam o denominam “controle de natalidade”. De modo parecido, a causar a própria morte só deveriam chamar “suicídio” quem o desaprova; e os que o aprovam – o ao menos não o condenam – deveriam chamá-lo “controle de mortalidade”.” (SZASZ, 1972: 52)
“A Psiquiatria comunitária promete aproximarmos ao dia em que todo o mundo cuidará de todos os demais e ninguém cuidará de si mesmo.“ (SZASZ, 1972: 55)
“Todas as enfermidades «correntes» que tem as pessoas também as tem os cadáveres. Assim, pois, cabe dizer que um cadáver «tem» câncer, pneumonía ou um infarto de miocárdio. A única enfermidade que é seguro que um cadáver não pode «ter» é a mental. Não obstante, a postura oficial da American Psychiatric Association e de outros grupos médicos e psiquiátricos é que «a enfermidade mental é como qualquer outra enfermidade».” (SZASZ, 1972: 64)
Anônimo - 14/03/2010
EL SEGUNDO PECADO – 1972 (Cont.)
“Dizer que a mente de uma pessoa está enferma é como dizer que a economia está enferma ou que uma brincadeira está enferma. Quando se confunde a metáfora com a realidade e se usa com fins sociais temos os elementos para fabricar um mito. Os conceitos de saúde mental e enfermidade mental são conceitos mitológicos que se usam estrategicamente para facilitar o avanço de alguns interesses sociais e atrasar o de outros, de forma muito parecida ao uso que se foi feito no passado dos mitos nacionais e religiosos.” (SZASZ, 1972: 70)
“Quem acredita ser Jesus, ou quem acredita ter descoberto um remédio contra o câncer (sem ser esse o caso), ou quem se acredita ser perseguido pelos comunistas (sem ser esse o caso), terá suas convicções, provavelmente, interpretadas como sintomas de esquizofrenia. Mas quem acreditar serem os judeus o povo eleito, ou ser Jesus o Filho de Deus, ou ser o comunismo a única forma de governo científica e moralmente justa, terá suas convicções interpretadas como o produto daquilo que é: judeu, cristão, comunista. É por isso que acredito que só descobriremos as causas químicas da esquizofrenia quando descobrirmos as causas químicas do judaísmo, do cristianismo e do comunismo. Nem antes, nem depois.” (SZASZ, 1972: 72)
Anônimo - 14/03/2010
ESQUIZOFRENIA: O SÍMBOLO SAGRADO DA PSIQUIATRIA
“(...) a afirmação de que algumas pessoas têm uma doença chamada esquizofrenia (e de que algumas, presumivelmente, não a têm) baseia-se unicamente na autoridade médica e não em qualquer descoberta da Medicina: de que isso foi, em outras palavras, o resultado de uma tomada de decisão ética e política, e não de um trabalho científico empírico.” (SZASZ, 1978: 17)
“O que aconteceria então a Psiquiatria se a medicina e a lei, o povo e os políticos reconhecessem o caráter metafórico e mitológico da doença mental? Essa desmistificação da Psiquiatria abalaria e destruiria a Psiquiatria como especialidade médica, tão seguramente quanto a desmistificação da Eucaristia abalaria e destruiria o catolicismo romano como religião.” (SZASZ, 1978: 44)
“Quando o médico deseja dar ao paciente uma pitada de encorajamento, diz-lhe que seu estado de nervos se deve ao excesso de trabalho; se deseja revigorar seu próprio ego à custa do paciente, diz-lhe que o seu estado de nervos se deve à masturbação; ambas as declarações são autistas... O pensamento negligente é oligofrênico e conduz ao erro; o pensamento autista é paranóide e leva a alucinação.” (SZASZ, 1978: 110)
“quando os nazistas estigmatizaram e confinaram judeus, isso é perseguição; quando os americanos estigmatizam e segregam seus compatriotas que tem pele negra ou ancestralidade nipônica, isso também é perseguição. Mas quando pessoas no mundo inteiro estigmatizam e segregam seus parentes e vizinhos que se comportam de maneira que não é do agrado da maioria – e quando essa estigmatização se efetua mediante labéus e segregações pseudomédicas – então isso deixa de chamar-se perseguição, e é geralmente aceito como Psiquiatria.” (SZASZ, 1978: 114)
Anônimo - 14/03/2010
A ESCRAVIDÃO PSIQUIÁTRICA – 1977
“Uma explicação se refere a um acontecimento, ao passo que uma justificação se refere a um ato. A diferença entre esses termos é mais ou menos a mesma que existe entre coisas e pessoas.” (SZASZ, 1986: 17)
“Assim como os verdadeiros crentes do judaísmo acreditam que os judeus são o Povo Escolhido e assim como os verdadeiros crentes do cristianismo acreditam que Jesus é Deus, assim também os verdadeiros crentes da psiquiatria acreditam que a esquizofrenia paranóide é uma doença mental identificável e que os que sofrem dessa doença são perigosos.” (SZASZ, 1986: 61)
“Desde o início, portanto, o direito do louco de obter assistência foi, de fato, o direito do alienista de colocá-lo em reclusão; e, na era atual, a reivindicação do direito a tratamento do paciente psiquiátrico é, na verdade, a reivindicação do direito do psiquiatra de tratá-lo.” (SZASZ, 1986: 129)
“Os indivíduos não vem ao mundo com o rótulo de “escravo” e “não-escravo”, “esquizofrênico” e “não-esquizofrênico”, “perigoso” e “não-perigoso”. Nós – os traficantes de escravos e proprietários de latifúndios, psiquiatras e juízes – é que os rotulamos dessa maneira.” (SZASZ, 1986: 154)
Anônimo - 14/03/2010
CRUEL COMPAIXÃO – 1994
“Em nosso [psiquiatria] afã de medicalizar a moral, transformamos quase todos os pecados em doença. Raiva, gula, luxúria, orgulho, preguiça são todos sintomas de doenças mentais.” (SZASZ, 1994: 22)
“Somente os anjos são capazes de ginásticas existenciais de odiar o pecado mas amar o pecador. Os mortais comuns são mais propensos a praticar o pecado na intimidade e odiar o pecador em público”. (SZASZ, 1994: 26)
“A história nos ensina não apenas que os pais sempre abusaram dos filhos, mas também que cada prática abusiva socialmente adotada estava, por definição, tão bem integrada na cultura que a servia que, para uma pessoa razoavelmente aculturada, não parecia de modo algum ser um abuso.” (SZASZ, 1994: 104)
“No Ocidente, um pai não pode consentir que seu filho menor tenha relações sexuais com uma pessoa adulta (“para o próprio bem do filho”). Igualmente, não se deveria permitir que um pai consentisse que seu filho tivesse relações psiquiátricas (“para o próprio bem do filho”). As relações sexuais entre adulto e crianças são legalmente consideradas como estupro; a psiquiatria infantil deveria ser banida, como um estupro psiquiátrico.” (SZASZ, 1994: 109)
“Vivemos enganando a nós mesmos de que ter um lar e ser mentalmente saudável são nossas condições naturais – e de que nos tornamos sem-lar ou mentalmente doentes quando “perdemos” nossos lares e mentes. O oposto é que é verdade. Nascemos sem lar e sem raciocínio e temos que nos esforçar e nos alegrar se conseguirmos edificar um lar seguro e uma mente sã.” (SZASZ, 1994: 138-139)
“(...) nós frequentemente atribuímos o mau comportamento à doença (para desculpar o agente); nunca atribuímos o bom comportamento à doença (a menos que privemos o agente de crédito); e, tipicamente, atribuímos o bom comportamento ao livre arbítrio e insistimos que o mau comportamento, chamado de doença mental, é um ato “não falho” da natureza.” (SZASZ, 1994: 167)
Anônimo - 14/03/2010
CRUEL COMPAIXÃO – 1994 (Cont.)
“Os gregos entendiam que encontrar a verdade era um ato de descoberta que exigia remover “o véu que cobre ou oculta algo”. O véu que usamos para encobrir a verdade da condição humana é a psiquiatria. Se o levantarmos, redescobriremos os fundamentos familiares da existência, isto é, que algumas pessoas trabalham e outras não – e que o negócio da psiquiatria é distribuir alívio aos pobres (disfarçado em cuidado médico) e a adultos dependentes (cuja indolência e falta de pudor são disfarçadas em doença).” (SZASZ, 1994: 225)
“A verdade é que, após tratamento com drogas neurolépticas, os pacientes mentais tendem a ficar mais doentes e mais incapazes que antes. Muitos exibem os efeitos tóxicos das drogas, sofrendo de uma perturbação neurológica desfigurante chamada de “discinesia tardia”. Praticamente, todos eles continuam a depender da família ou da sociedade para alimentação e abrigo. O contraste estabelecido entre o hospital mental e a comunidade é uma mentira. Os domicílios que agora recolhem pacientes mentais crônicos não são nem mais nem menos parte da comunidade do que o hospital do Estado.” (SZASZ, 1994: 231)
“Uma vez que o paciente mental que se enquadra nos benefícios por invalidez é considerado como permanentemente incapaz de trabalhar, ele não tem que se submeter a tratamento, pode viver onde quiser e gastar seu dinheiro como bem entender; pode casar-se, divorciar-se, ter filhos e votar. Se for detido por algum crime, pode alegar insanidade. A única coisa que ele deve fazer para qualificar-se a receber os fundos federais é permanecer louco e desempregado.” (SZASZ, 1994: 247)
Anônimo - 14/03/2010
CRUEL COMPAIXÃO – 1994 (Cont.)
“A maioria das pessoas acredita que pessoas psicóticas sofrem de ilusões e alucinações, executam atos ilógicos ou sem motivo e negam sua doença. A verdade é mais simples e mais dolorosa. Os atos e as falas dos psicóticos fazem muito sentido, mas isto é algo tão perturbador que preferimos não ouvir nem entender. Essa recusa de uma pessoa normal em reconhecer o método na conduta irregular do outro pode ser uma opção existencial razoável. Mas aquele que não quer entender o outro, não tem direito a dizer que aquilo que o outro faz ou diz não faz sentido.” (SZASZ, 1994: 271)
“É desonesto valer-se do pretexto de que cuidar coercitivamente do doente mental invariavelmente o ajuda e que abster-se de tal coerção é o mesmo que “sonegar-lhe o tratamento”. Toda política social acarreta benefícios e prejuízos. Embora nossas idéias sobre benefícios e danos variem de tempos em tempos, a história nos ensina a estar precavidos com benfeitores que privam seus beneficiários da liberdade.” (SZASZ, 1994: 308)
Anônimo - 14/03/2010
THOMAS SZASZ – Conferencia em méxico
"O eletrochoque, a lobotomia, não são nenhum tratamento. Digo isto, como já o expliquei, porque se não existe uma lesão corporal não há uma enfermidade a tratar; e se não há paciente voluntário, não há paciente a tratar. Por um ou pelos dois aspectos os tratamentos psiquiátricos — em contraste com os tratamentos médicos ou quirúrgicos — não são verdadeiros tratamentos, tão somente se assemelham a eles [...].
São castigos, controles sociais, torturas, encarceramentos, envenenamentos, mutilações cerebrais. Mas já que tudo tem lugar sobre os auspícios médicos parece correto à mentalidade contemporânea, assim como as coerções e brutalidades em nome da Igreja pareciam corretas às mentalidades medievais. Então a gente acreditava na Inquisição. Agora acredita na psiquiatria. Pensa-se que a abolição da Inquisição foi algo bom. Penso que a abolição da psiquiatria involuntária seria algo bom."
Anônimo - 14/03/2010
"Rotular uma criança como doente mental, é uma estigmatização, não um diagnóstico. Dar a uma criança uma droga psiquiátrica é um envenenamento, não um tratamento."
(Thomas Szasz Observações no 35o aniversário e Direitos Humanos Prêmio Jantar Cidadãos Comissão Internacional sobre os Direitos Humanos Beverly Hilton Hotel, Beverly Hills, Califórnia 28 de fevereiro de 2004.)
Anônimo - 14/03/2010
O MITO DA PSICOTERAPIA (Edição italiana)
Se volete svilire quello che una persona sta facendo, chiamate il suo atto psicopatologico e definite lei mentalmente malata; se volete esaltare quello che un individuo fa, chiamate il suo atto psicoterapeutico e lui un guaritore mentale. (SZSAZ 16)
Per tutto il diciannovesimo secolo la masturbazione fu considerata una causa e un sintomo di pazzia. Oggi è invece una tecnica psicoterapeutica impiegata dai terapeuti della sfera sessuale. (SZASZ: 19)
“Per decenni il nudismo fu considerato una forma di esibizionismo e di voyeurismo, vale a dire una perversione e di conseguenza una malattia mentale. Oggi è una forma accettata di trattamento medico.” (SZASZ: 20)
“In realtà la psicoterapia si riferisce a quanto due o piú persone fanno le une per le altre, e le une alle altre, mediante messaggi verbali e non-verbali.” (SZASZ: 25)
“se il cervello di una persona è malato e se un chirurgo opera questo paziente, si dice che pratica la neurochirurgia. Quindi l’invenzione stessa della parola psicochirurgia è profondamente rivelatrice del suo carattere di terapia fittizia su un organo metaforico.” (SZASZ: 28)
“Il concetto di psicoterapia ci tradisce giudicando aprioristicamente l’interazione come “terapêutica” per il paziente, nelle intenzioni o nei risultati o in entrambe le cose.” (SZASZ: 30)
“In breve, la psicoterapia è etica secolare. È la religione di persone formalmente irreligiose: una religione col suo linguaggio, che non è il latino ma il gergo medico, cuoi suoi codici di condotta, che non sono etici ma legalistici, e con la sua teologia, che non è il cristianesimo ma il positivismo.” (SZASZ: 31)
ARTIGO: The control of conduct: authority versus autonomy
“Existe apenas um pecado político: independência, e só uma força política: obediência. Para colocá-la de maneira diferente, existe apenas uma ofensa contra a autoridade: o auto-controle, e apenas uma homenagem a ele: submissão ao controle da autoridade.”
ARTIGO: The therapeutic temptation
“O suicídio é uma ação. A única pessoa que pode controlar - provocar ou prevenir - uma ação é o ator.”
ARTIGO: Medicalizing Quackery
“Medicalização não é medicina ou ciência, é uma estratégia semântico-social que beneficia algumas pessoas e prejudica outras.”
Anônimo - 14/03/2010
UNA LENGUA INDOMABLE
"O suicídio é um direito humano fundamental... a sociedade não tem direito a intervir pela força com a decisão de uma pessoa de cometer esse ato" (Open Court, 1990: 250)
A ESCRAVIDÃO PSIQUIÁTRICA – 1977
“Uma explicação se refere a um acontecimento, ao passo que uma justificação se refere a um ato. A diferença entre esses termos é mais ou menos a mesma que existe entre coisas e pessoas.” (SZASZ, 1986: 17)
“Assim como os verdadeiros crentes do judaísmo acreditam que os judeus são o Povo Escolhido e assim como os verdadeiros crentes do cristianismo acreditam que Jesus é Deus, assim também os verdadeiros crentes da psiquiatria acreditam que a esquizofrenia paranóide é uma doença mental identificável e que os que sofrem dessa doença são perigosos.” (SZASZ, 1986: 61)
“Desde o início, portanto, o direito do louco de obter assistência foi, de fato, o direito do alienista de colocá-lo em reclusão; e, na era atual, a reivindicação do direito a tratamento do paciente psiquiátrico é, na verdade, a reivindicação do direito do psiquiatra de tratá-lo.” (SZASZ, 1986: 129)
“Os indivíduos não vem ao mundo com o rótulo de “escravo” e “não-escravo”, “esquizofrênico” e “não-esquizofrênico”, “perigoso” e “não-perigoso”. Nós – os traficantes de escravos e proprietários de latifúndios, psiquiatras e juízes – é que os rotulamos dessa maneira.” (SZASZ, 1986: 154)
Anônimo - 14/03/2010
CRUEL COMPAIXÃO – 1994
“Em nosso [psiquiatria] afã de medicalizar a moral, transformamos quase todos os pecados em doença. Raiva, gula, luxúria, orgulho, preguiça são todos sintomas de doenças mentais.” (SZASZ, 1994: 22)
“Somente os anjos são capazes de ginásticas existenciais de odiar o pecado mas amar o pecador. Os mortais comuns são mais propensos a praticar o pecado na intimidade e odiar o pecador em público”. (SZASZ, 1994: 26)
“A história nos ensina não apenas que os pais sempre abusaram dos filhos, mas também que cada prática abusiva socialmente adotada estava, por definição, tão bem integrada na cultura que a servia que, para uma pessoa razoavelmente aculturada, não parecia de modo algum ser um abuso.” (SZASZ, 1994: 104)
“No Ocidente, um pai não pode consentir que seu filho menor tenha relações sexuais com uma pessoa adulta (“para o próprio bem do filho”). Igualmente, não se deveria permitir que um pai consentisse que seu filho tivesse relações psiquiátricas (“para o próprio bem do filho”). As relações sexuais entre adulto e crianças são legalmente consideradas como estupro; a psiquiatria infantil deveria ser banida, como um estupro psiquiátrico.” (SZASZ, 1994: 109)
“Vivemos enganando a nós mesmos de que ter um lar e ser mentalmente saudável são nossas condições naturais – e de que nos tornamos sem-lar ou mentalmente doentes quando “perdemos” nossos lares e mentes. O oposto é que é verdade. Nascemos sem lar e sem raciocínio e temos que nos esforçar e nos alegrar se conseguirmos edificar um lar seguro e uma mente sã.” (SZASZ, 1994: 138-139)
“(...) nós frequentemente atribuímos o mau comportamento à doença (para desculpar o agente); nunca atribuímos o bom comportamento à doença (a menos que privemos o agente de crédito); e, tipicamente, atribuímos o bom comportamento ao livre arbítrio e insistimos que o mau comportamento, chamado de doença mental, é um ato “não falho” da natureza.” (SZASZ, 1994: 167)
Anônimo - 14/03/2010
CRUEL COMPAIXÃO – 1994 (Cont.)
“Os gregos entendiam que encontrar a verdade era um ato de descoberta que exigia remover “o véu que cobre ou oculta algo”. O véu que usamos para encobrir a verdade da condição humana é a psiquiatria. Se o levantarmos, redescobriremos os fundamentos familiares da existência, isto é, que algumas pessoas trabalham e outras não – e que o negócio da psiquiatria é distribuir alívio aos pobres (disfarçado em cuidado médico) e a adultos dependentes (cuja indolência e falta de pudor são disfarçadas em doença).” (SZASZ, 1994: 225)
“A verdade é que, após tratamento com drogas neurolépticas, os pacientes mentais tendem a ficar mais doentes e mais incapazes que antes. Muitos exibem os efeitos tóxicos das drogas, sofrendo de uma perturbação neurológica desfigurante chamada de “discinesia tardia”. Praticamente, todos eles continuam a depender da família ou da sociedade para alimentação e abrigo. O contraste estabelecido entre o hospital mental e a comunidade é uma mentira. Os domicílios que agora recolhem pacientes mentais crônicos não são nem mais nem menos parte da comunidade do que o hospital do Estado.” (SZASZ, 1994: 231)
“Uma vez que o paciente mental que se enquadra nos benefícios por invalidez é considerado como permanentemente incapaz de trabalhar, ele não tem que se submeter a tratamento, pode viver onde quiser e gastar seu dinheiro como bem entender; pode casar-se, divorciar-se, ter filhos e votar. Se for detido por algum crime, pode alegar insanidade. A única coisa que ele deve fazer para qualificar-se a receber os fundos federais é permanecer louco e desempregado.” (SZASZ, 1994: 247)
Anônimo - 14/03/2010
CRUEL COMPAIXÃO – 1994 (Cont.)
“A maioria das pessoas acredita que pessoas psicóticas sofrem de ilusões e alucinações, executam atos ilógicos ou sem motivo e negam sua doença. A verdade é mais simples e mais dolorosa. Os atos e as falas dos psicóticos fazem muito sentido, mas isto é algo tão perturbador que preferimos não ouvir nem entender. Essa recusa de uma pessoa normal em reconhecer o método na conduta irregular do outro pode ser uma opção existencial razoável. Mas aquele que não quer entender o outro, não tem direito a dizer que aquilo que o outro faz ou diz não faz sentido.” (SZASZ, 1994: 271)
“É desonesto valer-se do pretexto de que cuidar coercitivamente do doente mental invariavelmente o ajuda e que abster-se de tal coerção é o mesmo que “sonegar-lhe o tratamento”. Toda política social acarreta benefícios e prejuízos. Embora nossas idéias sobre benefícios e danos variem de tempos em tempos, a história nos ensina a estar precavidos com benfeitores que privam seus beneficiários da liberdade.” (SZASZ, 1994: 308)
Anônimo - 14/03/2010
THOMAS SZASZ – Conferencia em méxico
"O eletrochoque, a lobotomia, não são nenhum tratamento. Digo isto, como já o expliquei, porque se não existe uma lesão corporal não há uma enfermidade a tratar; e se não há paciente voluntário, não há paciente a tratar. Por um ou pelos dois aspectos os tratamentos psiquiátricos — em contraste com os tratamentos médicos ou quirúrgicos — não são verdadeiros tratamentos, tão somente se assemelham a eles [...].
São castigos, controles sociais, torturas, encarceramentos, envenenamentos, mutilações cerebrais. Mas já que tudo tem lugar sobre os auspícios médicos parece correto à mentalidade contemporânea, assim como as coerções e brutalidades em nome da Igreja pareciam corretas às mentalidades medievais. Então a gente acreditava na Inquisição. Agora acredita na psiquiatria. Pensa-se que a abolição da Inquisição foi algo bom. Penso que a abolição da psiquiatria involuntária seria algo bom."
Anônimo - 14/03/2010
"Rotular uma criança como doente mental, é uma estigmatização, não um diagnóstico. Dar a uma criança uma droga psiquiátrica é um envenenamento, não um tratamento."
(Thomas Szasz Observações no 35o aniversário e Direitos Humanos Prêmio Jantar Cidadãos Comissão Internacional sobre os Direitos Humanos Beverly Hilton Hotel, Beverly Hills, Califórnia 28 de fevereiro de 2004.)
Anônimo - 14/03/2010
O MITO DA PSICOTERAPIA (Edição italiana)
Se volete svilire quello che una persona sta facendo, chiamate il suo atto psicopatologico e definite lei mentalmente malata; se volete esaltare quello che un individuo fa, chiamate il suo atto psicoterapeutico e lui un guaritore mentale. (SZSAZ 16)
Per tutto il diciannovesimo secolo la masturbazione fu considerata una causa e un sintomo di pazzia. Oggi è invece una tecnica psicoterapeutica impiegata dai terapeuti della sfera sessuale. (SZASZ: 19)
“Per decenni il nudismo fu considerato una forma di esibizionismo e di voyeurismo, vale a dire una perversione e di conseguenza una malattia mentale. Oggi è una forma accettata di trattamento medico.” (SZASZ: 20)
“In realtà la psicoterapia si riferisce a quanto due o piú persone fanno le une per le altre, e le une alle altre, mediante messaggi verbali e non-verbali.” (SZASZ: 25)
“se il cervello di una persona è malato e se un chirurgo opera questo paziente, si dice che pratica la neurochirurgia. Quindi l’invenzione stessa della parola psicochirurgia è profondamente rivelatrice del suo carattere di terapia fittizia su un organo metaforico.” (SZASZ: 28)
“Il concetto di psicoterapia ci tradisce giudicando aprioristicamente l’interazione come “terapêutica” per il paziente, nelle intenzioni o nei risultati o in entrambe le cose.” (SZASZ: 30)
“In breve, la psicoterapia è etica secolare. È la religione di persone formalmente irreligiose: una religione col suo linguaggio, che non è il latino ma il gergo medico, cuoi suoi codici di condotta, che non sono etici ma legalistici, e con la sua teologia, che non è il cristianesimo ma il positivismo.” (SZASZ: 31)
Anônimo - 14/03/2010
ARTIGO: The control of conduct: authority versus autonomy
“Existe apenas um pecado político: independência, e só uma força política: obediência. Para colocá-la de maneira diferente, existe apenas uma ofensa contra a autoridade: o auto-controle, e apenas uma homenagem a ele: submissão ao controle da autoridade.”
ARTIGO: The therapeutic temptation
“O suicídio é uma ação. A única pessoa que pode controlar - provocar ou prevenir - uma ação é o ator.”
ARTIGO: Medicalizing Quackery
“Medicalização não é medicina ou ciência, é uma estratégia semântico-social que beneficia algumas pessoas e prejudica outras.”
Anônimo - 14/03/2010
UNA LENGUA INDOMABLE
"O suicídio é um direito humano fundamental... a sociedade não tem direito a intervir pela força com a decisão de uma pessoa de cometer esse ato" (Open Court, 1990: 250)
Limitações da psiquiatria biomédica Controvérsia entre psiquiatras farmacológicos e reforma psiquiátrica Psiquiatria não comercial e íntegra Suporte para desmame de drogas psiquiátricas Concepções psicossociais Gerenciamento de benefícios/riscos dos psicoativos Acessibilidade para Deficiência psicossocial Psiquiatria com senso crítico Temas em Saúde Mental Prevenção quaternária Consumo informado Decisão compartilhada Autonomia "Movimento" de ex-usuários Alta psiquiátrica Justiça epistêmica
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terça-feira, 29 de janeiro de 2013
sábado, 26 de janeiro de 2013
“UM VOO SOBRE O NINHO DOS CUCOS”: UMA ANÁLISE DA LOUCURA CONSIDERANDO SUAS DIMENSÕES PSICOLÓGICA, SOCIAL E POLÍTICA
“UM VOO SOBRE O NINHO DOS CUCOS”: UMA ANÁLISE DA LOUCURA
CONSIDERANDO SUAS DIMENSÕES PSICOLÓGICA, SOCIAL E POLÍTICA1
LUCAS VOIGT
RESUMO:
Este artigo tem por objetivo apresentar algumas considerações sobre a loucura, a partir de uma análise
sociológica do filme Um Estranho no Ninho (Milos Forman, 1975). Para a análise fílmica, serão
utilizadas a microssociologia de Goffman e Garfinkel, a antipsiquiatria de Deleuze e Guattari, e a
biopolítica de Foucault e Agamben. Em um segundo momento, aproximando as formulações elaboradas
nos campos da antipsiquiatria e da sociologia, defendo uma definição de loucura como um fenômeno que
perpassa três planos da existência humana – psicológico, social e político. Ao não restringir a noção de
loucura ao plano psicológico, relacionando-a aos processos de exclusão e estigmatização social de
indivíduos que não detém a competência social necessária em determinado contexto (os “loucos”), bem
como ao reconhecer o caráter político da loucura e as possibilidades do agenciamento esquizofrênico (ou
esquizopráxis), é possível superar a fragmentação das análises e formular um exame mais adequado da
questão da loucura. No decorrer do artigo, procura-se relativizar e desconstruir as acepções socialmente
dominantes de noções como “loucura”, “lucidez” e “competência social”. Por fim, elaboro algumas
considerações mais gerais sobre a discussão.
Palavras-chave: esquizofrenia, antipsiquiatria, sociologia, competência social, estigmatização.
https://cienciassociais.ufsc.br/files/2015/03/Artigo-154.pdf
sábado, 5 de janeiro de 2013
Seleção O conceito de Saúde Mental (Psiquiatria e Saúde Mental USP;1999)
Seleção O conceito de Saúde Mental (Psiquiatria e Saúde Mental USP;1999)
"Dessa forma, o patológico
corresponde diretamente ao conceito de
doença, implicando o contrário vital do
sadio. As possibilidades do estado de saúde
são superiores às capacidades normais:
a saúde constitui uma certa capacidade de
ultrapassar as crises determinadas pelas
forças da patologia para instalar uma nova
ordem fisiológica.
A abordagem foucaultiana representa
uma vertente historiográfica da teoria
canguilhemiana da tensão normal-patológico,
indicando como, a partir da segunda
metade do século XIX, surgiram novos
padrões de normalidade no âmbito da medicina
geral e mental, bem como no âmbito
das nascentes ciências humanas – sociologia
e psicologia. Nesse contexto, buscavase
intervir sobre o indivíduo humano, seu
corpo, sua mente, e não apenas sobre o
ambiente físico, para com isso normalizálo
para a produção. O homem, tal como a
máquina, poderia ser programado, posto a
funcionar e consertado. Listar as possibilidades
normais de rendimento do homem,
suas capacidades, bem como os parâmetros
do funcionamento social normal passou a
ser tarefa da medicina mental, da psicologia
e das ciências sociais aplicadas. Nessa
perspectiva, os conceitos implícitos do jovem
Foucault (1954 [1976]; 1963) denunciam
a sua adesão a uma definição de saúde
como capacidade adaptativa (ou submissa)
aos poderes disciplinares de corpos e atos."
"Relembra Foucault (1963) que não por
acaso a palavra normal, derivada do nomos
grego e do norma latino (cujo significado é
lei), surgiu no século XVIII, significando
aquilo que não se inclina nem para a direita,
nem para a esquerda, e que se conserva
num justo meio-termo. Embora a temática
da normalidade fosse tratada desde a Grécia
antiga, esse termo só ressurgiu quando,
com o movimento da Revolução Francesa,
a burguesia funda uma nova ordem com a
pretensão de funcionar como norma para
toda a sociedade: a ordem econômica capitalista.
Com isso, a medicina adotou uma
nova postura normativa. Com a concomitante
industrialização e complexificação do
trabalho, tornou-se necessário o estabelecimento
de novas normas e padrões de
comportamento. O rendimento e a saúde
individual passaram a ser indispensáveis
ao bom funcionamento da nova engrenagem
social."
"Nessa altura do seu argumento,
Canguilhem refere-se à Higiene, que se inicia
como uma disciplina médica tradicional,
feita de normas e possuindo uma ambição
sociopolítico-médica de regulamentar
a vida dos indivíduos. A partir dela, a
saúde torna-se um objeto de cálculo e começa
a perder a sua dimensão de verdade
particular, privada, passando a receber uma
significação empírica como conjunto e efeito
de processos objetivos."
"Para Samaja (1997), o paradigma dos
Sistemas Complexos Adaptativos poderá
servir como base epistemológica para a
superação da antinomia biológico-social,
dadas as demandas conceituais já estabelecidas
pelos desenvolvimentos e usos práticos
da noção “saúde” nos discursos leigos
e técnicos da modernidade."
"Assumindo a saúde como um conceito
científico, é importante ressaltar uma
outra proposição de Canguilhem (1968)
segundo a qual os objetos conceituais não
possuem fronteiras epistemológicas e apresentam
uma relativa independência do sistema
teórico a que pertencem.
Em conseqüência,
o conceito não necessariamente
se limita ao interior de uma única ciência,
mas em geral segue distintas filiações conceituais
em ciências diferentes. Além disso,
pode nesse percurso ampliar suas relações
com saberes não-científicos e com
práticas sociais, políticas e ideológicas."
Nessa perspectiva,
a investigação epistemológica se constituiria
como uma certa “cartografia” dos sistemas
de representação de um dado objeto.
"Entretanto, esse modelo “comunitário”
da medicina mental traz pelo menos
dois perigos potenciais: a) uma tendência à
psiquiatrização da vida social – deslocando
o papel das redes de suporte social e os
dispositivos simbólicos de promoção da
“saúde cultural” (processo desde há muito
já analisado por diversos autores, conforme
Pinheiro e Almeida Filho, 1981); e b)
um incremento tecnológico e uma expansão
de cobertura – resultando em um comprometimento
cada vez mais profundo de
escassos recursos públicos, na medida em
que, conforme alertado pelos economistas
da saúde (Williams, 1985)"
"e daí a um
conceito ampliado de saúde mental como
expressão de saúde social. Este último pode
ser tomado em duas vertentes: por um lado,
como situação de “salubridade psicossocial”,
correspondendo ao contradomínio
do conceito epidemiológico de “morbidade
psiquiátrica”. Por outro lado, como complexo
integral e articulado de forças positivas
no sentido da constante superação dos
limites da normalidade."
"Objeto-modelo construído por meio de
práticas trans-setoriais, a saúde mental significa
um socius saudável; ela implica
emprego, satisfação no trabalho, vida cotidiana
significativa, participação social, lazer,
qualidade das redes sociais, eqüidade,
enfim, qualidade de vida. Por mais que se
decrete o fim das utopias e a crise dos valores,
não se pode escapar: o conceito de
saúde mental vincula-se a uma pauta
emancipatória do sujeito, de natureza
inapelavelmente política."
"Dessa forma, o patológico
corresponde diretamente ao conceito de
doença, implicando o contrário vital do
sadio. As possibilidades do estado de saúde
são superiores às capacidades normais:
a saúde constitui uma certa capacidade de
ultrapassar as crises determinadas pelas
forças da patologia para instalar uma nova
ordem fisiológica.
A abordagem foucaultiana representa
uma vertente historiográfica da teoria
canguilhemiana da tensão normal-patológico,
indicando como, a partir da segunda
metade do século XIX, surgiram novos
padrões de normalidade no âmbito da medicina
geral e mental, bem como no âmbito
das nascentes ciências humanas – sociologia
e psicologia. Nesse contexto, buscavase
intervir sobre o indivíduo humano, seu
corpo, sua mente, e não apenas sobre o
ambiente físico, para com isso normalizálo
para a produção. O homem, tal como a
máquina, poderia ser programado, posto a
funcionar e consertado. Listar as possibilidades
normais de rendimento do homem,
suas capacidades, bem como os parâmetros
do funcionamento social normal passou a
ser tarefa da medicina mental, da psicologia
e das ciências sociais aplicadas. Nessa
perspectiva, os conceitos implícitos do jovem
Foucault (1954 [1976]; 1963) denunciam
a sua adesão a uma definição de saúde
como capacidade adaptativa (ou submissa)
aos poderes disciplinares de corpos e atos."
"Relembra Foucault (1963) que não por
acaso a palavra normal, derivada do nomos
grego e do norma latino (cujo significado é
lei), surgiu no século XVIII, significando
aquilo que não se inclina nem para a direita,
nem para a esquerda, e que se conserva
num justo meio-termo. Embora a temática
da normalidade fosse tratada desde a Grécia
antiga, esse termo só ressurgiu quando,
com o movimento da Revolução Francesa,
a burguesia funda uma nova ordem com a
pretensão de funcionar como norma para
toda a sociedade: a ordem econômica capitalista.
Com isso, a medicina adotou uma
nova postura normativa. Com a concomitante
industrialização e complexificação do
trabalho, tornou-se necessário o estabelecimento
de novas normas e padrões de
comportamento. O rendimento e a saúde
individual passaram a ser indispensáveis
ao bom funcionamento da nova engrenagem
social."
"Nessa altura do seu argumento,
Canguilhem refere-se à Higiene, que se inicia
como uma disciplina médica tradicional,
feita de normas e possuindo uma ambição
sociopolítico-médica de regulamentar
a vida dos indivíduos. A partir dela, a
saúde torna-se um objeto de cálculo e começa
a perder a sua dimensão de verdade
particular, privada, passando a receber uma
significação empírica como conjunto e efeito
de processos objetivos."
"Para Samaja (1997), o paradigma dos
Sistemas Complexos Adaptativos poderá
servir como base epistemológica para a
superação da antinomia biológico-social,
dadas as demandas conceituais já estabelecidas
pelos desenvolvimentos e usos práticos
da noção “saúde” nos discursos leigos
e técnicos da modernidade."
"Assumindo a saúde como um conceito
científico, é importante ressaltar uma
outra proposição de Canguilhem (1968)
segundo a qual os objetos conceituais não
possuem fronteiras epistemológicas e apresentam
uma relativa independência do sistema
teórico a que pertencem.
Em conseqüência,
o conceito não necessariamente
se limita ao interior de uma única ciência,
mas em geral segue distintas filiações conceituais
em ciências diferentes. Além disso,
pode nesse percurso ampliar suas relações
com saberes não-científicos e com
práticas sociais, políticas e ideológicas."
Nessa perspectiva,
a investigação epistemológica se constituiria
como uma certa “cartografia” dos sistemas
de representação de um dado objeto.
"Entretanto, esse modelo “comunitário”
da medicina mental traz pelo menos
dois perigos potenciais: a) uma tendência à
psiquiatrização da vida social – deslocando
o papel das redes de suporte social e os
dispositivos simbólicos de promoção da
“saúde cultural” (processo desde há muito
já analisado por diversos autores, conforme
Pinheiro e Almeida Filho, 1981); e b)
um incremento tecnológico e uma expansão
de cobertura – resultando em um comprometimento
cada vez mais profundo de
escassos recursos públicos, na medida em
que, conforme alertado pelos economistas
da saúde (Williams, 1985)"
"e daí a um
conceito ampliado de saúde mental como
expressão de saúde social. Este último pode
ser tomado em duas vertentes: por um lado,
como situação de “salubridade psicossocial”,
correspondendo ao contradomínio
do conceito epidemiológico de “morbidade
psiquiátrica”. Por outro lado, como complexo
integral e articulado de forças positivas
no sentido da constante superação dos
limites da normalidade."
"Objeto-modelo construído por meio de
práticas trans-setoriais, a saúde mental significa
um socius saudável; ela implica
emprego, satisfação no trabalho, vida cotidiana
significativa, participação social, lazer,
qualidade das redes sociais, eqüidade,
enfim, qualidade de vida. Por mais que se
decrete o fim das utopias e a crise dos valores,
não se pode escapar: o conceito de
saúde mental vincula-se a uma pauta
emancipatória do sujeito, de natureza
inapelavelmente política."
Paradigma médico ocidental (Revista USP;1999)
O conceito
de saúde
mental
REVISTA USP, São Paulo, n.43, p. 100-125, setembro/novembro 1999
http://www.usp.br/revistausp/43/10-naomar.pdf
“No paradigma médico ocidental, patologia
significa mau funcionamento ou má
adaptação de processos biológicos e psicológicos
no indivíduo; enquanto enfermidade
representa reações pessoais, interpessoais
e culturais perante doença e desconforto.
A enfermidade é conformada por
fatores culturais que governam a percepção,
rotulação, explicação e valorização da
experiência do desconforto, processos imbuídos
em complexos nexos familiares, sociais
e culturais. Dado que a experiência da
enfermidade é uma íntima parte do sistema
social de significações e regras de conduta,
ela é fortemente influenciada pela cultura:
ela é, como veremos, culturalmente construída”
(Kleinman, 1992, p. 252).
De acordo com Kleinman (1980; 1986),
a saúde, a enfermidade e o cuidado são
partes de um sistema cultural e, como tal,
devem ser entendidos em suas relações
mútuas. Examiná-los isoladamente distorce
a compreensão da natureza dos mesmos e
de como eles funcionam num dado contexto.
Por esse mesmo motivo, estudos sobre
a mudança das crenças com relação a um
desses elementos devem examinar as mudanças
ocorridas com relação aos demais.
Em relação ao cuidado, Kleinman (1986)
considerou que uma das razões pelas quais
diferentes processos de cura persistem
numa mesma sociedade é o fato de eles
agirem nas diferentes dimensões da doença.
Sendo assim, é preciso considerar modelos
capazes de conceber a saúde e a enfermidade
como resultado da interação
complexa de múltiplos fatores, nos níveis
biológico, psicológico e sociológico, com
uma terminologia não limitada à biomedicina.
Ele apontou a necessidade de
novos métodos interdisciplinares, trabalhando
simultaneamente com dados
etnográficos, clínicos, epidemiológicos,
históricos, sociais, políticos, econômicos,
tecnológicos e psicológicos. Segundo o
autor, os métodos preexistentes não eram
capazes de descrever sistemas individuais,
fazer comparações entre sistemas de diferentes
culturas e analisar os impactos da
cultura na enfermidade e na cura."