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sábado, 31 de agosto de 2019

O primeiro mentiroso e o conhecimento médico

A influência que alguns tipos de conhecimento tem sobre a sociedade é semelhante ao que ocorre no filme o primeiro mentiroso. É muito difícil desmontar a credulidade. A influência do conhecimento psiquiátrico na sociedade é semelhante.

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Limitações modelo biomédico

Apesar do impacto positivo do Modelo Biomédico ao campo da saúde como um todo, outros problemas estavam se desenvolvendo, a migração da população da zona rural para a urbana, a industrialização, a poluição e a aceleração do ritmo de trabalho, contribuíram para o crescimento das doenças crônicas, como: problemas cardiovasculares, câncer e depressão. Nestas condições, o Modelo Biomédico já não se aplica com tanta eficiência, pois o curso das doenças costuma ser longo (diferentemente das doenças agudas), a etiologia é multifatorial (ex. genética, hábitos alimentares, sedentarismo, tabagismo, etilismo, entre outros), o tratamento é multidisciplinar (ex. medicina, psicologia, nutrição, educação física, fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, biomedicina, assistência social, entre outros).

Medicina Comportamental
Armando Ribeiro das Neves Neto

terça-feira, 27 de agosto de 2019

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Relativismo cultural e normalidade

Tende-se a assumir uma postura etnocêntrica em relação ao mundo, onde o
indivíduo vê sua própria cultura como uma verdade absoluta, uma norma, algo que é
correto e deve ser seguido, e por conta disso, despreza e considera anormais as
práticas culturais diferentes das suas. O etnocentrismo julga os outros povos e
culturas, tomando como base de normalidade os padrões da sua própria sociedade,
esses padrões servem para verificar até que ponto são normais os costumes
culturais alheios (MENESES, 1999).

O conceito de relatividade cultural vai afirmar que os padrões de certo e
errado são relativos à cultura da qual fazem parte. Assim, cada costume seria válido
nos termos do seu próprio ambiente cultural. Na prática seria suspender o
julgamento, procurar entender o que se passa e respeitar os hábitos de diferentes
culturas (HOEBEL e FROST, 2006).

A diversidade cultural é o que torna uma sociedade única, e ao adentrar em
uma determinada cultura, deve-se despir de pré-conceitos e buscar lançar um novo
olhar ao que lhe parece estranho, pois é esta estranheza que mostrará qual o
conceito de normalidade para tal cultura, e somente desta forma pode-se
compreender o funcionamento das diferentes sociedades.

Sob a ótica do relativismo cultural, faz-se necessária uma reflexão perante as diferentes
culturas existentes. A postura relativista é algo complexo, e dependerá do quanto o
indivíduo está rígido e centrado nas suas próprias crenças, pois se o mesmo tomar
os seus costumes e práticas como referência para julgamento indiscriminado, estará
assumindo uma postura etnocêntrica. É perceptível na sociedade contemporânea a
execução da postura etnocêntrica, julgando outras práticas tendo apenas sua
realidade como parâmetro de referência. Uma postura relativista exige um esforço
maior, ao requerer que o indivíduo se desvencilhe dos seus preconceitos ao entrar
no mundo alheio, e esteja realmente disposto a entender e respeitar as diferentes
práticas culturais.

NORMALIDADE X ANORMALIDADE: A RELATIVIDADE DOS TERMOS
Raquel Arruda CARNAÚBA
Cláudia Camargo Arthou Sant ́anna PELIZZARI
Jorge Ubiratan de Almeida SILVA JÚNIOR

Comportamento anormal, modelo médico e behaviorismo

A abordagem alternativa proposta por Ullmann e Krasner (1969), se contrapõe ao modelo médico na medida que propõe que o comportamento anormal não é patológico. Ela muda o papel do conteúdo da queixa em relação ao terapeuta. Mesmo que a verbalização do cliente descreva o que ele acredita ser patológico, para o terapeuta não se trata de descrições que venham a desvendar algo patológico que esteja dentro dele. Sant ’Anna,1994a, 1994b, 1995) propõe que a descrição de algo problemático pode merecer a mesma atenção do terapeuta do que a descrição de algo não problemático.
Uma prática clínica voltada prioritariamente à normalidade
Claúdia Barbosa

Evidência Anedótica

Evidência Anedótica

Evidência anedótica é o tipo de prova irreprodutível, intestável, de amostra pequena, muitas vezes aquirida na terceira pessoa (“diz que disse”, mas pode ser na primeira também) e de modo não sistemático. É considerado cientificamente a forma mais fraca de evidência que há, embora seja a forma mais forte de evidencia que há num tribunal (e até à pouco tempo a única). Testemunhos individuais estão nesta categoria.

[Não é diferente atribuir condições psicossociais a alterações no regime de prescrição de drogas psicoativas na clínica psiquiátrica]

sábado, 24 de agosto de 2019

Dinheiro louco

Se houvesse mais dinheiro na mão de loucos ou pacientes psiquiátricos estes seriam mais defendidos. O dinheiro está principalmente com as famílias e os psiquiatras acabam trabalhando para as famílias. O psicólogo que quiser ver o lado do paciente psiquiátrico tem que fazer isso sem incomodar a família. Nisso entra o conceito de doença mental como algo que está dentro da pessoa.
O pink money ou black money leva esses grupos a ter muitos defensores. Já o movimento da reforma psiquiátrica é frágil pois depende somente de argumentos.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Exclusividade de mercado e preços

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Price Declines after Branded Medicines Lose  Exclusivity in the U.S

Os preços declinam de 44% a 90% após a perda de exclusividade de mercado de fármacos. Quanto mais tempo após o fim da exclusividade de mercado maior o declínio de preço. Os fármacos injetáveis alcançam o mesmo declínio que os fármacos orais após 6 anos.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

The Dopaminergic Mind


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The Dopaminergic Mind in Human Evolution and History


Author(s): Fred H. Previc
Publisher: Cambridge University Press, Year: 2009

Mamãe disse - Metallica

A son's heart's owned to mother
But I must find my way
Let your son grow
But you gave me your emptiness
I now take to my grave

O coração de um filho pertence à mãe
Mas eu devo encontrar meu caminho
Deixe seu filho crescer
Mas você me deu seu vazio
Eu agora levo para o meu túmulo


https://www.letras.mus.br/metallica/25886/


Critérios de sucesso terapêutico

Os critérios de sucesso terapêutico quantidade de recaídas e tempo  de estabilidade só fazem sentido pressupondo-se a validade do modelo biomédico em saúde mental. É necessário fazer a avaliação descontextualizada da causa biomédica subjacente e fazer um cálculo estatístico entre grupos.

Uma recaída, se contextualizada, pode ser apenas uma situação de mudança. Uma recaída pode ser uma época de situações decisivas para o futuro.

A estabilidade de uma vida vazia também não é interessante. A estabilidade pode significar somente uma vida submetido à família (silenciado) sem outras alternativas.

Há outros critérios de sucesso terapêutico que entram em conflito com os critérios tempo de estabilidade e quantidade de recaídas (que são convenientes somente para a pesquisa farmacológica e para manter a continuidade da prescrição). É preciso considerar outros critérios mais globais de sucesso terapêutico como sucesso profissional, vivacidade, disposição, emagrecimento, autorelato, etc. A disputa entre o tratamento forçado ou o desmame é entre critérios de saúde diferentes. A pesquisa farmacológica é estreita pois tendo em conta as dimensões de análise possíveis leva em conta apenas uma pequena parcela conveniente.

sábado, 17 de agosto de 2019

Medicamentos em xeque


Cientistas, médicos e observadores da área de saúde, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, estão pressionando a indústria farmacêutica e as agências de vigilância sanitária para que elas tornem públicos os relatórios dos testes dos medicamentos.



A preocupação tem procedência: é a indústria farmacêutica que financia e coordena os estudos clínicos, o que causa conflitos de interesse.

Cura da Homossexualidade

https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/psiquiatra-que-dizia-ter-cura-para-homossexualidade-se-desculpa-4970503

Psiquiatra que dizia ter a ‘cura’ para homossexualidade se desculpa

Em carta para a publicação que divulgou o estudo, em 2003, ele diz não ter como comprovar a mudança da orientação sexual dos entrevistados

Cobaias para o Invega Trinza

A injeção de três meses ainda não passou pela fase de testes após entrada no mercado. Que é a última fase. Os mesmos médicos que dão a cartada do risco quando se fala em reduzir a dose ou retirar o fármaco desprezam os riscos possíveis dos testes após entrada no mercado por interesse próprio de participar de testes clínicos.

Fase IV: após um medicamento ou procedimento diagnóstico ou terapêutico ser aprovado e levado ao mercado, testes de acompanhamento de seu uso são elaborados e implementados em milhares de pessoas, possibilitando o conhecimento de detalhes adicionais sobre a segurança e a eficácia do produto. Um dos objetivos importantes dos estudos fase IV é detectar e definir efeitos colaterais previamente desconhecidos ou incompletamente qualificados, assim como os fatores de risco relacionados. Esta fase é conhecida como Farmacovigilância.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Esquizofrenia, cérebro e comportamento

Tais resultados são sustentados por algumas pesquisas feitas com imagens de exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET) e imagens de ressonância magnética (MRI) que demonstraram alterações do fluxo sanguíneo em algumas áreas específicas do cérebro em pessoas diagnosticadas como esquizofrênicas. Porém, essas alterações não evidenciam serem a causa do transtorno, mas sim a consequência do mesmo. Ainda assim, a medicina psiquiátrica os considera e os trata como ‘doenças mentais’ (Britto, 2004, 2005). Ainda mais, se a esquizofrenia afetasse o cérebro, ela não seria descrita como ‘doença mental’, mas cerebral (Britto, 2004).

Esquizofrenia: a operacionalização da intervenção pela análise do comportamento

Falta de inibição e Dopamina

Ignorar um estímulo que não tem conseqüências é um proce­dimento econômico, e tem provavelmente uma origem filogenética. No paradigma da LI, o estímulo antes irrelevante passa a ser importante, e o esquizofrênico é capaz de detectar essa mudança e agir de acordo, enquanto o indivíduo normal continua tratando o estímulo como irrelevante. Nesse modelo, portanto, o esquizofrênico acaba mostrando um compor­tamento mais adaptativo do que o indivíduo normal, numa reprodução de paradoxos obser­vados na realidade da vida psicótica (Alves etal., 1999; Gray et al., 1991).

Inibição Latente: contribuição como modelo animal de esquizofria Cilene Rejdtie Ramos Alves'
María Teresa Araújo Silva

[Comentário: Na verdade considerando-se o ambiente, este pode exigir muita inibição, autocontrole e estratégias de adaptação. Nos trechos anteriores de artigos de antropologia isso fica claro.]

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Mães e filhos

Os anos críticos e formativos da existência de cada criança são dominados pela presença feminina e pela vontade feminina, que muitas vezes é egoísta, insalubre e, para os meninos, emocionalmente incestuosa. Os pais, ausentes ou presentes, contribuem para o problema.

Onde não há influência masculina, a mãe muitas vezes não é regulada. Ela ensina a seus filhos que é melhor eles a agradarem ou ela os punirá com rejeição, dor física e muitas vezes humilhações psicológicas. Para os garotos que já perderam um dos pais, esse é um pesadelo para o desenvolvimento que mata a alma e você pode apostar que as mentes deles se ajustam com obediência.

https://regardingmen.com/what-men-fear-the-most/

Medicalização e corrupção científica

Medicalização e corrupção científica

https://www.youtube.com/watch?v=ZTtrfQjiRAI&feature=youtu.be

Paulo Amarante no 4º Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental ABRASME

Invega sustenna e exclusividade de mercado





Generic Invega Sustenna Availability

See also: Generic Invega, Generic Invega Trinza
Invega Sustenna is a brand name of paliperidone, approved by the FDA in the following formulation(s):

INVEGA SUSTENNA (paliperidone palmitate - suspension, extended release;intramuscular)

  • Manufacturer: JANSSEN PHARMS
    Approval date: July 31, 2009
    Strength(s): 39MG/0.25ML (39MG/0.25ML) [RLD], 78MG/0.5ML (78MG/0.5ML) [RLD], 117MG/0.75ML (117MG/0.75ML) [RLD], 156MG/ML (156MG/ML) [RLD], 234MG/1.5ML (156MG/ML) [RLD]
Related Exclusivities
Exclusivity is exclusive marketing rights granted by the FDA upon approval of a drug and can run concurrently with a patent or not. Exclusivity is a statutory provision and is granted to an NDA applicant if statutory requirements are met.
Exclusivity expiration dates:
December 20, 2020

https://www.drugs.com/availability/generic-invega-sustenna.html

Rigidez do neuroléptico

“Tá, aí eu vim pra casa, mas aqui eu não tomava mais os remédios, eu guardava assim atrás da língua e não tomava e na ala psiquiátrica também não tomava, quando ia tomar o café eu fazia de conta, mas jogava fora”. Por que? “Porque fica tudo duro assim (gesticula para me mostrar a rigidez dos braços e das pernas), a pessoa não consegue fazer nada. Eu cheguei em casa e não conseguia fazer nada, queria lavar uma louça não dava, queria caminhar não dava...”

Experiências de desinstitucionalização na reforma psiquiátrica brasileira: uma abordagem de gênero

Ansiedade do médico

Tal como argumentou o autor: Os medicamentos exercem uma ação indiscutível, da qual pudemos apreciar os resultados em nossos asilos e na redução do número dos doentes “sócios” do hospital. Mas a posteriori pode-se começar a ver como funciona essa ação, tanto a nível do doente como do médico, pois os medicamentos agem simultaneamente sobre a ansiedade enferma e a ansiedade daquele que a cura, evidenciando um quadro paradoxal da situação: através dos medicamentos que administra, o médico acalma sua ansiedade diante de um doente com o qual não sabe relacionar-se nem encontrar uma linguagem comum. Compensa, portanto, usando uma nova forma de violência, sua incapacidade para conduzir uma situação que ainda considera incompreensível, continuando a aplicar a ideologia médica da objetivação através do perfeccionismo da mesma. (p.128)

Experiências de desinstitucionalização na reforma psiquiátrica brasileira: uma abordagem de gênero


As crises continuam

Silveira 14 também faz referência ao uso dos benzodiazepínicos como terapêutica para mulheres nervosas, e mostra que “ao menos na perspectiva das pacientes e seus familiares, a medicalização de problemas sociais tem funcionado como solução para o médico, pois as pacientes, a despeito do uso
de calmantes, continuam a ter crises” (p.80).

Experiências de desinstitucionalização na reforma psiquiátrica brasileira: uma abordagem de gênero

Efeitos psicofámacos

No que se refere ao uso dos psicofármacos entre as mulheres (f) , as queixas
que ouvimos quanto ao uso dos mesmos giravam em torno: do enrijecimento
do corpo, da diminuição da capacidade de articular as palavras, muitas vezes,
em função da lentificação do pensamento, e ganhavam apoio da maioria no que
diz respeito às modificações corporais advindas do uso da medicação. Em geral,
as mulheres reclamam do ganho de peso, como fez Mariana, uma interlocutora,
sobre o fato de ter aumentado 62 quilos durante uma de suas internações
psiquiátricas.

Experiências de desinstitucionalização na reforma psiquiátrica brasileira: uma abordagem de gênero

Mordaça química

A partir da perspectiva de gênero, ocupar tal posição no ranking do
uso dos mesmos é ‘justificada’ pelos prescritores (obviamente), considerando
o favorecimento de um equilíbrio para as mulheres que, tendo suas angústias
aliviadas, manteriam suas funções no contexto em que vivem, ainda que tais
prescrições possam significar uma mordaça química que as impossibilita de
descobrir outras formas de lidar com tais sofrimentos.

Experiências de desinstitucionalização na reforma psiquiátrica brasileira: uma abordagem de gênero

Jogos de poder econômicos e políticos

Foucault (2009) . Ao apresentar uma história das prá-
ticas coercitivas como dimensão política,
o autor mostra que as mesmas, agenciadas
por uma micropolítica constituída na ma-
quinaria institucional, além de produzirem
relações de submissão, fabricam corpos
dóceis e corpos/máquinas que interessam
aos jogos de poder da sociedade, tal qual se
inscreve no ponto de vista da economia e da
política.

Loucos/as, pacientes, usuários/as, experientes: o estatuto dos sujeitos no contexto da reforma psiquiátrica brasileira

Experimentação com drogas psicoativas

Diante de suas experiências, Mateus en-
tendia que a prescrição e a gestão do uso
dos medicamentos era uma experimentação,
tanto para os/as usuários/as como para os/
as prescritores/as. Nesse sentido, ambos es-
tariam no mesmo patamar de experimenta-
ção, distintos apenas na especificidade e na
hierarquia de seus saberes. Ele disse:
O médico ainda tem um poder muito grande, e eu
acho que, em psiquiatria, por mais que ele saiba,
ele também não sabe muita coisa. Eles fazem um
laboratório com a gente, eles vão dando esse re-
médio, esse remédio... Ah, se funciona, tudo bem!
Se não, eles tentam...
O argumento de Mateus indica uma
problematização do saber psiquiátrico
(FOUCAULT, 1997) . Ele reconhece que ‘o médico
tem um poder muito grande’, mesmo que
esteja no mesmo patamar de experimenta-
ção que os/as usuários/as, uma vez que ‘ele
também não sabe muita coisa’. Seu argu-
mento também aponta que, tal como propôs
Foucault (1997) , o saber psiquiátrico, ao insti-
tuir, em determinado momento histórico, a
doença mental como seu objeto, pressupôs
que ela deveria ser submetida a um trata-
mento que lhe correspondesse. Entretanto,
para Mateus, tanto o saber psiquiátrico
quanto a terapêutica medicamentosa se
ocupam de objetos imprecisos e, por isso,
demandam um exercício de experimenta-
ção. Neste sentido, usuário/a e profissional
partilham experiências e experimentações,
a partir de diferentes discursos, modelos
interpretativos e em processos relacionais.

Loucos/as, pacientes, usuários/as, experientes: o estatuto dos sujeitos no contexto da reforma psiquiátrica brasileira

Romper com prescrição

Quanto aos usuários/as, alguns conseguem romper
com a prescrição dada pelo diagnóstico, e até
fazer deslocamentos, ainda que precários, a
partir de alguns requisitos, como saber falar
em público, pertencer a uma classe social
mais favorecida economicamente e compar-
tilhar um conjunto de expressões/palavras
tidas como ‘científicas’, tal como a nomen-
clatura médica, por exemplo.

Loucos/as, pacientes, usuários/as, experientes: o estatuto dos sujeitos no contexto da reforma psiquiátrica brasileira

Louco como não sujeito

O “surto” / a “crise”, nesse contexto, parece ser caracterizada como um momento
radical em que o sujeito desaparece junto com o suposto desaparecimento de sua
razão. Ainda que o sujeito saia da crise, do seu surto, ele parece estar sempre sob
o risco de ter outros e é nessas condições que passa a se experimentar no mundo.

Tais situações remetem aos argumentos de Pelbart (2009), de que o louco é
concebido como sendo aquele que não sabe, não pode e não é sujeito. O autor
chama atenção para o caráter violento presente nestas três instâncias (saber, poder
e subjetividade) e a necessidade de se pensar outras possibilidades para a loucura.
Nesse sentido, são sujeitos que estão atravessados não apenas por suas experiências
singulares com a loucura, mas por relações complexas de poder e resistência. 5

Sujeitos e(m) experiências: estratégias micropolíticas no contexto da reforma psiquiátrica no Brasil

Contextos e sujeito

As experiências de
Eva, Daniel, Nilza, Roger e de outros/as interlocutores/as demonstraram que a
possibilidade de ocupar o lugar de sujeito aparece em determinados contextos,
onde determinadas configurações são possíveis e desaparece em outros, onde
o sujeito tido como “louco/a”, e enunciado como tal, perde o lugar, a voz e a
possibilidade de emergir.

Sujeitos e(m) experiências: estratégias micropolíticas no contexto da reforma psiquiátrica no Brasil

Terceira pessoa e sujeito

Em seu trabalho, Alves (2010,
p. 47) argumenta que:

Nos discursos na terceira pessoa, ou seja sobre os outros, os nervos [categoria cul-
tural do pensamento leigo utilizada para designar o sofrimento mental] aparecem
associados a pessoas consideradas fracas (categoria humana altamente desvalorizada
e rejeitada porque interfere com a identidade). Nos discursos na primeira pessoa,
quando o próprio se declara nervoso, os nervos referem-se a um fenômeno diferente,
quase sempre a situações menos graves e justificadas pelos contextos que despoletam
os nervos – aqui a pessoa não é nervosa, mas apenas reagiu com nervos perante de-
terminada situação.
No contexto da nossa pesquisa, os discursos que se referem ao outro na terceira
pessoa, não apenas invisibilizaram os sujeitos, mas os retiravam da posição de
sujeito, colocando-os fora da possibilidade de uma concepção hegemônica de
sujeito presente na nossa sociedade. Ao mesmo tempo evidenciavam o quanto
as relações estabelecidas são também relações de poder.

Sujeitos e(m) experiências: estratégias micropolíticas no contexto da reforma psiquiátrica no Brasil

Sujeito e ocultação de discursos

Como argumentou Deleuze (1996), a partir da ideia de Foucault, o sujeito
é uma variável, ou melhor, um conjunto de variáveis de enunciado. O sujeito é
um dos lugares possíveis no contexto da enunciação. Para Deleuze (1996, p. 63):
“Objetar que existem enunciados ocultos é, apenas, constatar que há locutores e
destinatários variáveis segundo os regimes ou as condições.”

Sujeitos e(m) experiências: estratégias micropolíticas no contexto da reforma psiquiátrica no Brasil

Impertinência e surto

Esse alerta sobre não estar em surto antecipa o que seria uma reação esperada
diante de uma pessoa diagnosticada como esquizofrênica que resolve falar no
“momento errado” – está em surto. Se qualquer pessoa pode ser apenas impertinente
quando interrompe uma reunião já em curso, no caso de um “paciente mental”,
ele está sendo mais do que impertinente, está agindo conforme sua doença, está
surtado – e por isso, não por sua impertinência, não mereceria ser escutado.
Impertinente ou não, ele precisava posicionar sua fala, esclarecer que não
estava em surto. Tal como percebemos, o sujeito capaz de falar e ser escutado é
aquele que, não estando em surto, tem o domínio de suas faculdades mentais,
sabe quem é e o que faz enfim, é dono de sua razão, sendo assim admitido na
comunidade dos que falam e são escutados.

Sujeitos e(m) experiências: estratégias micropolíticas no contexto da reforma psiquiátrica no Brasil

Maneiras lidar com diagnóstico

Tal como percebemos, apesar de tal enunciado ter muita importância na
constituição dos sujeitos e na fixação de seus lugares na hierarquia própria do
modelo biomédico, há várias maneiras de lidar com ele. Conforme apontaram
os dados da pesquisa realizada, os sujeitos sobre os quais se instituem tais
enunciados utilizam estratégias diversas. Estas vão desde a utilização do
diagnóstico para negociar com o mundo; o uso do mesmo para sobreviver
economicamente em um mundo marcado por desigualdades de todo tipo,
bem como a sua relativização, como fez Nilza. As pessoas entendem por que
foram diagnosticadas desta ou daquela maneira e não acatam passivamente os
diagnósticos que lhe são conferidos.

Sujeitos e(m) experiências: estratégias micropolíticas no contexto da reforma psiquiátrica no Brasil

Aprendizagem da doença

“[...] a gente fica com os problemas que o médico põe na cabeça da gente” disse
Roger, referindo-se à sua experiência num serviço de saúde mental, quando, em
uma consulta psiquiátrica, recebeu o diagnóstico de depressão. Frase precisa e
clara para se referir à captura da subjetividade pelo poder biomédico que ocupa
um lugar relevante na configuração e constituição dos sujeitos no processo
da reforma psiquiátrica. Roger era um homem branco, casado, pertencente às
classes populares, que enfrentava problemas conjugais e de relacionamento no
trabalho, tão comuns na atualidade. Percebeu-se incomodado e procurou ajuda.
Entretanto, sua experiência em tal serviço acabou por gerar outro problema,
aquele que o médico colocou na sua cabeça, a depressão.

Sujeitos e(m) experiências: estratégias micropolíticas no contexto da reforma psiquiátrica no Brasil

Enredo da doença

Na sua discussão de emplotment, Mattingly (1994, 1998) aprofunda a
relação entre a experiência e a doença, argumentando que as narrativas sobre
doenças têm um papel na relação com a experiência vivida que vai além de
um relato a posteriori dos fatos ou um guia cultural para interpretá-los. Ela
demonstra que, em contextos clínicos, os terapeutas não só contam narrativas
mas também criam estruturas narrativas através de sua interação com os
pacientes. Assim, há uma relação entre a narração de histórias e a tomada de
decisões práticas (Mattingly 1998: 3). Ela chama a esta relação emplotment
terapêutica. Traduzindo emplotment como “a construção do enredo”, este
conceito chama a atenção para a homologia entre as estruturas da narrativa
e da ação. No decorrer da doença e de sua terapia, as pessoas estruturam suas
ações e decisões de uma maneira que homologa as estruturas das narrativas
contadas e que lhes permite obter uma sensação de controle da situação difícil.
Apesar da análise de Mattingly tratar de situações clínicas, penso que este
processo de construção de enredo faz parte de experiências e nos ajuda a
entender melhor o processo terapêutico tomado pelo doente ou sua família.

A DOENÇA COMO EXPERIÊNCIA: O PAPEL DA NARRATIVA NA CONSTRUÇÃO SOCIOCULTURAL DA DOENÇA

Tradição

O termo “tradicional” é empregado para referir as narrativas não-
pessoais que são compartilhadas pelo grupo. Não quero afirmar que existe
uma coleção fixa de narrativas compartilhadas por todos. Há diferenças
nas narrativas contadas por indivíduos, dependendo de sua idade, sexo,
experiências e afiliações sociais. Porém, existe uma tradição de narrativa
coletiva que é caracterizada por aspectos estruturais, simbólicos e poéticos,
e temas comuns. É esta tradição que guia a geração de narrativas novas e
pessoais que explicam os casos atuais de doenças sérias, ajudando na
explicação das rupturas na vida cotidiana e na tentativa de atribuir uma
coerência e um encerramento aos eventos. As narrativas pessoais seguem a
estrutura e códigos simbólicos comuns nas narrativas tradicionais e, com o
tempo, podem ser incorporadas no repertório das narrativas comuns ao
grupo. Assim, a coleção de narrativas siona deve ser concebida como uma
coleção dinâmica e fluída de textos criados e recriados ao longo do tempo.

A DOENÇA COMO EXPERIÊNCIA: O PAPEL DA NARRATIVA NA CONSTRUÇÃO SOCIOCULTURAL DA DOENÇA

Drama social e doença

No caso das narrativas siona ligadas à doença, a noção de drama so-
cial de Turner (1981) e sua relação com a narrativa é particularmente útil para
se pensar na maneira como a narrativa apresenta uma estrutura para entender
episódios de doença. A vida social é um processo dinâmico e não uma
estrutura fixa, e este processo é melhor visto como um drama, ou seja, como
composto de seqüências de dramas sociais que são resultado de uma contínua
tensão entre conflito e harmonia. A vida é como um drama, cheio de situações
desarmônicas ou de crises cujas resoluções desafiam os atores, envolvendo
conflito, volição, reflexão e escolha (Burke 1989). As doenças, como outras
formas de ruptura, tomam formas dramáticas e os atores tentam demonstrar
o que têm feito, o que estão fazendo e também tentam impor suas soluções
ou idéias aos outros (Turner 1981).
Os dramas sociais da vida cotidiana são unidades de seqüências de
ação que analiticamente podem ser separadas do fluxo contínuo do processo
social. São marcados pelas fases de ruptura da ordem normal, crise, tentativas
de compensação, e resolução –– quando a ruptura é resolvida ou a divisão do
grupo se torna permanente e reconhecida. A fase de compensação, como o
rito, tem qualidades quase imperceptíveis. São momentos da vida social de
negociações entre os atores que tentam impor ou convencer os outros de sua
visão ou “paradigma”. Fazem parte do aspecto indeterminado e o modo
subjuntivo na interação humana. A vida social está em jogo; há desejos,
esperanças e poderes diferentes; o resultado não é determinado. Vista assim,
a interação social é uma contínua negociação entre atores; é um processo
dramatúrgico (Goffman 1983) em que os atores realizam seus papéis para os
outros na platéia, tentando persuadi-los de sua posição.

A DOENÇA COMO EXPERIÊNCIA: O PAPEL DA NARRATIVA NA CONSTRUÇÃO SOCIOCULTURAL DA DOENÇA

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Cosmologia de grupo e saúde

O contexto sociocultural é relevante para compreender tanto a definição da doença em si quanto a escolha das práticas de cura empregadas. Desta maneira, a cosmologia de um grupo é também um fator na constituição dos itinerários de diagnóstico/tratamento [incluindo a etiologia do grupo]. Meus argumentos apontam para como nos itinerários dos sujeitos constroem-se negociações entre elementos provenientes de distintos sistemas terapêuticos e de diferentes cosmologias.

[Os diálogos da antropologia com a saúde: contribuições para as políticas públicas]

É também cósmica, pois são importantes o sentido e a fluência de nossa existência no mundo, e as convicções e interrogações sobre as forças visíveis e invisíveis que a sustenta.

[Interlocuções e interlocutores no campo da saúde: considerações sobre noções, prescrições e estatutos]

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Saúde sóciocultural

Rivers e Ackerknecht, ambos pioneiros na definição do campo de antropologia de saúde, observavam que não é possível separar as noções e práticas de saúde dos outros aspectos da cultura. A visão do mundo, os valores, as fontes de subsistência, as práticas de sociabilidade, no primeiro momento, não parecem ter uma relação com a saúde, mas, reconhecendo que a saúde é mais ampla que processos biológicos individuais, esses aspectos culturais têm uma relação estreita com o das representações de saúde e com a manutenção do bem-estar coletivo e individual. Essas normalmente são as práticas que os profissionais de saúde ignoram como sendo parte da saúde preventiva e curativa. 

Dialogando sobre o processo saúde/doença com a Antropologia: processo Antropologia: entrevista com Esther Jean L Langdon

Full Interview of Dr. Breggin

The Minds of Men - Full Interview of Dr. Breggin

https://www.youtube.com/watch?v=FDiQIYFVwtE

This is Peter R. Breggin's interview with film makers Aaron and Melissa Dykes in the making of The Minds of Men, a documentary in which Dr. Breggin is featured. This is the whole unedited interview, presenting some of Peter Breggin's most inspired and engaging discussions about his life’s work and shows what motivated him to become such an avid lifetime reformer. You will know him and understand his work much better after viewing this. The film examines government-supported mind and behavioral control experimentation, including psychosurgery, electroshock treatment, and sensory deprivation. The film makers generously gave permission for Dr. Breggin to publish his entire uncut interview, most of which is being seen for the first time. The film is an extraordinary success, quickly reaching nearly one million viewers, and rising. Dr. Breggin shares his feelings, thoughts and actions surrounding one of the most important accomplishments of his career: his successful international campaign to stop the world-wide resurgence of brain-mutilating lobotomy and psychosurgery. In the several segments, he describes his response to learning the truth about the hidden, devastating impact on children and adults and his discovery of the racist and political ambitions of leading psychiatrists and neurosurgeons. Dr. Breggin describes harrowing and sometimes triumphant confrontations with powerful professional and political leaders, including Senator Ted Kennedy and top officials at the American Psychiatric Association, who did their best to stop his reform work. He describes how the experience made him into a lifelong reformer. For detailed descriptions of Peter and Ginger Breggin's successful campaigns to stop federally-funded psychosurgical, eugenic and racist programs of behavioral control, see Psychiatry as an Instrument of Social and Political Control @ https://breggin.com/social-page See also the full documentary for which this interview was conducted: The Minds of Men @ https://youtu.be/LQucESRF3Sg

domingo, 11 de agosto de 2019

Normalidade e grupos

Ao defender os pressupostos da teoria da aprendizagem, em oposição ao modelo médico5, Ullmann & Krasner (1965) apontaram que o comportamento não é patológico em si, mas é considerado inapropriado por pessoas-chave na vida do sujeito (colegas, família, empregadores, vizinhos), que controlariam a maioria dos reforçadores a ele dispensados. O indivíduo cujo comportamento foge aos padrões do grupo com o qual convive está sujeito à retirada de reforçadores importantes ou à apresentação de estímulos aversivos, e é este mesmo grupo social que será responsável pela classificação do seu comportamento como normal ou anormal.

Esquizofrenia: a Análise do Comportamento tem o que dizer?
Ricardo Corrêa Martone'
Denis Roberto Zamignani

Loucura Fernando Pessoa

A loucura, longe de ser uma anomalia, é a condição normal humana. Não ter consciência dela, e ela não ser grande, é ser homem normal. Não ter consciência dela e ela ser grande, é ser louco. Ter consciência dela e ela ser pequena é ser desiludido. Ter consciência dela e ela ser grande é ser gênio.

Fernando Pessoa

Bolsonaro e o contraditório

ascensão de Bolsonaro e a direita é uma chance dos psicólogos e as ciências humanas começarem a lidar com o contraditório (pluralidade de pensamento). O conteúdo da disputa política boa parte envolve escolher categorias de análise que são próprias da própria profissão. O que é deformação profissional e um certo corporativismo. É um diálogo de surdos (como dizia Kuhn).

sábado, 10 de agosto de 2019

Pouca imaginação e normalidade

Há muito mais chances de a pessoa sem imaginação e sem capacidade de distanciamento crítico seja mais normal. Imitar cegamente e delegar pensamento é muito fácil. Quem não é assim corre riscos.

Bolsonaro é um enforcer

Bolsonaro é um enforcer (agente da lei, fiscal, fazem valer ou cumprir) de costumes. Isso explica muito das ações e mentalidade dele. Por isso, a associação com a Associação Brasileira de Psiquiatria na contrareforma psiquiátrica e a intolerância com a reforma psiquiátrica. Também a indisposição com a psicologia e ciências humanas. Por isso a escolha pela direita e a intolerância com a esquerda. Tudo isso com apoio da "ciência". Mas ciência com desvios devido a interesses econômicos. Chega um ponto que não dá mais para ter ilusão: as pessoas se interessam ou gostam daquilo que traz dinheiro, poder e carreiras profissionais.

Para quem gosta das regras está tudo ótimo. Para quem discorda está fogo.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Perenização

Perenização.

“Quando o psiquiatra enquadra, classifica e diagnostica, distancia-se inevitavelmente de uma postura terapêutica aberta, prospectiva e amorosa. Seu olhar é retrógrado e petrificador – petrifica o paciente num estigma, e congela o próprio olhar do psiquiatra no diagnóstico realizado num determinado momento, dificultando-lhe a percepção da evolução ou variação da sintomatologia do mesmo paciente ao longo do tempo, centrando-se no que já está posto, ou seja, atua no sentido de capturar o paciente numa classificação nosológica”. (A Tragicomédia da Medicalização: a Psiquiatria e a Morte do Sujeito, Natal (RN), Sapiens: 2012. Segundo Ato, Das Classificações).

Violência simbólica, exclusão social e campos psi (atualizado)

isto também significa o fato de que esta teoria geral das ações simbólicas violentas (exercida pelo curador, pelo feiticeiro, pelo padre, pelo profeta, o propagandista, o professor, o psiquiatra ou o psicanalista) pertence a uma teoria geral da violência e da legitimidade da violência, como é atestado diretamente pela intercambiabilidade dos diferentes formas de violência social e indiretamente pela homologia entre os monopólio do sistema escolar de violência simbólica legítima e monopólio do uso legítimo da violência física do Estado.

36. O sistema educacional francês que, em sua forma tradicional, exigia e obteve o reconhecimento de veredictos incontestáveis ​​que expressam um hierarquia vocal (mesmo quando escondida sob um conjunto de hierarquias interligadas) contrasta a este respeito com sistemas como a universidade americana, que fornece para a resolução institucional das tensões resultantes da disparidade entre as aspirações que ajuda a instilar e os meios sociais de realizá-las. E se considera-se o caso limitante, imagina-se universidades que, aceitando quase explicitamente o seu papel como instituições do governo simbólico, equipá-los-Dependência através da Independência com todos os instrumentos institucionalizados (testes. mais um sistema de ramo linhas e desvios que compõem uma universidade sutilmente hierarquizada sob o pretexto de diversidade) e pessoal especializado (psicólogos, psiquiatras, conselhos de orientação, psicanalistas) necessários para a manipulação amigável e discreta daqueles quem a instituição condena, exclui ou relega. Essa utopia permite que ser visto que a "racionalização" das ferramentas técnicas e institucionais para a exclusão, canalização, e incutir a aquiescência na canalização e exclusão, permitir que o sistema escolar cumpra de forma mais eficiente, porque mais irrepreensível, as funções que desempenha hoje quando seleciona e, ao ocultar os princípios de sua seleção, ganha a equivalência nessa seleção e nos princípios subjacentes.

[Comentário: O diagnóstico psiquiátrico tem portanto uma função implícita e dissimulada de exclusão social ao reforçar uma seleção de características sociais por meio da seleção técnica no sistema de ensino e no mercado de trabalho. Também o diagnóstico psiquiátrico ao reduzir as expectativas de sucesso social e aspirações também produz exclusão. Exclusão que parece muito natural e correlacionada com a natureza biológica da pessoa diagnosticada.]

No livro Reprodução. Do autor Bourdieu.

Drogas neurolépticas e reforço positivo

A relação entre comportamento operante e drogas neurolépticas, ou antipsicóticas, tem sido amplamente estudada. De uma maneira geral, o efeito dessas drogas tem sido o de suprimir, ou diminuir, comportamentos mantidos por reforço positivo. Duas hipóte­ses principais foram levantadas para explicar essa relação. A primeira é a de que neurolépticos, na sua maioria, drogas antagonistas (efeito na direção contrária) do sistema dopaminérgico, afetam o sistema motor, no sentido de diminuir, ou dificultar, qualquer atividade motora. Na segun­da hipótese (chamada de Hipótese da Anedonia (ausência de prazer)), neurolépticos estariam impedindo a aquisição e manutenção do comportamento por estímulos reforçadores, via interferência direta nos circuitos cerebrais ligados ao reforço (Wise, 1982). Alguns dados nos levam a favorecer a segunda hipótese.
O primeiro dado é que antagonistas dopaminérgicos em dose baixa retardam a aquisição de um comportamento operante. Ou seja, animais que receberam doses bai­xas de neurolépticos atingem a mesma taxa de respostas que animais que não recebe­ram a droga; mas há uma diferença no tempo de aquisição do operante: enquanto os animais em condição controle atingiram um desempenho assintótico na segunda ses­são, animais que receberam neurolépticos só atingiram a assíntota na quinta sessão.
Outro dado interessante ó o chamado efeito semelhante à extinção. Animais bem treinados para emitir um determinado operante em um procedimento de ICSS (auto-estimulação intracraniana), quando recebem uma dose de um neuroléptico, por exemplo, pimozida, apresentam um padrão de respos­tas semelhante a animais colocados sob extinção, ou seja, inicialmente a taxa de respos­tas se mantém, passando a cair com o decorrer do tempo.

Conclusão

De uma maneira geral, a partir dos dados apresentados, podemos concluir que é
razoável pensar na existência de um mecanismo dopaminérgico anatomicamente espe­cífico que parece estar subjacente ao processo de reforço do comportamento.

A segunda implicação é quanto ao uso de neurolépticos que, interferindo diretamente nos mecanismos fisiológicos do reforço, poderiam estar dificultando a manutenção e aquisição de comportamentos, fato que deve ser levado em conta em um contexto clíni­co.

Do texto Mecanismos fisiológicos do reforço

Engenharia social e neurolépticos

Em termos de engenharia social o uso de neurolépticos visa suprimir ou punir repertório que uma parte da sociedade considera inadequado ou não legítimo. Também é uma forma de legitimar à força o repertório de quem está exigindo prescrição ou prescrevendo.

Contextualizando melhor, a sociedade busca se reproduzir e se legitimar perseguindo as pessoas que mostram limitações e inadequações na sociedade ou que relativizam ou desnaturalizam sua cultura arraigada. Ou a família busca impor sua legitimidade e suprimir e punir repertório incompatível com a família. Contextualizando também o paciente, se seu repertório é diferente da maioria há maior chances de ser considerado inadequado por mera comparação de quantidade. O que não necessariamente seria inadequado em outros grupos da sociedade que são origem desse repertório cultural legítimo.

O que basicamente é violência simbólica ou cultural. Conseguir convencer que a família está equivocada ao impor medicalização seria ameaçar o modo de vida deles e a indústria psiquiátrica. Parece que um modo se vida só pode se legitimar através do dinheiro.

segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Reações adversas

A literatura sobre reações adversas na  medicina psiquiátrica é um show de horrores. Não sei como conseguem ter orgulho de ser psiquiatras biológicos insistindo em tratamentos desnecessários. Só o orgulho do dinheiro mesmo.

domingo, 4 de agosto de 2019

RACIOCÍNIO MOTIVADO

RACIOCÍNIO MOTIVADO

Algumas das nossas crenças incorretas mais teimosas surgem não de intuições infantis primitivas nem de erros descuidados de categoria, mas dos próprios valores e mundivisões que definem quem somos como indivíduos. Cada um de nós tem determinadas crenças fundamentais—narrativas sobre o eu, ideias sobre a ordem social—que essencialmente não podem ser violadas: contradizê-las seria pôr em questão nosso próprio valor. Como tal, essas concepções exigem fidelidade de outras opiniões, e toda informação que recolhemos do mundo é corrigida, distorcida, diminuída ou esquecida de modo que garanta que essas crenças sacrossantas permaneçam inteiras e incólumes.
Uma crença sacrossanta muito comum, por exemplo, é alguma coisa assim: sou uma pessoa capaz, boa e atenciosa. Toda informação que contradiga essa premissa está sujeita a encontrar uma resistência mental séria. Também crenças políticas e crenças ideológicas com frequência migram para o reino do sacrossanto. A teoria antropológica da cognição cultural sugere que as pessoas em toda parte tendem a se classificar ideologicamente em concepções culturais divergentes ao longo de um par de eixos: são individualistas (favorecem a autonomia, a liberdade e a autossuficiência) ou são comunitaristas (dão mais peso aos benefícios e aos custos arcados por toda a comunidade); e são hierarquistas (favorecem a distribuição de deveres sociais e de recursos ao longo de hierarquistas (favorecem a distribuição de deveres sociais e de recursos ao longo de uma classificação fixa de posição social) ou são igualitários (rejeitam a ideia mesma de classificação de pessoas de acordo com a posição social). De acordo com a teoria da cognição cultural, os humanos processam informações de uma maneira que não somente reflete esses princípios organizadores, mas que também os reforça. Esses pontos de ancoragem ideológicos podem ter um impacto profundo e abrangente no que as pessoas creem, e até no que elas “sabem” que é verdadeiro.

https://universoracionalista.org/somos-todos-idiotas-confiantes/?fbclid=IwAR1fSZ_iBCchwKYcRPWuEAB5E3xM5eKh38AM5dLyLkB-R5x8H90bPWAUu2g

O modelo médico e o modelo psicológico

[Esse tema foi a primeira inspiração para o blogue]

O modelo médico e o modelo psicológico
Maria Luiza Marinho

1. O modelo médico

O modelo médico é a mais amplamente aceita formulação do comportamento maladaptativo, e o ponto de vista da modificação do comportamento tem se desenvolvido como uma abordagem alternativa dentro deste contexto.
Modelo médico ou de doença significa que o comportamento do indivíduo é consi­derado anormal ou doente devido a causas subjacentes. A analogia ó feita da medicina física em termos de germes, vírus, lesões e outros que tiram o organismo de seu trabalho normal e o levam à produção de sintomas. Essa abordagem representou o maior avanço da medicina física no século XIX. Isso permitiu tratamentos específicos efetivos ao estar doente, nos quais, antes, a história da medicina tinha estado completamente intervindo com placebo ou com a prescrição de remédios não específicos que dependiam de sugestão ou remissão espontânea.

2. O modelo médico na área do comportamento humano: noção de enfermidade

Este ponto de vista considera que o comportamento do indivíduo é anormal ou doente devido a causas subjacentes que tiram o organismo de um trabalho normal e levam à produção de sintomas. O comportamento dito "anormal" é considerado, então, sintoma de um problema interno (físico ou intrapsíquico). Segundo Szasz apud Ullmann & Krasner, 1965, os problemas psicológicos são considerados, sob o ponto de vista do modelo médico, como enfermidades essencialmen­te semelhantes a todas as outras (ou seja, as do corpo). A única diferença entre as enfermidades mentais e corporais é que as primeiras, ao afetarem o cérebro, manifestam-se mediante sintomas mentais; enquanto as últimas, que afetam outros sintomas orgânicos (por exemplo, a pele, o fígado, etc.), manifestam-se através de sintomas relacio-nados com estas partes do corpo." Dessa forma, os transtornos do comportamento são considerados enfermidades para as quais deve-se encontrar uma etiologia, que conduzirá a alguma forma especifica de tratamento. Dai a ênfase no diagnóstico e a crença de que existem causas especificas das enfermidades mentais.

2.1. Problemas metodológicos no modelo explicativo

Pesquisas não conseguem revelar qualquer patologia orgânica na maioria dos indivídu­os com ‘problemas’ comportamentais; 
Determinados "pacientes" podem apresentar pequena anomalia na química do corpo, mas isto ocorre com grande número de pessoas "normais”; 
Indivíduos com os mesmos sintomas não apresentam a mesma disfunção orgânica, ou ás vezes não apresentam nenhuma disfunção orgânica detectável; 
Dúvida em relação a se as alterações de funcionamento do corpo são causas ou conseqüências da alteração no comportamento.

2.2. Algumas conseqüências do modelo aplicado à “saúde mental” :

Hospitalização para tratamento.
Uso maciço de medicamentos.
Ênfase no diagnóstico.
Crença que existem similaridades entre as “enfermidades".
Noção de substituição de sintomas.

3. Modelo psicológico: uma abordagem alternativa ao modelo médico

Se o comportamento dito “anormal" não é o sintoma de causas subjacentes, como explicá-lo então?
(a Análise do Comportamento como modelo explicativo) “O comportamento anormal não é diferente do normal em seu desenvolvimento, em sua manutenção ou na maneira em que ele pode ser mudado. A diferença entro comportamento normal e anormal nâo é intrínseca: a diferença está na reação (julgamento) social." (Ullmann & Krasner, 1965) "Os estímulos do meio, ao invés de “doença" subjacente ou conflito intrapsíquico, determinam e mantêm o que é rotulado como comportamento desajustado, inadequa­do, desvantajoso ou disruptivo. A "anormalidade" não é um problema que se localiza dentro do indivíduo (...) mas é o resultado da Interação da pessoa com o meio social e representa o resultado compreensível da história do reforçamento do Indivíduo." (Ferster, 1972) 

"O ambiente modela o repertório comportamental do indivíduo, e as diferenças entre comportamento dito "normal" e “anormal" resultam de diferenças nos esquemas de reforçamento a que os indivíduos foram expostos.” (Ullmann & Krasner, 1973) "A principal técnica empregada no controle do indivíduo por qualquer grupo de pessoas é a seguinte: o comportamento do indivíduo é classificado como ‘bom’ ou 'mau', ou, com o mesmo efeito, como 'certo'e 'errado'e reforçado e punido de acordo com isso, (...) Geralmente se denomina o comportamento de um indivíduo bom ou certo na medida em que reforça outros membros do grupo, e mau ou errado na medida em que é aversivo, “ (Skinner, 1981)

"Ensinar as pessoas a considerarem certos tipos de problemas ou comportamentos extravagantes como doenças em vez de reações normais às tensões da vida, excentri­cidades inofensivas ou pequenos episódios de desânimo, pode causar alarme e aumentar a procura por psicoterapia. (...) Quanto maior o número de oportunidades para tratamento e mais ampla a informação a esse respeito, tanto maior o número de pessoas que procuram ajuda. " (Ulimann & Krasner, 1973)

3.1. Questões referentes ao diagnóstico

O que é comportamento certo e quem o define?
Quem classifica (diagnostica)?
Quais as conseqüências de se classificar?
Por que classificar?
Efetividade do diagnóstico (DSM)

Bibliografia

Ferster, C. B. (1972). Classificação da Patologia do Comportamento. In: L. Krasner e L. P
Ulimann. Pesquisas sobre modificação do comportamento. Sâo Paulo. Herder, p. 2-33
Kanfer, F. H. & Schefft, B. K. (1988). Guiding theprocess oftherapeuticchange. Illinois: Research
p. 7-31.
Skinner, B. F. (1981). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes.
Tharp, R. G. & Wetzel, R. J. (1969). Behavior modifícation in the natural environment. New York
Academic Press. Cap. 1.
Ullmann, L. P. & Krasner, L. (1965). Case studies in behavior modification. Holt. New York:
Rinehart & Winston. p. 1-63.
Yates, A. J. (1975). Terapia dei comportamiento. Trillas: México.

sábado, 3 de agosto de 2019

Neurocentrismo

https://www.theguardian.com/science/2013/jun/30/brain-mind-behaviour-neuroscience-neuroimaging

Comportamento humano: tudo está no cérebro - ou na mente?

O cérebro é dito ser a fronteira científica final, e com razão, na nossa opinião. No entanto, em muitos lugares, as explicações baseadas no cérebro parecem receber uma espécie de superioridade inerente a todas as outras formas de explicar o comportamento humano. Chamamos essa suposição de "neurocentrismo" - a visão de que a experiência e o comportamento humano podem ser melhor explicados a partir da perspectiva predominante ou até mesmo exclusiva do cérebro. Deste ponto de vista popular, o estudo do cérebro é de algum modo mais "científico" do que o estudo de motivos, pensamentos, sentimentos e ações humanas. Ao tornar visível o oculto, a imagiologia cerebral tem sido um benefício espetacular para o neurocentrismo.

O principal problema do neurocentrismo é que desvaloriza a importância das explicações psicológicas e fatores ambientais, como o caos familiar, estresse e acesso generalizado às drogas na manutenção da dependência.

Ele promete produzir descobertas objetivas que endurecerão até mesmo a ciência mais branda, ou pelo menos é o caso da lógica duvidosa. Pais e professores são marcas fáceis para "academias de cérebro", "educação compatível com o cérebro" e "criação de filhos baseada no cérebro", sem mencionar dezenas de outras técnicas. Mas, na maioria das vezes, essas empresas enxutas simplesmente encenam bons conselhos ou reembalam brometos com descobertas neurocientíficas que não acrescentam nada ao programa geral. Como um psicólogo cognitivo brincou: "Incapaz de persuadir os outros sobre o seu ponto de vista? Tome um Neuro-Prefixo - a influência aumenta ou o seu dinheiro volta".

O domínio neurobiológico é um dos cérebros e causas físicas; o domínio psicológico é uma das pessoas e seus motivos. Ambos são essenciais para uma compreensão completa do porquê agimos como nós. Mas o cérebro e a mente são estruturas diferentes para explicar a experiência humana. E a distinção entre eles dificilmente é um assunto acadêmico: tem implicações cruciais para a maneira como pensamos sobre a natureza humana, bem como a melhor forma de aliviar o sofrimento humano.

Caretice e loucura

Quanto mais as sociedades tem indivíduos caretas, incultos, fechados e rígidos mais ela desqualificam o resto das pessoas que não se encaixam nisso. Na psiquiatria biológica e na psicologia patologizante há a suposição de uma sociedade perfeita que não faz mal para as pessoas. A psiquiatria biológica apenas contribui para deixar pior ou complicar esses problemas anteriormente citados. O conceito de incapacidade social não existe para essas pessoas.

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Viver sem pensar

A pessoa normal tenta viver evitando pensar. O pensamento é pensado para ela pela rotina social. Apenas quando aparece um problema é levada a pensar. Mesmo assim delega o pensamento para especialistas. E é incapaz de ver problema no que é comum e convencional.
Só tem um probleminha. A realidade social é construída e definida pelo conhecimento.

Pensamento medíocre

O pensamento medíocre é altamente prejudicial à sociedade em diversas esferas.

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Seguir convenções e ética

Como o nazista que se achava inocente porque só seguia ordens, os familiares e psiquiatras biológicos não se consideram responsáveis por nada pois apenas seguem convenções.

O excepcional e o prejuízo

Se os familiares não fazem nada excepcional supostamente não tem como estar prejudicando. Pois a sociedade e a psiquiatria biológica apoiam. Mas é justamente a equiparação de toda diferença com o excepcional e anômalo que está na origem dos problemas.
Os familiares e psiquiatras biológicos se protegem ou se escondem atrás de uma prática social adotada por convenção.