Os psiquiatras fazem um cálculo matemático do número de 'crises' e o grau de progressão de degeneração cerebral. Cada situação de 'vexame' é somente uma 'crise cerebral'. E se a pessoa tenta parar com o tratamento psiquiátrico e não consegue, o psiquiatra conta mais uma crise e piora o prognóstico. Então você quer se libertar do tratamento e ele te aprisiona mais ainda.
Limitações da psiquiatria biomédica Controvérsia entre psiquiatras farmacológicos e reforma psiquiátrica Psiquiatria não comercial e íntegra Suporte para desmame de drogas psiquiátricas Concepções psicossociais Gerenciamento de benefícios/riscos dos psicoativos Acessibilidade para Deficiência psicossocial Psiquiatria com senso crítico Temas em Saúde Mental Prevenção quaternária Consumo informado Decisão compartilhada Autonomia "Movimento" de ex-usuários Alta psiquiátrica Justiça epistêmica
Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)
Aviso!
domingo, 28 de fevereiro de 2021
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Tdah e análise do comportamento
Eu fui fazer um curso de verao em neurociencias porque estava barato e porque tenho medo de estar afirmando algo sem nocao.
O que aprendi ou a impressao que tive a partir de minha formacao e que as funcoes cognitivas podem ser descritas em formato de classes de comportamento ou de maneira nao mentalista. Os neuropsicologos podem nao ter formacao em analise do comportamento e recorrer a explicacoes estruturais e negligenciar as funcoes dos comportamento. E possivel fortalecer classes de comportamento equivaolentes ao que a psicologia cognitiva chama de funcoes cognitivas.
Quanto ao uso de estimulantes farmacologicos eu tenho duvidas pois parece que a enfase e em mostrar de forma cor de rosa como isso funciona atraves de validade preditiva.
Fiquei surpreso com a afirmacao de que a educacao nao da conta de lidar com pessoas com esse perfil e sobra para o medico. Parece compativel com o discurso sobre a medicalizacao da educacao.
Tive contato com uma pessoa com tdah na familia. A explicacao estrutural e vista como tudo no tratamento. Seria necessario tratar o cerebro, para aumentar o QI, para entao poder estudar. Mas ha outro aspecto a ser considerado que e a consequenciacao dos comportamentos relacionados a estudar (funcao) ou a instalacao desses comportamentos e a diminuicao de comportamentos incompativeis. Tambem deve ser considerado que um historico de sucesso torna o estudar mais motivador e mais facil. Um historico de fracasso pode estar sendo atribuido exageradamende a aspectos estruturais.
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Decomposição da expressão 'saúde mental'
No final de um dos eventos chamado Epidemia das drogas psiquiátricas, Paulo Amarante diz que a palavra saúde na expressão saúde mental deveria ser substituída por outra forma de se expressar.
Mas há um problema: seria preciso decompor conceitualmente ou operacionalizar em diversos indicadores de "saúde mental". Tenho uma proposta: saúde mental significa conforto emocional, acesso a direitos e comportamento apropriado segundo valores sociais.
O que mais significa o conceito de saúde mental? Ou qual expressão poderia substituir saúde mental? Bem-estar mental?
Ou bom funcionamento físico, bom funcionamento cerebral e bom funcionamento social? Mas isso tornaria necessário um estado orgânico intacto ou uma valorização social que nem sempre está relacionado com o bem-estar mental.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Ficções mentais e fisiológicas: assassinato em massa
Mensuração mental, racismo e seleção de pessoas
Traços
Capítulo 13 em Ciência e comportamento humano, "Função versus aspecto," pode oferecer uma saída contra as implicações racistas da mensuração mental. Seleção das pessoas certas se torna menos importante quando começamos a olhar para o controle. É o problema encontrar melhores estudantes - ou prover melhor ensino? Encontrar trabalhadores mais energéticos - ou arranjar melhores sistemas de incentivo? Se nós pudéssemos parar de olhar para a pessoa e olhar ao invés disso para histórias antecedentes, genética ou individual, nós poderíamos começar a agir mais efetivamente.
Notebooks, Skinner (1980)
Observações sobre curso de neurociência
Observações:
- Consideram que efeitos de psicofármacos provam a causa biológica. É como provar que a causa da timidez é biológica pelo uso do álcool. Certamente há um mediador fisiológico. Mas isso não prova que a origem ou etiologia é uma deficiência ou doença biológica. O que parece ser assumido pelo programa de pesquisa: o foco todo é em como a pessoa é degenerada biologicamente e em como justificar as intervenções psiquiátricas. Dizer que se prova causa de maneira indireta por provar um mediador fisiológico sem fazer estudos etiológicos é uma questão de justificar o programa de pesquisa reducionista.
- Ao mesmo tempo o tempo todo o palestrante enfatiza como os modelo animais de transtornos mentais são limitados e que precisam ser múltiplos para enfatizar aspectos limitados. Também enfatiza a necessidade de conversar com outras áreas para compor o mosaico causal. Mas isso não é feito por muitos psiquiatras. Não há necessariamente um problema com o reducionismo como método de pesquisa. Mas o conhecimento é usado na prática de forma reducionista.
- Um comentador afirma que ansiolíticos e antidepressivos "resolvem" a ansiedade por ter ficado provado nas pesquisas animais que há algum efeito dos psicofármacos para lidar com situações novas e ameaçadoras. Uma extrapolação ingênua e exagerada. Pois olhado de forma holística e em casos clínicos humanos a ansiedade não se resolve com ansiolíticos e antidepressivos pois ainda há uma relação com o ambiente alimentando a ansiedade.
- Um palestrante afirmou que psicofármacos também aumentam "sintomas" ou problemas.
domingo, 21 de fevereiro de 2021
sábado, 20 de fevereiro de 2021
Biólogos negando análise do comportamento
Usando internet de vez em quando eu me deparo com biólogos negando o valor do conhecimento da análise do comportamento. Esses biólogos nunca estudaram o assunto e seguem as linhas com maior visibilidade social em psiquiatria e psicologia como se isso fosse prova de superioridade científica. Esses biólogos que me refiro são eles próprios pessoas preocupadas com visibilidade social como sinônimo de sucesso.
Diagnósticos não são tipos naturais
Conselho Superior de Saúde da Bélgica desaconselha o uso do DSM
Melhorar casos refratários com eletrochoque
Um paciente considerado refratário provavelmente está tomando coquetel pesado de drogas psiquiátricas. O médico limitado pela própria lógica médica acha que isso deveria funcionar e que portanto o caso é gravíssimo. O eletrochoque pode fazer o tratamento do paciente refratário mudar de lógica. Ele pode quem sabe reduzir o coquetel de drogas psiquiátricas. Isso deve ser levado em consideração como uma variável adicional. Coquetéis de drogas tornam a pessoa praticamente um zumbi.
Se o paciente é considerado refratário provavelmente todo o seu ambiente social é medicalizador. O que não ajuda muito no tratamento. Ou o médico psiquiatra acredita que terapia cognitiva é o melhor tratamento que existe somente porque é um método próximo da lógica médica e que usa raciocínio estatístico. Provavelmente o médico psiquiatra não sabe o que é contingências de reforçamento ou menospreza análise do comportamento. Portanto, nem tudo foi tentado.
Voltando a prática médica, drogas psiquiátricas não tem grande eficácia. Muito menos com coquetéis pesados. Não alteram comportamentos através de contingências de reforçamento. Como o médico não sabe o que é contingência de reforçamento, não imagina que a pessoa pode começar a fazer o que é esperado dela para evitar o tratamento com o eletrochoque. Outra variável é se a ansiedade do ambiente social sobre a saúde do paciente se reduz e o ambiente social tem expectativa de melhora.
Falar em desfibrilador para o cérebro não faz muito sentido. Somente para o médico que quer simular a lógica médica da cardiologia. O cérebro age diferente do coração com a eletricidade. No cérebro a eletricidade lobotomiza as células nervosas. O coração apenas se contrai.
Dentro da lógica médica ou manicomial, o médico põe viseira teórica. Se fosse capaz de sair da lógica médica ou manicomial viria os pacientes refratários, ou que considera incuráveis e irrecuperáveis, melhorar. O pessoal da lógica manicomial ou médica acredita que não há solução fora da lógica médica e por isso defende que é negligência criticar o tratamento médico ("omissão de socorro"). Provavelmente o entusiasmo com o eletrochoque vem de reduzir a frustração dos médicos em relação aos "transtornos incapacitantes".
Obs: A única proximidade que tive com casos assim quando escrevi esse texto foi um paciente bipolar no CAPS que recebeu indicação de eletrochoque. O único problema que ele aparentava ter era que a vida profissional dele não começava.
Melhorar fora da lógica médica
Os psiquiatras biológicos falam sobre melhorar com eletrochoque como se isso fosse um fato impressionante.
Pois melhorar fugindo à lógica médica ou desconstruindo-a depois de ser considerado irrecuperável é mais impressionante.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021
Repertório especial de pais e parceiros e psiquiatria
Pais e parceiros apresentam repertório especial com filhos e parceiros. Nesse sentido, um psiquiatra pode julgar que se o filho está incomodado ou sofrendo deve haver algo errado com o organismo do filho. Pois os pais vão parecer bem ajustados e adaptados à sociedade enquanto o filho vai parecer mal ajustado e mal adaptado. Mesmo se os pais apresentarem comportamentos complicados em outras situações isso dificilmente vai ser levado em consideração.
Inspirado em Skinner - Notebooks (1980). (Seria melhor colocar essa citação)
Obs: A maior chance é que o psiquiatra fique do lado de quem paga a consulta e contra a pessoa com menos poder.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021
Autopermissão para danificar até estado crítico
Danos no fígado e psicofármacos
Uma das causas de insuficiência hepática aguda que podem originar encefalopatia hepática é a hepatite medicamentosa. Contudo, em algumas situações não é possível evitar a doença hepática, sendo que quando ela já estiver instalada, deve-se tomar algumas precauções ao prescrever medicamentos à esses pacientes. CONCLUSÃO: Conclui-se, portanto, que o uso de psicofármacos tem a possibilidade de causar hepatopatias, necessitando então de grande discernimento para prescrevê-los, cuidado para associá-los e precaução com a realização de exames, tanto antes do início da terapia quanto durante ela, para monitorização do funcionamento do organismo do paciente. Caso já haja doença hepática instalada, os cuidados com a administração devem ser ainda maiores, para que o quadro do paciente não progrida, levando ao aumento da morbimortalidade.
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021
Razão definida (para Skinner/comportamentalmente)
"Como C.S. Lewis afirmou, a razão é um desses traços não analisáveis, porque na tentativa de derivá-la de fatores irracionais nós destruímos suas reivindicações de correspondência com a verdade objetiva." (Carta para o editor, The sciences, Janeiro/Fevereiro 1976.)
"Um traço derivado de fatores reivindicando correspondência com a verdade objetiva" - o que isso pode ser?
O raciocínio como uma atividade pode ser definido. Não é um traço, um fator, ou um correspondedor com a verdade objetiva. É a análise de contingências de reforçamento, com a ajuda do qual o raciocinador pode satisfazer as contingências sem ser diretamente afetado por elas. Ao invés de jogar dados com uma probabilidade surgindo das frequências encontradas numa longa história jogando, a pessoa "examina o espaço da amostra" e age "racionalmente" a respeito de um dado cenário.
Livro Notebooks (1980), Skinner
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021
Skinner sobre o eletrochoque
domingo, 7 de fevereiro de 2021
A linguagem psiquiátrica é avaliativa/normativa
A linguagem psiquiátrica é discurso avaliativo e normativo em relação a ideais, costumes, valores, normas e preferências e portanto expressa mais um julgamento social do que uma descrição. É possível descrever a partir de modelos conceituais diferentes e prescindindo do modelo médico em saúde mental. A observação não ocorre sem a formação prévia de conceitos, ou seja, é mediada por conceitos. A linguagem psiquiátrica é uma abstração que define a forma de lidar com fatos diversificados entre si que poderiam ser descritos sob outras abstrações. A sociedade se ilude achando que está lidando com a realidade da condição médica das pessoas. Na verdade está abstraindo a condição humana como condições médicas.
Banalização e abusos de psicofármacos (resumo)
Artigo de farmacêuticos mostra práticas irregulares comuns de médicos como problema de saúde pública
"A experiência trazida pelos anos de contato com a dispensação de psicofármacos no serviço público possibilitou a constatação de que há um uso indiscriminado dessa classe de medicamentos. Na busca por uma maior resolutividade para os problemas que envolvem a saúde mental dos pacientes, os médicos mantêm muitas vezes tratamentos que se estendem por anos a fio. Outras vezes, na clínica médica, prescrevem medicamentos psicoativos sem sequer escutar de forma mais atenciosa as queixas dos pacientes. Percebeu-se que, entre farmacêuticos consultados em conversas informais, o relato desse uso indiscriminado não é raro.
A carência de soluções que possibilitem alívio aos sintomas de pacientes portadores de transtornos psicológicos ou psiquiátricos tem contribuído sobremaneira para o uso de medicamentos psicoativos. Da vivência com a dispensação de medicamentos no serviço público surgiu a constatação de que, apesar dos bons resultados nos tratamentos propostos, esse tipo de medicamento nem sempre é prescrito com base na relação risco-benefício e isso aponta para seu uso indiscriminado.
Desse total, há uma maior incidência sobre as mulheres e também com elas está o maior número de utilização de psicofármacos. Isso pode ser atribuído, segundo eles, a uma maior preocupação feminina com relação à sua saúde e, consequentemente, maior frequência nas visitas médicas.
Nos atendimentos realizados na Atenção Primária à Saúde, responsável pelo tratamento dos Transtornos Mentais Comuns, não raro são encontradas prescrições repetidas de atendimentos anteriores, muitas vezes feitas por outros especialistas, sem que se revisem as causas ligadas ao diagnóstico. Essa poderia ser apontada também como uma causa que explique a utilização indevida.
Silva (2001), no sentido de abordar o paciente em seu contexto holístico, aponta para a prática da medicalização sem que sejam contempladas questões outras que interferem na saúde mental do paciente, sobre as quais muitas vezes ele não tem a oportunidade de se expressar: Ao passo que a medicina busca instantaneamente medicar o mal-estar, ou seja, a dor de existir, a psicanálise abre a possibilidade de o sujeito remediar o próprio sofrimento com a palavra, fazendo emergir a falta que o constitui enquanto sujeito. Atualmente, o uso indiscriminado de medicamentos está colocando o sujeito como espectador dos fatos em que ele transita a cada dia. Estes servem como uma tampa para remediar o que acredita não ter mais a oportunidade e a disponibilidade para solucionar. O sujeito não agride só fisicamente o seu corpo, mas também a sua alma, porque permanece em uma angústia existencial que o estabiliza e não corresponde a seus anseios.
Dentre esses “impactos” de que trata a autora na citação acima, encontram-se o consumo de drogas e medicamentos psicoativos que tratam os sintomas já apresentados, mas limitam a vida dos jovens.
Para Teixeira (2010) a prevalência do uso de substâncias psicoativas entre jovens de 18 a 25 anos tem aumentado, o que faz desse assunto uma questão de saúde pública. Nos casos em que esses jovens são estudantes de cursos na área de saúde, o comprometimento pode ser ainda maior, em função da facilidade de acesso a esse tipo de droga, tornando esse grupo ainda mais vulnerável. A preocupação deve aumentar quando se observa que estes estudantes serão profissionais responsáveis por orientações básicas de saúde. Kimura (2005), discorrendo sobre a visão de psicólogos no tratamento com psicofármacos, aponta para uma espécie de mudança de rumo que a terapêutica medicamentosa sofreu.
O que antes seria uma alternativa de tratamento para o sofrimento psíquico e seus sintomas de difícil manejo, transformou-se com o passar do tempo em “pílula da felicidade”, prometendo acabar com todos os incômodos psicológicos da existência humana. Para a autora, existe um forte apelo da propaganda para promover os medicamentos, passando a falsa ideia de solução mágica para os conflitos, desprezando, inclusive, o atendimento psicanalítico.
O uso de metáforas – paisagens, natureza, animais – e cenas de família ideal são bastante presentes na promoção dos psicofármacos. Estas imagens sugerem a possibilidade da medicação propiciar até mesmo a reintegração familiar e dissolução de conflitos.
Não menos preocupante, com o avanço dos diagnósticos em psiquiatria e neurologia, surge a necessidade da medicalização de crianças e adolescentes. Nesse contexto, Brasil (2000) esclarece: A indicação de psicofármacos para o tratamento de problemas de saúde mental em crianças e adolescentes traz preocupação mas também esperanças. Preocupação pelo risco dessas indicações tenderem a banalizar o uso como solução imediata e não como um recurso possível a partir da avaliação risco-benefício.
Sobre a questão da dependência, Forsan (2010) aponta para uma abordagem interessante em que, o uso de benzodiazepínicos para tratar sintomas da ansiedade não trata a ansiedade. O que acontece é uma falsa sensação de dependência, assim explicada pela autora: Os casos de dependência aos Benzodiazepínicos relatados na literatura ou constatados na clínica se prendem, na grande maioria das vezes, ao uso muito prolongado e com doses acima das habituais.
Antes de se considerar a dependência, pura e simples, deve-se ter em mente que, se o Benzodiazepínico não foi bem indicado e estiver sendo usado como paliativo de uma situação emocional não resolvida, como atenuante de uma situação vivencial problemática, como corretivo de uma maneira ansiosa de viver, enfim, como um “tapa-buracos” para alguma circunstância existencial anômala, então a sua supressão colocará à tona a penúria situacional em que se encontra a pessoa, dando assim a falsa impressão de dependência ou até de síndrome de abstinência.
Os autores apresentam sinais e sintomas que podem apontar para crises de abstinência, dividindo-os em físicos e psíquicos (sinais menores). Como sinais físicos os pacientes podem apresentar, tremores, sudorese, palpitações, letargia, náuseas, vômitos, anorexia, sintomas gripais, cefaléia e dores musculares. Os sinais psíquicos aparentes na crise de abstinência são insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, inquietação, agitação, pesadelos disforia, prejuízo da memória, despersonalização/desrealização. Os sinais maiores são convulsões, alucinações e delirium. Diante do exposto, os autores orientam no sentido da necessidade da retirada dos benzodiazepínicos, apesar da abstinência.
Não se deve esperar que o paciente preencha todos os critérios da síndrome de dependência para começar a retirada, uma vez que o quadro típico de dependência química – com marcada tolerância, escalonamento de doses e comportamento de busca pronunciado - não ocorre na maioria dos usuários de benzodiazepínicos, a não ser naqueles que usam altas dosagens. É importante salientar que mesmo doses terapêuticas podem levar à dependência.
A partir da experiência adquirida ao longo dos anos através do contato com pacientes do serviço público, a ideia de que a prática da medicação com psicofármacos se dava de forma indiscriminada tomou consistência. O comparecimento frequente de pacientes ao serviço, por um período de tempo prolongado, em busca dos mesmos medicamentos despertou a curiosidade sobre a abordagem desse fenômeno na literatura. Muitos são os trabalhos e pesquisas realizados neste sentido e, ao final das leituras realizadas, pode-se perceber que o uso indiscriminado de psicofármacos não é privilégio do serviço público ou apenas de consultórios psiquiátricos.
Médicos generalistas, de atenção básica ou não, prescrevem psicofármacos para tratar as mais variadas queixas dos pacientes relacionadas ao seu bem estar psíquico. Sensações como medo, angústia, ansiedade, insônia pós-traumática, tão próprios da natureza humana passaram a ser tratados como sintomas de alguma patologia, sobre a qual não se realiza uma boa anamnese, não se faz uma investigação mais profunda, nem o devido acompanhamento, seja clínico ou farmacoterapêutico. Com isso, os indivíduos que, momentaneamente, façam uso de medicamentos sedativos ou hipnóticos seguirão como usuários vida afora, até que decidam ou sejam instruídos por outro profissional a retirarem o psicofármaco utilizado.
Outra questão que pôde ser confirmada, após o confrontamento dos textos, é o uso de psicofármacos entre os idosos. Numa faixa etária em que a saúde já necessita de intervenções medicamentosas de várias ordens, a chamada polifarmácia, medicamentos com ação sobre o SNC podem, em certos casos, piorar ainda mais o estado geral do paciente, seja por interação com outros, seja por diminuir o ritmo de suas atividades, provocar mudanças na fala, nos reflexos, na marcha. Sem considerar os riscos de quedas decorrentes de tonturas, vertigens e hipotensão ortostática. Contudo, os medicamentos seguem sendo prescritos nessa população sem que haja cuidado e acompanhamento.
No que concerne à Atenção Básica à Saúde, vários são os programas de atendimento a determinados grupos, inclusive os de saúde mental, sem que sejam, contanto, elaboradas estratégias para redução do uso dessa classe de medicamentos. Os pacientes seguem sendo tratados e não há revisão das causas do diagnóstico e medicamentos prescritos por outros médicos, ou seja, os prescritores tendem a manter o medicamento se o paciente já usa, mesmo não conhecendo exatamente em que se circunstâncias ele foi prescrito, não se dando ao trabalho de reavaliar as condições do paciente e tentar uma nova conduta, caso necessário. Em se tratando de consultórios de atendimento a convênios ou particulares a utilização indevida dos psicofármacos é fruto também da pressão que a indústria farmacêutica exerce sobre os médicos. Um forte apelo nas propagandas, conhecimento das atualizações que muitas vezes o médico não possui são suficientes para a adesão dos prescritores às novidades apresentadas.
Diante de todas as situações apresentadas, é notório que há um problema grave, que pode inclusive ser considerado de saúde pública, para o qual os profissionais da área precisam lançar um olhar mais cuidadoso. É necessário mais empenho e cuidado com o manejo dessa classe de medicamentos que tanto pode solucionar problemas para quem usa como ser uma fonte de problemas. Uma ação conjunta de vários profissionais de saúde poderia ser um passo rumo ao uso racional de psicofármacos. O farmacêutico habilitado para a Atenção Farmacêutica e Farmácia Clínica pode dar o suporte farmacoterapêutico necessário a essa prática, colaborando com outras ações de saúde, inclusive medidas não farmacológicas. Substâncias psicoativas são cada vez mais utilizadas e tornam-se, na proporção de seu uso, cada vez mais imprescindíveis para os pacientes quando se busca um equilíbrio satisfatório dasaúde psíquica e manutenção do bem estar dos indivíduos. Resta aos profissionais de saúde buscarem conhecimento para promover seu uso racional, garantindo sua segurança e eficácia nos tratamentos a que se submete o paciente."
Abusos e banalização na prescrição de psicofármacos - uma revisão da literatura
Cuidados com saúde e psicofármacos
Além do número de medicamentos prescritos, a ocorrência e a gravidade das interações estão relacionadas com a duração do tratamento, idade e sexo do paciente, estado da doença, fatores genéticos, consumo de álcool, tabagismo, tipo de dieta e fatores ambientais.
Prejuízos psicofármacos
"As referidas alterações do componente morfológico podem se tornar preocupantes, pois, além de acarretarem a diminuição da sensação de bem-estar, favorecendo a deterioração progressiva dos mecanismos de controle, e reduzindo a capacidade de adaptação ao meio, promovendo a perda da auto-estima, também representam um importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônico degenerativas9."
Prejudica mas como tem um nome médico inventado e um nome de um antídoto inventado na verdade faz bem.
sábado, 6 de fevereiro de 2021
Psicofármacos são psicológicos?!
"Os psico-fármacos (também chamados de fármacos psicotrópicos ou psicoativos), são medicamentos com predomínio de ações sobre o psiquismo, as emoções, as atitudes mentais e o comportamento dos seres humanos, resultando, dessa forma, as suas potencialidades terapêuticas."
O que isso que os psicofármacos afetam tem de natureza médica necessariamente? Apenas um nome inventado e vendido por razões comerciais.
Exames de sangue e psicofármacos
Discinesia tardia - Só questão de tempo
A discinesia tardia é uma síndrome extrapiramidal de início tardio que pode ser desde reversível a parcialmente reversível a irreversível. A observação clínica sugere que, se os pacientes tomam essas medicações por tempo suficiente, a maioria desenvolve o distúrbio. A discinesia tardia é caracterizada por movimentos repetitivos e estereotipados das estruturas orofaciais. Pode haver protrusão ocasional da língua, batida dos lábios, caretas faciais e coreoatetose do tronco e dos membros.
Embora a discinesia tardia possa ocorrer com qualquer agente antipsicótico, é mais comum com os agentes típicos. Em jovens, a taxa de ocorrência anual de discinesia tardia é de 3 a 5% com os antipsicóticos típicos. Em idosos, a discinesia tardia pode desenvolver-se em até 25% dos casos durante o primeiro ano de terapia com haloperidol. A taxa de ocorrência de discinesia tardia com os agentes atípicos é cerca de um décimo da dos antipsicóticos de primeira geração.
http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/7402/intoxicacao_por_medicacoes_anti_psicoticas.htm
Síndrome neuroléptica maligna - risco real
http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/7402/intoxicacao_por_medicacoes_anti_psicoticas.htm
1 a 2 casos por 10 mil pacientes tratados de algo potencialmente fatal não me parece tão raro assim. Os médicos prescrevem como se não acontecesse e as pessoas tomam acreditando que nada acontece.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021
Representações mentais como causa e diagnósticos absurdos
O uso do conceito de representação mental como causa da ação (mentalismo) leva a diagnósticos absurdos da parte de psiquiatras por se supor que o comportamento desajustado tem que ter como causa uma cognição bizarra e logo a inferência de um cérebro deficiente incapaz de produzir representações mentais fidedignas com a realidade. Essa cognição bizarra pode nem ter sido identificada ou observada mas é suposta e portanto assumida como presente e real.
O diagnóstico de esquizofrenia, por exemplo, pode ter sido feito por razões pouco justificáveis fora desse quadro conceitual. Isso desconsidera uma descrição do contexto e dos comportamentos descritos como verbos. Pressupondo-se que os comportamentos descritos como verbos sempre tem funções, os acontecimentos se tornam mais claros sem precisar recorrer ao conceito de representações mentais bizarras mediando a ação.
O transtorno de pânico ou a ansiedade generalizada é outro exemplo.
Loucos desaparecidos - Análise do discurso
Rapper de São José, Leonardo Irian é encontrado após cinco dias desaparecido
Trechos:
Sofre de esquizofrenia
(linguagem passiva)
está bem de saúde, em casa e medicado
(É preciso medicar para evitar a progressão da doença. Deve estar com a família sem autonomia. Só pode estar bem seguindo o tratamento psiquiátrico.)
Ele teria se perdido na volta.
(Ele se perdeu por estar desorientado)
Análise: A linguagem da matéria toda é na linguagem passiva, com o paciente psiquiátrico sofrendo de algo passivamente, sem capacidade de decisão e sem agência. Outras pessoas fazem algo ativamente mas o paciente não. Ele precisa que algo seja feito a ele. Ele é basicamente um objeto em deterioração e desorientado.
Paciente com esquizofrenia desaparece após fugir de hospital na Serra
Trechos:
Fugiu e desapareceu.
já que, em função do transtorno psiquiátrico, caracterizado principalmente por alucinações visuais e auditivas, Marcos tornou-se muito agressivo. Por isso, ele pode representar um risco não só para si próprio como também para outras pessoas.
Ela mostrou que ele era incapaz. Ou seja, todos ali corriam perigo. Eu falei pra médica que eles foram irresponsáveis porque todos estavam correndo perigo, porque ele é capaz de matar. Isso é um perigo para a população
Eu tenho medo de ficar com ele. Ele vive em uma casa gradeada e, quando ele está bem, com a medicação, a gente solta ele, então ele circula pelo quintal, dentro da casa dele, faz o que ele quer
Análise: família com linguagem completamente manicomial (“incapaz e perigoso”) e a família é tão manicomial que até faz cárcere privado. A única razão para agressividade é a entidade patológica e a única razão para ele ficar bem e ter um pouco de liberdade é a medicação. Quem não segue tratamento é um grande risco para si e para os outros.
Linguagem na voz ativa mas agressivo. Não tem condições de ser autônomo por ser incapaz e perigoso (linguagem manicomial). Afirmar a própria autonomia é uma afronta agressiva. É possuído passivamente por uma entidade patológica que desorienta. A família lida com a entidade patológica e não com a pessoa por inteiro enquanto humana (desumanização). Com essa linguagem a família parece estar invalidando as necessidades do paciente enquanto ser humano pois não respeita os direitos humanos do paciente como mostra a linguagem manicomial e o cárcere privado.
Mulher está desaparecida em Marcelino Ramos
Trechos:
Senhora com esquizofrenia (A senhora tem uma entidade patológica externa a ela que a possui).
já saiu outras vezes, devido sua doenças (A moradora de residência terapêutica só usufrui da própria autonomia sem avisar outras pessoas por conta de uma entidade patológica).
Fugiu (Então devia estar muito bom na residência terapêutica mas como ela tem uma entidade patológica externa a ela não conseguiu perceber isso. A linguagem desresponsabiliza os responsáveis pela qualidade de vida na residência terapêutica.)
Marcos Alexandre Cruz, de 38 anos, saiu de casa no sábado (9) e não voltou mais; segundo a família, homem tem esquizofrenia
Trechos:
Ainda segundo Leila, essa não é a primeira vez que Marcos sai de casa. Em outros episódios ele chegou a ir para as cidades de Valinhos e Porto Feliz. No entanto, diferente desta vez, Marcos sempre retornava para a casa no mesmo dia.
Ainda de acordo com ela, os desaparecimentos acontecem em virtude da esquizofrenia. "Ele tem que tomar remédio, mas nega o tratamento. Foi diagnosticado ainda na adolescência. Ele está há 4 meses sem tomar a injeção", disse.
Análise: Sem seguir o tratamento psiquiátrico não é seguro sair de casa e ter autonomia.
Jovem com esquizofrenia que estava desaparecido é encontrado em Alumínio
Trechos:
"Ele estava muito confuso e só soube responder falando da clínica aonde ele estava em tratamento. Foi o que morador fez, pesquisou nas redes sociais e encontrou o telefone da clínica, eles já estavam ciente do desaparecimento dele", explicou.
O rapaz foi resgatado pelos funcionários da clínica e, segundo a irmã, vai retomar o tratamento.
Análise: A única razão pela qual ele fugiu da clinica (a palavra fugiu nem é usada) é porque ele estava confuso. A qualidade da clínica não tem relação nenhuma com os pacientes fugirem. A internação também foi apenas devido a confusão e a família não tem relação nenhuma com isso.
Os heróis da clínica resgataram o rapaz e ele voltou a fazer tratamento involuntário/forçado. O que é irregular segundo a Convenção da ONU de pessoas com deficiência.
Jovem com esquizofrenia é encontrada após desaparecer por oito dias
Trechos:
Ela teria fugido de casa após sofrer um surto.
Em casa, Érica deixou uma carta para a família, dizendo que estava indo para o interior, à procura de emprego, e que voltaria quando estivesse estabilizada.
Análise: A única razão pela qual ela fugiu de casa foi a entidade patológica. A entidade patológica mesmo que seja duvidosa na pesquisa psiquiátrica possui realidade social. Aparentemente tentar ser independente é sinal de surto psicótico para a família (paciente psiquiátrica desacreditada socialmente).
Família procura por mulher com esquizofrenia que desapareceu em Belo Horizonte
Trechos:
Estudante, Mariana é portadora de esquizofrenia e recebe tratamento psiquiátrico no Hospital Espírita André Luiz na região Oeste de Belo Horizonte, como conta a tia dela, Vânia de Freitas Drumond. “Ela ficou internada por dois meses no André Luiz e recebeu alta uma semana antes de desaparecer, no dia 17. No dia em que ela desapareceu, ela estava falando coisas desconexas com o pai e com a mãe. Saiu e não voltou mais, era o dia do atendimento com o psiquiatra”. À data em que desapareceu, Mariana chegou a dizer à família que iria até a polícia e saiu sem levar quaisquer documentos e até mesmo o celular.
Análise: Por ter falado que ia na polícia e ter sido internada provavelmente estava ruim a situação com a família. Mencionar coisas desconexas é relativo à interpretação da família. Alguém que sabe escutar consegue encontrar algum significado contextual. Provavelmente estava insatisfeita com o tratamento psiquiátrico involuntário – o que é irregular segundo a Convenção da ONU sobre pessoas com deficiência.
Família procura por idosa desaparecida há 12 dias em Sorocaba
Trecho:
Sem os remédios, se comporta de forma agressiva.
Análise: A única razão possível para ela ficar agressiva é a falta de remédios, isto é, o desequilíbrio químico. Desequilíbrio químico é uma hipótese que nunca foi provada.
Conclusão geral
Poucas reportagens se referem à perspectiva do paciente e todas enfatizam o discurso médico e da família. Portanto, isso indica o silenciamento da perspectiva do paciente psiquiátrico. Conclui-se que seria necessário fazer reportagens com foco em discurso psicossocial e que o discurso psiquiátrico empregado torna uma questão sensível e potencialmente constrangedora num assunto aparentemente impessoal: a condição médica da pessoa. É tanto possível ter um repertório inapropriado generalizado quanto melhorar de saúde mental em um contexto menos complicado. Mas as reportagens assumem que os comportamentos inapropriados nomeados como a entidade esquizofrenia tem origem dentro da pessoa (internalismo). Isso é modelo médico em saúde mental. Jornalistas comprometidos com a reforma psiquiátrica enfatizariam o lado humano e contextual/cultural.