Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)

Essa avalanche de informações e conhecimento relacionada à saúde e despejada todos os dias sobre os indivíduos sem a menor cerimônia varia muito em termos de objetividade e credibilidade. Porém, é preciso admitir que ela consegue atrair cada vez mais a atenção pública para assuntos de saúde - e muda o relacionamento tradicional entre médicos e pacientes, encorajando os últimos a exercer uma atitude mais participativa na relação. Ironicamente, enquanto os pacientes conquistam mais acesso às informações sobre saúde, os médicos têm cada vez menos tempo para estudar as últimas descobertas científicas ou para ler publicações da área - on-line ou não -, e mesmo para se comunicar adequadamente com especialistas de áreas relevantes e/ou com os próprios pacientes. Além disso, enquanto os médicos precisam dominar conhecimentos sobre as diferentes condições de saúde de um grande número de pacientes cujos rostos eles mal conseguem lembrar, um paciente instruído, com acesso à internet, pode, na verdade, ter lido uma pesquisa mais recente do que o médico sobre sua doença específica. Os pacientes chegam ao consultório com paginas impressas contendo o material que pesquisaram na internet, fotocópias de artigos da Physician's Desk Reference, ou recorte de outras revistas e anuários médicos. Eles fazem perguntas e não ficam mais reverenciando a figura do médico, com seu imaculado avental branco. Aqui as mudanças no relacionamento com os fundamentos profundos do tempo e conhecimento alteraram completamente a realidade médica. Livro: Riqueza Revolucionária - O significado da riqueza no futuro

Aviso!

Aviso! A maioria das drogas psiquiátricas pode causar reações de abstinência, incluindo reações emocionais e físicas com risco de vida. Portanto, não é apenas perigoso iniciar drogas psiquiátricas, também pode ser perigoso pará-las. Retirada de drogas psiquiátricas deve ser feita cuidadosamente sob supervisão clínica experiente. [Se possível] Os métodos para retirar-se com segurança das drogas psiquiátricas são discutidos no livro do Dr. Breggin: A abstinência de drogas psiquiátricas: um guia para prescritores, terapeutas, pacientes e suas famílias. Observação: Esse site pode aumentar bastante as chances do seu psiquiatra biológico piorar o seu prognóstico, sua família recorrer a internação psiquiátrica e serem prescritas injeções de depósito (duração maior). É mais indicado descontinuar drogas psicoativas com apoio da família e psiquiatra biológico ou pelo menos consentir a ingestão de cápsulas para não aumentar o custo do tratamento desnecessariamente. Observação 2: Esse blogue pode alimentar esperanças de que os familiares ou psiquiatras biológicos podem mudar e começar a ouvir os pacientes e se relacionarem de igual para igual e racionalmente. A mudança de familiares e psiquiatras biológicos é uma tarefa ingrata e provavelmente impossível. https://breggin.com/the-reform-work-of-peter-gotzsche-md/

domingo, 30 de novembro de 2025

Definição de mentalismo por extensão

Uma possibilidade de definição por extensão análoga a definição de mentalismo obtida por exame conceitual de relações empíricas com o mundo implica em descrever conceitos e processos sociais, modelos científicos e práticas correspondentes que tem como princípio pragmático de funcionamento a negação de relações com o mundo, isto é, o domínio empírico do conceito de comportamento operante.


quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Fichamento sobre ciência e valores

"Utilizaremos dois autores importantes que irão direcionar o presente estudo: Thomas Kuhn, que apresenta uma abordagem científica baseada na emergência de um paradigma fruto de uma revolução científica e Hugh Lacey, que possui uma compreensão do desenvolvimento científico baseado na atuação de múltiplas estratégias no interior de uma determinada pesquisa.

Segundo Lacey, a estratégia constitui uma modificação da noção de paradigma de Kuhn. Enquanto o paradigma restringe os fatos que serão considerados por uma determinada comunidade científica para que esta possa conhecê-los mais profundamente, a estratégia possui o papel de restringir o tipo de teoria considerada e selecionar os dados empíricos a serem considerados para o fim de testar as várias teorias provisoriamente mantidas (LACEY, 2009). Considerada a ligação entre os dois elementos é possível afirmar que enquanto Kuhn apresenta uma ciência normal baseada em um paradigma vigente, Lacey admite a ação de múltiplas estratégias que poderão atuar simultaneamente, sendo a questão fundamental a escolha e compatibilidade entre elas (LACEY, 2001)

Em primeiro lugar, Lacey define o lugar e o papel que os valores ocupam em seu modelo de desenvolvimento científico. Os valores cognitivos possuem importância fundamental na escolha de teorias científicas e são constitutivos da ciência. Eles representam as propriedades das teorias que julgamos serem constituintes de uma boa teoria, por exemplo: adequação empírica, consistência, simplicidade, fecundidade, eficácia, poder explicativo, verdade e certeza. Os valores não cognitivos são aqueles que não possuem relação com a aceitabilidade de uma teoria científica como, por exemplo: valores éticos, sociais, políticos, religiosos, etc.

A tese de uma ciência livre de valores constitui uma das bases das discussões propostas por Lacey. Tendo sua base em Galileu Galilei, esta tese possui três elementos importantes: a imparcialidade, a neutralidade e autonomia (LANTIMAN, 2015, p. 18).

Em Valores e Atividade Científica, volumes 1 (LACEY, 2008) e 2 (LACEY, 2010), ele defende que a imparcialidade é a única que pode ser sustentada no interior das práticas científicas, uma vez que é baseada apenas em valores cognitivos. A imparcialidade sustenta que a teoria, para que seja corretamente aceita, deve manifestar critérios cognitivos em grau suficientemente elevado, a luz dos dados empíricos. Ela forma um escudo que impede que valores não cognitivos sejam inseridos ou desempenhem algum papel no momento de avaliação de teorias.

A autonomia está relacionada principalmente aos membros de determinada pesquisa, a pesquisa científica em si e suas metodologias e ao modo pelo qual são guiadas. É cada vez mais evidente que os anseios das grandes indústrias e corporações estão fundamentados em interesses econômicos (visando principalmente o lucro e o aumento do capital) e de mercado (onde há forte investimento na expansão de seus poderes e negócios). A determinação de prazos, muitas vezes reduzidos, impede o desenvolvimento das possibilidades que podem ser alcançadas pela ciência e suplantam os interesses de formação de conhecimento e entendimento de novos fenômenos.

A neutralidade, de modo geral, informa que os resultados produzidos pela pesquisa científica, avaliados e aceitos de acordo com a imparcialidade, não possuem implicação lógica para qualquer perspectiva valorativa, seja ela política, ética, social, etc. Ao mesmo tempo, promove que as teorias, quando corretamente aceitas, podem se adequar a qualquer perspectiva de valor, ideologia ou visão de mundo

Lacey proporciona uma variação do modelo kuhniano de desenvolvimento científico, onde a pesquisa científica é guiada pelo que ele denomina estratégias de restrição e seleção. A adoção de uma estratégia, segundo Lacey, define os tipos de fenômenos e as possibilidades que serão consideradas interessantes à pesquisa. A estratégia possui o papel de restringir os tipos de teorias que serão consideradas em determinada pesquisa e selecionar os dados empíricos relevantes (LACEY, 2008, p.109)

Durante muito tempo a ciência tendeu a utilizar um tipo específico de estratégias consideradas como exemplares às práticas científicas: as estratégias materialistas de restrição e seleção ou de abordagem descontextualizadas (LACEY, 2010, p. 91). Esse tipo de estratégia restringe a teoria de modo que esta represente os fenômenos de acordo com as leis da natureza, nos termos de sua geração, ordem, estrutura, processos e leis subjacentes. Os objetos dessa ordem subjacente são caracterizados em termos quantitativos e, assim, não podem ser interpretados tendo como base perspectivas valorativas, pois consideradas enquanto valores relativos à experiência humana, não são oriundas da ordem subjacente do mundo e, desta forma, são abstraídas do desenvolvimento da pesquisa científica.

Se, de acordo com Kuhn, o alvo da ciência é a resolução de quebra cabeças a sua verdadeira definição é demarcada por estratégias. Quando fenômenos e teorias aspirantes a paradigma são confrontados é necessário que, antes de o cientista se engajar na investigação, seja adotada uma estratégia de restrição e seleção que irá selecionar e restringir os tipos de dados e teorias aceitáveis (LACEY, 2010, p. 69)

No modelo de atividade científica proposto por Kuhn, a ciência opera com a utilização de um paradigma. Este é adotado para beneficiar a caracterização e solução dos quebra-cabeças que se apresentam à pesquisa. Enquanto permanecer fecundo o paradigma (ou a estratégia) obterá exclusividade dentro da pesquisa que será conduzida com base nele. (LACEY, 2010, p. 69).

Este fato configura um problema do processo de especialização e se torna claro na exposição de Lacey acerca das estratégias materialistas ou de abordagem descontextualizada. Não podemos negar que as pesquisas baseadas em tais estratégias geraram enorme quantidade de descobertas cientificas e inovações tecnológicas, mas também é necessário ponderar que as estratégias materialistas possuem um caráter limitador para a pesquisa, pois analisam os fenômenos nos termos de sua geração, sua estrutura, processos e leis subjacentes, dissociando-os de seus contextos sociológicos, históricos, da experiência humana e vinculação com valores externos a ciência (LACEY, 2006, p. 17).

A pluralidade apresentada deve ser fecunda, constituída por estratégias que se complementem a fim de atingir certa “democracia” no interior da pesquisa e na aplicação de seus resultados. Lacey afirma:

Em geral, as possibilidades encapsuladas pelas teorias desenvolvidas sob diferentes estratégias sobrepõem-se, no máximo, por sugerirem que um “entendimento completo” dos fenômenos do mundo da experiência vivida não pode ser obtido (mesmo a princípio) se for submetido a apenas um dos tipos de estratégias. Essa é a base para a complementariedade das estratégias (LACEY, 2012).

Para garantir a abrangência de entendimento sobre os fenômenos é importante que a pesquisa seja conduzida por uma multiplicidade de abordagens, uma vez que há diversas questões, interesses e valores envolvidos desde o momento do estabelecimento das metodologias, que serão a base dos estudos sobre determinado objeto, até a aplicação dos resultados obtidos pela pesquisa.

O que observamos nos dias atuais é que a ciência e a sua prática estão cada vez mais apressadas, sujeitas a prazos e a investimentos corporativos, institucionais e governamentais que visam, principalmente o lucro e o bem-estar de um pequeno grupo. O conhecimento científico obtido pode ser utilizado tanto para fins pacíficos quanto para fins hostis. Este fato não constituiria a própria ciência como ré, mas sim os indivíduos responsáveis pelo desenvolvimento e aplicação do conhecimento obtido através da pesquisa (LACEY, 2010, p. 95)."

Referência:

LANTIMAN, Camila. Pluralidade de estratégias e adoção de um paradigma: Hugh Lacey, Thomas Kuhn e as abordagens da pesquisa científica. Em Construção. ano 1, n. 1, 2017, pp. 69-80. DOI:10.12957/emconstrucao.2017.28125


quarta-feira, 26 de novembro de 2025

"Saúde mental" e "doença mental" como condição social

A condição de "normalidade mental" é definida geralmente como ausência de doença. A condição de "anormalidade mental" é definida como um evento fechado em si mesmo, no caso uma "patologia biológica". No entanto, definir "normalidade mental" como uma condição social de status social confortável, estável e seguro tem implicações descritivas interessantes como um experimento de pensamento. Ao pensarmos em "doença mental" como uma ausência de condição social de status social confortável, estável e seguro alguns tipos de eventos tornam-se visíveis e relevantes como condições determinantes de saúde mental e de saúde social. Apesar de ser uma definição em termos sociais não há necessidade de exclusão de variáveis biológicas uma vez que alterações biológicas, independentemente de origem causal, estabelecem alguma forma de perda de "condição social de status social confortável, estável e seguro". Portanto, uma definição positiva e social de "normalidade mental" permite uma leitura multifatorial de condições determinantes de "estigma" ou de atribuição de "valor social negativo" tratados como equivalentes de "doença mental". A partir desse conceito de "saúde mental", o fato de que haja estigma a respeito da "doença mental" é uma consequência de uma perda de condição social e a "doença mental" não necessariamente é o primeiro antecedente causal da sequência de eventos classificados como próprios desse domínio empírico. Uma condição social favorável tem como consequência a reorganização de eventos na direção de efeitos facilitadores e uma condição social desfavorável a reorganização de eventos na direção de efeitos dificultadores. Logo, a recuperação de "saúde mental" tem como desafio ou barreira a conquista de condição social, sendo essa conquista de condição social imersa em relações de poder que perpassam o funcionamento social.

domingo, 23 de novembro de 2025

Capacidade preditiva da psiquiatria biológica

O entendimento social de que o diagnóstico psiquiátrico seja preditivo não é estabelecido como unanimidade. Enquanto algumas presumem ser o diagnóstico psiquiátrico perfeitamente preditivo outras tem experiência direta de predições não confirmadas. Logo, não deveríamos presumir que a psiquiatria biológica tem poder preditivo apenas com base em nomeação diagnóstica para tomar decisões. Outro lado desse tema é que o erro de predição também ocorre com pessoas com vidas entendidas como normais ou normativas. O perigo de presunção de perfeição de predições psiquiátricas é criar ou reproduzir fatos sociais sem base.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

A omissão básica na avaliação psiquiátrica

Problemas de comportamento surgem e se agravam ou se resolvem e se amenizam uma vez que haja um ambiente suficientemente difícil ou suficientemente facilitado em termos de aumento ou diminuição de necessidade de aprendizagem para satisfação de contingências de reforçamento. Quando a avaliação psiquiátrica em consultório através apenas de uma conversa com o paciente e os familiares tem como o ponto de partida que problemas de comportamentos são apenas subconjuntos de alterações cerebrais e que não há relevância das circunstâncias (contingências de reforçamento) e aprendizagem (cf. série Hierarquia entre modelo biomédico e análise experimental do comportamento), funciona na prática como uma pessoa com "cérebro normal" pedindo para corrigir uma pessoa com "cérebro defeituoso". A implicação disso é que, ao ignorar que algumas pessoas tem maior domínio sobre o ambiente (as pessoas de "cérebro normal"), está induzindo e reforçando uma expectativa de que a pessoa com menor domínio sobre o ambiente (a pessoa com "cérebro defeituoso") além de ter problemas de comportamentos resultantes de um ambiente suficientemente difícil, seja em termos de desenvolvimento seja em termos de dificuldade de satisfação de contingências de reforçamento, ainda deve ser capaz de prover um ambiente o suficientemente facilitado para as pessoas com maior domínio sobre o ambiente. Logo, há uma duplicação de dificuldades e adicionalmente a dificuldade de adquirir um papel social de "doente mental", ser induzindo a seguir uma carreira moral de paciente psiquiátrico, lidar com as dificuldades relacionadas com o tratamento farmacológico, o sistema de saúde mental e o conjunto de desafios relacionados com o pensamento manicomial e sua difusão na sociedade e cultura. Para piorar ainda mais, a dificuldade adicional de não ter essa problematização reconhecida como válida. Portanto, é inteligível que uma pessoa nessas circunstâncias tenha uma piora progressiva de sua situação de saúde mental e que a suposta "capacidade orgânica de responder adequadamente" não seja suficiente. 

Genética de Hitler

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/deutschewelle/2025/11/15/o-que-analises-do-dna-de-hitler-revelam-sobre-o-lider-nazista.htm


Os aliados tinham bases de pensamento semelhantes antes e continuaram tendo depois da 2a guerra. É mais um resultado ridículo da historiografia psiquiátrica. Esses trabalhos com casos históricos extremos funcionam como testes de modelo científico. O documentário apresenta a ciência de base como infalível. É uma inversão política anacrônica que mostra como a biologia também é política e ideológica.

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Explicação cognitiva de resposta/cérebro

O conceito cognitivista de explicação da interface resposta/cérebro é de que não são os fatos do mundo que explicam o comportamento e sim a representação cerebral dos fatos do mundo. Nessa perspectiva, as representações do mundo são variáveis dependentes ou resultantes das variáveis independentes de estados do cérebro. As respostas são tratadas teoricamente como variáveis dependentes da variável independente capacidade orgânica de responder. Logo, a terapia cognitiva envolve cortar o efeito da determinação de representações mentais pelo cérebro através da mudança de cognições no aspecto psicológico e cortar o efeito da "patologia cerebral" através de medicações ou outras intervenções cerebrais.

A interface resposta/cérebro

Há um entendimento comum análogo ao conceito de relação entre mente/cérebro como aspectos de um mesmo fenômeno unitário em relação ao conceito de comportamento. O conceito formado é de que a resposta observável ou relação resposta/forma do comportamento (topografia) e cérebro, parte do comportamento, são uma redução cerebral equivalente ao conceito completo de comportamento. Logo, se circunstâncias ou contingências de reforçamento favorecem respostas não entendidas como problemas, então é inferido que o cérebro ou o seu estado orgânico está ou é saudável independentemente de classes antecedentes ou classes consequentes ou possivelmente classes de respostas os quais não são reconhecidos como fenômenos válidos ou existentes. A inversão do raciocínio para as "respostas cerebrais patológicas" também é aplicável. Logo, qualquer "relação resposta/cérebro" que não esteja de acordo com o esperado, independentemente de circunstâncias ou contingências de reforçamento, está sujeito a ser potencialmente medicalizado ou patologizado.

sábado, 8 de novembro de 2025

Definição de níveis ótimos de dopamina

A definição de um padrão adaptativo ou excessivo de nível de dopamina para prescrição de dose de neurolépticos geralmente utiliza a observação da adaptação de comportamentos observados a um meio genérico entendido como neutro e constante. No entanto, definir níveis ótimos de dopamina, uma vez que se entenda isso como desejável, ocorre efetivamente de acordo com a disposição de taxa de demandas e custo (de função geralmente aversiva sem disponibilidade de repertório de comportamentos) de satisfação de contingências de reforçamento relativamente à quantidade de disposição de ocasiões para reforço positivo (consequências) minimamente suficientes para saciação, fortalecimento e manutenção de comportamentos. Extremos de cada tipo de disposição de contingências de reforço indicariam níveis diferentes de dopamina "adaptativa" através de observação de comportamentos interpretados como sinais para níveis correlacionados de dopamina. Portanto, os níveis de dopamina adaptativos ou excessivos nessa interpretação com base em tipos de ocasiões e consequências para o comportamento operante na verdade seriam um resultado de características de disposições ambientais ao invés de disfunção interna de produção dopaminérgica que na prática psiquiátrica é avaliada posteriormente à apresentação de comportamentos inapropriados e conforme o grau de supressão de comportamentos desejado.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Neurolépticos e deficiência: definição de processos

Nível biológico: indução de danos orgânicos e funcionais por uso de neurolépticos e negação sistemática dos mesmos por fundo motivacional emocional e comercial

Nível operante: redução de aprendizagem pela redução de interações constante com o ambiente ao longo do desenvolvimento, aumento de custo fisiológico de resposta e indução de extinção fisiológica global constante de repertório operante demonstrado por experimentos em farmacologia comportamental. Ambiente de condições de desenvolvimento de comportamentos operantes (aprendizagem) de baixa qualidade e eficácia de acordo com os princípios da análise experimental do comportamento

Nível social: imposição de dificuldades e exigências sistêmicas e complexas adicionais oriundas da implicação de negação sistemática de funcionalidade e adaptabilidade de comportamentos operantes da pessoa sob tratamento com antipsicóticos resultantes de explicação internalista do modelo médico (organicismo hierárquico) que implica logicamente em negação de princípios biológicos do comportamento operante. Imposição e validação sistemática e incondicional de exigências unilaterais à pessoa sob tratamento com antipsicóticos.

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Artigos de relato de caso de fármacos

O relato de caso de tratamento farmacológico é um tipo de artigo científico com estrutura semelhante a uma pesquisa experimental com delineamento de observação de uma condição anterior (condição A), introdução de variável independente (condição B: fármaco), registro de variáveis dependentes relacionadas ao fármaco (sintomas) e reversão de sintomas com a troca ou retirada de medicação (condição A). O estudo com amostras de uma ou algumas pessoas (método de sujeito único) geralmente é visto como um nível menor de evidência segundo a pirâmide tradicional do modelo de evidências da medicina baseada em evidências tradicional antiga. No entanto, um artigo com bom delineamento apropriado para o objeto de estudo poderia ser interpretado como evidência de validade alta de acordo com a atualização do modelo de evidências da medicina baseada em evidências.

domingo, 26 de outubro de 2025

Psicofármacos, saúde geral e literatura científica

Geralmente são omitidas informações sobre as inúmeras e diversificadas alterações biológicas que o uso de psicofármacos ocasionam com o pretexto de evitar a não adesão aos psicofármacos. No entanto, a quantidade de processos biológicos que os efeitos sistêmicos e não específicos dos psicofármacos alteram negativamente descritos em artigos científicos é interminável a ponto de nenhuma pessoa e nem médicos psiquiatras e de outras especialidades ter condições de estar a par de maior parte da literatura científica. Se for adicionado um interesse por tratamentos não farmacológicos na saúde mental e na saúde geral a quantidade e complexidade de conhecimento necessário ainda aumenta consideravelmente. Por isso, os tratamentos amplamente acessíveis geralmente são simplificações dos processos biológicos e sociais de saúde e doença e isto implica em redução do potencial de saúde realizável pragmaticamente pelo sistema de saúde de forma sistemática.

Produtividade, o cérebro e a aprendizagem

Registros audiovisuais de pessoas estudando por longos períodos tem probabilidade aumentada de serem interpretados como resultado de um cérebro bem utilizado ou um cérebro impressionante. No entanto, tal conceito altamente difundido é uma interpretação imprecisa da produtividade intelectual e profissional pois a real "boa utilização do cérebro" depende de boa manipulação de variáveis de aprendizagem funcional de aquisição de repertório de comportamentos operantes de produtividade e histórico de sucesso. Tal manipulação não é replicável apenas com linguagem fisicalista de neurobiologia em nível reducionista sobre variáveis de modificação do cérebro.

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

O reforço positivo e a responsabilidade ao "tratar"

É um fato básico do comportamento operante que o reforço positivo reduz o senso crítico sobre o reforço positivo obtido. Por isso, uma vez que haja oferta de soluções simples para dificuldades difíceis de resolver de outra forma, o senso crítico e a responsabilidade se tornam meras inconveniências.

terça-feira, 14 de outubro de 2025

Crítica econômica e autismo

A crítica econômica à circulação de dinheiro no tratamento do autismo em parte tem relação com o financiamento público. No entanto, discutir o que deve ser subsidiado não é mera questão político-ideológica e de interesse de grupos. Além disso, discutir a ciência no tratamento do autismo a partir de economia não isenta grupos de interesse de estarem "seguindo o dinheiro" e de provar que suas práticas tem resultados demonstrados inequivocamente e não apenas pela defesa de discursos políticos populares, bonitos e convenientes. Esse tipo de procedimento de avaliação de teorias e práticas em saúde expõe o público a prejuízos advindos de grupos cujo objetivo principal é conquistar espaço dentro do Estado.

sábado, 11 de outubro de 2025

Definição e problematização de sintoma (releitura)

Uma atribuição de sintoma é a transformação de um estranhamento episódico e situado em uma interpretação de valor negativo de algo impregnada de conceitos. De acordo com a preferência epistemológica e ontológica opta-se por priorizar a interpretação entendida como significado ou nível de linguagem privilegiado do evento observado ou priorizar a descrição delimitada do evento observado sem um nível adicional de interpretação além do implícito na observação e descrição do evento. Nesse sentido, há duas direções possíveis e reversíveis no entendimento de atribuição de sintomas: como interpretação ou como evento, e ambas estão inter-relacionadas de acordo com compromissos com pré-condições de conhecimento.

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Releitura crítica de "surto"

Se definirmos a noção social de "surto" por seus elementos constituintes, isto é, não pela aceitabilidade do comportamento, definição que tem viés de poder social e econômico nas relações sociais, mas pela apresentação de comportamentos com alta dificuldade de manejo, tal definição comportaria maior equitatividade e inclusividade em diversidade de valores sociais implícitos, já que incluiria circunstâncias em que há apresentação de comportamentos-problemas em manutenção de boas condições sociais da pessoa que os apresenta mesmo que não seja evidente, esse geralmente é o critério de confirmação, a topografia (forma) de comportamento de aparência de "surto". O significado disso é a demonstração de que a noção social de surto é baseada em observações e descrições mal feitas do comportamento que confirmam ou reproduzem hierarquias sociais. Essa definição tem a virtude de permitir contrafactualidade entre condições sociais favoráveis e adversas.

sábado, 27 de setembro de 2025

Padrões não responsivos a argumentação

O padrão de comportamento de não alterar comportamento com base em argumentação de pessoas que não são o psicoterapeuta não é exclusivo de pessoas com "doença mental". Esse padrão é um critério comum de identificação de "doença mental". No entanto, a diferença é o quanto se considera um padrão intolerável e o grau de interesse no controle e modificação do padrão. A partir de uma perspectiva crítica e contra-hegemônica que identifica aspectos problemáticos objetivos nas perspectivas e práticas legitimadas, esse padrão é identificável em muitas pessoas sem indício aparente de "doença mental" apesar da evidência de consequências prejudiciais.

sábado, 13 de setembro de 2025

Identidade diagnóstica é representação comercial?

Seria a afirmação identitária diagnóstica análoga por função a uma forma de representação comercial não remunerada já que os conceitos de diagnósticos tem origem comercial nos Estados Unidos com a Associação Americana de Psiquiatria?

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Pressupostos biomédico-psicossociais e RAPS

A metafísica da psiquiatria biológica como definidora das possibilidades de vida das pessoas sob tratamento, da relação da psiquiatria biológica com áreas de conhecimento e de usuários com a sociedade

ChatGPT

https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/a-metafisica-da-psiquiatria-biologica

Implicações da metafísica da psiquiatria biológica para posicionamentos médicos e sociais sobre medicalização e desmedicalização

ChatGPT

https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/implicacoes-da-metafisica-da-psiquiatria

Contra-axiomas e silogismos sociais da desmedicalização usual

ChatGPT

https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/contra-axiomas-e-silogismos-sociais

A compatibilização de modelo biomédico e desmedicalização na rede de atenção psicossocial em lógica paraconsistente/defeasible

ChatGPT

https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/a-compatibilizacao-modelo-biomedico

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

O organicismo como causa suficiente

O organicismo é entendido culturalmente como explicação suficiente para a saúde plena, vida produtiva e satisfação com a vida. Como consequência intervenções sobre o corpo são prioridade e são incorporadas como soluções para outros tipos de fenômenos biológicos e sociais. O fato de que o organicismo seja adjacente aos outros fenômenos é bem-vindo pois induz o fomento do uso de suas intervenções.

Ler mais:

Alternativas ao organicismo e orgânico como adjacente

https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/alternativas-ao-organicismo-na-saude

A política da ciência técnica pura

A ciência clássica tem grande valor. No entanto, seus defensores a conceituam como um núcleo de valores cognitivos imparcial, o qual deveria ser o único critério para o conhecimento científico. A ciência descrita dessa maneira desconhece os valores dos sistemas sociais de sua justificação e  fomento, os quais participam da construção de ciência. O mercado é capaz de ser flexível politicamente mas há uma política de crescimento de mercado que define posicionamentos. A crítica à uma ciência politizada e social é uma defesa da técnica alienada de seus determinantes sociais e impactos. Posicionamento limitado em relação à capacidade crítica e de contrafactualidade social. A ciência politizada e social geralmente tem perspectiva temporal de longo prazo e passa por decisões governamentais assim como aumenta as chances de inadaptação mercadológica. Então é de se esperar que os defensores da técnica pura tenham suas indisposições políticas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Relacionamentos e transtornos (Nature)

Artigo recente na Nature Human Behaviour identifica que relacionamentos entre pessoas com o mesmo transtorno mental é uma tendência estatística crescente. Certamente a experiência de medicalização, uma tendência histórica crescente, tem um papel nisso.

Fan, C.C., Dehkordi, S.R., Border, R. et al. Spousal correlations for nine psychiatric disorders are consistent across cultures and persistent over generations. Nat Hum Behav (2025). https://doi.org/10.1038/s41562-025-02298-z

domingo, 31 de agosto de 2025

Definição de capacitismo

"O que é capacitismo?

Capacitismo é um conjunto de crenças, processos e práticas que produzem — com base nas habilidades que alguém apresenta ou valoriza — um entendimento específico de si mesmo, do próprio corpo e da relação com outros seres humanos, outras espécies e o meio ambiente, incluindo também como a pessoa é julgada pelos outros (Wolbring, 2006a, 2007a, b, c, d). O capacitismo reflete o sentimento de certos grupos sociais e estruturas sociais que valorizam e promovem determinadas habilidades — por exemplo, produtividade e competitividade — em detrimento de outras, como empatia, compaixão e bondade. Essa preferência por certas habilidades em vez de outras leva à rotulação de desvios reais ou percebidos, ou da falta de habilidades consideradas “essenciais”, como um estado diminuído de existência, contribuindo para justificar diversos outros “ismos” (Wolbring, 2006a, 2007a, b, c, d).

O capacitismo é um “ismo” guarda-chuva para outros “ismos”, como racismo, sexismo, castismo, etarismo, especismo, antiambientalismo, produtivismo (baseado no PIB) e consumismo. É possível identificar muitas formas diferentes de capacitismo, como o capacitismo baseado na estrutura biológica (B), o baseado na cognição (C), o baseado na estrutura social (S) e o capacitismo inerente a um determinado sistema econômico (E).

O capacitismo e a preferência por determinadas habilidades têm sido predominantes ao longo da história. Ele moldou — e continua moldando — áreas como segurança humana (Wolbring, 2006c), coesão social (Wolbring, 2007f), políticas sociais, relações entre grupos sociais, indivíduos e países, relações entre humanos e não humanos, e entre humanos e o meio ambiente (Wolbring, 2007a, b, c). O capacitismo é um dos “ismos” mais profundamente enraizados e aceitos socialmente.

Historicamente, o capacitismo tem sido usado por diversos grupos sociais para justificar seu nível elevado de direitos e status em relação a outros grupos. Por exemplo, as mulheres eram vistas como biologicamente frágeis e emocionais e, portanto, incapazes de assumir responsabilidades como votar, possuir propriedades ou manter a guarda dos próprios filhos (capacitismo levando ao sexismo; Silvers et al., 1998; Wolbring, 2003).

Além do racismo e do especismo, a valorização de certas habilidades cognitivas também se manifesta nos estágios de desenvolvimento humano. Fetos e crianças pequenas são frequentemente vistos como não detentores de direitos humanos plenos devido à falta de determinadas habilidades. Da mesma forma, a ausência de certas habilidades cognitivas é usada como argumento para negar certos direitos a “humanos com deficiência cognitiva”.

O capacitismo é um dos “ismos” mais socialmente enraizados e aceitos, e um dos maiores facilitadores de outros preconceitos (por exemplo, o nacionalismo se expressa por meio dos esportes, especismo, sexismo, racismo, antiambientalismo etc.). O capacitismo relacionado à produtividade e à competitividade econômica é a base de muitas sociedades e de suas relações com outras sociedades, sendo frequentemente visto como um pré-requisito para o progresso.

O julgamento baseado em habilidades está tão enraizado na sociedade que seu uso para fins de exclusão dificilmente é questionado ou mesmo percebido. Pelo contrário, grupos marginalizados por alguma forma de capacitismo ou “disableismo” frequentemente utilizam esse mesmo sentimento para reivindicar mudanças de status (“nós somos tão capazes quanto vocês”; “podemos ser tão capazes quanto vocês com as devidas adaptações”).

Precisamos reconhecer que a aceitação e o apoio à “diversidade de habilidades” é tão importante quanto outras formas de diversidade, e que o capacitismo é tão limitador quanto — e muitas vezes a base de — outros preconceitos."

Referência
WOLBRING, Gregor. The politics of ableism. Development, [S. l.], v. 51, n. 2, p. 252-258, jun. 2008.

“Consideramos também que as capacidades normativas que sustentam o capacitismo são produzidas com base nos discursos biomédicos que, sustentados pelo binarismo norma/desvio, têm levado à busca de que todos os corpos reproduzam a capacidade de se afastar do que é considerado abjeção (corpos abjetos são aqueles que, por divergirem do que é considerado típico da espécie, busca-se distanciar a todo custo).”

Fonte: Como construir uma escola que acolha a todas as pessoas?LAPEE/UFSC.

O capacitismo é “Uma rede de crenças, processos e práticas que produzum determinado tipo de corpo (o padrão corporal) que é projetado como perfeito, típico da espécie e, portanto, essencial e totalmente humano. A deficiência é então moldada como um estado diminuído de ser humano” (Campbell, 2001, p.44).

Mesa: Acessibilidade e Barreiras Atitudinais para a Inclusão da Pessoa com Deficiência Fala: O capacitismo e a produção de barreiras na universidade. IX Semana de Saúde Mental e Inclusão Social. Núcleo de Estudos sobre Deficiência. UFMG

sábado, 23 de agosto de 2025

Psiquiatria biológica: cerimônica ou tecnológica?

O tratamento psiquiátrico usual e entendido como adequado recorre ao estabelecimento de comportamentos cerimoniais antes ou depois de procedimentos de coerção física ou social para manutenção de implicações práticas do modelo teórico em psiquiatria tradicional e manicomial. Uma vez que o definidor da determinação do prognóstico de saúde é o seguimento do "tratamento médico adequado" justificado pela confiança nas instituições médicas, é necessário supor a interpretação de disfunção a qualquer "desvio" daquilo que supostamente é uma imposição com origem nos fenômenos da natureza. No entanto, tais suposições implicam em negação de fenômenos biológicos do comportamento e fatos da sociedade. É discutível o quanto o tratamento psiquiátrico involuntário mantido por controle cerimonial e coercitivo funciona por controle tecnológico de variáveis biológicas orgânicas apenas, como prevê que seja o "tratamento adequado", uma vez que o modelo teórico justifica e recorre defensivamente aos controles de comportamento mencionados.

"O controle cerimonial pode ser exemplificado pela afirmativa: "Faça isso porque eu disse!" (Glenn, 1986). [As] [...] metacontingências cerimoniais [são usadas] para garantir a manutenção do status quo da sociedade."

"O controle tecnológico pode ser exemplificado pela afirmativa: Faça isso porque resultará numa melhoria das condições sanitárias e conseqüentemente na melhoria da saúde (Glenn, 1986). As metacontingências tecnológicas propõem um trabalho de determinação de regras específicas, de providenciar conseqüências imediatas para a observância dessas regras, e de avaliação dessas regras e das conseqüências (Todorov, 1987). "

TODOROV, J. C.; MOREIRA, M.. Análise experimental do comportamento e sociedade: um novo foco de estudo. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 17, n. 1, p. 25–29, 2004.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

O conceito de tutela e a aprendizagem

O conceito e prática ou comportamento de tutelar pessoas em tratamento de saúde mental definido como um gerenciamento externo parte do conceito segundo o qual esse grupo de pessoas é organicamente impossibilitado de aprendizagem operante, a qual é a aprendizagem efetiva, e portanto não tem capacidade de autonomia e independência. A análise experimental do comportamento e sua prática de ensino-aprendizagem correspondente não prevê que o uso de categorias (diagnósticas) como explicação justifique a atribuição de impossibilidade orgânica de aprendizagem operante, autonomia e independência. De forma geral, a análise experimental do comportamento prevê que a qualidade e efetividade do planejamento de condições de ensino-aprendizagem de desenvolvimento de comportamentos é o principal responsável pelo repertório de comportamentos operantes entendido como insuficiente. O fato de que a pessoa em tratamento de saúde mental não corresponde a certas expectativas, padrões e regras sociais é interpretado pelo modelo de Kraeplin como explicado por disposições ou traços internos de origem genética. Do ponto de vista do processo de ensino-aprendizagem a aprendizagem operante só é efetiva quando o sujeito aprende a emitir comportamento em contato direto com a situação de exigência ambiental sem gerenciamento externo. Em outras palavras, a aprendizagem efetiva ocorre quando repertório operante em termos de classes de comportamento operante é empregado para obtenção de sucesso na satisfação ou mudança de contingências de reforçamento. O organicismo prevê que tais fatos contingentes e circunstanciais são irrelevantes como determinantes dos comportamentos apresentados ou ausentes. Portanto, o gerenciamento externo e monitoramento contínuo de pessoas em tratamento de saúde mental proposto pela prática tradicional de psiquiatria biológica e pensamento manicomial correspondente é uma consequência dessa predição de que as disposições internas do organismo e intervenções biológicas correspondentes são prioridade absoluta para explicação de problemas de comportamento ou comportamentos bem-sucedidos.

domingo, 10 de agosto de 2025

Psicologia cognitiva como ideologia

Sampson, E. E. (1981). Cognitive psychology as ideology. American Psychologist, 36(7), 730–743. https://doi.org/10.1037/0003-066X.36.7.730

Psicologia cognitiva como ideologia

Resumo

Apresenta uma análise crítica de alguns dos principais trabalhos em psicologia cognitiva social, da personalidade e do desenvolvimento. Argumenta-se que o cognitivismo, em virtude da primazia que confere ao conhecedor individual, aos determinantes subjetivos do comportamento e às operações cognitivas formais, representa um conjunto de valores e interesses que reproduzem e reafirmam a natureza existente da ordem social. No entanto, a junção da psicologia cognitiva com a ideologia não visa simplesmente desmascarar os valores transmitidos pela abordagem cognitivista. A questão dos valores também levanta sérias questões sobre a natureza da ciência psicológica. Quatro exemplos de casos são examinados como base para as afirmações feitas no presente artigo: (1) as deficiências do interacionismo, (2) a negação da realidade pelo cognitivismo, (3) as reificações psicológicas e (4) o interesse teórico e técnico da teoria cognitiva e do desenvolvimento em conhecimento. Um comentário de conclusão defende uma psicologia nova e transformativa, não do que existe, mas do que poderia ainda existir. 

Cognitive psychology as ideology.

Abstract

Presents a critical analysis of some of the major work in cognitive social, personality, and developmental psychology. It is argued that cognitivism, by virtue of the primacy it gives to the individual knower, to subjective determinants of behavior, and to formal cognitive operations, represents a set of values and interests that reproduce and reaffirm the existing nature of the social order. However, the joining of cognitive psychology with idealogy is not intended simply to unmask the values carried by the cognitivist approach. The issue of values also raises serious questions about the nature of psychological science. Four case examples are examined as the basis for the claims made in the present article: (1) the deficiencies of interactionism, (2) cognitivism's denial of reality, (3) psychological reifications, and (4) cognitive/developmental theory and the technical interest in knowledge. A concluding comment calls for a new and transformative psychology, not of what is, but of what may yet be. (71 ref) (PsycINFO Database Record (c) 2016 APA, all rights reserved)

[Comentário: Aplicável para a psicologia baseada em evidências já que é principalmente uma forma de cognitivismo com estratégia discursiva semelhante.]

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

O sucesso psiquiátrico por coerção

A partir dos conceitos de análise experimental do comportamento, o fato de o tratamento psiquiátrico tradicional e manicomial utilizar coerção como meio de obtenção do que entende como sucesso terapêutico implica que processos de aprendizagem operante são desconsiderados e desrespeitados para de forma substitutiva criar através da conformidade uma negação de consequências das maneiras de impor os tratamentos biológicos e negação das consequências do tratamento biológico e social. Do ponto de vista do fenômeno do comportamento operante é uma falsa imagem de sucesso. O uso em larga escala de internação psiquiátrica e em estabelecimentos de características análogas segue o mesmo padrão.

O espantalho da "indústria ABA" do autismo

A crítica à medicalização do diagnóstico de autismo pelas áreas socialmente críticas costuma ser direcionada à construção de uma indústria da análise do comportamento aplicada no Brasil. No entanto, essa área de conhecimento é a parte menos problemática da cadeia produtiva em torno do autismo. Enquanto a disputa ocorre em torno da preferência de tratamento e suas implicações para o financiamento de saúde, é menos discutido sobre os fundamentos teóricos do diagnóstico de autismo sem uma distinção necessária de ser feita a respeito de compromissos com o organicismo e a psiquiatria biológica das áreas de neuropsicologia, neurociência cognitiva e cognitivismo de um lado e o comportamentalismo de outro lado. Os responsáveis pelo diagnóstico em parceria com a psiquiatria biológica são pessoas da vertente cognitivista e portanto os responsáveis pela introdução das pessoas no sistema de saúde e seu contato com possíveis aspectos problemáticos do mesmo. A análise do comportamento aplicada tem potencial de ser resolutiva independentemente de diagnóstico ou medicamentalização já que seu referencial é o comportamento operante sem necessidade de compromisso com o modelo biomédico em saúde mental. Basicamente, a crítica que está sendo feita é um argumento de espantalho que se aproveita do mau entendimento público da área de análise experimental do comportamento.

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Valor instável de fisiologia e comportamento

Valor instável de variável fisiológica é determinado por formação inexata de conceito e prática inconsistente correspondente. Em um entendimento experimental todos os momentos de variação de valor são considerados. Esse raciocínio é válido para relações entre variáveis determinantes ou independentes e variáveis determinadas ou dependentes na explicação de classes de comportamentos operante.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Estados fisiológicos e comportamento externo

O entendimento de senso comum é que os fenômenos do comportamento operante e suas classes de comportamento são mero subconjunto de estados fisiológicos (reducionismo). No entanto, uma nuance conceitual maior é necessária já que não há relação tão direta e inequívoca entre operar sobre o ambiente e processos fisiológicos alterados. Um tipo de circunstância ilustra bem essa falta de precisão conceitual. Se considerarmos as perspectivas da pessoa sob interesse de tratamento e a externa, nem sempre haverá concordância sobre o estado de saúde mental da pessoa sob interesse de intervenção de saúde mental e não seria justo ou completo considerar apenas a perspectiva externa. Circunstâncias de relativa distinguibilidade maior entre estados internos de saúde mental e comportamentos de operar sobre o ambiente seriam estar com estado de saúde mental insatisfatório sem manifestação em comportamentos abertos e estar com estado de saúde mental satisfatório sob a perspectiva da própria pessoa e manifestar comportamentos operantes que tensionam com os parâmetros exigidos e esperados pelo ambiente. Se não presumirmos com pretensão que esse reducionismo descrito acima não tem limitações, abrimos possibilidades de interpretação com mais nuances e mais produtivas que não recorreriam a explicações circulares.

domingo, 27 de julho de 2025

Ozzy em coquetel psiquiátrico

https://www.cbsnews.com/news/osbourne-overprescribed/

O roqueiro Ozzy Osbourne alega que um médico de Beverly Hills lhe receitou uma série de poderosos antipsicóticos e tranquilizantes em excesso, o que o levou a um hábito de tomar 42 comprimidos por dia, o que também foi responsável por seu comportamento desconcertante na série de TV de sucesso "The Osbournes". 

A alegação de Osbourne, apoiada por registros de cartão de crédito e outros recibos, foi noticiada pelo Los Angeles Times. 

Entrevistado pelo jornal em outubro, Osbourne se movimentava e falava normalmente, sem demonstrar a hesitação e a desorientação que havia demonstrado em "The Osbournes". 

O astro do rock de 55 anos disse que lhe foram prescritos Valium, Dexedrine, Mysoline e outros medicamentos potentes, que especialistas médicos afirmaram serem, à primeira vista, inadequados para um único paciente tomar simultaneamente. 

O médico de Osbourne, David Kipper, de Beverly Hills, está sendo investigado por prescrever medicamentos em excesso a outros pacientes famosos, informou o jornal. 

O Conselho Médico da Califórnia decidiu revogar a licença de Kipper na semana passada, acusando-o de negligência grave no tratamento de outros pacientes. Nenhuma ação foi tomada.

Corte da série Os Osbournes:

Father and Son #ozzyosbourne #shorts

sábado, 19 de julho de 2025

Vício em jogos

A área de análise experimental do comportamento, embora mal vista e desconhecida, explica o problema do vício em jogos desde os anos 50 aproximadamente. É chamado de esquema de reforço progressivamente estendido para se tornar cada vez mais forte com redução gradual de "recompensa" (esquema cada vez mais pobre). É válido através de conhecimento experimental para sujeitos não humanos e para sujeitos humanos .

terça-feira, 15 de julho de 2025

Terapia para autismo é semi-manicomial?

Terapias sem qualidade científica podem ser mais distópicas do que terapias polemizadas por áreas concorrentes. A realidade das pessoas com deficiência não é simples para que baste colocá-las num lugar de tratamento em liberdade e pensar que basta aceitar a identidade da pessoa com deficiência. O questionamento sobre o modelo médico, pensamento manicomial e a análise experimental do comportamento que é um dos aspectos básicos na discussão é discutido aqui no blogue e nos artigos do substack. O questionamento não deveria ser feito à área de conhecimento como um todo, o que é ideia pré-concebida. A crítica à totalidade da área de conhecimento é indício de que se trata de uma disputa econômica. É bastante duvidoso que atividades estruturadas para tratamento de autismo por análise experimental do comportamento sejam um padrão reconhecido e amplamente aplicado de tratamento. Parece ser um estereótipo criado com base em vídeos de internet. Se for para questionar algo, que seja a oferta de falsas "terapia ABA" que não são representativas da área de conhecimento. O que expõe pessoas com autismo a estruturas manicomiais é a falta de acesso a terapia para casos complexos e supostamente perdidos.

domingo, 13 de julho de 2025

Leis singulares do comportamento e internação psiquiátrica

Um raciocínio clínico presente na psiquiatria biológica é a criação de leis especiais e singulares do funcionamento do comportamento ou "mente" da pessoa como um subproduto de suas características orgânico-genéticas cerebrais. Nessa perspectiva cada constructo diagnóstico ou pessoa tem suas leis próprias do comportamento e não há generalidade na explicação do comportamento além de singularidades especiais. Uma decorrência disso é a proposta de protocolos de tratamento de acordo as características especiais e singulares correspondentes de cada constructo diagnóstico. Outra decorrência desse tipo de pensamento é a criação de perfis de características orgânico-comportamentais ou orgânico-mentais. O significado disso é compatível com a suposição de imprevisibilidade e incontrolabilidade de comportamentos sem as intervenções biológicas entendidas como imprescindíveis. Em circunstâncias de inviabilidade de administração de tratamento biológico, a dedução é de risco imprevisível e incontrolável associado a impossibilidade de intervenções diferentes de internação psiquiátrica, a qual é entendida como imprescindível.

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Discurso anti-ABA e mudança de ênfase

O discurso político e clínico contra a análise do comportamento aplicada considera que condições ótimas de aprendizagem que a área implementa são compensações para condições sociais adversas. Um fato da análise experimental do comportamento é que quanto mais adversa uma circunstância maior é a probabilidade de surgirem "comportamentos-problema". Em sociedades de pensamento biomédico em saúde mental hegemônico a primeira reação e primeira linha de tratamento são a medicação psiquiátrica. Então o discurso crítico é uma defesa da mudança de ênfase explicativa de forma semelhante a defesa da mudança epistemológica para as ciências humanas e sociais segundo o tradicional em reforma psiquiátrica. O que parece ser uma crítica a análise experimental do comportamento, e essa crítica é feita por pessoas que desconhecem a área, é uma defesa de outras áreas que promoveriam condições sociais menos adversas. Nada impediria que, dadas as condições sociais sejam favoráveis para uso da análise experimental do comportamento, essa fosse utilizada também para reduzir condições sociais adversas. A área é associada erroneamente a um subproduto da neurociência de base para a psiquiatra biológica ou modelo médico em saúde mental. No entanto, essa associação é um estereótipo pois a base mais tradicionalmente correta da análise experimental do comportamento é a crítica ao modelo médico (ver em Ullman e Krasner e textos de medicina comportamental).

A natureza político-ideológica desse discurso é a defesa de uma mudança política da organização da sociedade. O discurso anti-ABA seria na verdade uma crítica ideológica à sociedade de mercado e ao potencial de uso que a área tem para a adaptação ideológica. Então a área de conhecimento não é, mais uma vez, a foco da crítica. Para fins de defesa antecipada, essa análise não é uma defesa da neutralidade ideológica e política da sociedade de mercado e da ciência.

domingo, 6 de julho de 2025

Neurotípicos e neurodiversos (releitura)

Nós estamos enquanto sociedade elencando repertórios de comportamento operante de fácil adaptação social como norma, normais ou neurotípicos e classificando repertórios de comportamento operante com cuidados adicionais como anormais ou neurodiversos. Isso é científicamente incorreto com base na área de neurociência e comportamento pois repertórios de comportamento operante são formados pelo histórico de interação com o meio e não são redutíveis a meros subconjuntos de características cerebrais orgânicas. Essa é uma mudança de ênfase de explicação proveitosa e necessária de ser realizada ainda no âmbito das ciências naturais e que não é a mudança epistemológica para as ciências humanas e sociais que a reforma psiquiátrica tradicionalmente propõe. É provável que as pessoas classificadas como neurotípicas tenham alterações cerebrais orgânicas e as pessoas classificadas como neurodiversas tenham características cerebrais comuns. Repertórios de comportamento operante não são perfeitamente correlacionáveis com estado orgânico cerebral. Esse é o mesmo erro da redução da repertórios de comportamento operante a subconjuntos de características orgânicas do cérebro.


Ver mais:

Em postagem fixada no topo do blogue de série sobre hierarquia entre análise experimental do comportamento e modelo biomédico

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Série: Saúde mental e equilíbrio de Nash


Estabilidade de saúde mental e equilíbrio de Nash nas teorias dos jogos

ChatGPT

https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/estabilidade-de-saude-mental-e-equilibrio

Estabilidade Comportamental e Tratamento Psiquiátrico Contínuo: Uma Leitura Analógica com o Equilíbrio de Nash

ChatGPT

https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/estabilidade-comportamental-e-tratamento

Análise do comportamento habitual em tratamento psiquiátrico contínuo como equilíbrio de Nash e os efeitos do desmame

ChatGPT

https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/analise-do-comportamento-habitual

Série: Hierarquia entre AEC e Modelo Biomédico

Implicações do Modelo biomédico e Análise do Comportamento

Resultado de análise em lógica adaptativa LATAr

 https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/implicacoes-do-modelo-biomedico-e

Pressupostos ontológicos e propriedades lógicas do texto Implicações da análise experimental do comportamento e modelo biomédico

ChatGPT

https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/pressupostos-ontologicos-e-propriedades

Axiomatização de “Implicações da Análise do Comportamento e Modelo biomédico”

https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/axiomatizacao-de-implicacoes-da-analise

Modelo biomédico como explicação fundamental e análise experimental do comportamento como auxiliar

ChatGPT - Esclarecimento de prática social usual

Contingências de reforço subordinadas: crítica behaviorista à hierarquia biomédica em saúde mental

ChatGPT



Modelo compatibilista cérebro e comportamento e o behaviorismo radical

ChatGPT


Formalização e axiomatização de Modelo de Organicismo Hierárquico versus Neurociência Comportamental Integrado
ChatGPT

O papel da cognição nos modelos Organicismo hierárquico e neuro‑comportamental integrado: conceitos e axiomatização
ChatGPT


Dedução: de modelos científicos organicistas e neurocomportamental integrado a percepções sociais e discursos/atitudes eugenistas

ChatGPT



Modelo organicista hierárquico: conflitos de interesses no conceito de determinantes ambientais secundários

ChatGPT 

(pedir esse último por e-mail: crisedapsiquiatria.qma56@simplelogin.com)

A autonomia e a independência segundo os modelos organicista hierárquico e neurocomportamental integrado: dedução a partir de axiomas

ChatGPT



Modelo organicista-cognitivista, testes neuropsicológicos e diagnósticos medicalizantes em parceria com psiquiatria biológica

ChatGPT



O modelo organicista-cognitivista hierárquico, o modelo neurocomportamental integrado e o diagnóstico de autismo sutil: dedução

ChatGPT



Axiomatização da noção de remissão espontânea no modelo organicista

ChatGPT


Implicações Bioéticas dos Modelos Organicista Hierárquico e Neurocomportamental Integrado na Saúde Mental

ChatGPT



Axiomatização das Funções Executivas no Contexto Organicismo + Cognitivismo (A-Cog) como operador técnico da noção de frontalização

ChatGPT

https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/axiomatizacao-das-funcoes-executivas

Organicismo Hierárquico, implicação de Vazio Operante e resultado de Heteronomia Crônica em lógica de predicados de primeira ordem

ChatGPT - Função de demonstração em Látex