Sexo? Não, Obrigada! Como os antidepressivos estão acabando com a libido
O consumo de antidepressivos cresceu assustadoramente nos últimos 20 anos. Elizabeth Weil relata como esses remédios estão afetando a libido de toda uma geração
23/02/2014 - 09h28 - Atualizado 17h44
O alívio sugerido por essa montanha de remédios tem um preço. Enquanto o humor melhora, o entusiasmo pelo sexo desaparece – sequela que acomete um terço dos usuários.“O motivo mais frequente pelo qual as mulheres têm problemas sexuais são os remédios que lhes damos para tratar a depressão”, admite Leonard Derogatis, diretor do Maryland Center for Sexual Health. Não se trata de um drama pequeno ou facilmente solucionável. A ausência de desejo gera vergonha, amargura e baixa autoestima. Algumas mulheres simplesmente tentam empurrar a questão do sexo para longe. “Para ser honesta, às vezes nem me passava pela cabeça”, afirma J.D. Bailey, mãe de dois filhos e autora do blog Honest Mom. Ao longo dos últimos anos ela testou Zoloft, Celexa, Viibryd e Prozac.“Eu e meu marido jogávamos frisbee juntos. Adoro cozinhar e ele adora comer, então eu simplesmente preparava para ele um ótimo jantar.” E assim o casamento seguia – sem sexo.
A ocorrência da baixa libido pode afetar até nossa experiência mais estimada: o amor. Segundo Helen Fisher, professora de antropologia na Universidade de Rutgers, em New Jersey, os seres humanos desenvolveram três sistemas cerebrais entrelaçados para perpetuar a espécie. O primeiro é o impulso sexual. O segundo é o amor romântico. O terceiro é o sentimento profundo de conexão. “Quando se perde o impulso sexual, as emoções ficam entorpecidas”, diz Fisher. “Você pode conhecer um cara maravilhoso em uma festa pelo qual poderia se apaixonar, ele pode lhe dar o e-mail dele e você simplesmente deixa passar”, alerta. Medicamentos também podem interferir nos relacionamentos existentes. São frequentes as histórias ouvidas por Fisher sobre ótimos casamentos que terminaram depois que a mulher começou a tomar antidepressivos. A insistência em enxergar o amor como sendo romântico, misterioso, quase sobrenatural, argumenta ela, está evitando a compreensão dos impactosmais pérfidos e abrangentes dos antidepressivos. “Essas drogas trazem muito dinheiro para a
indústria farmacêutica e realmente têm resultados milagrosos para os deprimidos que não conseguem nem sair da cama. Mas não são tão boas no longo prazo para o resto das pessoas”, adverte.
O primeiro passo para combater a falta de tesão é mudar de antidepressivo ou tentar uma combinação de medicamentos. O problema é que muitas mulheres não têm coragem de trocar de remédio, principalmente se o que estavam tomando ajudou a melhorar o humor. Elas preferem tomar os medicamentos e perder o desejo do que ficar deprimidas. E acabam convivendo com o marido como se fossem roommates.
Meu próprio envolvimento com antidepressivos incluiu uma interminável troca de medicamentos. Ao completar 40 e poucos anos, o que anteriormente eram alguns dias de tensão pré-menstrual por mês se transformaram em 12 dias de depressão aguda. Durante seis meses tentei fingir que nada estava acontecendo. Apelei para exercícios, cafeína e reprises do seriado Friday Night Lights. Finalmente, decidi conversar com meu clínico geral, que me receitou Prozac nas duas últimas semanas de cada mês. A princípio me senti em êxtase. Exceto pelo fato de não ter desejo sexual. Mas, se parasse de tomar os remédios, ficava, nas gentis palavras de meu marido, “como uma planta num vaso”. Queria passar o tempo todo sozinha em um quarto vazio. Sentia-me em uma armadilha. Tinha medo de que, se não transasse com meu marido, ele ficaria entediado, alienado e inquieto.
Quando a troca de remédios não dá certo, um pouco de imaginação pode ajudar. “Trabalhei muito nisso”, conta uma mãe de dois filhos, que, ao longo dos anos, testou uma variedade enorme de antidepressivos.“ Li livros, conversei com terapeutas, fiz de tudo. Não sou o tipo de pessoa que se sente OK em viver junto e não transar”. Suspender os remédios não era uma opção, mas ela se recusou a cair no celibato. “Descobri que sou estimulada visualmente”, conta. “Agora assisto a um filme pornô logo antes de algum momento em que meu marido e eu podemos fazer sexo.” Realmente é possível incentivar o desejo, confirma Sheryl Kingsberg, psicóloga e professora no Departamento de Biologia Reprodutiva da Case Western University, em Cleveland. “Ler literatura erótica funciona bem para as mulheres. Por isso, Cinquenta Tons de Cinza é tão popular”, acredita Kingsberg.
O santo graal de um “Viagra rosa” ainda não foi aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration), órgão que controla o comércio de medicamentos nos Estados Unidos. Mas ele pode não estar muito longe. A possibilidade mais promissora é a flibanserina, composto criado originalmente para combater a depressão (o que não aconteceu), mas que tem o feliz efeito colateral de despertar a libido. Na Europa, um adesivo de testosterona usado para aumentar o desejo está disponível no mercado, e nos Estados Unidos alguns médicos receitam produtos como hormônio para uso diverso do da bula. Mulheres que aceitam uma vida sem sexo podem na verdade estar com medo de admitir que a falta de tesão não é só culpa dos remédios. “E se eu parar com os antidepressivos e o desejo ainda não estiver lá?”. É preciso coragem para descobrir.
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