Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)

Essa avalanche de informações e conhecimento relacionada à saúde e despejada todos os dias sobre os indivíduos sem a menor cerimônia varia muito em termos de objetividade e credibilidade. Porém, é preciso admitir que ela consegue atrair cada vez mais a atenção pública para assuntos de saúde - e muda o relacionamento tradicional entre médicos e pacientes, encorajando os últimos a exercer uma atitude mais participativa na relação. Ironicamente, enquanto os pacientes conquistam mais acesso às informações sobre saúde, os médicos têm cada vez menos tempo para estudar as últimas descobertas científicas ou para ler publicações da área - on-line ou não -, e mesmo para se comunicar adequadamente com especialistas de áreas relevantes e/ou com os próprios pacientes. Além disso, enquanto os médicos precisam dominar conhecimentos sobre as diferentes condições de saúde de um grande número de pacientes cujos rostos eles mal conseguem lembrar, um paciente instruído, com acesso à internet, pode, na verdade, ter lido uma pesquisa mais recente do que o médico sobre sua doença específica. Os pacientes chegam ao consultório com paginas impressas contendo o material que pesquisaram na internet, fotocópias de artigos da Physician's Desk Reference, ou recorte de outras revistas e anuários médicos. Eles fazem perguntas e não ficam mais reverenciando a figura do médico, com seu imaculado avental branco. Aqui as mudanças no relacionamento com os fundamentos profundos do tempo e conhecimento alteraram completamente a realidade médica. Livro: Riqueza Revolucionária - O significado da riqueza no futuro

Aviso!

Aviso! A maioria das drogas psiquiátricas pode causar reações de abstinência, incluindo reações emocionais e físicas com risco de vida. Portanto, não é apenas perigoso iniciar drogas psiquiátricas, também pode ser perigoso pará-las. Retirada de drogas psiquiátricas deve ser feita cuidadosamente sob supervisão clínica experiente. [Se possível] Os métodos para retirar-se com segurança das drogas psiquiátricas são discutidos no livro do Dr. Breggin: A abstinência de drogas psiquiátricas: um guia para prescritores, terapeutas, pacientes e suas famílias. Observação: Esse site pode aumentar bastante as chances do seu psiquiatra biológico piorar o seu prognóstico, sua família recorrer a internação psiquiátrica e serem prescritas injeções de depósito (duração maior). É mais indicado descontinuar drogas psicoativas com apoio da família e psiquiatra biológico ou pelo menos consentir a ingestão de cápsulas para não aumentar o custo do tratamento desnecessariamente. Observação 2: Esse blogue pode alimentar esperanças de que os familiares ou psiquiatras biológicos podem mudar e começar a ouvir os pacientes e se relacionarem de igual para igual e racionalmente. A mudança de familiares e psiquiatras biológicos é uma tarefa ingrata e provavelmente impossível. https://breggin.com/the-reform-work-of-peter-gotzsche-md/

domingo, 26 de setembro de 2021

Coeficiente de parentesco e suposições genéticas

 https://pt.wikipedia.org/wiki/Coeficiente_de_parentesco

Suposições sobre genética de parentes nos transtornos mentais são feitas sem levar em conta a proporção de genes compartilhados. É bom dar uma olhada nessa tabela.

O papel da psiquiatria no holocausto alemão

Resumo do artigo de Breggin.

Link do artigo original: 

http://breggin.com/wp-content/uploads/2008/01/psychiatrysrole.pbreggin.1993.pdf

A psiquiatria moderna teve o papel de antecipar o assassinato em massa na Alemanha. Em 1920 um psiquiatra alemão famoso defendeu a esterilização, castração e eutanásia para as pessoas consideradas crônicas e inaptas para o trabalho. Hitler leu esse livro na prisão e usou esse autor no livro dele. Hitler não foi um maluco em sua época. Ele e esse tipo de prática eram respeitados pela comunidade médica alemã, americana e a comunidade internacional de médicos. A associação americana de psiquiatria e a revista científica de psiquiatria americana apoiaram esse programa. Os Estados Unidos inspiraram os alemães.

As pessoas selecionadas pelos médicos para serem esterilizadas, castradas ou sofrerem eutanásia incluíam todas as pessoas internadas em hospitais psiquiátricos e alguns autores defendiam que isso não era suficiente e que era necessário eliminar os irmãos e a família inteira devido aos genes recessivos.

Os psiquiatras alemães começaram antes da 2a. guerra por conta própria o extermínio de pacientes mentais. Depois Hitler oficializou e quando houveram reclamações e Hitler retirou o status oficial do programa eugenista os psiquiatras alemães continuaram por conta própria. Os métodos criados pelos psiquiatras alemães foram transpostos pelos próprios como consultores para os campos de extermínio. A prática de extermínio dos psiquiatras alemães foi como um projeto piloto que testou a aceitação popular dos alemães para o extermínio de pessoas do próprio país.

Os psiquiatras Kraeplin (fundador da psiquiatria moderna) e Breuler (criador do termo esquizofrenia) eram eugenistas. Breuler chegou a elogiar o programa de Hitler na propaganda de um livro. O modo de pensar da psiquiatria moderna atual tem todos os pontos da psiquiatria alemã da época menos a eutanásia. 

Na época ninguém levantou dúvidas sobre a ciência psiquiátrica, a antropologia e a ciência comportamental (psicológica). Isso foi considerado de maneira defensiva como as ações e pensamentos de alguns poucos indivíduos mas era amplamente aceito e discutido pelos médicos e cientistas sociais e outras áreas. A psiquiatria moderna enxerga o indivíduo como objeto, ou uma aberração bioquímica ou genética ou uma doença, fazendo com que este seja visto como sub-humano. Essa é a fonte do defeito moral da psiquiatria moderna segundo Breggin.

Por respeito à psiquiatria moderna historiadores não costumam comentar sobre a psiquiatria e seu papel no holocausto alemão. Os psiquiatras alemães não foram condenados no tribunal de Nuremberg porque o responsável era um psiquiatra eugenista americano.

O primeiro princípio é o tratamento involuntário. O segundo princípio o hospital psiquiátrico estatal. O terceiro princípio é a aplicação de diagnósticos médicos a problemas psicológicos, espirituais, sociais e políticos. Separando as pessoas consideradas inferiores e as consideradas superiores. O quarto princípio é o modelo médico ou biológico para as diferenças humanas ou transtornos psicológicos. O quinto princípio é o assalto físico ao corpo e ao cérebro com intervenções prejudiciais e incapacitantes. O sexto princípio é a eugenia involuntária. O sétimo princípio é a eutanásia. O oitavo princípio é a seleção médica das pessoas.

Os responsáveis pelo tribunal de Nuremberg chegaram à conclusão que o holocausto poderia não ter ocorrido se não fossem o programa de extermínio dos psiquiatras e que Hitler ter aplicado isso na Alemanha foi um acidente.

Violação de expectativas culturais e saúde

 É importante fazer engenharia reversa do que se tornou "sintomas psiquiátricos" explicitando quais expectativas culturais foram violadas quando se atribui um diagnóstico psiquiátrico a alguém. Exemplos de expectativas culturais podem ser obediência aos superiores ou aos pais, respeito ao senso comum, compostura, comedimento, etc. A real origem do diagnóstico psiquiátrico é a violação dessas expectativas culturais e se comportar de forma a respeitar essas expectativas deveria ser considerado uma reversão do problema sem precisar de inventar uma estrutura dentro do organismo que possibilita isso (mentalismo orgânico).

sábado, 25 de setembro de 2021

Cunha comportamental

 Cunha comportamental, ou behavioral cusps, é um termo cunhado por Rosales-Ruiz e Baer (1997) e traduzido por De Rose e Gil (2003, p. 375) como “um tipo de classe comportamental que expõe o indivíduo a novas contingências, as quais, por sua vez, abrem oportunidades para a aquisição de comportamentos novos e significantes que têm efeitos em longo prazo sobre o desenvolvimento comportamental”.

https://comportese.com/2011/11/11/o-brincar-e-a-analise-do-comportamento

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Eugenia

Geneticistas bem formados diriam que prática da eugenia não daria certo. Eugenia significa a seleção de genes superiores/saudáveis e a eliminação de doenças. Há um fenômeno chamado pleiotropia que significa que um traço influenciado geneticamente também está ligado a outros traços. Portanto, a tentativa de exacerbar alguns traços pode levar à piora de outros traços.

Outro motivo é que os genes de inteligência estão bem distribuídos na população comum.

Eu colocaria outro motivo: os estudos de gêmeos sobre genética de transtornos mentais estão equivocados. Há um trecho de um artigo no blogue sobre isso mas sem a demonstração completa.

A psiquiatria ao usar um modelo estatístico para diferenciar os superiores dos inferiores (ou os saudáveis e os doentes) através da curva normal estatística está usando o raciocínio eugenista criado por Galton (primo de Darwin). A psiquiatria biomédica acaba justificando práticas sociais nocivas a pessoas com situações sociais desfavorecidas. A sociedade também raciocina do mesmo jeito eugenista ao acreditar no modo de raciocinar da psiquiatria e há indícios claros disso no modo como as pessoas diagnosticadas são tratadas pela sociedade.

A análise do comportamento tem uma forma de raciocínio anti-eugenista porque consegue fazer até as pessoas mais deficientes aprenderem ou mostrar que alguém considerado doente na verdade é desfavorecido pelo ambiente. É possível fazer muito pela aptidão através do manejo preciso do ambiente.

A psiquiatria biomédica usa medidas estatísticas relativas chamadas vaganóticas que variam segundo a as características da população e portanto podem ser consideradas construções sociais pelo menos parcialmente. A estratégia de medida idemnótica da análise do comportamento compara o indivíduo com ele próprio.

O apêndice abaixo argumenta que medidas vaganóticas de aptidão (ou de saúde) irão variar segundo ideologias da época e que os parâmetros demandados socialmente implícito nas medidas também variarão com as épocas e sociedades. Portanto, quando a psiquiatria biomédica usa essas medidas comparativas está fazendo isso segundo ideologias sociais e não somente como uma medida de caráter natural ou biológica. Na verdade a psiquiatria biomédica estaria fazendo engenharia social ao estigmatizar e prejudicar os que considera inferiores.

Apêndice:

Estratégias vaganóticas e idemnóticas de medida:

Relacionada à Teoria da Mensuração de Stanley Smith Stevens (1906-1973), a distinção que Johnston e Pennypacker (1993a) propõem entre unidades de medida que eles denominam vaganotics e idemnotics, ou vaganóticas e idemnóticas, aportuguesando estas palavras inglesas 18 , apresentam interesse para este desenvolvimento. 

Uma unidade de medida idemnótica é aquela cuja definição está atrelada, ou deriva de uma constante absoluta do mundo físico, como por exemplo, o metro, a unidade padrão de comprimento, que é definido como sendo igual ao espaço atravessado pela luz no vácuo durante o intervalo de 1/299 792 458 de um segundo, ou o joule, a unidade padrão de trabalho ou energia, definido como a aplicação da força de um newton pela distância de um metro (Bureau International des Poid et Mesures, 2009). Desta forma, e em potência, qualquer medida executada com uma unidade de medida idemnótica produzirá sempre o mesmo resultado (idem=igual). Uma unidade de medida vaganótica é definida como o desenvolvimento de um sistema de mensuração que “implica o desenvolvimento de escalas e unidades de medida baseadas na variabilidade de um conjunto de observações entre indivíduos” (Mace & Kratochwill, 1986, p. 156). Vale dizer que uma medida vaganótica é pelo menos em parte uma construção social (White, 2001). Um exemplo clássico de uma medida vaganótica é o dos testes em psicologia, nos quais a unidade de medida deriva de uma amostra x tomada num tempo t. Todavia, as unidades e escalas obtidas nesta situação seriam diferentes caso fossem derivadas de outra amostra, digamos amostra y, ou da mesma amostra x se tomadas num tempo t +/- Δt. Em outras palavras, estas unidades de medida flutuariam (vagare) em função de variáveis estranhas ao fenômeno em si mesmo e medidas obtidas com elas não produziriam sempre, necessariamente, o mesmo resultado. Além disso, conforme observa White (2001), os parâmetros que delimitam os pontos extremos destes resultados (e que definem, por via de conseqüência, todas as demais medidas do intervalo assim estabelecido) “vagam” também em função da composição da amostra de padronização e de variáveis sociais. Por exemplo, um teste desenvolvido para classificar o nível de “aptidão” escolar de crianças em 1930 dificilmente seria apropriado para medir o mesmo construto atualmente, pois inúmeras mudanças ocorreram neste intervalo, incluindo dentre elas as diferentes demandas sociais dos parâmetros deste construto: diferentes épocas implicam diferentes habilidades julgadas necessárias para o melhor desempenho do futuro cidadão naquela sociedade, diferentes ideologias implicam igualmente diferentes conceitos de “aptidão”.

ROOSEVELT RISTON STARLING

Prática controlada: medidas continuadas e produção de evidências empíricas em terapias analítico-comportamentais

domingo, 19 de setembro de 2021

Anatomia de uma indústria (Whitaker)

O que esta crítica também revela é que o teste de medicamentos psiquiátricos é uma farsa. É um processo concebido para não informar, mas – desde que o medicamento passe pela revisão da FDA – produzir uma mordida sonora comercialmente valiosa. Estes estudos foram repletos de elementos de má ciência. Tudo isso fala de um processo que serve a um fim comercial, em vez de fornecer à sociedade uma avaliação científica honesta dos riscos e benefícios de um medicamento, e se o benefício é clinicamente significativo. A “estrutura” da ciência é utilizada para enganar o público do que para o informar. E este é o “resultado final” quando se segue o dinheiro: Há dinheiro que flui para os psiquiatras individuais e para as empresas farmacêuticas, e no coração deste empreendimento comercial está a “ciência” destinada a enganar. https://madinbrasil.org/2021/09/__trashed-2/

Variação nas culturas e alteração na dopamina

Uma vez eu li um livro de um antropólogo da UFSC chamado Dennis Werner sobre culturas humanas. O livro mostrava que qualquer dimensão da cultura varia muito, muito mesmo. Também dizia que todas as culturas consideram algo louco (inapropriado). Mas havia algo ingênuo no livro: supunha uma correlação perfeita entre desajuste dentro da cultura e alteração na dopamina. O livro foi escrito numa época em que não se discutia isso e aceitou muito facilmente isso. Talvez para não entrar em polêmicas adicionais.

sábado, 18 de setembro de 2021

Demência, esquizofrenia, comorbidades e antipsicóticos

Taxas muitos maiores de demência para diagnosticados com esquizofrenia aos 66 anos (28%) versus 1.3% dos sem transtorno mental grave e mais altas ainda aos 80 anos (70%) versus 11.3% das pessoas sem diagnóstico mental grave. Não separaram comorbidades. Antipsicóticos uma das possíveis causas. As causas do aumento das taxas de demência entre pessoas com esquizofrenia não são totalmente compreendidas. Fatores associados à demência, como doenças cardiovasculares, hiperlipidemia, tabagismo e transtornos por uso de substâncias, são especialmente comuns entre indivíduos com esquizofrenia. 12,13 Pesquisas anteriores, no entanto, sugerem que o risco de demência entre pessoas com esquizofrenia é amplamente independente de transtornos de uso de substâncias ou condições médicas comórbidas, embora menor adesão aos tratamentos prescritos para hipertensão, diabetes e a doença vascular pode contribuir para o risco. 6 A diminuição da reserva cognitiva associada à esquizofrenia e o efeito cumulativo de fatores comportamentais e metabólicos associados à demência que são comuns em indivíduos com esquizofrenia podem acelerar a taxa em que os indivíduos neste grupo cruzam um limite de funcionamento cognitivo garantido um diagnóstico clínico de demência. Indivíduos com esquizofrenia geralmente tomam vários medicamentos psicotrópicos ao longo da vida. Se e como eles afetam o início e o curso da demência, é necessário investigar mais profundamente. Por exemplo, os benzodiazepínicos, que são comumente prescritos para pessoas com esquizofrenia, 21 estão associados à piora da cognição e podem estar associados ao aumento do risco de demência na população em geral. 22-24 Para indivíduos com esquizofrenia, os antipsicóticos estão associados a melhores desfechos clínicos [?] 25 e menores taxas de mortalidade [?], 26 mas os efeitos sobre outros desfechos e desfechos de longo prazo são menos claros. 27 Os antipsicóticos são rotulados com um aviso de advertência para uso em indivíduos com demência devido ao aumento do risco de morte. As investigações dos efeitos do tratamento antipsicótico no jamapsychiatry.com sobre a mortalidade e outros resultados clínicos importantes entre idosos com esquizofrenia e demência são urgentemente necessárias. https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/article-abstract/2777006

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Politica social de saúde (Dowbor)


Saúde, sem dúvida, custa. Mas é o produto que mais

desejamos. Ou seja, é um produto, e talvez o melhor de

todos. Não é uma atividade meio, é uma atividade fim.

No entanto, devemos distinguir o nível de saúde atingido

em termos de resultados e o processo que permite atingi-

-los. Como em qualquer processo produtivo, a setor deve

alcançar os melhores resultados com o mínimo de custos.

É o que se chama de produtividade da saúde. Nas últimas

décadas, o mundo ganhou uma sobrevida impressionante.

Antes, vivia-se tempo suficiente para criar os filhos. Hoje, as

pessoas vivem 80, 90 anos. O progresso é impressionante.

O Atlas Brasil 2013, na avaliação geral dos 5.565 muni-

cípios do país, mostra que, entre 1991 e 2010, o tempo

médio de expectativa de vida do brasileiro subiu nove anos,

passando de 65 para 74 anos. São resultados espetaculares. 13

As pessoas tendem a atribuir esses resultados aos pro-

dutos que vemos na publicidade, belos hospitais e novos

medicamentos. “Tomou Doril, a dor sumiu” e semelhantes.

Na realidade, o imenso avanço da humanidade em termos

de esperança de vida se deve essencialmente à vacina, ao sa-

bão, ao acesso à água tratada e ao saneamento básico. Mais

recentemente no Brasil, a redução da fome com os diversos

programas governamentais também operou milagres, o que

explica em grande parte os nove anos de vida que ganhamos.

Portanto, ainda que grande parte de mídia se preo-

cupe com o tratamento da doença, os grandes ganhos de

produtividade e de dias saudáveis se devem à saúde pre-

ventiva, ou seja, ao conjunto das medidas – muitas delas

fora do que consideramos normalmente setor de saúde –

que evitam que surjam as doenças. Prevenir é incompara-

velmente mais produtivo do que remediar.

A tensão gerada aqui, entre o conceito de serviços de

saúde e o conceito de indústria da doença, é evidente. O

sistema privado não tem interesse no sistema de prevenção

por duas razões: primeiro, porque são ações universalizadas

(como vacinas, água e saneamento etc.) que envolvem mui-

ta gente sem dinheiro para pagar e grandes esforços organi-

zacionais que resultam da capilaridade das ações universais.

A vacina tem de chegar a cada criança do país. Segundo,

porque, ao se reduzirem os problemas de saúde, reduz-se o

número de clientes. E o setor privado vive de clientes. Está

interessado em poucos que possam pagar bem. Necessida-

de e capacidade de pagamento são duas coisas diferentes.

A concentração dos recursos da saúde privada no sistema

curativo hospitalar e nas doenças degenerativas dos idosos é

um resultado direto dessa deformação.

No caso brasileiro, naturalmente, a característica bá-

sica é a desigualdade, o que faz com que se tenham gerado

dois universos de serviços de saúde: o público para a massa

de pobres e o privado para os ricos e a classe média. Na

medida em que o setor privado da saúde, com fins muito

lucrativos, tenta expandir o universo de cobertura paga, os

esforços de se generalizar o acesso a bons serviços públi-

cos e gratuitos de saúde passam a ser atacados. O fato de

a direita americana no congresso quase ter paralisado os

Estados Unidos na guerra contra a universalização desses

serviços dá uma ideia dos interesses envolvidos.

Na realidade, nos Estados Unidos a saúde representa

praticamente 20% do PIB, enquanto a indústria emprega

menos de 10% da mão de obra do país. O fato de esse se-

tor da saúde se agigantar, tornando-se o setor econômico

mais importante, ajuda a entender as articulações perver-

sas que são gerados. Os Estados Unidos gastam cerca de

US$ 7.500,00 por pessoa por ano em serviços de saúde,

e o Canadá quase exatamente a metade. No entanto, o

nível de saúde no Canadá, onde os serviços são públicos,

universais e gratuitos, é incomparavelmente superior. O

sistema americano, baseado no privado e no curativo, faz o

cidadão procurar os serviços quando o mal já aconteceu. E

os procura raramente, pois são caros. O resultado é muito

dinheiro e pouca saúde. Nas pesquisas de produtividade

dos gastos em saúde em países desenvolvidos, os Estados

Unidos aparecem em último lugar. 14

A base do raciocínio – usando de preferência o cérebro

e não o fígado, de onde os argumentos já vêm verdes e amar-

gos – é que saúde não é um produto como um chinelo, que

se produz em massa na China ou na Indonésia e se despacha

por contêiner. Uma sociedade saudável trabalha um con-

junto de frentes que incluem desde cuidados da primeira

infância até o ambiente escolar, as condições de habitação e

urbanismo, a qualidade de vida no trabalho, o controle de

agrotóxicos e semelhantes. A vida saudável resulta de um

conjunto complexo de fatores, todos densamente ligados

com a qualidade de vida em geral. Não é um produto pa-

dronizado que sai de uma máquina e resolve. Envolve, na

realidade, uma forma de organização social.

Quando pensamos em saúde, tendemos a pensar na

farmácia e no hospital, porque nos acostumamos a pensar

nela apenas quando a perdemos. E não há dúvida de que há

uma indústria da doença pronta para reforçar essa visão em

cada publicidade de um plano privado de saúde, de remé-

dios milagrosos e semelhantes. Mas, no básico, é importante

pensar que as políticas de saúde se agigantaram muito re-

centemente e constatar as diferentes formas de organização:

desde o out-of-pocket (saúde curativa paga no serviço pres-

tado) dos Estados Unidos até a medicina pública social e

universal da Inglaterra, do Canadá, dos países nórdicos e de

Cuba. No Brasil temos a convivência caótica do SUS com

os gigantes financeiros que controlam os seguros e planos de

saúde, passando por organizações sociais e sistemas coope-

rativos diversos.

É importante a visão de conjunto: temos um grande

acúmulo de experiência de gestão empresarial nos setores

produtivos tradicionais, como de automóveis, e também

na área de administração pública tradicional. Mas, no

desafio de assegurar um bom nível de saúde, que resulta

da convergência de numerosos atores, inclusive dos mo-

vimentos sociais, ainda estamos à procura de paradigmas

adequados de gestão. Os rumos mais significativos, o que

funciona efetivamente em diversos países que atingiram

excelência, apontam para sistemas dominantemente pre-

ventivos, com acesso universal e gratuito, baseados em

gestão pública mas fortemente descentralizados, com forte

capacidade de participação e controle por organizações da

sociedade civil.

Há uma dimensão ética aqui: a de que nenhum ser hu-

mano deve padecer e sofrer quando há formas simples de

resolver o problema. A indiferença é vergonhosa e injustifi-

cável. Em termos sociais e políticos, não há dúvida de que

uma das melhores formas de democratizar uma sociedade é

assegurar que todos tenham acesso à saúde, tanto preventi-

va como curativa, independentemente do nível de renda. É

uma forma essencial de redistribuição indireta de renda e de

se generalizar o bem-estar.

A falta de acesso a serviços básicos de qualidade, por

outro lado, gera um sistema quase de chantagem: as famílias

se sangram para pagar um plano privado de saúde, gastando

muito mais do que o custo dos serviços prestados, simples-

mente por insegurança, pela possível tragédia de um aciden-

te ou doença grave. Acabamos contratando um plano, e pa-

gando caro para ter um certo sentimento de tranquilidade, e

não pelos serviços de saúde efetivamente prestados. Quanto

mais inseguros, mais pagamos. A indústria da doença preci-

sa ser fortemente controlada, e um dos melhores caminhos

é a sistemática elevação da qualidade e acessibilidade dos

serviços públicos universais de saúde. 15



14. Avaliação de 2007 mostrou os Estados Unidos em último lugar entre países desenvolvidos

em eficiência de saúde: gastaram US$ 7.290,00 por pessoa. Em primeiro lugar ficou a Holanda,

apesar de gastar apenas US$ 3.837,00 (New Scientist, 26 jun.2010). Saúde privada, essencialmente

curativa e elitista, constitui um desperdício. O que não impede que os EUA sejam um destino

lógico para uma intervenção cirúrgica de ponta paga a preço de ouro.


Dowbor. O pão nosso de cada dia.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Voltar do inferno e felicidade (poesia bukowski)

 Velho Bukowski Ainda Vive.

 
o inferno está lotado ainda
você sempre pensa que você está
sozinho.
e você nunca pode dizer
a ninguém que
você está no inferno
ou eles vão pensar
que você está
louco.
mas ser louco é
estar no inferno
e ser sensato
também.
aqueles que escapam do inferno
nunca falam sobre
isso
e nada mais
incomoda eles
depois
disso.
Quero dizer, coisas como
falta de uma refeição,
ir para a cadeia,
bater seu carro
ou
mesmo
morrer.
quando você perguntar-lhes,
"como as coisas estão
indo? "
eles vão responder: "bem,
muito bem ... "
uma vez que você foi para o inferno
e voltou
é o bastante, é a
mais silenciosa celebração
conhecida.
uma vez que você foi para o inferno
e voltou,
você não olha para trás
quando o chão
range.
o sol está no alto a
meia-noite
e coisas como
os olhos de ratos
ou um velho pneu
em um terreno baldio
pode torná-lo
feliz.
uma vez que você foi para o inferno
e voltou.
(Poema: "o jeito que isso é") - Chaeles Bukowski

domingo, 5 de setembro de 2021

Neurociência cognitiva e patologia psiquiátrica

Resumo da palestra:

Usa as variáveis dependentes (efeito) taxa de erro e tempo de reação relacionadas a atividades progressivamente mais complexas (por adição de componentes). A grande maioria dos experimentos não trata de causas ou etiologias e se baseia em explicações reducionistas e mecanicistas. As explicações são feitas com base nos componentes ou elementos constitutivos e análise de suas funções (reducionismo vs análise funcional). Usa protocolos comportamentais da psicologia cognitiva, isto é, parte da conceito de mente ou capacidades mentais. Os protocolos de imagem cerebral tratam de diferenças de atividade cerebral no mesmo indivíduo ou entre indivíduos. Há experimentos ascendentes (bottom-up) e descendentes (top-down) de acordo com a direção da intervenção para detecção e estes são experimentos interníveis e etiológicos. Experimentos ascendentes incluem interferência no cérebro e estimulação. Limitações dos experimentos ascendentes incluem: o cérebro pode compensar interferências e a interferência pode ser indireta. Experimentos ascendentes também inclui a ampliação de uma função do cérebro com tarefas.  Uma limitação desse tipo de experimentos inclui as meras correlações e as contribuições tônicas (?). Pontos cegos dos experimentos são compensados por outros experimentos. Relevância constitutiva: mútua manipulabilidade: do todo para os elementos e dos elementos para o todo. O mecanicismo não é redutivo e também não é autonomista. Funcionalistas são fisicalistas. Não há distinção entre mental e neuronal.

A estrutura e função nunca estão separadas.

Neuronal é sempre cognitivo e cognitivo é sempre neuronal. Não há nível privilegiado.

Limitações da área: acusações de pouca validade ecológica.

Extrapolação para o raciocínio clínico psiquiátrico:

As dimensões extensão de tempo e distanciamento da resposta esperada são usadas para avaliar o quanto o cérebro de uma pessoa é disfuncional, isto é, quanto mais tempo uma pessoa faz algo fora do esperado e quanto mais fora do esperado é a atividade da pessoa mais disfuncional é considerado o cérebro dela. A complexidade da atividade exigida do ambiente também é considerada mas a psiquiatria parece considerar trivial tarefas do dia a dia como convivência social, estudar e obedecer os pais então isso é contabilizado como disfunção para realizar atividades triviais. Portanto, uma atividade mental considerada fora do esperado em certo grau por certo tempo é considerada patológica em certo grau.

Há mais um ponto: não é feita distinção entre cognição e estrutura cerebral. Portanto, se faz uma inferência de estrutura cerebral disfuncional a partir de cognição não adaptada.

Referência:

Filosofía de la Neurociencia Cognitiva

 https://www.youtube.com/watch?v=Qg8wZAnvvu0


Filosofía de la Neurociencia Cognitiva

 https://www.youtube.com/watch?v=Qg8wZAnvvu0

Filosofía de la Neurociencia Cognitiva Abel Wajnerman Universidad Alberto Hurtado, Santiago, Chile. 2 de septiembre 2021 Ciclo de Charlas Filosofía Contemporánea de la Biología 05

Al articular tradiciones de investigación en neurociencia y psicología que se habían desarrollado mayormente de manera aislada, el surgimiento de la neurociencia cognitiva a fines del siglo XX afectó profundamente la reflexión filosófica sobre aspectos epistémicos, metafísicos y éticos relacionados con la base neurobiológica de la mente. Desde el punto de vista epistémico, el comienzo del siglo XXI estuvo signado por el surgimiento del mecanicismo, un desarrollo de la tradición de sistemas en filosofía de las ciencias fuertemente anclado en la práctica experimental en neurociencias y en concepciones manipulacionistas de la relevancia explicativa. Desde el punto de vista metafísico, la discusión sobre la relación mente/cerebro estuvo atravesada por la emergencia de una tercera vía (el marco de los mecanismos multi-nivel) frente a los enfoques autonomistas en la filosofía de la psicología y a los reduccionistas/eliminativistas en la filosofía de la neurociencia. Por último, la neuroética surgió para abordar preguntas éticas planteadas por el desarrollo de las tecnologías que posibilitaron el surgimiento de la neurociencia cognitiva, preguntas que exceden el dominio de las éticas aplicadas, incluyendo cuestiones filosóficas sobre los mecanismos neurobiológicos que subyacen a capacidades o rasgos éticos fundamentales, como la agencia, la autonomía, la toma de decisiones, la conciencia y la identidad.
Organizado por Sociedad Chilena de Filosofía de las Ciencias Sociedad de Biología de Chile Departamento de Ciencias Ecológicas, Facultad de Ciencias, Universidad de Chile.

Excesso de dopamina e repertório inapropriado

Os psiquiatras fundamentam a hipótese farmacológica da esquizofrenia de excesso de dopamina na semelhança de comportamentos com o uso de anfetaminas. O problema é que com baixa dopamina a pessoa não expressa qualquer repertório, seja apropriado ou inapropriado (extinção generalizada de comportamentos) e com mais dopamina vai expressar mais o repertório já presente ou vai expressá-lo de outra maneira. Se comportando menos a pessoa interage menos com o ambiente e portanto aprende menos e por isso fica com déficit de repertório (produção de deficiência). É possível idealmente alterar o repertório inapropriado sem usar de farmacologia. A resistência mercadológica dos psiquiatras é grande.