Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)

Essa avalanche de informações e conhecimento relacionada à saúde e despejada todos os dias sobre os indivíduos sem a menor cerimônia varia muito em termos de objetividade e credibilidade. Porém, é preciso admitir que ela consegue atrair cada vez mais a atenção pública para assuntos de saúde - e muda o relacionamento tradicional entre médicos e pacientes, encorajando os últimos a exercer uma atitude mais participativa na relação. Ironicamente, enquanto os pacientes conquistam mais acesso às informações sobre saúde, os médicos têm cada vez menos tempo para estudar as últimas descobertas científicas ou para ler publicações da área - on-line ou não -, e mesmo para se comunicar adequadamente com especialistas de áreas relevantes e/ou com os próprios pacientes. Além disso, enquanto os médicos precisam dominar conhecimentos sobre as diferentes condições de saúde de um grande número de pacientes cujos rostos eles mal conseguem lembrar, um paciente instruído, com acesso à internet, pode, na verdade, ter lido uma pesquisa mais recente do que o médico sobre sua doença específica. Os pacientes chegam ao consultório com paginas impressas contendo o material que pesquisaram na internet, fotocópias de artigos da Physician's Desk Reference, ou recorte de outras revistas e anuários médicos. Eles fazem perguntas e não ficam mais reverenciando a figura do médico, com seu imaculado avental branco. Aqui as mudanças no relacionamento com os fundamentos profundos do tempo e conhecimento alteraram completamente a realidade médica. Livro: Riqueza Revolucionária - O significado da riqueza no futuro

Aviso!

Aviso! A maioria das drogas psiquiátricas pode causar reações de abstinência, incluindo reações emocionais e físicas com risco de vida. Portanto, não é apenas perigoso iniciar drogas psiquiátricas, também pode ser perigoso pará-las. Retirada de drogas psiquiátricas deve ser feita cuidadosamente sob supervisão clínica experiente. [Se possível] Os métodos para retirar-se com segurança das drogas psiquiátricas são discutidos no livro do Dr. Breggin: A abstinência de drogas psiquiátricas: um guia para prescritores, terapeutas, pacientes e suas famílias. Observação: Esse site pode aumentar bastante as chances do seu psiquiatra biológico piorar o seu prognóstico, sua família recorrer a internação psiquiátrica e serem prescritas injeções de depósito (duração maior). É mais indicado descontinuar drogas psicoativas com apoio da família e psiquiatra biológico ou pelo menos consentir a ingestão de cápsulas para não aumentar o custo do tratamento desnecessariamente. Observação 2: Esse blogue pode alimentar esperanças de que os familiares ou psiquiatras biológicos podem mudar e começar a ouvir os pacientes e se relacionarem de igual para igual e racionalmente. A mudança de familiares e psiquiatras biológicos é uma tarefa ingrata e provavelmente impossível. https://breggin.com/the-reform-work-of-peter-gotzsche-md/
Mostrando postagens com marcador testes projetivos. Mostrar todas as postagens
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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Psicodiagnostico de Rorschach (Anos 40)

 CAPITULO XXIV 

Psicodiagnostico de Rorschach

O psicodiagnostico de Rorschach é uma das provas que fornecem um corte transverso da personalidade total, permitindo ver seus diversos planos e suas relações." Comentando o valor do método, já se escreveu:

"Não ha discrepancia entre os conhecedores do assunto sobre o valor do processo. Cada dia é maior sua difusão e enorme os entusiasmos despertados entre os novos adeptos. As criticas ao seu emprego, particularmente as baseadas na dificiculdade de sua metodologia, estão a pique de serem destruidas. Os esforçados pesquizadores, do grupo norte-americano, que fundaram o Rorschach Instituto de Nova York e aos quais se agregando os interessados dos demais centros, sistematicamente metodo de protocolar e de interpretar os resultados. Ficam portanto, apenas os obices decorrentes do elevado espaço de tempo necessário para registo e apuração. Esses não devem porem, ser exagerados e, si realmente os informes colhidos na investigação atingem os fins colimados, vale o esforço dispendido."

MATERIAL- É constituido por 10 lâminas de cartolina. Em cada uma delas se vê uma mancha de tinta que tem as caracteristicas de imagem simples, simetrica, oferecendo certo ritmo afim de que não se veja nela apenas a mancha de tinta. Tais imagens se pódem obter deixando cair sobre uma folha de papel um pouco de tinta. Logo em seguida se dobra o papel e a tinta se extenderá simetricamente sobre as duas superficies.

Laminas apropriadas podem ser adquiridas na Editorial Hans Huber, de Berna.

As imagens das laminas I, IV, V, VI e VII variam da cor cinzenta claro ao negro intenso. Nas II e III tambem se vê a côr vermelha. E as VIII, IX

I são multicores.


174


APLICAÇÃO-Entregam-se ao paciente, que se encontra sentado as laminas, uma após outra, obedecendo uma ordem rigorosa, da primeira à decima, de maneira que o número de ordem esteja na margem superior.

Deve incidir iluminação igual e direta sobre a lamina.

O paciente mantem a lamina a uma distancia aproximada de 50 ctm., podendo afasta-la, aproxima-la ou vira-la, sem, comtudo sola-la. 

Ao entregar a lamina ao paciente, perguntamos:

- Que pode ser isto? - Que pode representar?

Estas ou outras perguntas semelhantes não devem conter qualquer sugestão. Entrega-se uma nova lamina quando o paciente já houver esgotado todas as respostas sobre a que tem diante de si. 

APURAÇÃO:

a) Avaliação quantitativa (número de respostas e tempo de reação).

1- O numero de respostas tem pequeno valor diagnostico. Oscila, nas pessoas normais, entre 15 e 50. 

    Nos casos de psicopatias organicas o número de respostas, embora dentro dos limites normais, tende a se aproximar do limite inferior, salvo nos casos de fabulação.

Os deficientes intelectuais e epileticos costumam dar um número maior.

Nos casos de depressão não se contam mais de 5 respostas. Havendo euforia ou excitação pode-se contar mais de 50. 

Os esquizofrenicos dão um número muito variavel de respostas.

É impossivel se registrar uma falta de respostas nas pessões normais, fenomeno que pode ocorrer com frequencia nas neuroses.

Nos esquizofrenicos tipicos, latentes ou mesmo considerados curados é comum se observarem as "falhas": o paciente que vinha fornecendo numerosas e variadas respostas com várias laminas, detem-se, repentinamente, diante de uma que é das mais faceis.

2- O tempo de reação é obtido dividindo-se o tempo total de duração de prova pelo número de respostas. É maior nos casos de psicoses organicas, epileticas e deprimidos. É menor nos casos de excitação maniaca e muito curto na esquizofrenia.

b) Avaliação qualitativa - Consideram-se o modo perceptivo, as sucessões, as sensações determinantes, o conteúdo e a originalidade.


1 - Percepção e sucessão - AS respostas referindo-se às imagens são assinaladas pelo pesquisador com letra e assim se enumeram:

Interpretação global da imagem G

Interpretação parcial da imagem (detalhe) D 

Pequeno detalhe  Dd

Detalhe oligofrenico (fragmento de detalhe) De

Resposta correspondente aos espaços brancos DZw


As respostas DZw significam tendencia a oposição ao ambiente, frequente nos esquizofrenicos negativistas.

A ordem segundo a qual aparecem os diferentes tipos de interpretação para cada lamina denomina-se "sucessão". 

Normalmente aparecem as respostas G seguidas de D e de Dd. 

A sucessão "rigida e ordenada" significa o predominio das funções logicas. Sem oferecer uma rigidez absoluta, as respostas seguem, em linhas gerais, a ordem habitual 

(G-D-Dd-DZw).

A sucessão é "hipotonica" quando desaparece, em grande parte, a ordem. Havendo "hipotonia" acentuada, a sucessão denomina-se "dissociada", como nos esquizofrenicos.

A sucessão é "invertida" quando segue uma ordem contraria à habitual (Dd-D-G). É própria dos fabuladores. 

2 - Sensações determinantes - De acordo com as sensações experimentadas ao se examinar as laminas, assim se classificam as respostas:

Respostas condicionadas pela "forma" (F). 

Respostas de "movimento" (B).

Respostas condicionadas pela "côr", primárias ou secundárias (Fb).

As interpretações F (forma) são as mais comuns. Constituem a maioria, tanto para individuos normais como doentes. As "formas" bem vistas se designam por F+; as mal

vistas por F-. 

A percentagem das formas bem vistas (F + %) se determina segundo a formula:

F % = (F+) X 100 / (F+)+ (F-)


O F normal oscila entre 80 e 100, significando precisão de associação e capacidade de manter ativa a atenção. Um F + % elevado tambem significa boa capacidade de concentração.

Ha "resposta cinetica" quando predominam na interpretação "respostas de movimento" (B). Para qualificar tal resposta procura-se verificar nela a existencia de um verbo. Rorschach, entretanto, adverte que muitas respostas que contem verbo não são "respostas de movimento" sinão quando se referem a homens e animais plantigrados visto como depois de interpretar uma forma é comum o paciente juntar uma serie de considerações de maneira a ampliar ou a ilustrar sua resposta, o que pode resultar de tendencia à fabulação. 

As laminas coloridas costumam provocar o "choque cromatico", assim descrito por Rorschach: "Certos pacientes experimentam um verdadeiro choque no momento em que entregamos a lamina colorida VII, substituindo as negras; trata-se de um estupor associativo e afetivo, de duração variavel. Subitamente se tornam perplexos, mesmo aqueles indivíduos que até aquele momento haviam interpretado de maneira corrente. Comprovam com assombro que a interpretação das laminas coloridas é mais dificil que a das negras. Os indivíduos que sentem o "choque cromatico" são sempre neuroticos com tendencias instintivas muito fortes, reprimidas. Nos pacientes que não reprimem seus impulsos afetivos ou que os dominam, o fenomeno tambem se produz; revela-se, entretanto sob a forma de hipotonia nas respostas.

Consideramos que as interpretações são determinadas pela "côr" (Fb) quando tal caracteristica é a unica determinante da resposta. Trata-se, então, de "interpretação primária de côr". 

Quando aparece inicialmente a interpretação de "côr", temos a resposta "forma - côr" (FFb). Em caso contrário, é a resposta "côr forma" (FbF).

Enquanto as interpretações B se consideram como indice das tendencias introversivas da personalidade, as FFb, FbF e F indicam tendencias extroversivas.

A relação entre o total de elemento B e Fb permite estabelecer o "tipo de vivencia".

3 - Conteúdo - Segundo o conteúdo, se classificam as respostas em Zoomorficas (T), de partes de animal (Td), antropomorficas (M), de parte do corpo humano (Md), de paisagem (L), anatomicas (Anat), objetos (Obj), abstratas (Abs), arquitetonicas (Arq), geograficas (Geo), etc.


A percentagem de formas de animais vistas denomina-se "indice de esteriotipia" e se estabelece segundo a formula:


T % = (T + Td) X 1000 / número total de respostas


O indice de esteriotipia cresce com a idade e com o desenvolvimento das tendencias a atividades práticas. A esteriotipia tambem pode se apresentar em relação a outra classe de respostas, principalmente M e Anat.

4 - Originalidade - As respostas tambem se dividem em "originais", "individuais" e 'vulgares". Respostas originais são aquelas que aparecem uma vez num grupo de três. As individuais são peculiares a um determinado individuo. 

A percentagem de respostas originais nos individuos normais varia entre 10 e 30 % e se obtem usando a formula do indice de esteriotipia.

c) Tipos vivencia (*) - Determina-se dividindo o número total de elementos B pelo número total de Fb (compreendendo aqui Fb, FbF, FFb).

Para Fb puro dá-se o valor de 1,50, para FbF de 1,00 e, finalmente, para FFb apenas 0,50.

Podemos obter os seguintes tipos de vivencia: 

1 - Coartado - Encontram-se somente as interpretações F, faltando B e Fb.

O T % é elevado, as formas são bem vistas e a sucessão é rigida. As funções lógicas estão hipertrofiadas, chegando a determinar uma inibição afetiva.

É comum nos deprimidos e melancolicos.

2 - Extrovertido - Revela uma predominancia de interpretações de côr. 

3- Introvertido - Apresenta uma predominancia de elementos B.

4- Equilibrado - Encontram-se na mesma proporção os elementos B e Fb. 


(*) - Vivencia é a tonalidade afetiva própria a uma idéia.


Exame das funções mentais (Semiologia psiquiatrica) - Dr. Joubert T. Barbosa

(Livro dos anos 40). Apenas interesse histórico. O teste foi reformulado e modernizado depois.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

Psicodiagnótico de Rorschach (Anos 40)

Psicodiagnótico de Rorschach. Capítulo do livro Exame das funções mentais (Semiologia psiquiátrica) - Dr. Joubert T. Barbosa (Anos 40)

Um capítulo de 5 páginas. É um teste que mostra manchas de tinta. O que chamou atenção foi a confiança absoluta nos resultados do teste, o uso não polêmico da expressão esquizofrênicos curados (que depois dos remédios se tornou polêmica) e o cálculo de um índice de estereotipia nas respostas. A maneira de responder é correlacionada com diagnósticos.

As ciências sociais tem senso crítico sobre as estereotipias. O que não havia na psiquiatria dos anos 40.

sábado, 15 de maio de 2021

Série sobre Rorschach denunciada

Alguém denunciou minha série sobre Rorschach e o blogger a excluiu para logo depois restaurar depois da revisão. Por mais que algumas pessoas achem absurdo o conteúdo desse blogue, está tudo documentado.

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Testes projetivos: evidências muitos fracas

Acabo de saber que morreu Scott Lilienfeld. Scott era um dos melhores críticos que conheço das bobagens que passam por psicoterapia.
Na minha época de estudante de psicologia na PUC-RS, haviam várias cadeiras sobre os chamados testes projetivos. Sabe aquele clássico Rorschach? Pois é, mas esse é só um dos tantos que existem. Outros exemplos são o TAT e o desenho da figura humana. O nome “projetivo” vem da premissa de que a personalidade se expressa—projeta—nesses desenhos. Não preciso dizer que essa é uma suposição bastante forte que precisa de evidências igualmente fortes para se sustentar. Nessa meta-análise (tipo de estudo com grau mais alto de confiabilidade científica) de 2000 [https://journals.sagepub.com/doi/10.1111/1529-1006.002] Scott mostra que a evidência disso é muito fraca, pelo menos nesses três testes que citei acima. De fato, me surpreende que ele ainda conseguiu encontrar alguma. Apesar disso, esses testes são usados rotineiramente pra decidir quem pode ou não portar armas, que crianças precisam ou não de terapia, que criminoso precisa ou não ser internado em hospital psiquiátrico, etc.
E esse monte de psicoterapia que existe por aí? Psicanálise, terapia cognitivo-comportamental, humanista, psicodrama, EMDR, etc. A maioria delas, senão todas, são mais prováveis de convencer o terapeuta e paciente de que funcionam do que de funcionar de verdade. Nesse paper de 2014 [https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1745691614535216] Scott mostra as tantas razões espúrias que levam psicoterapeutas a enganar-se e acreditar na eficácia de suas técnicas.
A página da wikipedia sobre ele é uma boa introdução ao seu trabalho, que vai muito além desses dois papers que citei.
-André

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Definições operacionais, Rorschach e psicanálise (Hempel)


"Em Psicologia tais critérios são comumente formulados em termos de testes (de inteligência, estabilidade emocional, habilidade matemática etc). Em linhas gerais, o procedimento operacional consiste em administrar o teste de acordo com especificações; o resultado são as respostas das pessoas submetidas ao teste, ou, em regra, uma avaliação qualitativa dessas respostas, obtida de movo mais ou menos objetivo e mais ou menos preciso. No teste de Rorschach, por exemplo, essa avaliação se apóia mais na competência para julgar, gradualmente adquirida pelo intérprete, e menos em critérios explícitos e precisos que a avaliação do teste de Stanford-Binet para a inteligência; o de Rorschach é, por isso, menos satisfatório que o de Stanford-Binet do ponto de vista operacionista. Algumas das principais objeções que foram levantadas contra a especulação psicanalítica são concernentes à falta de adequados critérios de aplicação para os termos psicanalíticos e às concomitantes dificuldades para tirar das hipóteses, em que figuram, alguma implicação verificável e inequívoca."

Do livro Filosofia da ciência natural (p. 116). Do filósofo Carl Hempel

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

contracultura, psiquiatrização e testes projetivos

A identificação com a contracultura ou contestação social pode levar à psiquiatrização. O tipo de coisa que aparece como esquizofrenia num teste psicológico projetivo.

A contracultura questiona valores ocidentais centrais como uma racionalidade veiculada e privilegiada por essa mesma cultura. Um estilo, modo de vida e uma cultura marginais.

"Um conjunto de hábitos que, aos olhos das famílias de classe média, tão ciosas de seu projeto de ascensão social, parecia no mínimo um despropósito, um absurdo mesmo."

Na contracultura a cultura vigente é uma doença.

Vale a pena ler esse livro se for diagnosticado ou se for familiar.

O que é contracultura. Primeiros passos.


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Can we trust the Rorschach test?

https://www.theguardian.com/science/2017/feb/21/rorschach-test-inkblots-history

Críticas e história do Rorschach

https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/bbc/2012/07/25/a-historia-do-polemico-teste-psicologico-rorschach.htm

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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

crítica a testes projetivos e antropologia

"Os recursos metodológicos projetivos a que nos referimos não correspondem às técnicas projetivas tradicionalmente empregadas pela psicologia formal ou pelas inferências psicanalíticas pouco afeiçoadas às pautas existencialistas. Há nessas correntes uma necessidade constante de apelar a verdadeiros clichês interpretativos, o que é totalmente incompatível com uma visão sociofenomenológica e construcionista da realidade humana, como entendem as bases filosóficas e epistemológicas da etnopesquisa. A projeção aqui é abordada a partir das próprias temáticas que emergem da situação analisada e se esforça para que o significado apreendido venha à tona impregnado das experiências indexalizadas da cultura e das das problemáticas de vida experienciada pelo atores. Busca-se, em última instância, um pattern social no âmago das projeções, isto é, em meio a uma gama plural de dados projetados, procura-se um conjunto de significados importantes para a pesquisa, que emerge do corpus analisado. Paralelamente a esse trabalho hermenêutico diante do tácito, do subjacente, trabalha-se a compreensão das contradições, dos paradoxos, das insuficiências, das incompletudes, etc.
Como objetos de projeção, podem ser utilizados desenhos dos atores interpretados por eles próprios, opiniões sobre uma obra de arte representativa de uma problemática local, sobre uma peça ou performance, uma música, uma oração, um curso, um poema ou qualquer expressão literária; são materiais pertinentes para o etnopesquisador, interessado que é na densidade simbólica da vida"

"No caso do recurso à técnica projetiva, uma aproximação com a psicologia e com a psicolinguística seria recomendável, ou mesmo a incorporação de pesquisadores dessas áreas sensíveis à mediação social dos fenômenos subjetivos. A consequência natural desse processo de articulação tem conduzido a um rompimento com a exclusividade das técnicas de investigação, fazendo com que dialoguem pesquisadores de diferentes áreas das ciências humanas, interessados em criar dispositivos de pesquisa cada vez mais pertinentes em relação à complexidade das realidades humanas."

Etnopesquisa crítica Etnopesquisa-Formação



terça-feira, 11 de abril de 2017

Rorschach and his inkblots: The man, the test, the controversy

https://www.newscientist.com/article/mg23431200-500-rorschach-and-his-inkblots-the-man-the-test-the-controversy/?cmpid=SOC|NSNS|2017-Echobox&utm_campaign=Echobox&utm_medium=Social&utm_source=Facebook#link_time=1491829275

Rorschach and his inkblots: The man, the test, the controversy

When psychiatrist Herman Rorschach used inkblots to open a window into his patients’ minds, he also opened a can of worms

inkblot

Card 2 of Hermann Rorschach’s 10 inkblots. What do you see?

Science Museum/Science & Society Picture Library

NUREMBERG, 1945. Hitler, Himmler and Goebbels were dead, but two dozen other leading Nazis were awaiting trial for crimes against humanity. The prize catch was the creator of the Gestapo and the death camps, Hitler’s number two: Hermann Göring.
While they waited, prison psychologist Gustave Gilbert administered psychological tests, keen to solve the mystery of the “Nazi mind”. Most of the prisoners responded like show-off schoolboys, eager to beat their peers. They did well on IQ tests, but to assess their personality there was another technique to try, and the prison psychiatrist, Douglas Kelley, had written a book on it. He and Gilbert gave 19 Nuremberg prisoners the Rorschach test.
Hermann Rorschach, a psychiatrist working alone in a remote Swiss asylum, had invented the inkblot method in 1917 and published it in 1921. Rorschach was a follower of Freud, though never doctrinaire or dogmatic: he once joked to a colleague, “In Vienna, they’re going to be explaining the rotation of the Earth psychoanalytically before long.” He had also studied with Carl Jung in Zurich, where Jung had developed the first empirical test of the unconscious mind: word association.
.
Rorschach was a lifelong artist. In school he was known for his drawing skill and, aptly, his nickname was “Klex”, the German word for inkblot. He was visual, whereas Freud was a word person. Psychoanalysis was built around the talking cure, slips of the tongue, what we say and don’t say, but Rorschach thought how we see was more revealing than what we see.
After extensive revisions, Rorschach decided on 10 inkblots to make up the test. The same 10 are still used today, 100 years on. They are not random smears: they have structure, visual qualities beyond mere ambiguity. For instance, they are challenging to integrate into a whole, so that while some of us can pull together a big picture, others get hung up on details. And do you see movement and life, or only cold, inanimate forms? There’s one blot that almost everyone says looks like a bat or moth; do you say likewise?
Rorschach gave scores based on the frequency of what he termed “whole”, “detail” and “movement” responses, among others. You could calculate ratios with those scores, and track patterns. The test results were derived from these measures. Rorschach originally called his inkblots a perception experiment, not a test; it simply explored how people process visual information. Only later did he realise that different kinds of people tend to see the blots differently.

Nazi personality

In the decades after his early death in 1922, aged 37, of appendicitis, Rorschach’s test languished in Switzerland and Germany. But practitioners in the US helped it surge to prominence. That’s why in 1945, Kelley and Gilbert, both Americans, saw a golden opportunity to try it on prominent Nazis.
Ultimately, though, the Rorschach test wasn’t considered a success at Nuremberg because it didn’t identify a “Nazi personality”. Although it found some common elements, such as a certain lack of introspection, the Nazis showed essentially the same range of variation, from the psychotic to the very well adjusted, as any other group. This result was unacceptable to both psychologists and the general public – surely only monsters could do what the Nazis had done – and so the findings were disregarded for decades.

Meanwhile, in the mid-century heyday of Freudian psychoanalysis, the Rorschach test became the leading “X-ray of the unconscious”. It was used in the most ham-fisted ways imaginable, and was expected not just to reveal mental illness or personality, but to practically read minds. Too many death-related responses to an inkblot dubbed the suicide card and you became a candidate for electroshock therapy.
Had he lived, Rorschach would have been appalled that an inkblot test could result in such drastic treatment. Shortly before his death, he wrote to a colleague eager to use the test to evaluate academic potential: “When I imagine some young person, who has maybe dreamed of going to university from an early age, being prevented from doing so as a result of failing at the experiment, I naturally feel a bit like I can’t breathe.”
“Used in the most ham-fisted ways, the test was expected to practically read minds”
Rorschach anticipated many objections to his test, in particular the potential conflict between its numerical results and a doctor’s subjective insight into their patient. This “dilemma… comes up unfortunately quite often in the test,” he noted. But Rorschach took the side of scientific objectivity: “All my work has shown that crude systematisation is better than arbitrary interpretation.”
Yet many psychiatrists preferred their own interpretations, and so the Freudian incarnation of the Rorschach test captured the world’s imagination, spreading into film noir, advertising and popular culture. This version eventually, justifiably, met with widespread criticism. In the late 60s, it began to fall out of favour, along with Freud. In the UK and elsewhere, it has never recovered. But in the US, the test was reinvented in the 1970s with a renewed emphasis on numerical results.

Rorachach

Hermann Rorschach, doing his best Brad Pitt

www.bridgemanimages.com
From the beginning, the test was meant to be a science, not an art. A priority for Rorschach was that it could be scored objectively. Although he initially logged responses as “+” or “-” for being good or poor descriptions of the card, he collected a large data set as quickly as he could and shifted to scoring answers as Popular or Uncommon, independent of his own subjective judgement.
The mountains of data collected and analysed since the test was invented allowed statistical norms to be established. After psychologist John Exner devised a “Comprehensive System” for scoring in 1974, the test gave a more complex readout than ever before, with all sorts of measurable numerical thresholds. These in turn could be mapped to diagnoses in the US psychiatrist’s handbook, the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, or other accepted assessments.
Whether such mapping is reliable has been controversial for decades, and is the subject of a great deal of research. Is the Rorschach test, even in its modern incarnation, just an excuse for a psychiatrist to draw whatever conclusions they want? According to a giant meta-analysis published in 2013 in Psychological Bulletin, the answer is no. In the light of that study, even some of the test’s most vocal critics agreed that its ability to detect and differentiate between psychotic thought disorders now had scientific support. And those of Exner’s scores that were found not to meet scientific standards of validity and reliability were removed from the system, leaving the rest on a firm footing.
The inkblots have been used in so many ways in the 100 years since Rorschach sent them out into the world that they can seem as hard to pin down as human nature itself. And, as with any tool, there is scope for misuse. Gilbert failed to heed what the inkblots told him in Nuremberg, and continued to believe that there was a “Nazi personality”: in 1963, he published an article with the lurid title “The mentality of SS murderous robots”. Yet Kelley, the more expert Rorschacher, had found nothing particularly out of the ordinary – simply the banality of evil.
No test can get around the complexity of how different people see the world, and that complexity will always generate controversies. One can only wonder what Rorschach himself would have made of it all.
This article appeared in print under the headline “How you see it, how you don’t”




quinta-feira, 15 de maio de 2014

Rorschach - Críticas e controvérsias (série)

A história do polêmico teste psicológico Rorschach (atualizado)

https://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/bbc/2012/07/25/a-historia-do-polemico-teste-psicologico-rorschach.htm

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Críticas e controvérsias (wikipedia)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Teste_de_Rorschach

Até o desenvolvimento do sistema de Exner, a falta de padronização do teste de Rorschach foi o principal alvo de críticas ao teste. Exner, com seu sistema abrangente, ofereceu ao mundo científico um sistema que, ao menos em teoria, correspondia aos padrões psicométricos: validade (ou seja, o teste mede o que deve medir), confiabilidade ou fiabilidade (ou seja, o teste é exato na medição) e objetividade (ou seja, diferentes pessoas chegam ao mesmo resultado). O sistema de Exner foi validado e normatizado em populações de diferentes países, inclusive Portugal e Brasil21 22 . Segundo Pasian (2002), o Rorschach já foi testado em diversos estudos normativos no Brasil e está validado nesse país pelo Conselho Federal de Psicologia como eficaz.
Apesar do grande desenvolvimento que o sistema de Exner representou para o Rorschach, seu uso ainda está longe de ser aceito por todos os pesquisadores. Os pesquisadores Scott O. Lilienfeld, James M. Wood, Howard N. Garb e seus colaboradores apontam uma série de problemas ligados tanto ao teste quanto à sua utilização. Em um artigo na revista Scientific American os autores apontam que a aplicação do teste não permite identificar a maior parte dos transtornos mentais tais como definidos nos sistemas atuais de classificação (CID-10 e DSM-IV)1 . Em outro artigo23 os autores contra-indicam expressamente o uso do teste como método diagnóstico de diagnósticos psiquiátricos e em contexto forense, além de fazerem recomendações para a melhoria da qualidade dos estudos científicos sobre o teste. Apesar da forte crítica quanto a seu uso em diagnóstico clínico, os autores não desvalorizam o teste totalmente. Eles reconhecem o valor do teste em diversas áreas de pesquisa bem como sugerem seu uso como complementação no diagnóstico da esquizofrenia e de desordens no pensamento. Um outro uso legítimo do teste seria como método exploratório e heurístico em certos tipos de psicoterapia24 .
Uma outra controvérsia ligada ao teste diz respeito à divulgação principalmente das imagens das pranchas, mas também de toda e qualquer informação ligada à forma de realização e interpretação do teste. Para muitos psicólogos, o conhecimento dessas informações por parte da pessoa testada fere a confiabilidade do teste. Apesar de problemas ligados aos direitos autorais já existirem há alguns anos, uma vez que os direitos autorais venceram na maior parte dos países 70 anos após a morte do autor, a controvérsia tomou uma nova dimensão em 2009, quando as pranchas e dados ligados às respostas mais correntes em diferentes países foram publicadas no artigo em inglês da Wikipédia25 . As discussões ligadas a esse caso levaram à publicação das pranchas em outros meios de comunicação, como os jornais The Guardian e The Globe and Mail26 .

Testes projetivos: evidências muitos fracas


Acabo de saber que morreu Scott Lilienfeld. Scott era um dos melhores críticos que conheço das bobagens que passam por psicoterapia.
Na minha época de estudante de psicologia na PUC-RS, haviam várias cadeiras sobre os chamados testes projetivos. Sabe aquele clássico Rorschach? Pois é, mas esse é só um dos tantos que existem. Outros exemplos são o TAT e o desenho da figura humana. O nome “projetivo” vem da premissa de que a personalidade se expressa—projeta—nesses desenhos. Não preciso dizer que essa é uma suposição bastante forte que precisa de evidências igualmente fortes para se sustentar. Nessa meta-análise (tipo de estudo com grau mais alto de confiabilidade científica) de 2000 [https://journals.sagepub.com/doi/10.1111/1529-1006.002] Scott mostra que a evidência disso é muito fraca, pelo menos nesses três testes que citei acima. De fato, me surpreende que ele ainda conseguiu encontrar alguma. Apesar disso, esses testes são usados rotineiramente pra decidir quem pode ou não portar armas, que crianças precisam ou não de terapia, que criminoso precisa ou não ser internado em hospital psiquiátrico, etc.
E esse monte de psicoterapia que existe por aí? Psicanálise, terapia cognitivo-comportamental, humanista, psicodrama, EMDR, etc. A maioria delas, senão todas, são mais prováveis de convencer o terapeuta e paciente de que funcionam do que de funcionar de verdade. Nesse paper de 2014 [https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1745691614535216] Scott mostra as tantas razões espúrias que levam psicoterapeutas a enganar-se e acreditar na eficácia de suas técnicas.
A página da wikipedia sobre ele é uma boa introdução ao seu trabalho, que vai muito além desses dois papers que citei.

-André


"Os recursos metodológicos projetivos a que nos referimos não correspondem às técnicas projetivas tradicionalmente empregadas pela psicologia formal ou pelas inferências psicanalíticas pouco afeiçoadas às pautas existencialistas. Há nessas correntes uma necessidade constante de apelar a verdadeiros clichês interpretativos, o que é totalmente incompatível com uma visão sociofenomenológica e construcionista da realidade humana, como entendem as bases filosóficas e epistemológicas da etnopesquisa. A projeção aqui é abordada a partir das próprias temáticas que emergem da situação analisada e se esforça para que o significado apreendido venha à tona impregnado das experiências indexalizadas da cultura e das das problemáticas de vida experienciada pelo atores. Busca-se, em última instância, um pattern social no âmago das projeções, isto é, em meio a uma gama plural de dados projetados, procura-se um conjunto de significados importantes para a pesquisa, que emerge do corpus analisado. Paralelamente a esse trabalho hermenêutico diante do tácito, do subjacente, trabalha-se a compreensão das contradições, dos paradoxos, das insuficiências, das incompletudes, etc.
Como objetos de projeção, podem ser utilizados desenhos dos atores interpretados por eles próprios, opiniões sobre uma obra de arte representativa de uma problemática local, sobre uma peça ou performance, uma música, uma oração, um curso, um poema ou qualquer expressão literária; são materiais pertinentes para o etnopesquisador, interessado que é na densidade simbólica da vida"

"No caso do recurso à técnica projetiva, uma aproximação com a psicologia e com a psicolinguística seria recomendável, ou mesmo a incorporação de pesquisadores dessas áreas sensíveis à mediação social dos fenômenos subjetivos. A consequência natural desse processo de articulação tem conduzido a um rompimento com a exclusividade das técnicas de investigação, fazendo com que dialoguem pesquisadores de diferentes áreas das ciências humanas, interessados em criar dispositivos de pesquisa cada vez mais pertinentes em relação à complexidade das realidades humanas."

Etnopesquisa crítica Etnopesquisa-Formação


"Em Psicologia tais critérios são comumente formulados em termos de testes (de inteligência, estabilidade emocional, habilidade matemática etc). Em linhas gerais, o procedimento operacional consiste em administrar o teste de acordo com especificações; o resultado são as respostas das pessoas submetidas ao teste, ou, em regra, uma avaliação qualitativa dessas respostas, obtida de modo mais ou menos objetivo e mais ou menos preciso. No teste de Rorschach, por exemplo, essa avaliação se apóia mais na competência para julgar, gradualmente adquirida pelo intérprete, e menos em critérios explícitos e precisos que a avaliação do teste de Stanford-Binet para a inteligência; o de Rorschach é, por isso, menos satisfatório que o de Stanford-Binet do ponto de vista operacionista. Algumas das principais objeções que foram levantadas contra a especulação psicanalítica são concernentes à falta de adequados critérios de aplicação para os termos psicanalíticos e às concomitantes dificuldades para tirar das hipóteses, em que figuram, alguma implicação verificável e inequívoca."

Do livro Filosofia da ciência natural (p. 116). Do filósofo Carl Hempel