Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)

Essa avalanche de informações e conhecimento relacionada à saúde e despejada todos os dias sobre os indivíduos sem a menor cerimônia varia muito em termos de objetividade e credibilidade. Porém, é preciso admitir que ela consegue atrair cada vez mais a atenção pública para assuntos de saúde - e muda o relacionamento tradicional entre médicos e pacientes, encorajando os últimos a exercer uma atitude mais participativa na relação. Ironicamente, enquanto os pacientes conquistam mais acesso às informações sobre saúde, os médicos têm cada vez menos tempo para estudar as últimas descobertas científicas ou para ler publicações da área - on-line ou não -, e mesmo para se comunicar adequadamente com especialistas de áreas relevantes e/ou com os próprios pacientes. Além disso, enquanto os médicos precisam dominar conhecimentos sobre as diferentes condições de saúde de um grande número de pacientes cujos rostos eles mal conseguem lembrar, um paciente instruído, com acesso à internet, pode, na verdade, ter lido uma pesquisa mais recente do que o médico sobre sua doença específica. Os pacientes chegam ao consultório com paginas impressas contendo o material que pesquisaram na internet, fotocópias de artigos da Physician's Desk Reference, ou recorte de outras revistas e anuários médicos. Eles fazem perguntas e não ficam mais reverenciando a figura do médico, com seu imaculado avental branco. Aqui as mudanças no relacionamento com os fundamentos profundos do tempo e conhecimento alteraram completamente a realidade médica. Livro: Riqueza Revolucionária - O significado da riqueza no futuro

Aviso!

Aviso! A maioria das drogas psiquiátricas pode causar reações de abstinência, incluindo reações emocionais e físicas com risco de vida. Portanto, não é apenas perigoso iniciar drogas psiquiátricas, também pode ser perigoso pará-las. Retirada de drogas psiquiátricas deve ser feita cuidadosamente sob supervisão clínica experiente. [Se possível] Os métodos para retirar-se com segurança das drogas psiquiátricas são discutidos no livro do Dr. Breggin: A abstinência de drogas psiquiátricas: um guia para prescritores, terapeutas, pacientes e suas famílias. Observação: Esse site pode aumentar bastante as chances do seu psiquiatra biológico piorar o seu prognóstico, sua família recorrer a internação psiquiátrica e serem prescritas injeções de depósito (duração maior). É mais indicado descontinuar drogas psicoativas com apoio da família e psiquiatra biológico ou pelo menos consentir a ingestão de cápsulas para não aumentar o custo do tratamento desnecessariamente. Observação 2: Esse blogue pode alimentar esperanças de que os familiares ou psiquiatras biológicos podem mudar e começar a ouvir os pacientes e se relacionarem de igual para igual e racionalmente. A mudança de familiares e psiquiatras biológicos é uma tarefa ingrata e provavelmente impossível. https://breggin.com/the-reform-work-of-peter-gotzsche-md/

quarta-feira, 24 de abril de 2024

A refutação do desequilíbrio químico é suficiente?

Refutar as hipóteses de desequilíbrio químico é suficiente, uma vez que o efeito externo sobre o comportamento é percebido como concreto e tranquilizador para observadores, e drogas psiquiátricas também são úteis para alterar comportamentos de interesse em interação com programas de reforço de acordo com exigências ambientais (contingências de reforçamento)? Será que as drogas psiquiátricas não são utilizáveis de forma positiva de acordo com uma base de conhecimentos mais objetiva que a utilizada atualmente? Será que a base de conhecimentos atual (um mosaico) que indica tratamentos padrão de acordo com diagnósticos genéricos não é parcialmente responsável pelos efeitos indesejados e inesperados? Uma vez conhecidos os efeitos de cada intervenção a partir de conhecimento experimental, estariam sendo produzidos efeitos indesejados e inesperados? A perspectiva crítica seria capaz de se tornar mainstream apenas recusando tratamentos biológicos e propondo tratamentos com base em conhecimento apenas social, tomando como ponto partida que as alegações da psiquiatria biológica tradicional sobre a doença mental são imprecisas e questionáveis?

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Neurotransmissores e comportamento

A questão dos neurotransmissores como causa de emoções e comportamentos não é tão simples como se pensa porque administrar um deles não os gera necessariamente já que os neurotransmissores são componentes e atuam em conjunto. A alteração do corpo que influencia o comportamento é real e isso é convincente, mas isso acontece em interação com o histórico de relações aprendidas estabelecidas com o ambiente e a alteração de relações atuais no ambiente. Nessa perspectiva, você não prescreve drogas pra alterar um cérebro alterado fechado em si mesmo mas para alterar relações estabelecidas com o ambiente (comportamentos).

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Ser produtivo e perspectivas ideológicas

Definir o que é produtivo é influenciado por perspectivas ideológicas

Alta psiquiátrica, eugenia e trabalho

A questão da alta psiquiátrica que é inexistente no pensamento psiquiátrico para situações mais desafiadoras utiliza o critério de prova de adequação aos princípios da eugenia através do trabalho (alegação de erro no diagnóstico).

terça-feira, 16 de abril de 2024

Usuários de drogas nas ruas e farmacologia comportamental

"Sem dúvida, existem múltiplos caminhos para a dependência de drogas. Um dos quais estou seguro de que existe é o seguinte. Considere um homem empobrecido e sem-teto vivendo nas ruas de qualquer centro urbano no mundo. Suponha que ele não seja um usuário de drogas. À medida que o tempo passa, seu desespero aumenta. Ele não tem comida suficiente nem mesmo água. Ele não tem condições de cuidar de suas necessidades pessoais. Sua saúde começa a se deteriorar. Ele é espancado e roubado de suas escassas posses com regularidade previsível. Ele vive em um ambiente que oferece pouco em termos de reforço. Seu horizonte de tempo é severamente reduzido. Ele não planeja para o futuro; apenas tenta sobreviver ao dia, ou momento. Ele vive em um ambiente que tem poucas, se houver, fontes alternativas de reforço. Se ele for introduzido às drogas, acredito que é quase certo que ele se torne dependente delas. Quando ele coloca uma agulha no braço e injeta heroína, será uma fonte de reforço extremamente poderosa que ele pode acessar. Poder-se-ia até sugerir que, sob as circunstâncias descritas, é compreensível do ponto de vista evolutivo por que alguém se envolveria em comportamentos de abuso de drogas. A droga fornece uma fonte confiável de reforço em um ambiente com pouca ou nenhuma chance de obter outras fontes de reforço.

A solução social óbvia para esse dilema seria para agentes externos fornecerem ao homem estabilidade, fornecendo-lhe as necessidades básicas da vida e oportunidades para se afastar do ambiente caótico. Se esse esforço for bem-sucedido, as fontes alternativas de reforço aumentarão em seu ambiente e a eficácia de reforço da droga diminuirá. Este é um dos métodos usados por agências de serviços sociais em grande parte do mundo com algum sucesso (por exemplo, Thompson, Sowell & Roll, 2009). Infelizmente, essas agências muitas vezes são subfinanciadas e incapazes de alcançar muitos daqueles que mais precisam de seus serviços. No entanto, dados epidemiológicos apoiam a ideia de que, se pudermos impedir que indivíduos entrem no caos do nosso homem hipotético, podemos evitar que eles se envolvam em um estilo de vida caracterizado pela dependência (por exemplo, Chilcoat & Johanson, 1998). Como mencionado anteriormente, este é apenas um dos muitos caminhos potenciais para a dependência de drogas. Pessoas que vivem em ambientes ricos em reforço potencial ainda podem desenvolver dependências. No entanto, só porque seu ambiente tem reforço disponível não garante que você terá as habilidades necessárias para acessar os reforços. O que foi mencionado acima é destinado a ser ilustrativo de um caminho para a dependência e o papel que o reforço desempenha nesse caminho. Acredito que seja um caminho comum, mas claramente não é o único caminho." 

John M. Roll - Behavioral Pharmacology.A Brief Overview. Do livro "The Wiley Blackwell Handbook of Operant and Classical Conditioning" Edited by Frances K. McSweeney and Eric S. Murphy

Ciência e política

CIÊNCIA, UNIVERSIDADE E IDEOLOGA: a política do conhecimento Simon Schwartzman

Um dos supostos mais difundidos no século XIX era o de que, graças à ciência, a humanidade poderia livrar-se da política. A ciência era considera- da o domínio da lógica e da razão, enquanto a política era a órbita da emoção e da paixão. [...] Na realidade, a ciência não eliminou, nem sequer reduziu a presença da política na vida social. Mas eliminou sua base de legitimidade, fazendo-a ser desdenhada como desprezível, irracional e indigna. Afastada a política do caminho, está aberta a via pela qual a ciência e a tecnologia podem transformar-se em tecnocracia. Podemos compreender melhor esse processo se olharmos mais de perto cada um dos meios pelos quais a ciência supostamente faria desaparecer a política.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Comportamento: fenômeno restrito versus abrangente

Noção de senso comum: Cérebro, mente, linguagem, sociedade e cultura são fenômenos abrangentes e comportamento é um fenômeno restrito. 

Logo, compreender a extensão da expressão "radical" na explicação abrangente dos fenômenos psicológicos a partir do behaviorismo radical é difícil.

A análise do comportamento têm reconhecimento social amplo em aplicações para dificuldades específicas e delimitadas como o transtorno do espectro autista ou desafios práticos. Como o comportamento é entendido no senso comum como fenômeno restrito, sua ampliação para a área dos conceitos entendidos como abrangentes (Cérebro, mente, linguagem, sociedade e cultura) é percebida como um reducionismo inapropriado.

sábado, 13 de abril de 2024

O desmame de neurolépticos e processos comportamentais

A partir de uma noção de processos comportamentais operantes em associação com processos fisiológicos do desmame de neurolépticos, é questionável se simplesmente amenizar o processo compensatório com uma retirada lenta e gradual de forma hiperbólica é suficiente para aumentar a recuperação funcional.

Os neurolépticos atuam estabelecendo extinção geral de comportamentos operantes através da interferência no processo fisiológico do reforço. Por isso, é razoável pensar que os comportamentos avaliados pelo meio como inapropriados precisem passar por um processo de extinção gradual que é o processo inicial de adaptação com a introdução e manutenção da droga.

Na redução ou retirada dos neurolépticos ocorre um processo fisiológico de compensação relacionado com o aumento da dopamina num cérebro adaptado para o uso da droga com o aumento de receptores de dopamina. Como a psiquiatria crítica não tem proximidade com a área de comportamento operante não percebe que a partir desse processo fisiológico há uma retomada de repertório comportamental previamente sob esquema de extinção (enfraquecimento e eliminação de comportamentos operantes) que se reflete em um aumento de atividade operante. Acontece que simplesmente reduzir a dose ou fazer desmame por mais que se desenvolva um processo de amenização da adaptação fisiológica não é necessariamente um fator protetor por si só mesmo que os efeitos prejudiciais que preocupam os profissionais e pacientes diminuam. Esse processo é antes um desafio maior de estabelecer repertório comportamental operante solidamente estabelecido em negociação com os desafios do meio e novidades do processo de transição fisiológica, comportamental e social. Por isso, ao invés de retirar a droga de pessoa com prognóstico menos favorável como está sendo pesquisado, o ponto de partida deveria ser estabelecer repertório adaptativo sólido antes, adicionalmente durante o processo de redução e retirada da droga e depois ainda acrescentar um processo de manutenção e consolidação de repertório comportamental operante.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Surto de agressividade

O termo surto é usado para qualquer ato de agressividade e assassinato. As duas coisas são sinônimos na cabeça das pessoas. É um estereótipo no imaginário social. É um linguagem que se usa e que beneficia politicamente a psiquiatria conservadora. Não é necessário supor psicose para atos agressivos e de assassinato. Em outra linguagem teórica são apenas comportamentos aprendidos sem suposições adicionais sobre estados orgânicos. As pessoas não toleram a possibilidade de contribuir para a aprendizagem de atos infames e atribuem tudo a disfunções genéticas ou orgânicas. É quase como um mito moderno e laico da possessão demoníaca.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Estratégias institucionais: aprendizagem limitada

Além das estratégias fisiológicas, as "soluções" institucionais também são formas de resolver situações difíceis sem aprendizagem [operante/comportamental], no modelo asilar ou manicomial de forma exacerbada e no modelo psicossocial ou antimanicomial de forma graduada e variável. Estratégias de aprendizagem operante/comportamental são utilizáveis de forma relativamente desassociável de estratégias institucionais embora essas direcionem em algum grau a forma de intervenção ofertada. O modelo psicossocial ao levar a sério a aprendizagem operante/comportamental potencializaria a resolutividade e qualidade das intervenções e seria menos dependente de contingências institucionais e legais em suas práticas.

terça-feira, 9 de abril de 2024

A formação da percepção de normalidade

Como se formou a percepção das pessoas defensoras de um padrão de normalidade que julga a diversidade e o pluralismo social e político como aberrações patológicas?

À primeira vista pode parecer que esta é uma característica fixa e interna das pessoas normais ou conservadoras. Mas algumas dinâmicas sociais ao longo do século 20 contribuíram para formar essas percepções.

- A não cidadania das pessoas fora do padrão, pessoas incômodas e minorias colocadas em colônias rurais e manicômios (modelo asilar) por toda a vida ao longo do século 20 (antes também) e durando até 2001.

- Campanhas eugenistas e higienistas fortes (exame de saúde para trabalhar, exame pré-nupcial para casar, esterilização de certos grupos sociais indesejados ou pessoas com características indesejadas) até pelo menos os anos 60 no Brasil. Além disso, a influência forte desse pensamento na sociedade em suas diferentes dimensões de impacto.

- A força do poder religioso ao longo do século 20.

- A seleção de pessoas pelo mercado e economia de pessoas que seguem certos requisitos e exigências de padronização.

- A presença reduzida de minorias sociais e de pluralismo social nos espaços influentes durante as ditaduras do século 20 no Brasil e posteriormente a força social, política e econômica reduzida desses grupos.

- O uso de práticas coercitivas e punição na educação escolar e na criação de filhos e que foi progressivamente perdendo legitimidade ao longo do século 20.

domingo, 7 de abril de 2024

O conceito de "real" e a filosofia

O termo "real" utilizado pelas ciências psi é problema filosófico sobre ontologia. A filosofia analítica que tem como partida a análise da linguagem também tratou desse termo. No texto ' O significado de "real" ' de G.E. Moore na coleção Os pensadores, um dos iniciadores da filosofia analítica visa decompor o conceito de "real". A continuação do tema está no artigo "The Conception of Reality" in Proceedings of the Aristotelian Society, 1917-18." (periódico) ou no livro Philosophical Studies de G. E. Moore.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Estabilidade como negação da vida

Por vezes, a imposição da estabilidade retira o resto de vida que o paciente psiquiátrico tinha e isso é potencialmente fatal. A noção de estabilidade implica em negação da vida, isto é, ter um vida com acontecimentos e emoções.

Um dos fundamentos desse termo é a equiparação do estado orgânico "disfuncional" com um estado semelhante ao "estado orgânico normal" na medicina física. A analogia da medicina mental com a medicina física implica em certas distorções.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Crítica aos manicômios antigos e diagnósticos

A crítica aos manicômios se utiliza de uma vantagem histórica alcançada em termos de poder político de grupos minoritários. Em épocas passadas os manicômios atuavam coerentemente de acordo com um pensamento eugenista aplicado a certas características. Às vezes é feita a crítica de que os diagnósticos não estavam certos. Os diagnósticos não estavam certos do ponto de vista contemporâneo. Do ponto de vista antigo, o preconceito do pensamento eugenista aplicado a pessoas justificava os diagnósticos e o confinamento vitalício.

quarta-feira, 20 de março de 2024

[UOL] Pagamentos para médicos

https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2024/03/20/viagens-e-presentes-os-milhoes-que-a-industria-da-saude-paga-aos-medicos.htm

Reducionismo e comportamento

O filósofo da ciência Hempel afirma que o behaviorismo é reducionista por realizar uma transformação ou modificação artificial de fenômenos em outro formato ou de outra natureza para uma formulação em comportamento operante.

A definição e crítica ao mentalismo de Skinner, no entanto, é um reconhecimento do potencial produtivo do fenômeno do comportamento operante se respeitadas as suas características. Problemas de difícil solução ou soluções insuficientes e parciais são "equacionáveis" dentro de uma formulação como comportamento operante, o que aumenta a visibilidade sobre as aprendizagens ocorridas e amplia possibilidades de aprendizagem. Infelizmente, a formulação operante está fora da imaginação e repertório das pessoas ao se deparar com problemas e demandas e por isso a demanda no mercado é limitada em relação ao potencial que a formulação operante tem.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Saúde mental e comportamento: programas de pesquisa

Conversação possível e interessante

Como indica a citação abaixo, a conversação entre programas de pesquisa de tipo domínio ou problema (saúde mental) com programas de pesquisa do tipo teórico (análise experimental do comportamento) seria possível e interessante. Um dos motivos para o fato de as duas áreas não terem respeito mútuo são os tipos de programas de pesquisa que adotam.

“2.3.3.3 Diferenciação de Programas de Pesquisa de Herrmann

Inspirado nas reflexões apresentadas por Imre Lakatos ou Thomas Kuhn, Theo Herrmann descreveu programas de pesquisa de domínio (também chamados de “programas Tipo A” ou “programas problema”), por um lado, e programas de pesquisa quase-paradigmáticos (ou também chamados de “programas Tipo A” ou “programas problema”). Programas B” ou “programas teóricos”), por outro (Herrmann, 1976, 1994). Os programas de investigação de domínio são dedicados a campos problemáticos concretos (ver a área amarela na Figura 6). Estes campos problemáticos podem ser abordados por diferentes teorias, modelos e abordagens de resolução de problemas (“domínios de investigação”, Overton, 2006). A longo prazo, a competição contínua entre estas diferentes abordagens serve para identificar a “melhor” solução para um determinado campo problemático. Idealmente, estas soluções podem ser transformadas em recomendações, permitindo aos investigadores colmatar a lacuna entre os conhecimentos científicos e as ações práticas.

Em contraste, os programas de investigação quase-paradigmáticos têm a sua origem em ideias teóricas concretas. Essas elaborações teóricas normalmente têm validade mais ampla. Contudo, devido ao maior nível de abstração, os pesquisadores envolvidos em tais programas geralmente procuram oportunidades tangíveis de aplicação. No decurso de diferentes projetos, o investigador quase-paradigmático explora sucessivamente a utilidade da sua abordagem em diferentes populações, situações e contextos (ver a área azul na Figura 6). A acumulação de evidências, no entanto, também pode forçar o investigador a limitar o âmbito de aplicação ou a rever alguns “supostos secundários” (Herrmann, 1994, p. 263) da teoria ou modelo.

Para Theo Hermann, a diferenciação dicotômica em programas de pesquisa de domínio e quase-paradigmáticos tem um caráter descritivo e isento de julgamentos de valor, o que significa que ele não defendeu uma preferência fundamental por nenhuma das duas estratégias. Em contraste, enormes conhecimentos poderiam ser combinados se os investigadores que seguem estratégias opostas se encontrassem nas suas “encruzilhadas” correspondentes (ver a área verde na Figura 6) – por exemplo, se um teórico da abordagem do processo de ação em saúde (investigador quase-paradigmático ) pretendia cooperar com um especialista em atividade física na esclerose múltipla (investigador do domínio). No entanto, as oportunidades crescentes de financiamento de terceiros no HEPA (Rütten, 2017; Woll, 2019) melhoraram as condições da investigação do domínio porque a aquisição de recursos financeiros externos muitas vezes anda de mãos dadas com o objectivo de contribuir para a solução de problemas concretos e práticos. A direção correspondente seguida nestes projetos de investigação pode impedir que cientistas juniores (por exemplo, estudantes de doutoramento) estabeleçam estratégias de investigação abrangentes à população e ao contexto e apliquem uma abordagem teórica constante em diferentes projetos. Além disso, a prossecução de um programa de investigação quaseparadigmático depende de diversas condições a nível teórico e organizacional.”

Referência

Carl, Johannes. (2021). Physical Activity-Related Health Competence: From the Development of a Multidimensional Assessment Instrument to Population-Specific Model Results.

quarta-feira, 6 de março de 2024

Replicação dias 21 a 30 - Invega Sustenna e VFC

Instabilidade autonômica?

No primeiro estudo de mensuração da média da variabilidade da frequência cardíaca sob efeito de Invega Sustenna com duração de 30 dias os últimas dias indicaram instabilidade do sistema nervoso autônomo nos últimos 30 dias do mês. Fatores de confusão foram um evento altamente estressor ao longo do mês e a dúvida sobre a fidedignidade da medidas incompletas (consistência entre medidas).

Esse resultado de instabilidade autonômica não foi replicado. O resultado foi de redução gradual do efeito (média de 3 a 6 mensurações por dia). Esse resultado de um padrão consistente ao longo dos dias indica fidedignidade das medidas ao longo dos dias. A inferência teórica sobre a insuficiência de dose e predição de aparecimento de sintomas durante o período final de metabolização do neuroléptico Socian se mantém para Invega Sustenna. A amplitude de variação das médias diárias foi de 2 a 3 vezes entre sessões e a variação de RMSSD dentro das sessões foi alta, levando à suspeita de liberação irregular de doses em momentos micro e padrões de medidas não encobertas por médias e estatísticas, dado que o resto das variáveis independentes estavam relativamente constantes em repouso e com uma rotina de controle variáveis semelhante à descrita no primeiro estudo (variável controlada). O resultado de RMSSD reduzido (18) antes da aplicação da injeção pode indicar um efeito emocional condicionado antecipado.

Resultados

Replicação Variabilidade da frequência cardíaca e Invega Sustenna no fim do mês (21 a 30): instabilidade autonômica?

Conclusão: hipótese não replicada

Fevereiro de 2024

Sem parênteses = 5 ou 6 medições no dia

Dia      RMSSD

dia 21: 20,16

dia 22: 19,8

dia 23: 26,25

dia 24: 32,2

dia 25: 33,8

dia 26: 27,8

dia 27: 34,25 (4)

dia 28: 42,66 (3)

dia 29: 38 (3)

dia 30: 34.8

dia 31: Antes de aplicação: 18

Quem quiser receber uma anotação com descrição dos efeitos observados sobre o corpo no início e final do mês para fins de discriminação de efeitos e comparação me envie um e-mail para crisedapsiquiatria.qma56@simplelogin.com

segunda-feira, 4 de março de 2024

Virando a página por desinteresse social

Pensando em virar a página do projeto do blogue por desinteresse da sociedade na intersecção entre áreas com a saúde mental. Menos mal que o conteúdo acumulado contribui para o senso crítico sobre caminhos a seguir. Atividades com poucos incentivos me atraiam em certa medida. Atividades mais específicas que tem alguma perspectiva de fim e ao menos alguma possibilidade de incentivos agora me atraem mais. O blog agora receberá menos esforço. Textos a partir do blog também tem baixo interesse então também penso em reduzir o esforço. Por motivos que já não são tão misteriosos, nossa cultura privilegia meios fisiológicos de intervenção sobre o comportamento e produtividade que prescindem de aprendizagem e portanto não tem barreiras de acesso ao entendimento. É um caminho legítimo também e aparentemente não importa tanto que hajam alternativas.

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Psicologia cognitiva e indústria farmacêutica

Os estudos de validação da eficácia psicologia cognitiva, que são muitos e usados como prova de que é a melhor evidência que existe, são financiados pela indústria farmacêutica. Então tem algo na psicologia cognitiva que agrada os interesses da indústria farmacêutica como, por exemplo, o "pensar correto", a complementariedade e o apoio às concepções biomédicas.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Teorias idiográficas da etiologia e da terapia

As hipóteses de nível H referem-se de forma específica às descrições do comportamento do cliente e do terapeuta e da interação cliente-terapeuta que se encontram no nível D (dados); [...] As relações entre o nível H e o nível D devem ser determinadas de forma diferente para as teorias idiográficas da etiologia e para as teorias idiográficas da terapia.

As teorias etiológicas idiográficas centram-se principalmente no comportamento do cliente. Se fizermos uma diferenciação mais profunda, o foco pode estar no contexto em que o comportamento problemático do cliente surge ou nas circunstâncias que o mantêm. Estes dois aspectos das teorias etiológicas idiográficas são relevantes para a terapia em diferentes graus. Por conseguinte, é-lhes atribuído um peso diferente consoante o quadro teórico escolhido para a terapia. As teorias etiológicas da terapia, que se centram nas condições que mantêm o comportamento problemático do cliente, têm geralmente como objetivo diagnosticar esse comportamento e, eventualmente, prever comportamentos futuros; as teorias idiográficas etiológicas, por outro lado, que colocam a tônica no contexto de origem, preocupam-se sobretudo com explicações genéticas e, eventualmente, com retroprognósticos de acontecimentos passados. O diagnóstico, a explicação, o prognóstico e o retroprognóstico são formas de sistematização em que se podem identificar regularmente três componentes distinguíveis: pressupostos teóricos, condições de fronteira, explanandum (descrição do acontecimento a diagnosticar, a explicar, a prever ou a retroprognosticar). No nosso caso, os pressupostos teóricos foram geralmente retirados da teoria idiográfica etiológica, as condições de fronteira do comportamento passado, atual ou futuro do cliente, e o explanandum da descrição do ambiente e das interações entre o cliente e o seu ambiente (geralmente social). Algumas diferenças pragmáticas entre as formas de sistematização são ilustradas no Quadro I.

Dependendo da forma como se determina a relação entre os três componentes desta sistematização, resultam diferentes modelos de diagnóstico, prognóstico e retrognóstico.

Referência:

Livro de H. Westmeyer e N. Hoffmann - Verhaltenstherapie Grundlegende Texte

Tradução: Terapia comportamental - Textos básicos

Traduzida: Capítulo 7 O que é que se deve fazer? Métodos de observação em diagnósticos comportamentais
Hans Westmeyer e Marianne Manns (p.248)

Original: 7. Was ist zu tun? Beobachtungsverfahren in der Verhaltensdiagnostik Hans Westmeyer und Marianne Manns 248

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Estabilidade como sucesso terapêutico

Definir sucesso terapêutico como estabilidade tem boas chances de ter origem na psicofarmacologia já que é o mesmo que afirmar que é preciso manter estados orgânicos constantes ou doses constantes de drogas psiquiátricas. Em linguagem experimental isso se chama condição controle e significa manter um valor de variável igual ou constante e que você está suprimindo estados de transição e permitindo observar fatores adicionais introduzidos ou retirados. Dessa forma, a necessidade do tratamento psiquiátrico para a maioria dos casos é justificada pois a preocupação com o orgânico estará nessa perspectiva resolvida.  Ao definir sucesso terapêutico como estabilidade, a implicação é que é preciso manter a droga psiquiátrica por toda a vida e que o término do tratamento é indesejável ou impossível.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Estimulantes para TDAH e esquemas de reforço

Na forma de dosagem de liberação pulsátil de estimulantes para Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), que é como funcionam os estimulantes para TDAH segundo um curso de desenvolvimento de fármacos, são gerados picos de estímulos de dopamina no período de algumas horas por pulso. Isso é o equivalente farmacológico e orgânico do processo comportamental de esquemas/programas de reforçamento intermitentes que apresentam consequências ambientais de reforço positivo intercalado para produzir persistência. O que é uma forma de manter comportamento com baixo reforçamento. O efeito paradoxal de supressão de frequência de comportamentos provavelmente é baseado nesse mecanismo de liberação pulsátil que mantém comportamentos com baixo reforçamento e que é basicamente o tipo de demanda ambiental das atividades escolares e ocupacionais.

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Experimentação e industrialização da saúde

Há uma certa dificuldade de integrar conhecimento experimental com a industrialização em escala da saúde. Na farmacologia os estudos de covariância (estatística) com dados empíricos com baixas suposições geram mais erros de interpretação de resultados. Os modelos experimentais com altas suposições e discussão aberta das mesmas ajudam a interpretar dados acumulados e criar simulações que são mais eficientes e custo-efetivos.

Dificuldade análoga é encontrada na psicologia. O modelo de pacotes e manuais é facilmente industrializável em escala. O conhecimento experimental exige treinamento mais complexo que é desafiador implementar em larga escala e também adaptar ao modelo de evidências baseado em estatísticas (pirâmide de evidências). 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Sistemas de saúde baseados em pacotes

A medicina baseada em evidências e a psicologia baseada em evidências são áreas atuariais que fazem parte de uma mudança nos sistemas de saúde que priorizam modelos de rotas definidas de cuidado, isto é, sistemas de saúde baseados em pacotes de tratamento. Pacotes de tratamento são criados para serem adaptações aos interesses dos principais pagadores nos sistemas de saúde que são os governos e seguradoras (planos de saúde). O modelo de pacotes também é uma adaptação à mudança de modelo de negócios do complexo industrial da saúde que começou a priorizar pacotes de tratamento ao invés de apenas produtos. O interesse desses pagadores é a previsibilidade de gastos e redução de custos. Os pacientes são assegurados de que tratamentos validados conforme o critérios de previsibilidade de gastos e redução de custos dos pagadores são a melhor evidência científica existente ou disponível. No entanto, existem evidências de qualidade que não são consideradas por não se ajustarem a esse modelo de negócios, que não são anticientíficos e que podem ser melhores que as rotas definidas de cuidado baseadas em pacotes de tratamento através da individualização ou personalização da atenção à saúde também baseada em evidências de qualidade e compatíveis com o conceito de protocolo pelo respeito aos procedimentos fundamentados em evidências, apesar de diferirem do modelo de validação atuarial dos tratamentos inspirados pelo modelo de negócios acima mencionado. Um desses modelos alternativos de evidências que têm alto rigor científico é o conhecimento experimental. Nada impede a princípio que outros modelos de evidências também entreguem resultados eficazes.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Perda de fé na proposta do blogue: motivos

Motivos para eu não acreditar mais na proposta do blogue Crise da Psiquiatria:

- Questionar o tratamento médico não é uma opção viável
- Compreender sistemas sociais relacionados ao sistema de saúde mental só é útil quando é viável se distanciar desses sistemas
- Quero aproveitar o potencial tecnológico derivado do conhecimento biológico
- A atitude integrativa é ampla e trabalhosa demais, levando a estudos e desdobramentos intermináveis
- A atitude conciliatória é mais viável economicamente e não é controversa ou polêmica
- A influência de grandes tendências sociais é possibilitada pela viabilidade econômica para os participantes na rede
- Além de ser custoso  demais em termos de tempo e esforço para o paciente e profissional desafiar o tratamento convencional, geralmente não obtém resultados sem cooperação das pessoas responsáveis pelas decisões

Adicionais:
- A maioria dos acessos ao blogue agora é do exterior e o Brasil tem baixo acesso
- A organização social está estabelecida tendo em vista que problemas de saúde mental são considerados incapacitantes e incuráveis. Uma pessoa que conseguir adaptar seu repertório não terá o reconhecimento social desse fato e continuará sendo pressionada e obrigada a fazer o tratamento como pessoa crônica.
- A leitura que as pessoas fazem é seletiva e por isso conteúdo diferente não suscita interesse.

Obs: Por inércia e facilidades de conhecimento acumulado novas postagens ainda podem ser feitas.


Diagnósticos como demarcação

É interessante pensar nos constructos ou diagnósticos psiquiátricos como a definição de um conjunto sistêmico de domínios de fatos biológicos, comportamentais, sociais, econômicos, históricos, culturais, políticos, jurídicos, estéticos, de gênero, etc. Cada domínio de fatos tem características próprias que devem ser entendidas como sistemas e possivelmente de forma superveniente (definir melhor superveniência: um conceito que expressa relação de interdependência entre conjuntos. que não é redutível a fatos específicos e que é um fenômeno em nível emergente). O reconhecimento de que as ciências naturais participam na produção de realidades é um dos possíveis elementos na análise desses sistemas. Em outras palavras: diagnóstico é demarcação.



sábado, 10 de fevereiro de 2024

As pesquisas biológicas e a complexidade da esquizofrenia

As pesquisas biológicas e a complexidade agrupada sob a categoria esquizofrenia

Os pesquisadores biológicos da esquizofrenia costumam dizer que essa é uma doença sem cura porque seria muito complexa e seriam necessárias muitas pesquisas a mais quase que indefinidamente. Uma interpretação alternativa seria que a categoria esquizofrenia movimenta muito dinheiro (análogo a uma marca) e que uma variedade de variáveis são agrupadas sob essa categoria que no entanto dificilmente consegue se estabelecer como categoria discreta com perfis típicos de variáveis. A categoria tem o papel de mostrar a relevância social de identificar essas variáveis e manter uma contínua alimentação das pesquisas e da indústria associada.

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Definição geral de procedimentos de observação

"Para esclarecer esta questão, o termo "procedimento de observação", tal como o utilizaremos aqui, deve primeiro ser definido com mais pormenor. Partimos do princípio de que, num processo de observação, se podem distinguir pelo menos quatro componentes:
a) Conjunto de símbolos: dígitos ou números nos procedimentos de avaliação, caracteres nos sistemas de caracteres, nomes de categorias nos sistemas de categorias;
b) Conjunto de regras: Acordos sobre a utilização de símbolos, regras de utilização;
c) Conjunto de instruções: instruções para aprender as regras e o manuseamento dos símbolos de acordo com as condições de utilização; programa de formação;
d) Quantidade de condições: condições de aplicação do processo, informações sobre o domínio de aplicação.

Esta definição já torna claro que um procedimento de observação constitui, de fato, algo como uma linguagem de observação parcial. O conjunto de símbolos contém os sinais básicos descritivos essenciais desta linguagem, o conjunto de regras exprime a forma como esta linguagem deve ser utilizada, o conjunto de instruções sobre a forma como pode ser aprendida ou ensinada, e o conjunto de condições, em que situações a utilização desta linguagem é apropriada. A nova língua é quase sempre ensinada com referência à linguagem coloquial existente. Neste sentido, o fato de nos procedimentos de observação, serem frequentemente utilizados símbolos que também têm um significado na linguagem quotidiana não deve, por exemplo, ser tido em conta nos sistemas de categorias. O fato de, nos procedimentos de observação, serem frequentemente utilizados símbolos que também têm um significado na linguagem corrente não deve obscurecer o fato de os sistemas de categorias, por exemplo, serem símbolos aos quais pode ser atribuído um significado muito específico que difere, em maior ou menor grau, da utilização habitual de símbolos no contexto de um procedimento de observação." (p. 254)

Beobachtungsverfahren in der Verhaltensdiagnostik [Capítulo 7 - Procedimentos de observação em diagnósticos comportamentais]
Hans Westmeyer e Marianne Manns

H. Westmeyer e N. Hoffmann
Livro: Verhaltenstherapie - Grundlegende Texte [Terapia comportamental – textos básicos]

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Fisiologia, adaptação social e processos sociais

Alterar a fisiologia dificilmente é suficiente para prescindir da psicologia e aprendizagem porque a fisiologia de qualquer problema ou sintoma tem endofenótipos múltiplos (componentes) que atuam em partes limitadas (variáveis) dos comportamentos  (sejam apenas mediadores ou origem) e também porque as relações com o mundo que envolvem os comportamentos são algo a mais que apenas fisiologia interna. O que o tratamento biológico realiza é alterar a fisiologia para que a pessoa sob cuidados médicos cumpra demandas ambientais de forma socialmente adaptativa e isso abre espaço para o aspecto social e cultural.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Neurociência substitui a psicologia? (Neil deGrasse)

Neil deGrasse Tyson afirma que a neurociência substituirá a psicologia. Essa afirmação é dita por neurocientistas.

Uma resposta da filosofia, outra área menosprezada pelo divulgador científico Neil deGrasse Tyson. 

Filosofia é comportamento conceitual que está em continuidade com a formação do comportamento conceitual da ciência.

 "5. PROBLEMAS DE PREVISÃO


Encontro-me muito de acordo com o que Nelson tem a dizer sobre a psicologia ser possivelmente um assunto bem diferente da física. Podemos esperar precisar de uma teoria de previsão individual em vez de uma teoria de como a maioria dos organismos funciona na maior parte do tempo da mesma maneira. Não tentarei resumir seus argumentos, mas expor meus próprios pontos de vista de um ponto de vista ligeiramente diferente. A partir da inspeção do hardware do computador, é claramente ridículo pensar que alguém pode prever os tipos de programas de computador que serão escritos para o sistema de computador. É claro que certas declarações muito grosseiras e desinteressantes podem ser feitas, mas declarações que preveem em detalhes os programas reais que serão escritos estão obviamente fora de questão. Em termos científicos comuns, o conhecimento do hardware de forma alguma determina o conhecimento do software. Parece-me que há boas evidências de que a mesma situação é aproximadamente verdadeira para os seres humanos. O conhecimento de como o hardware físico do cérebro funciona não nos dirá necessariamente muito sobre os aspectos psicológicos das atividades humanas, especialmente as mais complexas. Por exemplo, é bom saber que a atividade da linguagem é normalmente centrada no hemisfério esquerdo do cérebro, mas parece bastante evidente que em nenhum futuro previsível a dissecação do hemisfério esquerdo de uma pessoa desconhecida será capaz de identificar a linguagem que ele realmente falou, seja inglês, russo, chinês ou qualquer outra coisa. A localização e identificação de habilidades ou memórias mais específicas por parte de humanos específicos é claramente uma tarefa ainda mais impossível. O software do cérebro [ou o repertório comportamental] não será reduzido ao hardware de nenhuma maneira que pareça viável no momento, e nesse sentido parece-me que pode ser feita uma forte afirmação de que a psicologia não será reduzida à fisiologia e à biologia.

É essa linha de argumentação que torna a psicologia uma ciência tão fundamental quanto a física. Em várias ocasiões, visões errôneas foram sustentadas sobre a redução da psicologia à fisiologia ou, em termos ainda mais ousados, a redução da psicologia à física. Nada, parece-me, está mais longe de ser o caso, e é por causa dessa ausência de qualquer evidência de que qualquer redução possa ocorrer que as teses sobre o behaviorismo permanecem importantes. Conceitos psicológicos, habilidades complexas e, em uma terminologia ainda mais tradicional, eventos mentais que ocorrem pelo menos em outras pessoas e outros animais podem ser conhecidos apenas a partir de evidências comportamentais. Não obteremos essa evidência por exame químico ou físico das células do corpo. Não o obteremos por métodos racionalistas de conhecimento. O behaviorismo como metodologia fundamental da psicologia veio para ficar [...]"

Suppes, P. (1993). From Behaviorism to Neobehaviorism. In: Models and Methods in the Philosophy of Science: Selected Essays. Synthese Library, vol 226. Springer, Dordrecht. https://doi.org/10.1007/978-94-017-2300-8_24

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Leitura sobre vinheta Ouçam Nossas Vozes

 Leitura sobre vinheta Ouçam Nossas Vozes - campanha da Janssen

https://youtu.be/AcHk5uaCfY8?si=CZB-nmLy7YZ1ugOD

A música tem um lado dramático e um lado feliz que representa sonhos.

A música inicia com tons felizes e infantis representando a infância feliz e que provavelmente é direcionado aos pais e familiares.

Depois há um tom dramático representando o neurodesenvolvimento alterado inicial e a fase prodomo.

Há uma virada com piano e iniciam tons com teclado eletrônico com efeitos sonoros representando bizarria e artificialidade de laboratório científico.

Depois há tons abafados que representam o início da administração dos neurolepticos e fim dos tons que representam bizarria.

Na preparação para o final há uma aceleração que pode representar a aceleração comportamental ao parar os neurolepticos. Essa aceleração representa o excesso de dopamina que a psiquiatria biológica afirma ser característica do organismo e a perspectiva crítica afirma ser uma adaptação à droga.

O final é uma superaceleração com tons de final feliz ou triunfo sobre a esquizofrenia e também de música de festa que em interpretação livre pode significar o estilo de vida das pessoas do complexo médico-industrial privado.

sábado, 20 de janeiro de 2024

Gøtzsche, ensaios clínicos randomizados e experimentação

Peter Gøtzsche tem um domínio excelente dos ensaios clínicos randomizados mas nessa metodologia não há tanto rigor no controle de variáveis como há na experimentação sem o uso de estatística pois pacotes ou conjuntos de variáveis são avaliados. Por isso, embora impopular com o público do blogue e da reforma psiquiátrica antimanicomial seria necessário comparar os resultados de Peter Gøtzsche e da psiquiatria crítica com as pesquisas experimentais em farmacologia comportamental, neurociência comportamental, psicobiologia e a área de biocomportamental. É o próximo passo que eu gostaria de tomar caso consiga aprofundar o suficiente nessas áreas.

Uma das tarefas e disputas da reforma psiquiátrica é um diálogo permanente com a área de substratos biológicos ou fisiologia do comportamento ou dos construtos diagnósticos. Considero que o blogue já conseguiu encontrar caminhos para o conhecimento sub-representado em críticas à psiquiatria biológica e a área de reforma psiquiátrica antimanicomial. No entanto, o diálogo com o conhecimento experimental geralmente não é feito por nenhum dos dois lados da disputa e por isso corresponde nessa caracterização ao estado atual de conhecimento sub-representado na área de saúde mental.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Solidão do idoso e problemas físicos e mentais

As relações estatísticas entre isolamento e condições de saúde mental e física não devem ser tratadas como as variáveis independentes e variáveis dependentes do método experimental. Não é porque uma relação é comum que é necessariamente causal por si só. Existem diferentes maneiras de viver só. A estatística é um método sócio-científico e por isso seus resultados descrevem influências de condições sociais.

domingo, 14 de janeiro de 2024

TDAH: excesso de pens., ansiedade e depressão

Releitura de vídeo de Ana Beatriz Barbosa em termos de comportamento. 

1) Excesso de pensamento = frequência mais alta (de atividades também).
2) Depressão = aversividade, falta de "recompensa" ou de reforçamento
3) Ansiedade = efeito de punição / aversividade condicionada
4) A "desatenção" seria não "prestar atenção" na atividade requerida e sim em outras atividades ou eventos para a qual a pessoa está mais motivada. A "desatenção" também significaria que a pessoa não apresenta as respostas ou ações esperadas.

Frequência mais alta, "desatenção" às atividades requeridas e não apresentar as respostas ou ações esperadas incomodam na escola e em casa e levam à medicalização.

Ambos (1 e 4) levam à punição (efeito ansiogênico - 3), aversividade e perda de "recompensa" ou reforçamento (depressão - 2) 

Essa linguagem traduzida poderia indicar o que fazer sem remédios: por meio de aprendizagem (manejo de eventos ambientais). 


terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Top psychiatry professors and industry

 https://twitter.com/taperclinic/status/1742214057870975413

Resenha "Psicanálise e psicomodismos" (Pasternak e Orsi)

Resenha sobre o capítulo "Psicanálise e psicomodismos" no livro "Que bobagem" de Pasternak e Orsi

O capítulo no livro "Que bobagem" de Pasternak e Orsi sobre psicanálise tem tantos compromissos com pressupostos filosóficos e modelos teóricos que o texto pode ser virado do avesso em diferentes direções como em variados posicionamentos filosóficos sobre demarcação de ciência e unidade ou pluralidade dos conceitos de método científico e tipos de ciência, modelos científicos de avaliação de evidência clínica, avaliação crítica das ciências cognitivas e biológicas na área clínica, discussões em filosofia da ciência sobre conceitos e métodos biológicos e sua relação com o social, discussões em filosofia da ciência sobre ciências naturais e humanas/sociais, discussões em filosofia da ciência sobre a subdeterminação das teorias pelos dados e a possibilidade de validade de evidências empíricas independentemente de modelos teóricos prévios, e outros debates.

A reprodução do discurso triunfalista das ciências cognitivas e biológicas que são tratadas como hierarquicamente superiores, ciências legítimas que a partir de suas próprias áreas são relativamente incontroversas e não podem ser questionadas a partir de conhecimento social ou outras formas de conhecimento indica que há um conhecimento superficial da complexidade envolvida nesse debate. O texto tem o mérito de introduzir a discussão sobre evidências clínicas em psicologia para um público amplo, apesar do tratamento do tema apresentar a discussão oferecendo respostas simples para pessoas interessadas em tomar decisões sobre saúde mental sem uma discussão sobre a variedade de controvérsias, assim direcionando e limitando as possibilidades de decisões do leitor.