Um dos motivos pelo qual a psiquiatria é comumente vista como área pró-social é pela equiparação com a medicina física e a percepção social de heroísmo angelical a respeito dos médicos em geral. O contraste de identidades sociais entre psiquiatras, pessoas bem ajustadas e pessoas estigmatizadas e marginalizadas é um fator talvez mais profundo. O prestígio pela sua relação com o externo e o outro (ver Em defesa da Sociedade de Foucault) é mantido pelo desconhecimento das práticas internas da psiquiatria que não são facilmente analisáveis. Mesmo que sejam analisadas as práticas, as emoções frente ao contraste identitário mencionado acima não favorece o reconhecimento de limitações das práticas. Por isso, uma área que se propõe a ser realmente pró-social mantendo o distanciamento crítico em relação à sociedade (reforma psiquiátrica antimanicomial e perspectiva crítica) é mal-vista como área pró louco e contra a sociedade.
Limitações da psiquiatria biomédica Controvérsias entre psiquiatras conservadores e reforma psiquiátrica Psiquiatria não comercial e íntegra Suporte para desmame de drogas psiquiátricas Concepções psicossociais Gerenciamento de benefícios/riscos dos psicoativos Acessibilidade para Deficiência psicossocial Psiquiatria com senso crítico Temas em Saúde Mental Prevenção quaternária Consumo informado Decisão compartilhada Autonomia "Movimento" de ex-usuários Alta psiquiátrica Justiça epistêmica
Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)
Aviso!
sexta-feira, 3 de maio de 2024
Psiquiatria como área pró-social
quarta-feira, 3 de abril de 2024
Estabilidade como negação da vida
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024
Estabilidade como sucesso terapêutico
Definir sucesso terapêutico como estabilidade tem boas chances de ter origem na psicofarmacologia já que é o mesmo que afirmar que é preciso manter estados orgânicos constantes ou doses constantes de drogas psiquiátricas. Em linguagem experimental isso se chama condição controle e significa manter um valor de variável igual ou constante e que você está suprimindo estados de transição e permitindo observar fatores adicionais introduzidos ou retirados. Dessa forma, a necessidade do tratamento psiquiátrico para a maioria dos casos é justificada pois a preocupação com o orgânico estará nessa perspectiva resolvida. Ao definir sucesso terapêutico como estabilidade, a implicação é que é preciso manter a droga psiquiátrica por toda a vida e que o término do tratamento é indesejável ou impossível.
quinta-feira, 15 de setembro de 2022
O cultural e o natural
sábado, 9 de julho de 2022
Perdas funcionais e tratamento psiquiátrico (reformulado 2)
domingo, 2 de janeiro de 2022
Psiquiatria preventiva e periculosidade (Análise do discurso)
Notícias de jornal apresentam notícias sobre crimes praticados por pacientes psiquiátricos estruturados como fatos indiscutíveis e ateóricos sobre as características manicomiais dos pacientes psiquiátricos e a psiquiatria preventiva de Caplan. Fatos estruturados como se não houvesse discursos, conceitos ou teorias determinando essa estruturação de apresentação dos fatos.
A partir de conceitos manicomiais que na verdade são teorias antigas que se tornaram senso comum ou conceitos da psiquiatria atual conclui-se que a psiquiatria preventiva de Caplan é uma explicação necessária. Esse discurso é ingênuo pois uma explicação não deve ser necessária mas deve ser correta e eficaz. Dizer que essa explicação é necessária é presumir sem discussão que ela é correta anteriormente. Uma explicação boa é capaz de manipular com sucesso as variáveis. Esse discurso sobre a necessidade da psiquiatria preventiva de Caplan supõe com possível má-fé que se não houvesse nenhum crítico dessa perspectiva e nem da psiquiatria biológica/farmacológica tudo correria bem. O que é uma forma de aniquilação simbólica ou hipótese ad hoc, isto é, um bode expiatório para as limitações dessa perspectiva.
A psiquiatria preventiva de Caplan afirma que o que nomeia como doença mental é um fenômeno puramente interno ao organismo que ocorre independentemente de espaço e tempo (não situado no mundo) e que evolui linearmente e progressivamente a cada situação que chama de crise. Nessa perspectiva o paciente psiquiátrico é um suspeito de potencialmente causar mal social e portanto as mínimas manifestações do que chama de desvio social devem ser tratadas farmacologicamente à força ou involuntariamente por toda a vida.
A partir dessa descrição da psiquiatria preventiva de Caplan é fácil perceber sua base manicomial. O paciente psiquiátrico possui dentro dele a característica da periculosidade. E o que acontece situado no mundo que depende de tempo espaço é desconsiderado como irrelevante para a evolução de comportamentos que nomeia como doença mental.
Pressuposições implícitas na psiquiatria preventiva de Caplan só podem ser desconstruídas com pesquisas articuladas entre si e não serão escopo dessa análise do discurso.
O objetivo desse texto portanto é realizar uma análise do discurso com escopo de dados de notícias de jornais sobre crimes de pacientes psiquiátricos e sua relação com a psiquiatria preventiva de Caplan, isto é, discursos ocultos estruturados e apresentados como fatos neutros.
Resultados esperados:
- Indicar a relevância do espaço e tempo (história ambiental ou ambiente atual) numa explicação bem sucedida.
- Sugestão do paciente psiquiátrico como puro mal ou mal do mundo.
- Sugestão de que o crime surgiu do nada.
- Sugestão de que o tratamento psiquiátrico não foi realizado e que por isso a doença mental progrediu linearmente.
- Sugestão de que o que nomeiam como doença mental é condição necessária e suficiente para a prática de crimes graves.
Corpo de dados:
[Os trechos não serão apresentados com análise em conjunto pois são repetitivos e apenas esboçam uma estratégia discursiva em comum descrita na conclusão geral]
Conclusão geral:
Os textos cometem erro elementar de lógica ao usar ilustrações (exemplos) como se fossem argumentos. Os efeitos discursivos dessa estratégia são provavelmente confirmar um modelo científico naturalizado no senso comum que não precisa nem ser enunciado. O discurso implícito é presumido e apresentando como fatos estruturados. A psiquiatria preventiva de Caplan é bastante presente nos textos mas de forma implícita. Poucos textos descrevem as situações dos crimes e muitos enfatizam que a crise é sinônimo de periculosidade e que esquizofrenia é condição necessária e suficiente para a periculosidade. Enquanto alguns textos enfatizam a interrupção do tratamento outros não mencionam isso e apenas mencionam o histórico psiquiátrico. Essa ausência provavelmente é sinal de que o tratamento estava em dia pois caso contrário isso seria mencionado e que o histórico psiquiátrico seria considerado condição suficiente para a periculosidade. Um dos textos tem discurso de um psiquiatra como especialista que é apenas uma versão mais elaborada do discurso do resto dos textos. Alguns dos perfis retratados tem características redentoras como ter tido família própria e filhos (divórcio), estar seguindo o tratamento, não estar em crise há muito tempo, ser considerado normal em outros contextos, ser considerado uma pessoal afável, ser estudante de medicina / estudante universitário e estar em tratamento com médicos qualificados. O que de certa forma são contraexemplos que não se alinham com a estratégia discursiva de caracterizar um desviante. Uma implicação desse modelo científico é que as injeções de longa duração solucionariam o problema da interrupção de tratamento e portanto da progressão linear da doença mental e da periculosidade. Estamos esperando para ver isso acontecer. Houve sugestão de que os atos aconteceram do nada. A ênfase em contextos inteligíveis foi fraca ou pouco frequente nos textos (relevância do espaço e tempo ou das contingências de reforço). Quando os fatos não estão claros se sentem seguros em inferir um possível surto.
O discurso médico é presumido como única verdade impositiva e infalível. Seria possível com um senso comum mais favorável fazer a mesma coisa com as contingências de reforçamento, isto é, se as pessoas soubessem o que é isso esses problemas não ocorreriam. Significando isso que contextos aversivos e coercitivos ou outras formas de contingências de reforçamento como reforço livre ou estilos parentais pouco favoráveis a comportamentos desejáveis podem gerar comportamentos criminosos. Senso comum naturalizado permite adotar discursos prepotentes de infalibilidade do modelo psiquiátrico já que esse não poderia ser colocado em cheque. Usar ilustrações ou exemplos como casos paradigmáticos é pular a discussão científica anterior e partir direto para implicações que só podem ser previstas a partir de hipóteses solidamente comprovadas.
domingo, 26 de setembro de 2021
Violação de expectativas culturais e saúde
É importante fazer engenharia reversa do que se tornou "sintomas psiquiátricos" explicitando quais expectativas culturais foram violadas quando se atribui um diagnóstico psiquiátrico a alguém. Exemplos de expectativas culturais podem ser obediência aos superiores ou aos pais, respeito ao senso comum, compostura, comedimento, etc. A real origem do diagnóstico psiquiátrico é a violação dessas expectativas culturais e se comportar de forma a respeitar essas expectativas deveria ser considerado uma reversão do problema sem precisar de inventar uma estrutura dentro do organismo que possibilita isso (mentalismo orgânico).
quarta-feira, 12 de maio de 2021
Discurso hippie em termos analítico-comportamentais
Uma tradução do discurso hippie em termos analítico-comportamentais
Working Class Hero - John Lennon
Herói da classe trabalhadora - John Lennon
As soon as you're born, they make you feel small
Tão cedo quanto você nasceu, eles fazem você se sentir pequeno
By giving you no time instead of it all
Ao te dar pouco tempo, ao invés disso tudo
[A sociedade educa membros novos através de ameaças com a finalidade de fazer se comportar como o sistema espera, o que toma todo o tempo, ao invés de fornecer repertório de empoderamento]
Till the pain is so big you feel nothing at all
Até a dor ficar tão grande que você não sente nada
[Até você sentir os efeitos colaterais das contingências aversivas]
A working class hero is something to be
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
[É esperado que você seja um herói da classe trabalhadora]
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
They hurt you at home and they hit you at school
Eles te machucaram em casa e eles te bateram na escola
[Eles usam contingências aversivas em casa e na escola]
They hate you if you're clever and they despise a fool
Eles te odeiam se você é esperto e eles desprezam um tolo
[Eles te punem se você é mais ou menos esperto que a média]
Till you're so fucking crazy you can't follow their rules
Até você ficar tão maluco que você não pode seguir as regras deles
[Até começar a reagir às contingências aversivas]
A working class hero is something to be
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
[É esperado que você seja um herói da classe trabalhadora]
A working class hero is something to be
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
[É esperado que você seja um herói da classe trabalhadora]
When they've tortured and scared you for twenty odd years
Quando eles te torturam e te amedrontaram por 20 anos estranhos
[Eles usaram contingências aversivas por toda a sua vida até agora]
Then they expect you to pick a career
Então eles esperam que você escolha uma carreira
When you can't really function, you're so full of fear
Quando você não está realmente funcional, você está cheio de medo
[Você escolhe uma carreira sob contingências aversivas, sofrendo os efeitos colaterais emocionais e déficit de repertório]
A working class hero is something to be
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
[É esperado que você seja um herói da classe trabalhadora]
A working class hero is something to be
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
[É esperado que você seja um herói da classe trabalhadora]
Keep you doped with religion and sex and TV
Mantendo você dopado com religião, sexo e televisão
[O aspecto agradável do reforço pode te alienar]
And you think you're so clever and classless and free
E você pensa que é tão esperto, sem classe e livre
[Você se sente livre pelo reforço positivo mas está seguindo estratégias de controle do sistema social e sente que isso é um comportamento inteligente]
[Numa sociedade sem classe a motivação para se destacar sendo mais produtivo economicamente não era considerada uma virtude.]
But you're still fucking peasants, as far as I can see
Mas você continua sendo um merda de um camponês, até onde consigo ver
[Mas você é só uma peça no sistema que está recebendo pouco]
A working class hero is something to be
[É esperado que você seja um herói da classe trabalhadora]
A working class hero is something to be
[É esperado que você seja um herói da classe trabalhadora]
There's room at the top, they are telling you still
Há espaço no topo, ele estão te dizendo ainda
[Os reforçadores são alcançáveis]
But first you must learn how to smile as you kill
Mas primeiro você deve aprender a sorrir enquanto mata
[Mas você deve obedecer sem pensar nas consequências sociais dos seus atos]
If you want to be like the folks on the hill
Se você quiser ser como o pessoal da colina
[Se você quiser ser uma pessoal com distinção]
A working class hero is something to be
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
[É esperado que você seja um herói da classe trabalhadora]
A working class hero is something to be
Um herói da classe trabalhadora é algo para ser
[É esperado que você seja um herói da classe trabalhadora]
If you want to be a hero, well just follow me
Se quiser ser um herói, bem apenas me siga
[Você está recebendo incentivos do sistema social para cumprir interesses escusos]
If you want to be a hero, well just follow me
Se quiser ser um herói, bem apenas me siga
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021
Loucos desaparecidos - Análise do discurso
Rapper de São José, Leonardo Irian é encontrado após cinco dias desaparecido
Trechos:
Sofre de esquizofrenia
(linguagem passiva)
está bem de saúde, em casa e medicado
(É preciso medicar para evitar a progressão da doença. Deve estar com a família sem autonomia. Só pode estar bem seguindo o tratamento psiquiátrico.)
Ele teria se perdido na volta.
(Ele se perdeu por estar desorientado)
Análise: A linguagem da matéria toda é na linguagem passiva, com o paciente psiquiátrico sofrendo de algo passivamente, sem capacidade de decisão e sem agência. Outras pessoas fazem algo ativamente mas o paciente não. Ele precisa que algo seja feito a ele. Ele é basicamente um objeto em deterioração e desorientado.
Paciente com esquizofrenia desaparece após fugir de hospital na Serra
Trechos:
Fugiu e desapareceu.
já que, em função do transtorno psiquiátrico, caracterizado principalmente por alucinações visuais e auditivas, Marcos tornou-se muito agressivo. Por isso, ele pode representar um risco não só para si próprio como também para outras pessoas.
Ela mostrou que ele era incapaz. Ou seja, todos ali corriam perigo. Eu falei pra médica que eles foram irresponsáveis porque todos estavam correndo perigo, porque ele é capaz de matar. Isso é um perigo para a população
Eu tenho medo de ficar com ele. Ele vive em uma casa gradeada e, quando ele está bem, com a medicação, a gente solta ele, então ele circula pelo quintal, dentro da casa dele, faz o que ele quer
Análise: família com linguagem completamente manicomial (“incapaz e perigoso”) e a família é tão manicomial que até faz cárcere privado. A única razão para agressividade é a entidade patológica e a única razão para ele ficar bem e ter um pouco de liberdade é a medicação. Quem não segue tratamento é um grande risco para si e para os outros.
Linguagem na voz ativa mas agressivo. Não tem condições de ser autônomo por ser incapaz e perigoso (linguagem manicomial). Afirmar a própria autonomia é uma afronta agressiva. É possuído passivamente por uma entidade patológica que desorienta. A família lida com a entidade patológica e não com a pessoa por inteiro enquanto humana (desumanização). Com essa linguagem a família parece estar invalidando as necessidades do paciente enquanto ser humano pois não respeita os direitos humanos do paciente como mostra a linguagem manicomial e o cárcere privado.
Mulher está desaparecida em Marcelino Ramos
Trechos:
Senhora com esquizofrenia (A senhora tem uma entidade patológica externa a ela que a possui).
já saiu outras vezes, devido sua doenças (A moradora de residência terapêutica só usufrui da própria autonomia sem avisar outras pessoas por conta de uma entidade patológica).
Fugiu (Então devia estar muito bom na residência terapêutica mas como ela tem uma entidade patológica externa a ela não conseguiu perceber isso. A linguagem desresponsabiliza os responsáveis pela qualidade de vida na residência terapêutica.)
Marcos Alexandre Cruz, de 38 anos, saiu de casa no sábado (9) e não voltou mais; segundo a família, homem tem esquizofrenia
Trechos:
Ainda segundo Leila, essa não é a primeira vez que Marcos sai de casa. Em outros episódios ele chegou a ir para as cidades de Valinhos e Porto Feliz. No entanto, diferente desta vez, Marcos sempre retornava para a casa no mesmo dia.
Ainda de acordo com ela, os desaparecimentos acontecem em virtude da esquizofrenia. "Ele tem que tomar remédio, mas nega o tratamento. Foi diagnosticado ainda na adolescência. Ele está há 4 meses sem tomar a injeção", disse.
Análise: Sem seguir o tratamento psiquiátrico não é seguro sair de casa e ter autonomia.
Jovem com esquizofrenia que estava desaparecido é encontrado em Alumínio
Trechos:
"Ele estava muito confuso e só soube responder falando da clínica aonde ele estava em tratamento. Foi o que morador fez, pesquisou nas redes sociais e encontrou o telefone da clínica, eles já estavam ciente do desaparecimento dele", explicou.
O rapaz foi resgatado pelos funcionários da clínica e, segundo a irmã, vai retomar o tratamento.
Análise: A única razão pela qual ele fugiu da clinica (a palavra fugiu nem é usada) é porque ele estava confuso. A qualidade da clínica não tem relação nenhuma com os pacientes fugirem. A internação também foi apenas devido a confusão e a família não tem relação nenhuma com isso.
Os heróis da clínica resgataram o rapaz e ele voltou a fazer tratamento involuntário/forçado. O que é irregular segundo a Convenção da ONU de pessoas com deficiência.
Jovem com esquizofrenia é encontrada após desaparecer por oito dias
Trechos:
Ela teria fugido de casa após sofrer um surto.
Em casa, Érica deixou uma carta para a família, dizendo que estava indo para o interior, à procura de emprego, e que voltaria quando estivesse estabilizada.
Análise: A única razão pela qual ela fugiu de casa foi a entidade patológica. A entidade patológica mesmo que seja duvidosa na pesquisa psiquiátrica possui realidade social. Aparentemente tentar ser independente é sinal de surto psicótico para a família (paciente psiquiátrica desacreditada socialmente).
Família procura por mulher com esquizofrenia que desapareceu em Belo Horizonte
Trechos:
Estudante, Mariana é portadora de esquizofrenia e recebe tratamento psiquiátrico no Hospital Espírita André Luiz na região Oeste de Belo Horizonte, como conta a tia dela, Vânia de Freitas Drumond. “Ela ficou internada por dois meses no André Luiz e recebeu alta uma semana antes de desaparecer, no dia 17. No dia em que ela desapareceu, ela estava falando coisas desconexas com o pai e com a mãe. Saiu e não voltou mais, era o dia do atendimento com o psiquiatra”. À data em que desapareceu, Mariana chegou a dizer à família que iria até a polícia e saiu sem levar quaisquer documentos e até mesmo o celular.
Análise: Por ter falado que ia na polícia e ter sido internada provavelmente estava ruim a situação com a família. Mencionar coisas desconexas é relativo à interpretação da família. Alguém que sabe escutar consegue encontrar algum significado contextual. Provavelmente estava insatisfeita com o tratamento psiquiátrico involuntário – o que é irregular segundo a Convenção da ONU sobre pessoas com deficiência.
Família procura por idosa desaparecida há 12 dias em Sorocaba
Trecho:
Sem os remédios, se comporta de forma agressiva.
Análise: A única razão possível para ela ficar agressiva é a falta de remédios, isto é, o desequilíbrio químico. Desequilíbrio químico é uma hipótese que nunca foi provada.
Conclusão geral
Poucas reportagens se referem à perspectiva do paciente e todas enfatizam o discurso médico e da família. Portanto, isso indica o silenciamento da perspectiva do paciente psiquiátrico. Conclui-se que seria necessário fazer reportagens com foco em discurso psicossocial e que o discurso psiquiátrico empregado torna uma questão sensível e potencialmente constrangedora num assunto aparentemente impessoal: a condição médica da pessoa. É tanto possível ter um repertório inapropriado generalizado quanto melhorar de saúde mental em um contexto menos complicado. Mas as reportagens assumem que os comportamentos inapropriados nomeados como a entidade esquizofrenia tem origem dentro da pessoa (internalismo). Isso é modelo médico em saúde mental. Jornalistas comprometidos com a reforma psiquiátrica enfatizariam o lado humano e contextual/cultural.
terça-feira, 14 de julho de 2020
Normalidade como discurso ideológico
quarta-feira, 20 de maio de 2020
Série de análise conceitual de manual de psiquiatria e neurociências
Outras formas de excitação fisiológica na psicose (crítica)
Autor: 1) Kandel