Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)

Essa avalanche de informações e conhecimento relacionada à saúde e despejada todos os dias sobre os indivíduos sem a menor cerimônia varia muito em termos de objetividade e credibilidade. Porém, é preciso admitir que ela consegue atrair cada vez mais a atenção pública para assuntos de saúde - e muda o relacionamento tradicional entre médicos e pacientes, encorajando os últimos a exercer uma atitude mais participativa na relação. Ironicamente, enquanto os pacientes conquistam mais acesso às informações sobre saúde, os médicos têm cada vez menos tempo para estudar as últimas descobertas científicas ou para ler publicações da área - on-line ou não -, e mesmo para se comunicar adequadamente com especialistas de áreas relevantes e/ou com os próprios pacientes. Além disso, enquanto os médicos precisam dominar conhecimentos sobre as diferentes condições de saúde de um grande número de pacientes cujos rostos eles mal conseguem lembrar, um paciente instruído, com acesso à internet, pode, na verdade, ter lido uma pesquisa mais recente do que o médico sobre sua doença específica. Os pacientes chegam ao consultório com paginas impressas contendo o material que pesquisaram na internet, fotocópias de artigos da Physician's Desk Reference, ou recorte de outras revistas e anuários médicos. Eles fazem perguntas e não ficam mais reverenciando a figura do médico, com seu imaculado avental branco. Aqui as mudanças no relacionamento com os fundamentos profundos do tempo e conhecimento alteraram completamente a realidade médica. Livro: Riqueza Revolucionária - O significado da riqueza no futuro

Aviso!

Aviso! A maioria das drogas psiquiátricas pode causar reações de abstinência, incluindo reações emocionais e físicas com risco de vida. Portanto, não é apenas perigoso iniciar drogas psiquiátricas, também pode ser perigoso pará-las. Retirada de drogas psiquiátricas deve ser feita cuidadosamente sob supervisão clínica experiente. [Se possível] Os métodos para retirar-se com segurança das drogas psiquiátricas são discutidos no livro do Dr. Breggin: A abstinência de drogas psiquiátricas: um guia para prescritores, terapeutas, pacientes e suas famílias. Observação: Esse site pode aumentar bastante as chances do seu psiquiatra biológico piorar o seu prognóstico, sua família recorrer a internação psiquiátrica e serem prescritas injeções de depósito (duração maior). É mais indicado descontinuar drogas psicoativas com apoio da família e psiquiatra biológico ou pelo menos consentir a ingestão de cápsulas para não aumentar o custo do tratamento desnecessariamente. Observação 2: Esse blogue pode alimentar esperanças de que os familiares ou psiquiatras biológicos podem mudar e começar a ouvir os pacientes e se relacionarem de igual para igual e racionalmente. A mudança de familiares e psiquiatras biológicos é uma tarefa ingrata e provavelmente impossível. https://breggin.com/the-reform-work-of-peter-gotzsche-md/

sábado, 27 de agosto de 2016

Rótulos

Just because a word is created to explain certain human behaviors, it does not mean the word or the description is helpful or accurate - enter psychiatric word-salads

- Daniel Carter

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Anti State, Anti Capitalism, Anti Psychiatry 2

Anti-psychiatry is the belief that the psychiatric system is, at its core, a system of social control masquerading behind made-up science.

https://apsych.wordpress.com/2015/12/16/anti-psychiatry-an-anarchist-view/

esquizofrenia

“The behaviour that gets labelled ‘schizophenic’ is a special strategy that a person invents in order to live in an unliveable situation.” –R.D Laing

https://apsych.wordpress.com/2015/12/16/anti-psychiatry-an-anarchist-view/

Study Finds ADHD Drugs Alter Developing Brain

http://www.madinamerica.com/2016/08/study-finds-adhd-drugs-alter-developing-brain/?utm_campaign=shareaholic&utm_medium=facebook&utm_source=socialnetwork



Study Finds ADHD Drugs Alter Developing Brain

Altering brain development can lead to lasting and even permanent changes


A new study, published in the JAMA Psychiatry, investigates the effect of stimulant ‘ADHD’ drugs on the brains of children and young adults. The results of the randomized, double-blind, placebo-controlled trial, the ‘gold standard’ for evidence in academic medicine, indicate that methylphenidate (Ritalin) has a distinct effect on children that may lead to lasting neurological changes.
“Because maturation of several brain regions is not complete until adolescence, drugs given during the sensitive early phases of life may affect neurodevelopmental trajectories that can have more profound effects later in life,” write the researchers, led by Liesbeth Reneman, a physician and researcher at the University of Amsterdam.
ritalin bobbleheadsEven as methylphenidate hydrochloride (Ritalin) is the most frequently prescribed treatments for attention-deficit/ hyperactivity disorder (ADHD), and is increasingly being used by a greater percentage of children in the US, little research has been done on the effects of the drug on the developing brain. Up to this point, the effects of this particular drug on the development of the brain in children and young adults have only been studied in animals.
“The adolescent brain is a rapidly developing system that maintains high levels of plasticity. As such, the brain may be particularly vulnerable to drugs that interfere with these processes or modify the specific transmitter systems involved,” the researchers write.
The animal studies we do have point to a worrying result. In adult animals, the long-term exposure to stimulant medications appears to induce a temporary adaptation in the brain, which can be reversed. In juvenile animals, however, where the dopaminergic system is still developing, long-term exposure to ‘ADHD’ drugs leads to lasting and sometimes permanent changes. This process is referred to as “neurochemical imprinting.”
“Safety investigations on the effects of methylphenidate on DA function in the developing brain are scarce in children. Regardless of this alarming paucity of findings, increasingly greater numbers of children and young adolescents are exposed to methylphenidate, many of whom likely do not meet the criteria for ADHD,” Reneman and her colleagues note.
“This heightened use has led to considerable debate and concern (eg, among parents) about the long-term consequences or possible adverse effects of methylphenidate use in children.”
In the first attempt to investigate “neurochemical imprinting,” and age-dependent brain changes, in humans, the researchers designed the Effects of Psychotropic Drugs on Developing Brain–Methylphenidate study.  The multicenter trial randomly assigned 99 male patients diagnosed with ‘ADHD’ to either treatment with placebo or methylphenidate. After sixteen weeks and a one-week washout period, the researchers observed the dopaminergic function in children and adults using fMRI technology.
After four months of treatment with methylphenidate, they found significant changes in the brains of children that were not present in adults. It was hypothesized that the changes induced by the drugs in children might have a positive effect on the symptoms associated with ‘ADHD,’ but this was not the case for the children in this study.
“Because maturation of several brain regions is not complete until adolescence, drugs given during the sensitive early phases of life may affect neurodevelopmental trajectories that can have more profound effects later in life,” the study authors warn. “Indeed, the most comprehensive trial on the long-term effects of ADHD, the Multimodal Treatment Study of Children With ADHD (Full Text), reported that six years after enrollment, medication management was associated with a transient increase in the prevalence of anxiety and depression.”
This study provides the first evidence that the use of ‘ADHD’ drugs in children can alter the brain's development in significant and potentially lasting ways. While these changes did not appear to be connected with significant benefits or harms that were measurable in the short-term period of this study, the authors note that “the long-term consequences remain to be established.”

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Schrantee, A., Tamminga, H.G., Bouziane, C., Bottelier, M.A., Bron, E.E., Mutsaerts, H.J.M., Zwinderman, A.H., Groote, I.R., Rombouts, S.A., Lindauer, R.J. and Klein, S., 2016. Age-Dependent Effects of Methylphenidate on the Human Dopaminergic System in Young vs Adult Patients With Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder: A Randomized Clinical Trial. JAMA psychiatry. (Abstract)

Brasil Trocou os Manicômios Pelos Remédios Psiquiátricos?

http://www.vice.com/pt_br/read/o-brasil-trocou-os-manicomios-pelos-remedios-psiquiatricos

Brasil Trocou os Manicômios Pelos Remédios Psiquiátricos?

Repórter
abril 30, 2015


Mesmo com um dos sistemas públicos mais progressistas na saúde mental, os brasileiros dependem cada vez mais de medicamentos psicotrópicos. O país iniciou sua reforma psiquiátrica no fim dos anos 70, a partir do processo de redemocratização, substituindo a atuação dos hospitais psiquiátricos por outras formas de atendimento a pacientes com transtornos, mas, ainda assim, o uso de substâncias controladas segue crescendo entre a população – e não são apenas os adultos.
Um fenômeno que exemplifica essa hipermedicação brasileira pode ser facilmente identificado ao analisarmos o aumento considerável do consumo de Ritalina por crianças. Segundo Walter Oliveira, médico com prática em psiquiatria, professor na UFSC e vice-presidente da Abrasme (Associação Brasileira de Saúde Mental), houve um crescimento considerável nos últimos cinco anos dos diagnósticos de déficit de atenção. "Com isso, começamos a prestar mais atenção e entender por que isso está acontecendo. Será que existe mesmo uma epidemia de transtorno de atenção? Acontece que, quando começamos a olhar o que está acontecendo nas escolas, percebe-se uma pressão muito grande para pegar uma criança mais agitada e que não se conforma com as regras da escola, diagnosticá-la e medicá-la com um remédio psiquiátrico", explica.
De fato, o brasileiro toma muito remedinho. Em 2013, nós gastamos R$ 1,8 bilhão com antidepressivos e estabilizadores de humor. E isso pode vir de maneiras diversas: do lobby de indústrias farmacêuticas, da glamourização de doenças psiquiátricas e também porque viver nas metrópoles deixa a gente mais infeliz e abre mais possibilidades de incidências de transtornos psiquiátricos. Um artigo publicado em 2014 concluiu que, nas cidades analisadas, o aparecimento de transtornos mentais são de 51,9% no Rio de Janeiro, 53,3% em São Paulo, 64,3% em Fortaleza e 57,7% em Porto Alegre.
Se você considerar de maneira geral, ainda estamos considerando o atendimento psicossocial em segmentos do vasto território brasileiro. Há ainda lugares em que amarram os pacientes no pé da cama, que o cara é mandado para um hospital psiquiátrico, porque o CAPS não dá conta.
"Não estou dizendo de maneira alguma que não existem pessoas com depressão ou ansiedade, mas sim que há um exagero de diagnóstico para pessoas que não possuem transtornos graves e que estão tomando medicação controlada", frisa Walter. "Hoje, a pessoa passa seis meses tomando um remédio após ter passado por apenas uma consulta."
Assim como no resto do Ocidente, o Brasil participa do boom de diagnósticos e do acesso a remédios controlados para se tratar de problemas da vida cotidiana. "Isso começou na década de 50 com os barbitúricos, ansiolíticos, e muita gente começou a tomar medicamentos para tudo." Silvio acrescenta que a crescente procura por esse tipo de remédios também se deve a uma tendência contemporânea de procurarmos respostas mais rápidas para o que nos aflige.
O cenário da loucura no Brasil dos anos 50 ainda era tomado pela única solução possível: internação e medicação por parte da psiquiatria. O louco era um pária e, por isso, era internado em manicômios onde os maus-tratos e tratamentos duvidosos eram alguns dos meios que o Brasil da época encontrava para retirar de circulação cidadãos indesejados. Um dos maiores exemplos do tratamento manicomial do país é o Hospital Colônia de Barbacena, onde ocorreu o Holocausto Brasileiro, e também o Hospital Psiquiátrico Juquery, localizado na cidade de Franco da Rocha . Tudo isso começou a ser percebido após o lento e gradativo processo de redemocratização nos anos 1970.
"Na época, o Brasil era, aos olhos dos estudiosos do mundo, um país interessante de ser observado, pois tinha acabado de sair de uma ditadura", relembra Silvio Yasui, psicólogo e professor da Unesp que também atuou na área da saúde mental pública. Foram dois intelectuais que deram força para a reforma da saúde mental no país: Foucault e, o mais importante, o italiano Franco Basaglia. "Basaglia tinha a experiência de mudar o sistema de saúde mental. Quando ele chegou aqui em 1977/78, tinha acabado de aprovar uma lei italiana que determinava o encerramento de hospitais psiquiátricos. A presença dele aqui falando que é possível fazer algo do tipo foi bastante determinante para a reforma psiquiátrica no Brasil", explica.
As visões de Basaglia deram espaço para a criação de uma nova rede de saúde mental com mecanismos mais progressistas e fundamentalmente contra a internação em manicômios como primeira opção. Com isso, foi criada a primeira unidade do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) em 1987, na Rua Itapeva, no município de São Paulo, onde inicia-se na prática a nova postura do país com a saúde mental. O CAPS é uma das soluções da rede de saúde mental (formalizada com a lei nº 10.216/2001) oferecidas pelo SUS.
Sofremos o preço de sermos jovens enquanto política.
Segundo o Ministério da Saúde, são 2.209 CAPS espalhados pelo país, dos quais 201 são especializados em crianças e adolescentes. As unidades fazem cerca de 44,9 milhões de atendimentos por ano que visam ao "atendimento próximo da família, assistência médica e cuidado terapêutico conforme o quadro de saúde do paciente". Para Silvio, a qualidade do atendimento nos CAPS depende da região onde a pessoa está. "Você tem alguns lugares com ofertas interessantes para a reinserção do sujeito na sociedade. Se você considerar de maneira geral, ainda estamos considerando o atendimento psicossocial em segmentos do vasto território brasileiro. Há ainda lugares em que amarram os pacientes no pé da cama, que o cara é mandado para um hospital psiquiátrico, porque o CAPS não dá conta."
O psicólogo continua: "Atenção psicossocial é um cuidado que se faz em rede e em território. O CAPS em Perdizes vai ser diferente do de Itaquera, que vai ser diferente do CAPS de Parelheiros. Se for pensar em outras regiões e em outras culturas, a abordagem terá a cara do seu território. Cada lugar vai ter um jeito de lidar com a loucura e com o sofrimento".
Já Walter Oliveira destaca que a função do CAPS acabou se perdendo e se tornando um meio prioritário de atendimento. "O Brasil não investe em uma rede de saúde mental no geral: o CAPS foi a solução mais viável de se implantar, mas ainda não atende todas as necessidades da população. Aqui em Florianópolis existe apenas uma unidade que atende cerca de 1 milhão de pessoas."
É muito difícil falar em números de diagnósticos por conta do envolvimento do médico, do remédio com a indústria farmacêutica.
Os dois especialistas frisam que a própria contratação de profissionais do CAPS é problemática, pois muitos carregam ainda a mentalidade manicomial. Isso se deve principalmente pela política de saúde mental ainda ser uma novidade e também pela formação acadêmica continuar focada numa corrente mais tradicional. "Sofremos o preço de sermos jovens enquanto política", conta Silvio.
Enquanto a rede de saúde mental brasileira pena para se adaptar às novas tendências da psiquiatria, resta saber se estamos mesmo mais infelizes e doentes, ou se realmente usamos os medicamentos como válvula de escape para os problemas que não queremos enfrentar.
"É muito difícil falar em números de diagnósticos por conta do envolvimento do médico, do remédio com a indústria farmacêutica. Há também uma ausência de posição por parte do governo sobre essa questão", explica Walter. Por isso, o psiquiatra destaca que sempre é preciso olhar para os números com muita cautela, justamente por muitas pesquisas no campo serem patrocinadas por indústrias farmacêuticas .
"Temos um excesso de diagnósticos que patologizam a vida cotidiana. Hoje, não existe mais uma criança arteira, existe uma criança com DDA; da mesma forma que não há mais pessoas tristes, mas sim depressivas", finaliza Silvio.
Resta saber se é pior ficar preso em um hospício ou preso em nós mesmos por conta do excesso de medicamentos psiquiátricos.

Antidepressivos e suicídio

http://www.revistavidaesaude.com.br/sala-de-espera/antidepressivos-e-suicidio/

Antidepressivos e suicídio

Pasme! Mas os antidepressivos, além de não prevenirem o suicídio, podem acabar aumentando as chances de que ele ocorra. A informação parece estranha, por isso pesquisadores da Universidade de Colônia, na Alemanha, explicam que ainda não há consenso se os antidepressivos podem prevenir suicídios ou tentativas dele, especialmente durante uso em longo prazo desses medicamentos.
Pode ser que o medicamento não cause o suicídio, mas o problema é que ele também não evita o mesmo. Após a revisão de mais de 800 artigos científicos sobre o tema e uma pesquisa que abrangeu alguns anos dos pesquisados, verificou-se que sete de cada oito suicídios e 13 de cada 14 tentativas de suicídio ocorreram entre os pacientes que estavam tomando antidepressivos, resultando em índices de incidência de 5,03 para os suicídios e de 9,02 para as tentativas de suicídio.
Apesar de ainda não haver um estudo conclusivo, é preciso ficar atento à suspeita. Além disso, não se deve abrir mão da psicoterapia, especialmente porque os antidepressivos não podem resolver todos os problemas.
A análise foi publicada na revista médica Psychotherapy and Psychosomatics.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Desamparo Aprendido (Modelo comportamental da depressão)


Distinguindo dos teóricos do “stress” entendo que o “burnout”, depressão mais recorrente no trabalho docente não se constitui numa reação crônica de “stress”, pois essa síndrome insere-se no conceito de depressão reativa por situações aprendidas de desamparo diante dos acontecimentos. De acordo Seligman (1977), é desmedida a confusão existente na bibliografia médica sobre a depressão; no entanto, a maneira melhor e mais útil de verificar as tipologias de depressão é classificá-las em depressões endógenas e depressões reativas.
Para o autor, as depressões endógenas se constituem em resposta a um processo interno ou endógeno desconhecido. Essas depressões não são desencadeadas por algum processo externo, simplesmente tomam conta do sujeito, são cíclicas e se repetem regularmente. Elas respondem a tratamentos com drogas, e suas causas são de natureza orgânica, como a hormonal, podendo também, ser predispostas geneticamente. As depressões reativas, por sua vez, são as mais comuns e são causadas por acontecimentos externos aos sujeitos, não apresentam ciclos regulares, não respondem a tratamentos com drogas, não têm caráter genético e seus sintomas são mais leves do que o das depressões endógenas.

O dia-a-dia do professor – ensinando a amparar e apreendendo o desamparo
Na obra “Desamparo: sobre depressão, desenvolvimento e morte” (1977), Seligman desenvolve a intrigante tese de que as depressões reativas podem ser explicadas a partir do desamparo aprendido. Segundo o autor, o desamparo aprendido se caracteriza pela lentidão do indivíduo em dar início a respostas voluntárias, acreditando-se impotente e desesperançado, situação que se inicia como uma reação à perda de controle sobre gratificações e sobre a minoração do sofrimento. Não é um pessimismo generalizado; é antes um pessimismo dirigido para as suas próprias ações. O indivíduo aprende que responder é independente de reforço; assim, o modelo sugere que a causa da depressão decorre da constatação de que toda a ação é inútil.
Sendo assim, não é a perda de reforçadores gratificantes que causa depressão nos indivíduos, mas a perda do controle sobre os reforçadores. Essa perda é um fenômeno que decorre de fatores externos ao sujeito; desse modo, quando este é submetido a situações constantes de estímulos incontroláveis, aprende que responder se torna inútil, desencadeando-se a sensação de desamparo.

http://www.ambientelegal.com.br/a-loucura-no-trabalho-docente/

domingo, 21 de agosto de 2016

Drogas DOC

Primeiro documentário brasileiro que levantou a discussão da política de drogas no Brasil e no mundo, com participação de vários profissionais das mais diversas áreas de autuação.
O filme, gravado em diversos paíse do mundo, discute a relação histórica da humanidade com as drogas, o uso industrial e medicinal da maconha e a política de guerra nas grandes cidades, em particular no Rio de Janeiro.
O documentário teve papel fundamental no movimento político brasileiro relacionado ao tema e viajou o mundo em dezenas de festivais de cinema. Foi eleito, ao lado de Food Inc, Ilha das Flores e The Corporation, como um dos 11 documentários que podem mudar a sua visão de mundo.
https://www.youtube.com/watch?v=K_N1q5DAri4

sábado, 20 de agosto de 2016

A indústria do mal-estar



http://www.extraclasse.org.br/edicoes/2016/08/a-industria-do-mal-estar/

A indústria do mal-estar

Por Grazieli Gotardo
ENTREVISTA | ROBERT WHITAKER

A indústria do mal-estar

Por Grazieli Gotardo
Foto: Reprodução
Há mais de 25 anos, o jornalista norte-americano Robert Whitaker escreve sobre medicina e ciência para diversas publicações. Em 1998, ao fazer uma série investigativa para o Boston Globe (o mesmo jornal da série de reportagens que deu origem ao roteiro do filme Spotlight), observou que alguns estudos sobre a utilização de medicamentos psiquiátricos apresentavam resultados que não condiziam com o entendimento que se cristalizava na sociedade: de que doenças como depressão, ansiedade e esquizofrenia seriam causadas por desequilíbrios químicos no cérebro, que poderiam ser corrigidos pelas novas drogas. A série de reportagens foi finalista do prêmio Pulitzer de Serviço Público. Depois disso, ele mergulhou na investigação de estudos científicos e constatou várias contradições e interesses de um mercado bilionário, a indústria farmacêutica de drogas psiquiátricas. Seu livro mais comentado Anatomy of an Epidemic – ainda sem tradução para o português, a ser publicado no Brasil em 2017, pela Editora Fiocruz – foi premiado como o melhor livro investigativo de 2010 por editores e jornalistas norte-americanos. Desde então, ele vem sendo convidado para apresentar seus dados em faculdades de Medicina, bem como tem sido confrontado por psiquiatras. Nesta entrevista concedida por e-mail, o jornalista detalha suas descobertas.
Extra Classe – Como teve início a sua pesquisa sobre as drogas psiquiátricas?
Robert Whitaker – Em 1998, fui coautor de uma série para o jornal Boston Globe sobre abusos contra pacientes psiquiátricos em ambientes de pesquisa. Naquela época, tive uma compreensão completamente convencional das drogas psiquiátricas, de que elas corrigiam os desequilíbrios químicos no cérebro e que seu uso contínuo era essencial para as pessoas com diagnóstico de esquizofrenia e outros transtornos mentais graves. Após isso, eu comecei a observar que a ciência não sustentava esse entendimento convencional. Foi isso que guiou minha curiosidade para investigar.

Foto: reprodução
EC – O que o motivou a escrever contra essas drogas?
Whitaker – Ao pesquisar essa história para o Boston Globe, deparei-me com dois estudos que me fizeram questionar esse entendimento convencional. A primeira foi a pesquisa pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que, por duas vezes, relatou que os resultados de longo prazo para as pessoas diagnosticadas com esquizofrenia eram muito melhores em “países em desenvolvimento” do que nos países “desenvolvidos”. De fato, os pesquisadores da OMS concluíram que quem vive em um país desenvolvido era um forte candidato a não ter um bom resultado se diagnosticado com esquizofrenia. Isso me surpreendeu, e depois eu descobri que, nos países pobres, onde os resultados foram muito melhores, eram usados antipsicóticos muito diferentes. Mantinham-se as pessoas com esses medicamentos no curto prazo, e não por longos períodos. Apenas 16% dos pacientes eram regularmente mantidos com os medicamentos. E assim eu me perguntei: por que os resultados do tratamento da esquizofrenia seriam melhores em países que não mantêm regularmente seus pacientes com as drogas que eu entendi que seriam essenciais para a doença? Outro estudo, feito por pesquisadores da Harvard, relatou, em 1994, que os resultados dos tratamentos para pacientes com esquizofrenia estavam se reduzindo nos últimos anos, estando inclusive abaixo dos índices de resultados do primeiro terço do século 20, muito antes da chegada dos medicamentos antipsicóticos. Isso desmentia o entendimento convencional de que a chegada de antipsicóticos na medicina representou um grande avanço. Isso me motivou a olhar mais a fundo sobre a literatura científica em relação aos méritos dos medicamentos psiquiátricos. Eu não estava motivado a favor ou contra as drogas. Só queria investigar mais sobre seus efeitos, se as histórias que haviam sido divulgadas sobre esses medicamentos, de que eles corrigiam desequilíbrios químicos no cérebro, eram verdadeiras. E quando descobri que a literatura científica realmente contou uma história diferente do que o que nós acreditamos convencionalmente, me motivei a escrever sobre o assunto. EC – Em que momento de suas pesquisas você percebeu que as drogas psiquiátricas faziam parte de um mercado rentável e quem são os interessados nesse mercado? Essa realidade se mantém nos dias de hoje?
Whitaker – Eu já sabia há algum tempo que as drogas psiquiátricas eram parte de um mercado rentável. Em 1994, cofundei uma editora, que publicou sobre o desenvolvimento da indústria de novas drogas e o mercado crescente. Esta foi uma época em que antidepressivos ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina) estavam se popularizando e os novos antipsicóticos atípicos (segunda geração) estavam chegando ao mercado. Escrevi sobre essa comercialização na investigação do Boston Globe em 1998. A indústria farmacêutica continua muito interessada em vender drogas psiquiátricas, uma vez que foi um mercado em franco crescimento nos últimos 30 anos.
EC – Como ocorreu esse crescimento da indústria farmacêutica de remédios psiquiátricos nos últimos anos?
Whitaker – Em 1987, os Estados Unidos gastaram cerca de US$ 800 milhões com drogas psiquiátricas. Os EUA agora gastam mais de US$ 35 bilhões em drogas psiquiátricas a cada ano. Isso é um aumento de 40 vezes nos gastos. Não sei os números para o crescimento no mercado global, mas o mercado tem se expandido drasticamente nos últimos 30 anos.
EC – O senhor diz que as pesquisas comprovam que doenças como a depressão e esquizofrenia não são causadas por desequilíbrios químicos, como sustentam a indústria farmacêutica e a classe médica. O que comprova isso?
Whitaker – A teoria do desequilíbrio químico surgiu a partir de um entendimento de como as drogas psiquiátricas agem no cérebro, e não a partir de investigações de pessoas diagnosticadas com um determinado distúrbio. Por exemplo, os pesquisadores passaram a entender que os antidepressivos aumentam a atividade serotoninérgica no cérebro. Isso os levou à hipótese de que a depressão é devido à pouca atividade serotoninérgica (pouca serotonina no cérebro). Mas quando os pesquisadores estudaram se pacientes diagnosticados com depressão antes de serem submetidos à medicação sofriam com baixos níveis de serotonina, não encontraram nada. Os sistemas serotoninérgicos estavam normais. Essa é a prova. Quando os pesquisadores analisaram se os pacientes diagnosticados com depressão ou algum outro transtorno mental tinham um desequilíbrio químico específico, eles não encontraram nada. Em relação à saúde dos pacientes, isso significa que muitos tomam antidepressivos e outras drogas psiquiátricas com base em uma falsa compreensão. Eles acreditam que têm um desequilíbrio químico que está sendo corrigido pela droga, e, assim, a droga é tal como a insulina para o diabetes. Mas isso não é verdade. Na verdade, a biologia dos distúrbios psiquiátricos permanece desconhecida, e psicofármacos “trabalham” para perturbar o funcionamento normal dos neurotransmissores no cérebro. As drogas são agentes que alteram as funções do cérebro, em vez de agentes normalizadores. Assim, a “medicalização” significa que a prescrição dessas drogas está sendo feita em um contexto que dá às pessoas uma falsa compreensão de seus próprios cérebros. Elas são levadas a acreditar que as suas lutas contra a depressão, ansiedade ou algum outro problema são devido a um problema químico conhecido, quando isso não é verdade. Na realidade, o cérebro humano é incrivelmente complexo e muito do seu funcionamento é um mistério. E quando ingerimos agentes que alteram a função do cérebro, que é o que as drogas psicotrópicas fazem, isso pode ser um problema para nossa saúde física e mental a longo prazo.
Foto: Acervo pessoal
“A indústria farmacêutica quer convencer as pessoas de que é melhor viver com drogas, já que isso constrói grandes mercados para os seus medicamentos. E a psiquiatria é sua aliada: a especialidade médica tem motivos para promover ouso das drogas de curto e de longo prazo”
EC – O que está por trás do interesse em convencer as pessoas de que é melhor viver com drogas de uso contínuo?
Whitaker – Dois interesses: a indústria farmacêutica quer convencer as pessoas de que é assim, já que isso constrói grandes mercados para os seus medicamentos. E a psiquiatria é sua aliada. Pelo menos nos Estados Unidos, grande parte dos psiquiatras deixa de lado a terapia da conversa e manda seus pacientes para psicólogos e outros terapeutas. Seu “produto” no mercado são as drogas. E assim a especialidade médica tem motivos para promover o uso das drogas de curto prazo e de longo prazo.
EC – O que comprova que as doenças mentais estão se tornando muito mais crônicas atualmente do que na era pré-drogas psiquiátricas?
Whitaker – Esta evidência é demonstrada em vários estudos e eles estão todos no meu livro Anatomy of an Epidemic (em tradução livre: anatomia de uma epidemia). Mas, por exemplo, na era pré-antidepressivos, a depressão costumava ocorrer em episódios, e uma alta porcentagem de pessoas que sofriam um primeiro episódio de depressão grave o suficiente para ser hospitalizada jamais teria outro. Apenas algumas poucas pessoas diagnosticadas com um episódio depressivo inicial iriam se tornar cronicamente doentes. Hoje, pelo menos nos Estados Unidos, um elevado número de pessoas diagnosticadas com depressão torna-se depressivo crônico. É possível ver esta mudança no curso da depressão na era moderna das drogas no livro da Associação Psiquiátrica Americana (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM). O livro diz que os estudos apontavam que a depressão ocorria por episódios e que a maioria das pessoas se recuperava desse episódio inicial. Agora, a publicação afirma que a depressão segue um curso crônico. E hoje, se você estudar o curso da depressão em pacientes não medicados e pacientes medicados, o grupo de não medicados tem melhores resultados a longo prazo. Eles são muito menos propensos a acabar cronicamente deprimidos.
EC – Por que é um mito que todas as pessoas com esquizofrenia precisam de medicação para toda a vida?
Whitaker – Estudos após estudos comprovam que uma porcentagem significativa de pacientes com diagnóstico de esquizofrenia pode ficar muito bem, a longo prazo, sem antipsicóticos, e é este grupo sem medicação que tem os melhores resultados no longo prazo. Isso foi mostrado no estudo de Martin Harrow (PhD em Psiquiatria na Universidade de Illinois) com pacientes esquizofrênicos nos Estados Unidos e em um estudo de Courtenay Harding (PhD em Psiquiatria, especialista em esquizofrenia, com passagem pelas principais universidades norte-americanas e hoje consultora internacional para programas de reabilitação mental). Ambos concluíram em suas pesquisas que era um “mito” que todas as pessoas com diagnóstico de esquizofrenia precisavam estar em uso de antipsicóticos por toda a vida e que, aparentemente, apenas uma minoria necessita usar medicamentos no longo prazo.
EC – Qual é a relação entre o uso de drogas ilícitas e antidepressivos e o aumento dos casos de bipolaridade?
Whitaker – É bastante claro que os estimulantes e antidepressivos aumentam o risco de uma pessoa sofrer um episódio maníaco e ser diagnosticada com transtorno bipolar. Com pessoas deprimidas, verifica-se que, quando se dá um antidepressivo, duplica o risco de a pessoa se tornar bipolar. E existem drogas ilícitas que aumentam o risco de uma pessoa ser diagnosticada como bipolar. Por exemplo, adolescentes que fumam maconha regularmente aumentam consideravelmente o risco de desenvolverem a bipolaridade. O problema pode ser resumido da seguinte maneira: drogas psicotrópicas, particularmente quando usadas de forma contínua, podem induzir problemas de humor que levam a um diagnóstico bipolar.
EC – O que concluem os estudos sobre o uso de medicação para depressão ou déficit de atenção em crianças e jovens por longos períodos?
Whitaker – Estudos de longo prazo de jovens diagnosticados com TDAH e tratados têm apontado que os medicamentos não fornecem benefício em nenhuma área. O único resultado é que o uso prolongado pode conduzir a problemas físicos e aumentar o risco de desenvolver bipolaridade.
EC – Ao longo de suas pesquisas e matérias publicadas, você sofreu algum tipo de pressão ou represália?
Whitaker – Houve algumas coisas bastante negativas escritas sobre mim por psiquiatras que são líderes em seu campo. O meu comentário favorito foi o de Jeffrey Lieberman, ex-presidente da Associação Americana de Psiquiatria, que disse a uma estação de rádio canadense que eu era uma “ameaça para a sociedade”. Mas eu, realmente, não tenho enfrentado retaliações, apenas críticas.
EC – Como vem sendo a inserção da sua investigação nas faculdades de Medicina?
Whitaker – Tenho sido chamado por um bom número de escolas médicas para dar palestras e apresentar minhas pesquisas. Ao mesmo tempo, acho que a maioria das escolas médicas simplesmente ignora meus livros e investigações.
EC – Depois dessas constatações, você é contra a utilização de drogas para doenças mentais? Por quê?
Whitaker – Não sou nem a favor nem contra o uso de drogas para transtornos mentais. Sou a favor de serem prescritas dentro de um contexto, o que significa que a sociedade deve compreender que a biologia das perturbações mentais permanece desconhecida, que as drogas não corrigem desequilíbrios químicos no cérebro; que, em geral, a sua eficácia a curto prazo é baixa; que estas drogas vão induzir alterações no cérebro que podem provocar dependência do medicamento e que existem evidências consideráveis de que, a longo prazo, os medicamentos aumentam a cronicidade de distúrbios mentais e o risco de uma pessoa se tornar funcionalmente prejudicada. Se as pessoas tiverem essa informação, então a sociedade e os indivíduos podem usar esses agentes com conhecimento, que, creio eu, envolveria muito mais cautela, e, em geral, por curtos períodos de tempo.

http://www.extraclasse.org.br/edicoes/2016/08/a-industria-do-mal-estar/

Vendedores de (neuro)ilusões

Vendedores de (neuro)ilusões

Existem duas coisas que nunca deixam de me surpreender: 1) como é fácil enganar as pessoas e 2) como as pessoas se deixam enganar tão facilmente. Por toda parte onde olho, vejo picaretas e charlatões vendendo todos os tipos de ilusões e fantasias que se puder imaginar. E vejo também pessoas, muitas pessoas, comprando tais ilusões - e o pior: ficando contentes e satisfeitas de estarem sendo iludidas. Não digo que estou imune a isso. De forma alguma! Todos estamos sujeitos, em alguma medida, a sermos enganados. Mas o que me impressiona de fato é a facilidade com que algumas pessoas são seduzidas por discursos atraentes porém absurdamente inconsistentes e até ridículos. Desde minha adolescência observo, sempre com muita curiosidade e espanto, o bizarro mundo dos vendedores (e compradores) de ilusão. Vários anos mais tarde, no mestrado, pude me aproximar de um tipo específico de bobagens, as neurobobagens, e pude confirmar a visão de que é realmente muito fácil enganar as pessoas - o que me faz pensar que as pessoas, em alguma medida, desejam ser enganadas.

No caso das neurobobagens, a receita para enganar é simples - e extremamente eficaz. Em primeiro lugar, coloque a expressão "neuro" em tudo o que você disser - assim, vai parecer que o que você diz é baseado em estudos científicos (mesmo que você nunca tenha lido um artigo neurocientífico sequer e no máximo algum livro de divulgação da Suzana Herculano-Houzel ou do neurocirurgião do programa da Fátima Bernardes). Assim, se for falar em liderança, diga "neuroliderança"; se o assunto for inovação, diga "neuroinovação"; ao invés de educação prefira "neuroeducação" - ou "neuropedagogia" ou "neuropsicopedagogia". Da mesma forma diga "neuromarketing", "neurobusiness" e "neurocoaching"; se for dar uma dica, dê uma "neurodica"; no intervalo sirva "neurodrinks"; na despedida dê um "neurotchau" mandando "neurobeijinhos" para a "neuroplateia". As neuropessoas que assistirem sua neuroapresentação sairão neuroencantadas - e neuroconvencidas de que o que você diz é "verdadeiramente" neurocientífico - quando, de fato, tudo não passou de uma grade neurobobagem. Enfim, o segredo é dizer as mesmas coisas que você sempre diz ou que os vendedores de ilusão sempre disseram (faça exercícios físicos, se alimente de forma equilibrada, não se estresse, cultive amizades, tenha sempre pensamentos positivos, etc.) com uma roupagem "neuro". Não importa se o que você disser não tiver qualquer embasamento científico (e esqueça o fato de que a ciência, e, no caso, as neurociências, estão recheadas de controvérsias e dissensos). O que importa, no fundo, é que as pessoas acreditem que você passou horas e horas lendo complexos artigos e livros de neurociências quando, de fato, você "aprendeu" sobre o cérebro lendo livros ou vendo videos produzidos por outros neuropicaretas como você.

Em segundo lugar, em qualquer apresentação que você fizer, use e abuse de imagens coloridas do cérebro. As pessoas vão ficar simplesmente deslumbradas! Ignore o fato de que as imagens produzidas pelas ressonâncias magnéticas e tomografias computadorizadas não são, nem de longe, fotografias do cérebro, mas sim o resultado de complexo processo que envolve desde decisões técnicas e metodológicas, convenções visuais até cálculos matemáticos e testes estatísticos. Ignore tudo isso e aponte para as belas e pretensamente esclarecedoras "fotografias do cérebro" em seu slide do Power Point - ou, se você quiser parecer mais moderno, do Prezi. Se puder acrescente também tabelas e gráficos coloridos (que nem você nem sua neuroplateia precisam entender) e muitas, muitas muitas, imagens de cérebros e neurônios humanizados - de preferência escolha imagens animadas do tipo gif que retratem cérebros e neurônios dançando, andando de skate ou malhando. As pessoas vão rir e se divertir! (e, é claro, também vão esquecer da total falta de embasamento e coerência de sua apresentação, o que é absolutamente imprescindível). 

Não se esqueça também acrescentar as clássicas imagens do cérebro dividido em dois hemisférios (de preferência com o lado esquerdo colorido de azul e o direito de rosa). Então traga à tona a famosa teoria dos dois cérebros (ou teoria do cérebro duplo) segundo a qual o hemisfério direito corresponde ao cérebro emocional, criativo e visual, enquanto que o esquerdo ao cérebro racional, lógico e verbal. Ignore o fato de que grande parte dos neurocientistas contemporâneos considera esta teoria uma completa bobagem, e prossiga sua neuroapresentação extrapolando esta teoria para explicar o motivo de homens serem de marte e mulheres de vênus. Ignore a construção social dos papeis de gênero e a fundamental importância das expectativas na produção das masculinidades e feminilidades, e vomite para sua neuroplateia pseudoexplicações como a de que as mulheres são piores do que os homens em matemática em função de terem o lado esquerdo do cérebro menos desenvolvido ou em decorrência da atuação de hormônios "femininos". Enfim, sempre que puder, naturalize as diferenças entre homens e mulheres dizendo que possuem cérebros essencialmente diferentes. 
Finalmente, durante toda a sua neuroapresentação, exalte as neurociências como se elas já tivessem as respostas para todas as perguntas. Simplesmente desconsidere toda a enorme ignorância que ainda persiste sobre o funcionamento do cérebro humano, fingindo que todo o conhecimento almejado já está disponível. Além disso, faça continuamente afirmações pomposas e filosoficamente controversas como "entender o cérebro é entender a nós mesmos" ou "você é o seu cérebro". Ignore todas as reflexões do campo da filosofia da mente que problematizam sobre a relação entre a mente e o cérebro, e simplesmente reduza a mente ao cérebro. Na verdade, reduza tudo ao cérebro. Se puder, e isto aumentará consideravelmente sua credibilidade perante a neuroplateia, cite a famosa frase do Prêmio Nobel Francis Crick (aliás, é sempre bom, citar um prêmio Nobel, mesmo que você não tenha lido nada dele), segundo o qual "você, suas alegrias e tristezas, suas lembranças e ambições, seu senso de identidade pessoal e livre-arbítrio, não são mais do que o comportamento de um imenso conjunto de células nervosas e suas moléculas associadas". Ignore o imenso e controverso reducionismo explícito nesta frase e siga adiante vomitando todo tipo de palavras "neuro", expressões pseudocientíficas e discurso de auto-ajuda. E pronto! Seguindo todas, ou pelo menos algumas, destas etapas você estará mais do que preparado para se tornar, oficialmente, um neuropicareta - para alegria dos neuroentusiastas ingênuos. Neuroabraços para você.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Nós (poesia Laing)

Os outros disseram que ela era estúpida. então ela
se fez a si própria estúpido para não ver como
estúpido
eles estavam a pensar que ela era estúpida,
porque era ruim pensar que eles eram
estúpido.
Ela preferiu ser estúpido e bom,
em vez de ruim e inteligente.
É ruim ser estúpido: ela precisa ser
inteligente
para ser tão bom e estúpido.
É ruim ser inteligente, porque isso mostra
como eles eram estúpidos
para lhe dizer como ela era estúpida.

Ronald Laing. Nós.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Harvard Professor Says Prescription Drugs Are Killing Population



Harvard Professor Says Prescription Drugs Are Killing Population

Harvard Professor claims that prescription drugs are killing the population
A Harvard Professor has claimed that prescription drugs are not only ineffective at treating most illnesses, but are actually killing the population. 
Arnold Seymour Relman, professor of Medicine at Harvard University and former Editor-in-Chief of the New England Medical Journal says:
“The medical profession is being bought by the pharmaceutical industry, not only in terms of practice of medicine, but also in terms of teaching and research. The academic institutions of this country are allowing themselves to be the paid agents of the pharmaceutical industry. I think it’s disgraceful.”
Trueactivist.com reports:
The pharmaceutical industry is the most prevalent medicine industry worldwide, as it is hypothesized that the medicines provided by it quickly gives respite from ailments and treats a person, despite of the fact that thousands of people die every year from prescription drug use.

According to a new study, almost 80 percent of meta–analyses had some sort of industry tie-up, either through sponsorship or speaking fees, research grants and things like that, which again leads to the fact that drugs may help someone by giving some sort of relief or lowering pain, but they can also cause a large amount of harm.
These drugs can instantly relieve acute pain and distress. But the treatment of chronic diseases poses a grave problem. Thus, in relieving a diseased condition, other abnormal physiological and pathological problems may develop. The side effects from these drugs can range from mild side effects like fatigue and constipation, to strong side effects like suicidal thoughts, insomnia, coma, severe infection and so on.
“Any drug causing more side effects than benefits will not be called a medicine. It would rather be called a poison.”
Here, we are talking about antidepressants. Dr. Peter Gotzsche, co-founder of Cochrane Collaboration (the world’s foremost body in assessing medical evidence), is currently working to make the world aware of the fact that the side effects associated with the several pharmaceutical grade drugs are actually killing people all over the world. According to his research, 100,000 people in the United States alone die each year from the side effects of correctly-used prescription drugs. He published many papers reasoning the fact that antidepressants are making people suffer with its harmful effects to a large extent.
In context of antidepressants, recent example is a study published in the British Medical Journal by researchers at the Nordic Cochrane Centre in Copenhagen. It states that the pharmaceutical companies are not disclosing all information regarding the results of their drug trials.
Tamang Sharma, a PhD student at Cochrane and lead author of the study, said:
“We found that a lot of appendices were often only available upon request to the authorities, and the authorities had never requested them. I’m actually kind of scared about how bad the actual situation would be if we had the complete data.”
This is not the first time that the pharmaceutical companies are portraying only the half truth of their drug trials to get the antidepressants on to the shelves. There are many other examples where we can see that the drug companies are selling their drugs on the basis of a bunch of lies and half-told truths.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

CUIDADO COM A RITALINA

http://www.compartilhandosaberes.com.br/ministerio-da-saude-adverte-muito-cuidado-com-a-ritalina/

MINISTÉRIO DA SAÚDE ADVERTE: MUITO CUIDADO COM A RITALINA!

No dia 1º de outubro de 2015 o Ministério da Saúde publicou um documento denominado “Recomendações do Ministério da Saúde para adoção de práticas não medicalizantes e para publicação de protocolos municipais e estaduais de dispensação de metilfenidato para prevenir a excessiva medicalização de crianças e adolescentes”.
Neste documento são apresentadas análises detalhadas e bem fundamentadas sobre a fragilidade do diagnóstico de TDAH, a inconsistência metodológica da maior parte dos estudos realizados que recomendam o uso do metilfenidato (sem contar o fato de que muitos destes estudos foram financiados por indústrias farmacêuticas que fabricam o medicamento), os indícios que apontam para a veiculação de índices superestimados de prevalência do suposto transtorno, os questionamentos acerca da eficácia e segurança do tratamento que apresenta alto potencial de abuso e dependência além de reações adversas e graves efeitos colaterais, o aumento crescente do consumo (o Brasil já é o segundo país onde mais se consome o metilfenidato!) e destaca ainda a existência de denúncias de abuso do medicamento em creches, escolas e centros de assistência social.
Em defesa do rompimento com o processo de medicalização que transforma problemas produzidos socialmente em questões médicas, responsabilidade dos indivíduos e suas famílias, o documento afirma a necessidade do uso racional e cauteloso e afirma categoricamente que “do ponto de vista clínico é muito complexa a diferenciação dos casos de TDAH, da maioria das dificuldades de escolarização decorrentes de modelos pedagógicos inadequados ao contexto atual das crianças, das dificuldades familiares, cada vez mais complexas e do contexto sócio-cultural altamente competitivo, estigmatizante e excludente”.
Ao final recomendam “a publicação de protocolos municipais e estaduais de dispensação de metilfenidato, seguindo recomendações nacionais e internacionais para prevenir a excessiva medicalização de crianças e adolescentes”
Com certeza, este documento representa um grande avanço e pode ser utilizado como um instrumento importante para fomentarmos um amplo processo de discussão sobre a medicalização em todos os municípios brasileiros.
Vamos defender nossas crianças e jovens!
Para ler o documento na íntegra clique aqui
Recomenda—-es-para-Prevenir-excessiva-Medicaliza—-o-de-Crian–a-e-Adolescentes