Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)

Essa avalanche de informações e conhecimento relacionada à saúde e despejada todos os dias sobre os indivíduos sem a menor cerimônia varia muito em termos de objetividade e credibilidade. Porém, é preciso admitir que ela consegue atrair cada vez mais a atenção pública para assuntos de saúde - e muda o relacionamento tradicional entre médicos e pacientes, encorajando os últimos a exercer uma atitude mais participativa na relação. Ironicamente, enquanto os pacientes conquistam mais acesso às informações sobre saúde, os médicos têm cada vez menos tempo para estudar as últimas descobertas científicas ou para ler publicações da área - on-line ou não -, e mesmo para se comunicar adequadamente com especialistas de áreas relevantes e/ou com os próprios pacientes. Além disso, enquanto os médicos precisam dominar conhecimentos sobre as diferentes condições de saúde de um grande número de pacientes cujos rostos eles mal conseguem lembrar, um paciente instruído, com acesso à internet, pode, na verdade, ter lido uma pesquisa mais recente do que o médico sobre sua doença específica. Os pacientes chegam ao consultório com paginas impressas contendo o material que pesquisaram na internet, fotocópias de artigos da Physician's Desk Reference, ou recorte de outras revistas e anuários médicos. Eles fazem perguntas e não ficam mais reverenciando a figura do médico, com seu imaculado avental branco. Aqui as mudanças no relacionamento com os fundamentos profundos do tempo e conhecimento alteraram completamente a realidade médica. Livro: Riqueza Revolucionária - O significado da riqueza no futuro

Aviso!

Aviso! A maioria das drogas psiquiátricas pode causar reações de abstinência, incluindo reações emocionais e físicas com risco de vida. Portanto, não é apenas perigoso iniciar drogas psiquiátricas, também pode ser perigoso pará-las. Retirada de drogas psiquiátricas deve ser feita cuidadosamente sob supervisão clínica experiente. [Se possível] Os métodos para retirar-se com segurança das drogas psiquiátricas são discutidos no livro do Dr. Breggin: A abstinência de drogas psiquiátricas: um guia para prescritores, terapeutas, pacientes e suas famílias. Observação: Esse site pode aumentar bastante as chances do seu psiquiatra biológico piorar o seu prognóstico, sua família recorrer a internação psiquiátrica e serem prescritas injeções de depósito (duração maior). É mais indicado descontinuar drogas psicoativas com apoio da família e psiquiatra biológico ou pelo menos consentir a ingestão de cápsulas para não aumentar o custo do tratamento desnecessariamente. Observação 2: Esse blogue pode alimentar esperanças de que os familiares ou psiquiatras biológicos podem mudar e começar a ouvir os pacientes e se relacionarem de igual para igual e racionalmente. A mudança de familiares e psiquiatras biológicos é uma tarefa ingrata e provavelmente impossível. https://breggin.com/the-reform-work-of-peter-gotzsche-md/
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sexta-feira, 7 de março de 2025

O conformismo e a necessidade de alternativas

Um dos estágios do conformismo é defender que o comum e habitual está correto pela facilidade ou pela implicação de ausência de conhecimento e habilidades. Em um segundo estágio há o contato com demonstrações de que há opções superiores ao comum e habitual e nessa ocasião ocorre a defesa do erro por ser comum e habitual. O conformismo transmite a imagem de que não há responsabilidade na defesa do comum e habitual e que destoar implica em maior responsabilidade. Possivelmente por esses motivos há o medo de destoar do comum e habitual.

sábado, 25 de maio de 2024

A resposta psiquiátrica à crítica contracultural

“Em primeiro lugar, o establishment, que a princípio ficou desconcertado com tantos problemas que não conseguia resolver, e que se sentiu aliviado, em alguns casos, por descartá-los, não demorou a montar uma contra-ofensiva. A crise passou, o sistema recuperou o controle da situação ao garantir que as leis que regem os padrões institucionais e profissionais no campo paramédico fossem mais rigorosas, tornando as concessões de ajuda financeira dependentes da prova de competência profissional (presumivelmente monopolizada pelo próprio sistema médico); e ao criticar e repudiar membros da profissão que se comprometeram ao se envolverem profundamente em atividades supostamente subversivas, os médicos estão agora de acordo geral que os “abusos” dos anos 60 devem ser lamentados e que a psiquiatria deve permanecer segura no seu nicho médico." (pág. 301-302).

"A saúde mental comunitária sobreviveu através do desenvolvimento de novas técnicas como a intervenção em crises, a psicoterapia de curto prazo, formas sofisticadas de aconselhamento para pessoas em posições de responsabilidade, e assim por diante. O problema era redefinir a relação entre a profissão psiquiátrica e a população, de modo a permitir a extensão dos serviços a novos grupos da sociedade: era necessária uma série de técnicas de intervenção específica e rápida, dirigidas mais aos sintomas do que à etiologia dos problemas subjacentes e concebidas para trabalhar tanto o ambiente como o equilíbrio interno do indivíduo, técnicas que dispensavam entrevistas prolongadas e que se centravam na neutralização de conflitos potencialmente explosivos. Esta nova ênfase representou uma ruptura com as noções tradicionais de técnica, mas não uma rejeição da técnica como tal. Na verdade, resultou numa renovada insistência nas virtudes do conhecimento especializado enraizado nos conhecimentos básicos ensinados pelas escolas médicas e que exigem uma longa aprendizagem profissional". (pág. 301-302)

Capítulo O MUNDO PSY. A sociedade psiquiátrica. Castel, Castel e Lovell.

[A questão da competência técnica, evidências validadas e a profissionalização utilizada nas práticas baseadas em evidências (medicina baseada em evidências e psicologia baseada em evidências) é semelhante à contraestratégia de reconquista de influência pela psiquiatria biológica após a críticas da contracultura nos anos 60. De forma semelhante, é possível utilizar essa proposta para restringir a influência da perspectiva crítica com ênfase social ou biológica.]

domingo, 10 de setembro de 2023

Alternativa à definição negativa de diferença

Uma possível alternativa para a definição negativa de diferença (hierarquizante) é a definição extensional (por enumeração). O conjunto dos diferentes seriam enumerados como indivíduos (um por um). A relação com o diferente se daria por contato direto, olhar disciplinado e reflexão conceitual. Essa forma de lidar com a diferença leva à muitos deslocamentos de ideias pré-concebidas herdadas da cultura (estereótipos).

domingo, 12 de fevereiro de 2023

Carnaval e loucura

"Em condições normais, esse espaço - por ser vigorosamente contrário ao mundo cotidiano, e sendo dele uma imagem invertida - apenas reforça esse mundo, confirmando-o. Mas as condições normais são muito relativas e, como procurei revelar no capítulo anterior a forma carnavalesca parece muito importante como um modo alternativo para o comportamento coletivo, e sobretudo porque é no carnaval que são experimentadas novas avenidas de relacionamento social que, cotidianamente, jazem adormecidas ou são concebidas como utopias. Por isso, o mundo do carnaval é, para nós, o mundo da loucura!" 

Carnavais, malandros e heróis. Roberto DaMatta (p. 88)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Áreas psi e sociedades abertas e pluralistas

Thomas szasz afirma no livro Fabricação da loucura que uma das funções sociais da psiquiatria é reduzir o incômodo de pessoas não acostumadas com sociedades abertas e pluralistas.

Seria interessante ler o livro A sociedade aberta e seus inimigos do filósofo da ciência Karl Popper com esse olhar. Também se entende porque a reforma psiquiátrica antimanicomial brasileira defende o multiculturalismo e critica o conservadorismo e colonização.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

A individualidade, a uniformidade e os interesses do coletivo

Por que algumas (ou a maioria) das pessoas parecem ter nojo e desprezo pela individualidade ou singularidade? A partir da ideia de ser propriedade do coletivo ou de um coletivo é possível inferir que a pessoa que não se tornou uniforme conforme o esperado pelo coletivo não está servindo a esses interesses e portanto é classificada como equivalente ao inimigo, lixo ou resto social. Como as pessoas são condicionadas a isso? Pela observação do julgamento social das pessoas diferentes. Esse julgamento social tem origem nos interesses dos coletivos e representa a sua dimensão negativa.

A sociedade tem mais dificuldade de absorver uma cultura diversa ou pessoas singulares também porque isso entra em conflito com outras individualidades. As pessoas que tem nojo da singularidade de certa forma equivalem a uniformidade com o prestígio social. O prestígio social tem origem em servir a algum interesse.

A psiquiatria portanto marca ou estigmatiza as pessoas diferentes como uma ameaça social à reprodução social.

Logo, há algo de cooptação na normalidade.

terça-feira, 25 de maio de 2021

Janela de overton e normalidade estatística nas áreas psi

O conceito de janela de overton afirma que a opinião pública sobre o que é inaceitável, neutro, aceitável ou desejável pode ser manipulada por engenharia social para defender interesses de grupos e que isso é feito deslocando o foco do mérito do assunto para outro aspecto. Ser considerado normal ou anormal depende muito do que já foi estabelecido em anos anteriores na cultura como inaceitável ou neutro e aceitável. A psiquiatria ou as áreas psi em geral ao usarem a curva normal (conceito da estatística) para definir o que é saudável ou não, acaba sendo conservadora porque só considera aceitável formas de comportamento já estabelecidas na sociedade para as pessoas mais quadradas. A distância da mentalidade das pessoas quadradas é um risco social. Ou pelo menos se não for iniciativa das área psi a demanda social por tratamento estará relacionada com a janela de overton.

segunda-feira, 24 de maio de 2021

Intolerância social com o desbunde

Hoje em dia há uma grande intolerância social com o desbunde de comportamento. Para algo ser considerado doente basta a cultura ser incapaz de assimilar como algo legítimo. Desbunde era a mudança repentina de comportamento das pessoas que se tornavam hippies. O pluralismo cultural é algo que se perde com a normatividade implícita nos conceitos de saúde mental.


domingo, 30 de agosto de 2020

Consciência forte, conservadorismo e rejeição da singularidade/criatividade

Assim como o animal de laboratório, que gasta todo seu tem-
po esquivando-se de choques, pessoas que têm uma consciência forte
podem andar em um curso estreito. Elas obedientemente fazem o
que é esperado, raramente tentando algo novo. Elas são confiáveis,
corajosas, transparentes e reverentes. Junto com estas inquestioná-
veis virtudes pessoais, entretanto, elas freqüentemente consideram
criatividade uma coisa perigosa, desaprovando-a em si mesmas e nos
outros. Elas freqüentemente consideram a singularidade perturbadora;
ação, crença ou aparência não-convencionais ameaçam sua seguran-
ça. E quando as condições mudam, quando a sociedade relaxa algu-
mas contingências e estreita outras, elas freqüentemente são incapa-
zes de adaptar-se; mudanças as ultrapassam. Estes subprodutos
infelizes de coerção "efetiva" também devem ser esperados quando a
comunidade constrói consciências individuais por meio de punição.

Se frutos proibidos continuam a nos atrair, a comunidade
haverá de nos considerar como tendo consciência fraca e sendo,
portanto, perigosos. Mesmo sem burlar a lei, podemos nos descobrir
com problemas. Simplesmente adotar um estilo de vida incomum
pode nos colocar em conflito com a comunidade mais ampla; ela
considera o diferente como não-confiável. Também podemos nos
sentir em guerra conosco quando somos fortemente tentados a fazer
coisas que aprendemos a chamar de "ruins" ou "perigosas", ou
quando nos descobrimos realmente "indo contra nossa consciência".
Não apenas a comunidade deixa de confiar em nós porque não
podemos nos controlar, mas é provável que não confiemos ou que
desprezemos a nós mesmos. Estas características distintivas de de-
sordens de personalidade e de neuroses são subprodutos adicionais
das práticas coercitivas que a comunidade usa para estabelecer a
consciência individual.

Coerção e suas implicações - Sidman

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Vida alternativa como esquiva da vida normal

 Permanecendo fora do mundo


Uma vez que desistentes tenham fugido de suas famílias,

escolas, ou comunidades coercitivas, eles mantêm sua distância.

Tendo se libertado de um ambiente aversivo, eles então fazem tudo

que estiver ao seu alcance para impedir que esse ambiente restabe-

leça seu domínio. Manter-se sem envolvimento é um ato de esquiva.

Jovens desistentes podem adotar um estilo de vida tão dife-

rente daquele do qual fugiram que sua comunidade original os julga

como tendo se tornado indesejáveis e até mesmo perigosos. Ambien-

tes pobremente mantidos e insalubres trazem perigos para os fugiti-

vos mas servem para uma importante função; eles mantêm o resto

da sociedade a uma certa distância. Famílias, considerando a nova

filosofia, os novos costumes, o novo ambiente e a aparência física de

seus filhos objetáveis e assustadores, abandonam tentativas de tra-

zer de volta a ovelha desgarrada.

Tendo fugido de indivíduos e instituições sociais coercitivos,

desistentes freqüentemente são atraídos para comunidades "margi-

nais" que afirmam que reforçadores mundanos, como pagamento

por trabalho ou talento, são incompatíveis com reforçadores como o

amor, a afeição e o compartilhar que se originam de relações pes-

soais não-egoístas. Juntando-se a uma comunidade com estilo de

vida alternativo, eles se oferecem a um líder carismático para explo-

ração, em troca de proteção contra a sociedade que rejeitaram. Toda

a renda vai para o guru que é, presumivelmente, incorruptível por

dinheiro e pelos confortos que ele torna disponíveis.

O que isto significa é que a sua abdicação de responsabilida-

de e de tomada de decisões permite aos membros de cultos ignorar

e, portanto, se esquivar de pressões para voltar à cena da qual eles

desistiram. Uma atração importante de comunidades e seitas margi-

nais é seu sucesso em proteger membros daquele outro mundo onde

suas vidas foram dominadas por fuga e esquiva. Pode levar tempo

pafa que eles descubram que seus novos reforçadores também são,

na sua maioria, negativos.

Quando a dor de um choque é atrasada, a aprendizagem da

esquiva será lenta; podemos ter de aceitar muitos choques antes de

aprender a evitá-los. Com drogas, também, um longo tempo pode se

passar entre causa e efeito. Drogas que causam adição têm compo-

nentes reforçadores que tornam ainda mais difícil aprender a se

esquivar delas. Também relações pessoais destrutivas freqüente-

mente contêm elementos positivos que por algum tempo sobrepujam

nossas inclinações de nos esquivarmos de situações aversivas. Viver

utria vida de isolamento social ou intelectual pode impor privações,168

Murray Sidrnan

desconfortos físicos e estresses biológicos que terminam em doença

e inabilidade para manter nossa independência. Desistentes do veio

central da sociedade freqüentemente sofrem desses resultados atra-

sados. Eles descobrem que seu novo ambiente desaprova curiosida-

de intelectual, faz com que se sintam culpados por qualquer sinal de

individualidade e considera desconforto e doença como formas de

distinção. Aquilo que primeiro pareceu afetuoso paternalismo torna-

se uma outra forma de exploração. Quando os elementos destrutivos

de seus novos estilos de vida se tornam óbvios o suficiente para

gerar um novo ciclo de esquiva, jovens desistentes podem já ter se

prejudicado irrecuperavelmente.

Mesmo que se mantenham saudáveis, portas terão se fecha-

do para eles, fechando seu acesso à oportunidade para inde-

pendência intelectual, econômica ou política mais convencionais,

ainda assim mais construtivas. Os componentes aversivos de suas

novas vidas podem finalmente tomar-se suficientemente fortes para

sobrepujar os atrativos originais, mas freqüentemente é muito tarde

para ação efetiva.

O reconhecimento dos componentes de esquiva na conduta

dos desistentes da sociedade torna-se mais importante quando que-

remos trazê-los de volta. Tendemos a colocar a culpa nas comunida-

des ou contraculturas que atraem os desistentes, ou em seus estilos

de vida alternativos. Mas a falha está na coerção que permeia as

interações sociais "normais". Ainda que um observador não-envolvido

possa ver as novas formas de coerção a que muitos desistentes se

submetem, permanece o fato de que eles consideram a nova coerção,

pelo menos temporariamente, menos aversiva que a antiga.

Se a sociedade pretender ter uma abordagem construtiva

para o problema de ganhar de volta seus membros perdidos, parti-

cularmente seus jovens, um primeiro passo necessário é admitir que

o comportamento de desistir é esquiva. Compreender as origens da

esquiva iria nos levar a examinar nosso próprio ambiente. Então,

poderemos identificar os choques que tornam as barrar de "desistir"

efetivas. A falha corrigível não está na aparente atratividade dos

alternativos, mas na relativa coercitividade da linha de base "nor-

mal". Em vez de perguntar "para onde foram os desistentes?", deve-

mos perguntar: "De onde eles vieram?"


Coerção e suas implicações - Sidman

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Desistindo da sociedade

Desistindo da sociedade


Fugitivos de um outro tipo desistem 

completamente do fluxo principal da sociedade. Alguns apenas flu-

tuam nas águas estagnadas, alguns lutam em águas turbulentas,

alguns tentam mudar a direção da corrente e alguns tentam explodir

os diques e afundar todos nós. Eles vão das crianças "da paz e do

amor" dos anos 60 e seus sucessores guiados por gurus — autocen-

trados, mas pacíficos, perturbadores em sua disposição de ser explo-

rados — ao extremo oposto do continuam de desistentes, os terroris-

tas de hoje — autocentrados e violentos, amedrontadores por causa

de seu total desprezo pela vida humana e pelos seus produtos.

Também encontramos muitos em estágios intermediários. Alguns se

retiraram apenas dos aspectos abertamente competitivos da vida130

Murray Sidrnan

mas mantêm-se artística ou intelectualmente criativos. Outros devo-

tam suas energias não tanto para a produtividade, como para a

preservação. Ainda outros tentam mudar o sistema por meio de

mecanismos socialmente aceitos como legislação, campanhas publi-

citárias, apoio a candidatos políticos, filiação em partidos ou de-

monstrações não-violentas.

A sociedade, rotulando como caronas aqueles que adotam

estilos de vida não-produtivos, dirige abuso social e político a eles. A

comunidade vê desistentes que encontram segurança nos rituais e

despotismo benevolente de um auto-intitulado profeta como amea-

ças a modos estabelecidos de conduta. Ela interpreta sua fuga como

um tapa na cara dos pais e outros responsáveis por integrar os

jovens na comunidade. Freqüentemente, pessoas que são rejeitadas

pelos desistentes voltam-se contra eles, tentando tirar sua liberdade,

classificando-os como mentalmente doentes ou incompetentes. A so-

ciedade se opõe até mesmo àqueles que podem ser chamados de

desistentes construtivos — aqueles que usam recursos-padrão e mo-

ralidade convencional na tentativa de mudar a estrutura da socieda-

de — invocando os mesmos mecanismos e moralidade socialmente

aprovados para preservar o status quo. Dissidentes, tratados como

desistentes, descobrem-se alvos de abuso verbal, físico e econômico.

"Se as conseqüências de desistir são tão opressivas e mesmo

perigosas", pode-se perguntar, "por que tantos tomam este cami-

nho?" Quando indivíduos insistem em abrir mão dos reforçadores

positivos que uma sociedade torna disponíveis, até mesmo trazendo,

em vez disso, punição severa sobre si mesmos, uma análise compor-

tamental dos indivíduos e sua sociedade torna-se necessária. Histó-

rias individuais revelarão que muitos que são classificados como

desistentes jamais foram realmente admitidos nos grupos dos quais

eles supostamente se retiraram. Eles podem, na verdade, ser fugiti-

vos da coerção, mas podemos chamá-los de desistentes se a socieda-

de nunca os assumiu como membros, para começar? Eles não esco-

lheram uma vida de opressão; eles não tiveram alternativa. Embora

tratados como desistentes, eles realmente são banidos.

É provável que descubramos, então, que muitos que parecem

tér desistido jamais tiveram acesso a reforçadores positivos suposta-

mente disponíveis. Crianças de minorias sociais freqüentemente

crescem sem escolarização efetiva, especialmente se repressão so-

cial, política e econômica impediu sua comunidade de desenvolver

uma tradição de mobilidade social ascendente. Longe de desistir,

elas foram excluídas do grupo.Coerção e suas implicações

131

Em famílias economicamente bem-sucedidas, o único apoio

paterno que alguns adolescentes conhecem é o monetário e mesmo

esse apoio não é contingente a qualquer coisa que eles façam ou

deixem de fazer. Estes jovens emocionalmente privados, a quem

jamais se ensinou responsabilidade social ou financeira, jogarão fora

seus recursos facilmente obtidos em busca de quaisquer reforçado-

res positivos que passem ao seu alcance. E assim encontramos

muitas crianças privilegiadas, cortadas dos laços familiares normais,

movendo-se para fora de seu vazio social e emocional em direção à

cultura da droga.

Por outro lado, também encontramos muitos para quem pu-

nição e reforçamento negativo anularam quaisquer reforçadores po-

sitivos disponíveis. Eles vão dos que sofreram abusos físicos e se-

xuais a aqueles que simplesmente descobriram como repulsivas as

inconsistências e hipocrisias da civilização. Para eles, sair do fogo

para cair na frigideira pode ser um ato de desespero. Controle coer-

citivo que faz isso desperdiça vidas. O crescimento do indivíduo

cessa e a sociedade perde as contribuições potenciais de seu mem-

bro desistente.

Embora esses desistentes possam apenas trocar uma situa-

ção ruim por outra, eles ainda podem obter acesso a reforçadores

dos quais anteriormente estavam excluídos, ou podem encontrar

novos tipos de reforçadores para substituí-los; estes podem recom-

pensar as novas dificuldades. Ao tentar entender por que os desis-

tentes parecem tão desejosos de trazer para si a ira da sociedade,

temos que considerar todas as alternativas e opções que desistir

torna disponíveis. Amizade e afeição, abertamente dadas e recebi-

das, mesmo em um refúgio onde a fome e o desconforto físico preva-

lecem, podem facilmente contrabalançar um ambiente anterior que

provia todas as necessidades físicas, mas punia calor emocional.

Desistentes de setores privilegiados da sociedade, algumas vezes se

descobre, sacrificaram segurança econômica por segurança emocio-

nal.

<

Considera-se que certas drogas "aumentam a consciência",

embora na realidade reduzam a acuidade sensorial, distorçam a

percepção e prejudiquem o julgamento. Entretanto, junto com estas

desvantagens, as drogas também podem produzir esquecimento das

restrições, repressões e agressões da vida. Portanto, drogas podem

ajudar a mitigar ambos, os desconfortos de um estilo de vida alter-

nativo e o abuso adicional que um ambiente coercitivo aplica ao

tentar reclamar de volta seus desistentes.132


A longo prazo, sair da sociedade não funciona, seja generica-

mente ou para o indivíduo. A sociedade sobrevive a seus membros e

sua paciente coerção esmaga rebeliões não-construtivas. Embora

aqui e acolá indivíduos realmente encontrem um nicho não-tradicio-

nal para si mesmos, ocasionalmente até tendo sucesso na alteração

de práticas de comunidades, o destino usual de um desistente é a

inefetividade — verdadeiro esquecimento. O desperdício é enorme.


Murray Sidman - Coerção e suas implicações

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Uma crítica contracultural à definição de habilidades sociais

A definição de habilidades sociais inclui um elemento de valorização social que não incorpora críticas às limitações da cultura hegemônica e também em incorporar a diversidade cultural e naturaliza essa limitações como padrões pelos quais se define habilidades sociais e saúde. Essa definição parece ser cúmplice da medicalização do diferente ao não incorporar a crítica histórica da contracultura e da luta antimanicomial que reconhece o potencial opressor da cultura hegemônica. Na medida em que a cultura hegemônica e manicomial possui limitações invisibilizadas a definição de habilidade social e saúde vai utilizar o critério real de adesão à cultura hegemônica. Nesse sentido, a pessoa que adere acriticamente à cultura hegemônica vai ser considerada habilidosa e saudável enquanto que a pessoa com habilidades críticas ou culturalmente diversa irá ser considerada como não habilidosa e não saudável, isto é, como tendo um déficit de habilidades sociais e um transtorno psiquiátrico ou psicológico. A experiência de opressão fará com que a pessoa vitimizada se comporte de maneira não valorizada pela cultura opressora tomada como padrão de saúde e virtude. A valorização ou desvalorização vai ser relativa ao grupo social tomado como referência.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Atitude contracultural e preconceitos/estereótipos

Adotar uma atitude contracultural por ter recebido um diagnóstico psiquiátrico reforça preconceitos e estereótipos.

A atitude contracultural pode parecer libertária mas é interpretada socialmente pelo modelo biomédico.

Deixar de seguir padrões epistêmicos e sociais também pode ser contraproducente para inserção social positiva pois há a exigência social ou a intolerância com quem não segue certos padrões.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Mundo absurdo e loucura

Se o Mundo for absurdo e as pessoas rotuladas normais fazerem absurdos, vai ser considerado louco quem reconhecer que o mundo é absurdo. A racionalidade da sociedade é considerar natural o absurdo e louco quem não acha natural a racionalidade da sociedade.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O risco de flertar com a contracultura

Flertar com a contracultura numa família reguladora e conservadora é muito facilmente medicalizado. O sistema de saúde mental tem a capacidade de prejudicar bastante a vida de alguém contracultural. Ainda mais que dificilmente alguém contracultural vai se adaptar à cultura dominante. Provavelmente vai ser desprezado.

Se reclamar ou criticar a cultura dominante comprova que é um completo insano. O pessoal que está preocupado em ganhar pontos, privilégios e prestígio na cultura dominante é bastante intolerante.

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Renegar cultura (Skinner)

Alguém evita ou escapa de um tratamento adverso, compor­-
tando-se de modo a reforçar aquele que até então o tratou adver­
samente; mas existem outros meios de fuga. Pode, por exemplo,
simplesmente escapar de seu alcance. Pode-se fugir da escravidão,
emigrar ou escapar de um governo, desertar de um exército, tor­
nar-se apóstata de um a religião, matar aulas, abandonar o lar ou
renegar uma cultura tornando-se vagabundo, ermitão ou hippie.
Tal comportamento é produto de condições adversas, tanto quan­
to o comportamento que tais condições se destinavam a produzir.
Este só se mantém pelo recrudescimento das contingências ou
pelo uso de estímulos adversos mais poderosos.

Do livro O mito da liberdade

domingo, 5 de maio de 2019

Limitações conceito de disciplina

Se a sociedade ou cultura tem aspectos monstruosos (patogênicos) (Ver coleção primeiros passos sobre contracultura) e os disciplinadores tem limitações e interesses então o conceito de disciplina em Foucault acaba sendo demasiadamente conservador. O indisciplinado avaliado como doente é produto da cultura monstruosa e limitações dos disciplinadores.

domingo, 7 de abril de 2019

ermitãos, vagabundos ou hippies (skinner)


"A boa vida que Huxley retratou (com desprezo, naturalmente) era sentida como boa. Não foi acidental ter incluído uma forma de arte chamada feelies (to feel = sentir) e drogas que produziam ou mudavam os sentimentos.

As boas coisas da vida têm, entretanto, outros efeitos. Um deles é a satisfação das necessidades, no sentido simples de alívio do desconforto. Algumas vezes comemos para escapar das cãibras de fome e tomamos comprimidos para aliviar a dor, e por compaixão alimentamos os famintos e curamos os doentes. Para tais propósitos planejamos uma cultura que dê a cada qual “ de acordo com suas necessidades”. Mas a satisfação é um objetivo limitado; não ficamos necessariamente felizes por termos tudo quanto queremos. A palavra sated (saciado) tem relação com a palavra sad (triste). A simples abundância, quer numa sociedade afluente, quer num clima benévolo, quer num Estado paternalista, não é o suficiente. Quando as pessoas recebem de acordo com as suas necessidades independentemente do que fizerem, permanecem inativas. A vida abundante é uma terra de montanha-de-doce ou o País de Cocanha. É a Schlaraffenland a terra dos preguiçosos — de Hans Sachs, e o ócio é o único objetivo dos que estiveram compulsivamente ou ansiosamente ocupados.
O céu é comumente descrito pela lista das coisas boas que nele se encontram, mas ninguém ainda planejou um céu de fato interessante, seguindo esse princípio. O importante quanto às coisas boas da vida é o que as pessoas estão fazendo quando as obtêm.

As contingências de seguir as regras são freqüentemente mal planejadas e os membros da cultura dificilmente levam em conta as conseqüências líquidas. Ao contrário, resistem a essa espécie de controle. Recusam-se a fazer o que se lhes pede e abandonam a cultura — como ermitãos, vagabundos ou hippies — ou permanecem nela contestando seus princípios."

Skinner. Contingências do reforço.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

contracultura, psiquiatrização e testes projetivos

A identificação com a contracultura ou contestação social pode levar à psiquiatrização. O tipo de coisa que aparece como esquizofrenia num teste psicológico projetivo.

A contracultura questiona valores ocidentais centrais como uma racionalidade veiculada e privilegiada por essa mesma cultura. Um estilo, modo de vida e uma cultura marginais.

"Um conjunto de hábitos que, aos olhos das famílias de classe média, tão ciosas de seu projeto de ascensão social, parecia no mínimo um despropósito, um absurdo mesmo."

Na contracultura a cultura vigente é uma doença.

Vale a pena ler esse livro se for diagnosticado ou se for familiar.

O que é contracultura. Primeiros passos.