https://seguremed.com.br/saiba-a-diferenca-entre-erro-medico-e-iatrogenia/
Limitações da psiquiatria biomédica Controvérsias entre psiquiatras conservadores e reforma psiquiátrica Psiquiatria não comercial e íntegra Suporte para desmame de drogas psiquiátricas Concepções psicossociais Gerenciamento de benefícios/riscos dos psicoativos Acessibilidade para Deficiência psicossocial Psiquiatria com senso crítico Temas em Saúde Mental Prevenção quaternária Consumo informado Decisão compartilhada Autonomia "Movimento" de ex-usuários Alta psiquiátrica Justiça epistêmica
Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)
Aviso!
quarta-feira, 16 de abril de 2025
quinta-feira, 10 de abril de 2025
Produtos de saúde benignos e produtos malignos
No senso comum ocorre uma divisão entre produtos de saúde benignos (medicamentos, suplementos e produtos naturais) e produtos malignos (qualquer coisa que recebe o rótulo de "fazer mal"). A classificação de produtos dessa forma induz a uma quase santificação ingênua dos produtos classificados como benignos e negligência do potencial de risco e de danos de fato e uma atitude de eliminação dos produtos classificados como malignos. A percepção do potencial de risco do efeito cumulativo e atrasado dos produtos de saúde classificados como benignos necessita de uma compreensão maior de seus efeitos. Por isso, o uso racional desses produtos (redução de uso desnecessário ou prejudicial) não é levado adiante. Esses produtos de consumo recebem a aura de salvadores da saúde, dos problemas e desafios. Essa compreensão é estimulada comercialmente, há omissão de informações educativas de efeitos de forma equilibrada e a apresentação dessas informações educativas frequentemente é rechaçada como se fosse equivalente a atacar alguém de prestígio (um salvador, um herói).
segunda-feira, 31 de março de 2025
Tratamento contínuo = esperar complicação
O tratamento contínuo (vitalício) com medicamentos em psiquiatria é equivalente na prática a esperar complicações.
Facilitadores de modelo comercial de saúde
quarta-feira, 26 de março de 2025
Polifarmácia: sintoma -> remédio
A polifarmácia acontece pela prática médica habitual de consultas simplificadas em que a identificação de sintomas através de exames ou de entrevista clínica é associada com uma medicação remediativa sem uma avaliação aprofundada de efeitos do resto das prescrições e de variáveis que possam estar afetando a saúde/doença. Realmente tratar as variáveis que afetam a saúde/doença é muito mais complexo e difícil e consultas que realizassem isso seriam caríssimas. A população acredita que a prática médica considera as medicações em conjunto e as variáveis que influenciam a saúde/doença e por isso confia no médico quando sua prescrição e atitudes transmitem o conceito cômodo para ambos os lados da consulta e para a indústria que basta adicionar mais um medicamento e o conceito de que é tudo muito simples.
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
Neurolépticos, riscos e tratamentos paliativos
Os riscos de uso em larga escala de neurolépticos/antipsicóticos por um período longo ou vitalício não são levados a sério pois supostamente são absolutamente necessários e insubstituíveis e se ocorrerem distúrbios do movimento a indústria da saúde tem tratamentos paliativos como a estimulação cerebral profunda para distonia (contração intensa e dolorosa dos músculos), tratamento farmacológico para discinesia tardia (movimentos involuntários incontroláveis) e UTI para síndrome neuroléptica maligna.
sábado, 26 de outubro de 2024
Reconhecimento de efeitos colaterais
A pessoa sem conhecimento do significado dos termos utilizados nas bulas não tem boas condições de reconhecimento de efeitos colaterais. Além disso, existem efeitos que são descritos apenas em artigos científicos e em sites de relatos anedóticos frequentes de pacientes como o https://rxisk.org
Para melhorar as condições de reconhecimento de efeitos colaterais é preciso pesquisar uma descrição e uma representação física de todos os termos utilizados nas bulas. Também é desejável utilizar inteligência artificial para fazer diagnóstico diferencial de sintomas que nos parecem claramente mas enganosamente explicados por outras causas e também que parecem características da pessoa.
sexta-feira, 18 de outubro de 2024
Condicionais lógicos e cuidados psiquiátricos
segunda-feira, 17 de abril de 2023
Desprescrição aumenta expectativa de vida
terça-feira, 21 de março de 2023
Responsabilizar-se pelas decisões de saúde
Você acha que o médico vai poder fazer alguma coisa ou vai se responsabilizar se ocorrer algum problema grave no seu tratamento ou do seu familiar? Não terceirize as decisões sobre o corpo. O médico é um consultor e não o responsável por você ou seu familiar como se vocês fossem crianças. A medicina baseada em evidências reconhece essa responsabilidade de autonomia do paciente. O paciente está continuamente em contato com o próprio problema e vocês podem consultar profissionais de várias perspectivas ou várias perspectivas de materiais. Portanto, é o paciente ou o familiar que pode aprofundar mais no seu problema. O médico conversa com o paciente ou com seu familiar por no máximo 1 hora esporadicamente e mal tem tempo para aprofundar no seu caso ou se atualizar. O corpo é seu ou do seu familiar. Responsabilize-se pelas decisões de saúde.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2023
Probabilidade e erro diagnóstico
Sobre erro de cálculo de probabilidade por falta de conhecimento de como aplicar teorema bayesiano. O teorema de Bayes é um cálculo que permite atualizar a probabilidade a partir de novas evidências. Isso é uma lacuna comum na formação médica ao calcular probabilidade de diagnósticos falso positivo ou negativo. Penso que também tem implicações para considerar patológico eventos improváveis, para considerar novidades em saúde como impossíveis ou para abertura para diferentes perspectivas.
quinta-feira, 11 de novembro de 2021
Tratamento de males menores e primatologia
[A busca por tratamento médico racional ou uso racional de medicamentos precisa levar em consideração a função comportamental do adoecimento. Também pode ter relação com a grande dificuldade de evitar a medicalização e de sugerir desprescrição.]
"Os cuidados da pele originaram outro tipo de atividade que assumiu grande importância: a assistência médica. As restantes espécies não progrediram muito nesse caso, mas o macaco pelado desenvolveu a assistência médica a partir do comportamento da catação social, e os progressos adquiridos têm tido uma importância extraordinária para o desenvolvimento da espécie, principalmente nos últimos tempos. Nos nossos parentes mais próximos, os chimpanzés, podemos já descortinar indícios dessa evolução. Na verdade, já se têm visto chimpanzés tratarem-se uns aos outros, cuidando de pequenos ferimentos, além dos cuidados gerais da pele prestados através da catação mútua. Os chimpanzés costumam examinar e lamber cuidadosamente as feridas pequenas. Também são capazes de extrair com o maior cuidado pequenos espinhos que se enterrem na pele; neste caso, utilizam os dedos para espremer a pele e retirar o espinho. Chegou-se mesmo a descrever o caso de um chimpanzé fêmea que tinha um corpo estranho no olho esquerdo e que se aproximou de um macho, gemendo muito e em grande sofrimento. O macho sentou-se, examinou-a atentamente e extraiu depois o corpo estranho com muito cuidado e precisão, usando as pontas de um dedo de cada mão com a maior das delicadezas. Isso já é mais do que simples catação. É o primeiro indício de verdadeira assistência médica cooperativa.
Mas, no caso dos chimpanzés, trata-se do máximo que podem atingir. Na nossa própria espécie, cuja inteligência e cooperação são muito mais desenvolvidas, esse gênero de catação especializada foi o ponto de partida para uma imensa tecnologia de assistência física recíproca. O mundo médico atual atingiu tal complexidade, que se tornou, em termos sociais, a maior expressão do nosso comportamento relativo ao conforto animal. Começou a visar aos males mais insignificantes, até se estender às principais doenças e grandes lesões corporais. Embora o fenômeno biológico tenha atingido um nível excepcional e se tenha tornado racional, têm-se desdenhado os seus elementos irracionais. Para compreender isso é indispensável distinguir entre os casos de “indisposição” grave e banal. Como acontece em todas as outras espécies, um macaco pelado pode quebrar uma perna ou ser infectado por um parasita nocivo, apenas por uma questão acidental ou de azar. Mas as coisas não são só o que parecem, sobretudo em relação às doenças mais banais. As infecções e doenças pouco importantes são em regra tratadas racionalmente como se fossem versões atenuadas de doenças graves, mas há muitas razões para pensar que esses casos são, na verdade, muito relacionados com “exigências catadoras” primitivas. Os sintomas médicos são o reflexo de um problema comportamental que assumiu uma expressão física, em vez de se tratar de verdadeiros problemas físicos.
Como exemplos banais de “males que convidam à catação” (como lhes podemos chamar) citemos a tosse, os resfriados, a gripe, as dores nas costas, as dores de cabeça, as indisposições de estômago, as erupções cutâneas, as dores de garganta, as crises de fígado, as amidalites e as laringites. O estado do paciente não é grave, mas é suficientemente anormal para justificar que os companheiros sociais lhe concedam mais atenção. Os sintomas agem da mesma maneira que os sinais de convite à catação, estimulando um comportamento reconfortante da parte dos médicos, das enfermeiras, dos farmacêuticos, dos conhecidos e dos amigos. O catado desperta uma simpatia amigável e um aumento de cuidados que em regra bastam para curar o mal.
A administração de comprimidos e remédios substitui os antigos gestos catadores e proporciona todo um rito ocupacional que reforça as relações entre catado e catador durante essa fase especial de interação social. Quase não tem importância a verdadeira natureza das drogas receitadas e, nesse nível de gravidade, há pouca diferença entre a prática médica moderna e a dos antigos curandeiros.
Pode-se objetar a esta interpretação das doenças pouco graves que é hoje possível indicar os vírus ou as bactérias que as provocam. Mas, se esses micróbios são a causa médica do resfriado ou da dor de estômago, por que haveríamos de procurar uma explicação comportamental?
A resposta é que, por exemplo, nas grandes cidades, todos nós nos expomos constantemente a esses vírus e bactérias mais comuns, mas só ocasionalmente adoecemos. É certo que alguns indivíduos são muito mais suscetíveis do que outros. Os membros mais bem sucedidos e socialmente ajustados da comunidade sofrem raramente desses “males que convidam à catação”. As pessoas que têm problemas sociais temporários ou permanentes são, pelo contrário, muito sensíveis. O aspecto mais intrigante desses males é que eles parecem ser feitos sob medida de forma a satisfazer as exigências especiais de cada indivíduo. Suponhamos uma atriz, por exemplo, que sofra de tensão social. Que sucede nesse caso? Ela perde a voz, tem uma laringite, de forma a ter de interromper o trabalho e repousar uns tempos. Equilibra-se a tensão (pelo menos momentaneamente). Se, em vez disso, ela sofresse uma erupção cutânea, poderia cobrir o corpo com os vestidos e continuar a trabalhar. A tensão teria continuado. Compare-se essa situação com a de um lutador de luta livre. Nesse caso, de nada valeria perder a voz, como forma de “mal que convide a uma catação”, mas uma erupção cutânea seria ideal e, de fato, é esse o tipo de “doença” que os médicos encontram mais freqüentemente entre os lutadores. A propósito, certas atrizes famosas cuja reputação depende da nudez que exibem no cinema costumam reagir contra a tensão com erupções da pele e não com laringite. É evidente que, tal como sucede com os lutadores, a exposição da pele é para elas fundamental, motivo por que o tipo de “doença” corresponde ao do lutador e não ao da atriz citada anteriormente.
Se há uma grande necessidade de conforto, a “doença” torna-se mais intensa. A ocasião da vida em que recebemos mais cuidados e proteção é quando somos bebês de berço. Assim, qualquer “doença” suficientemente grave para nos fazer ficar na cama tem a grande vantagem de nos fazer recuar a essa fase tão segura da infância, em que recebemos todas as atenções. Podemos convencer-nos mesmo de que estamos tomando uma grande quantidade de medicamentos, mas na verdade precisamos, sobretudo de uma grande dose de segurança, e é ela que nos cura. (Isso não quer dizer que se trate de simulação. Não é preciso simular. Os sintomas são suficientemente reais. A causa é que é comportamental e não os efeitos.)
Todos nós somos mais ou menos catadores e catados frustrados, e a satisfação obtida quando tratamos doentes é tão importante e básica como a própria causa da doença. Alguns indivíduos têm tal necessidade de tratar dos outros, que chegam a promover e prolongar deliberadamente a doença de um companheiro, para dar mais livre curso aos seus instintos catadores. Pode mesmo chegar a se estabelecer um círculo vicioso em que a situação entre catador e catado atinge um exagero extremo, a ponto de se criar a exigência (e a prestação) de assistência a um inválido crônico. Se se apontasse a um “par de catadores recíprocos” desse tipo, a realidade comportamental da respectiva conduta, ambos a negariam firmemente. No entanto, é absolutamente surpreendente verificar certas curas milagrosas que se operam às vezes, quando o ambiente criado entre catador e catado (enfermeiro — doente) é bruscamente abalado por um importante acontecimento social. Os curandeiros exploram de vez em quando essa situação, com os mais surpreendentes resultados, mas infelizmente para eles, muitos desses casos não têm só efeitos físicos, mas igualmente causas físicas. Outro fator que contraria os curandeiros é que os efeitos físicos dos “males que convidam à catação” podem ocasionar deformações irreversíveis do corpo, quando são suficientemente prolongados ou intensos. Quando isso sucede, impõe-se tratamento médico sério e racional."
Do livro O macaco nu
sábado, 16 de outubro de 2021
Medicalização e controle do ambiente
"O tratamento medicalizador atua na periferia dos problemas. Seria necessário atuar nas relações econômicas, sociais e culturais mas como o médico não tem controle sobre o ambiente receita medicamentos."
domingo, 7 de fevereiro de 2021
Banalização e abusos de psicofármacos (resumo)
Artigo de farmacêuticos mostra práticas irregulares comuns de médicos como problema de saúde pública
"A experiência trazida pelos anos de contato com a dispensação de psicofármacos no serviço público possibilitou a constatação de que há um uso indiscriminado dessa classe de medicamentos. Na busca por uma maior resolutividade para os problemas que envolvem a saúde mental dos pacientes, os médicos mantêm muitas vezes tratamentos que se estendem por anos a fio. Outras vezes, na clínica médica, prescrevem medicamentos psicoativos sem sequer escutar de forma mais atenciosa as queixas dos pacientes. Percebeu-se que, entre farmacêuticos consultados em conversas informais, o relato desse uso indiscriminado não é raro.
A carência de soluções que possibilitem alívio aos sintomas de pacientes portadores de transtornos psicológicos ou psiquiátricos tem contribuído sobremaneira para o uso de medicamentos psicoativos. Da vivência com a dispensação de medicamentos no serviço público surgiu a constatação de que, apesar dos bons resultados nos tratamentos propostos, esse tipo de medicamento nem sempre é prescrito com base na relação risco-benefício e isso aponta para seu uso indiscriminado.
Desse total, há uma maior incidência sobre as mulheres e também com elas está o maior número de utilização de psicofármacos. Isso pode ser atribuído, segundo eles, a uma maior preocupação feminina com relação à sua saúde e, consequentemente, maior frequência nas visitas médicas.
Nos atendimentos realizados na Atenção Primária à Saúde, responsável pelo tratamento dos Transtornos Mentais Comuns, não raro são encontradas prescrições repetidas de atendimentos anteriores, muitas vezes feitas por outros especialistas, sem que se revisem as causas ligadas ao diagnóstico. Essa poderia ser apontada também como uma causa que explique a utilização indevida.
Silva (2001), no sentido de abordar o paciente em seu contexto holístico, aponta para a prática da medicalização sem que sejam contempladas questões outras que interferem na saúde mental do paciente, sobre as quais muitas vezes ele não tem a oportunidade de se expressar: Ao passo que a medicina busca instantaneamente medicar o mal-estar, ou seja, a dor de existir, a psicanálise abre a possibilidade de o sujeito remediar o próprio sofrimento com a palavra, fazendo emergir a falta que o constitui enquanto sujeito. Atualmente, o uso indiscriminado de medicamentos está colocando o sujeito como espectador dos fatos em que ele transita a cada dia. Estes servem como uma tampa para remediar o que acredita não ter mais a oportunidade e a disponibilidade para solucionar. O sujeito não agride só fisicamente o seu corpo, mas também a sua alma, porque permanece em uma angústia existencial que o estabiliza e não corresponde a seus anseios.
Dentre esses “impactos” de que trata a autora na citação acima, encontram-se o consumo de drogas e medicamentos psicoativos que tratam os sintomas já apresentados, mas limitam a vida dos jovens.
Para Teixeira (2010) a prevalência do uso de substâncias psicoativas entre jovens de 18 a 25 anos tem aumentado, o que faz desse assunto uma questão de saúde pública. Nos casos em que esses jovens são estudantes de cursos na área de saúde, o comprometimento pode ser ainda maior, em função da facilidade de acesso a esse tipo de droga, tornando esse grupo ainda mais vulnerável. A preocupação deve aumentar quando se observa que estes estudantes serão profissionais responsáveis por orientações básicas de saúde. Kimura (2005), discorrendo sobre a visão de psicólogos no tratamento com psicofármacos, aponta para uma espécie de mudança de rumo que a terapêutica medicamentosa sofreu.
O que antes seria uma alternativa de tratamento para o sofrimento psíquico e seus sintomas de difícil manejo, transformou-se com o passar do tempo em “pílula da felicidade”, prometendo acabar com todos os incômodos psicológicos da existência humana. Para a autora, existe um forte apelo da propaganda para promover os medicamentos, passando a falsa ideia de solução mágica para os conflitos, desprezando, inclusive, o atendimento psicanalítico.
O uso de metáforas – paisagens, natureza, animais – e cenas de família ideal são bastante presentes na promoção dos psicofármacos. Estas imagens sugerem a possibilidade da medicação propiciar até mesmo a reintegração familiar e dissolução de conflitos.
Não menos preocupante, com o avanço dos diagnósticos em psiquiatria e neurologia, surge a necessidade da medicalização de crianças e adolescentes. Nesse contexto, Brasil (2000) esclarece: A indicação de psicofármacos para o tratamento de problemas de saúde mental em crianças e adolescentes traz preocupação mas também esperanças. Preocupação pelo risco dessas indicações tenderem a banalizar o uso como solução imediata e não como um recurso possível a partir da avaliação risco-benefício.
Sobre a questão da dependência, Forsan (2010) aponta para uma abordagem interessante em que, o uso de benzodiazepínicos para tratar sintomas da ansiedade não trata a ansiedade. O que acontece é uma falsa sensação de dependência, assim explicada pela autora: Os casos de dependência aos Benzodiazepínicos relatados na literatura ou constatados na clínica se prendem, na grande maioria das vezes, ao uso muito prolongado e com doses acima das habituais.
Antes de se considerar a dependência, pura e simples, deve-se ter em mente que, se o Benzodiazepínico não foi bem indicado e estiver sendo usado como paliativo de uma situação emocional não resolvida, como atenuante de uma situação vivencial problemática, como corretivo de uma maneira ansiosa de viver, enfim, como um “tapa-buracos” para alguma circunstância existencial anômala, então a sua supressão colocará à tona a penúria situacional em que se encontra a pessoa, dando assim a falsa impressão de dependência ou até de síndrome de abstinência.
Os autores apresentam sinais e sintomas que podem apontar para crises de abstinência, dividindo-os em físicos e psíquicos (sinais menores). Como sinais físicos os pacientes podem apresentar, tremores, sudorese, palpitações, letargia, náuseas, vômitos, anorexia, sintomas gripais, cefaléia e dores musculares. Os sinais psíquicos aparentes na crise de abstinência são insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, inquietação, agitação, pesadelos disforia, prejuízo da memória, despersonalização/desrealização. Os sinais maiores são convulsões, alucinações e delirium. Diante do exposto, os autores orientam no sentido da necessidade da retirada dos benzodiazepínicos, apesar da abstinência.
Não se deve esperar que o paciente preencha todos os critérios da síndrome de dependência para começar a retirada, uma vez que o quadro típico de dependência química – com marcada tolerância, escalonamento de doses e comportamento de busca pronunciado - não ocorre na maioria dos usuários de benzodiazepínicos, a não ser naqueles que usam altas dosagens. É importante salientar que mesmo doses terapêuticas podem levar à dependência.
A partir da experiência adquirida ao longo dos anos através do contato com pacientes do serviço público, a ideia de que a prática da medicação com psicofármacos se dava de forma indiscriminada tomou consistência. O comparecimento frequente de pacientes ao serviço, por um período de tempo prolongado, em busca dos mesmos medicamentos despertou a curiosidade sobre a abordagem desse fenômeno na literatura. Muitos são os trabalhos e pesquisas realizados neste sentido e, ao final das leituras realizadas, pode-se perceber que o uso indiscriminado de psicofármacos não é privilégio do serviço público ou apenas de consultórios psiquiátricos.
Médicos generalistas, de atenção básica ou não, prescrevem psicofármacos para tratar as mais variadas queixas dos pacientes relacionadas ao seu bem estar psíquico. Sensações como medo, angústia, ansiedade, insônia pós-traumática, tão próprios da natureza humana passaram a ser tratados como sintomas de alguma patologia, sobre a qual não se realiza uma boa anamnese, não se faz uma investigação mais profunda, nem o devido acompanhamento, seja clínico ou farmacoterapêutico. Com isso, os indivíduos que, momentaneamente, façam uso de medicamentos sedativos ou hipnóticos seguirão como usuários vida afora, até que decidam ou sejam instruídos por outro profissional a retirarem o psicofármaco utilizado.
Outra questão que pôde ser confirmada, após o confrontamento dos textos, é o uso de psicofármacos entre os idosos. Numa faixa etária em que a saúde já necessita de intervenções medicamentosas de várias ordens, a chamada polifarmácia, medicamentos com ação sobre o SNC podem, em certos casos, piorar ainda mais o estado geral do paciente, seja por interação com outros, seja por diminuir o ritmo de suas atividades, provocar mudanças na fala, nos reflexos, na marcha. Sem considerar os riscos de quedas decorrentes de tonturas, vertigens e hipotensão ortostática. Contudo, os medicamentos seguem sendo prescritos nessa população sem que haja cuidado e acompanhamento.
No que concerne à Atenção Básica à Saúde, vários são os programas de atendimento a determinados grupos, inclusive os de saúde mental, sem que sejam, contanto, elaboradas estratégias para redução do uso dessa classe de medicamentos. Os pacientes seguem sendo tratados e não há revisão das causas do diagnóstico e medicamentos prescritos por outros médicos, ou seja, os prescritores tendem a manter o medicamento se o paciente já usa, mesmo não conhecendo exatamente em que se circunstâncias ele foi prescrito, não se dando ao trabalho de reavaliar as condições do paciente e tentar uma nova conduta, caso necessário. Em se tratando de consultórios de atendimento a convênios ou particulares a utilização indevida dos psicofármacos é fruto também da pressão que a indústria farmacêutica exerce sobre os médicos. Um forte apelo nas propagandas, conhecimento das atualizações que muitas vezes o médico não possui são suficientes para a adesão dos prescritores às novidades apresentadas.
Diante de todas as situações apresentadas, é notório que há um problema grave, que pode inclusive ser considerado de saúde pública, para o qual os profissionais da área precisam lançar um olhar mais cuidadoso. É necessário mais empenho e cuidado com o manejo dessa classe de medicamentos que tanto pode solucionar problemas para quem usa como ser uma fonte de problemas. Uma ação conjunta de vários profissionais de saúde poderia ser um passo rumo ao uso racional de psicofármacos. O farmacêutico habilitado para a Atenção Farmacêutica e Farmácia Clínica pode dar o suporte farmacoterapêutico necessário a essa prática, colaborando com outras ações de saúde, inclusive medidas não farmacológicas. Substâncias psicoativas são cada vez mais utilizadas e tornam-se, na proporção de seu uso, cada vez mais imprescindíveis para os pacientes quando se busca um equilíbrio satisfatório dasaúde psíquica e manutenção do bem estar dos indivíduos. Resta aos profissionais de saúde buscarem conhecimento para promover seu uso racional, garantindo sua segurança e eficácia nos tratamentos a que se submete o paciente."
Abusos e banalização na prescrição de psicofármacos - uma revisão da literatura
sábado, 6 de fevereiro de 2021
Exames de sangue e psicofármacos
domingo, 31 de janeiro de 2021
Medicalização estrutural e sociedade
quinta-feira, 7 de janeiro de 2021
Iatrogenia e o leigo (Ivan Illich)
“A corporação médica tornou-se uma grande ameaça à saúde. O efeito incapacitante produzido pela gestão profissional da medicina atingiu proporções de epidemia. [...]
Meu argumento é que o leigo, e não o médico, tem a perspectiva potencial e o poder efetivo de deter a violenta epidemia de iatrogenia.
Ivan Illich, Medical Nemesis, 1976
Illich estava certo sobre a epidemia iatrogênica, mas, mais do que eficaz, o leigo infelizmente tem que conquistar esse poder .
Do grupo italiano do telegram Antipsy resistance
Instatisfação social e reparação técnica (Ivan Illich)
A empresa transferiu aos médicos o direito exclusivo de determinar o que é a doença, quem está ou pode adoecer e o que deve ser feito com eles. [...] Este medicamento nada mais é do que um meio de convencer quem está cansado e desgostoso com a sociedade que na realidade é ele quem está doente, indefeso e a necessitar de reparação técnica.
Ivan Illich, Medical Nemesis, 1976
Do grupo italiano do telegram Antipsy resistance
quarta-feira, 6 de janeiro de 2021
O Medicamento como Mercadoria Simbólica
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311X1992000200014
Brani Rosemberg
Departamento de Ciências Biológicas Escola Nacional de Saúde Pública/Fiocruz
O Medicamento como Mercadoria Simbólica. Fernando Lefèvre. Editora Cortez: São Paulo, Brasil, 1991. 159 p., ilustrações e bibliografia. (Brochura) ISBN 85-249-0293-0 Cr$ 45.000,00
quarta-feira, 4 de março de 2020
Uso racional de medicamentos
"Se você tem um paciente que utiliza de 6 a 10 medicamentos, o primeiro raciocínio deveria ser descobrir quais desses medicamentos são essenciais para tratar aquela pessoa. A partir daí, você tem
que desprescrever, desmamar, limpar a prescrição.”
Márcio Galvão, professor da UFBA
"Historicamente, prescritores e pacientes aprenderam que um serviço de saúde serve para prescrever, e não para acompanhar o usuário, reavaliar, pedir que retorne. Tudo isso pressupõe uma acessibilidade muito boa que os serviços de saúde não têm.”
Silvana Nair Leite, da UFSC
A professora e farmacêutica Silvana Nair Leite, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
apontou fatores culturais que interferem no longo caminho rumo à desprescrição de medicamentos.
Numa ponta do processo, estão os profissionais que historicamente aprenderam que uma consulta médica serve para prescrever. Na outra ponta, estão os usuários que muitas vezes se sentem desprestigiados quando vão a uma consulta e saem do local sem nada prescrito.
Para a professora, é esse processo histórico que precisa ser modificado. “Mas isso leva tempo. Não acontece por decreto. Envolve muito trabalho com a coletividade e com muitos setores da sociedade, a despeito das fortes pressões contrárias”
Revista RADIS 209