Evidências padrão ouro utilizadas como melhor evidência disponível sobre o tratamento contínuo da esquizofrenia. Revisão Cochrane.
Observe a ligação com várias empresas farmacêuticas e o desinteresse em relatar desfechos negativos.
Limitações da psiquiatria biomédica Controvérsias entre psiquiatras conservadores e reforma psiquiátrica Psiquiatria não comercial e íntegra Suporte para desmame de drogas psiquiátricas Concepções psicossociais Gerenciamento de benefícios/riscos dos psicoativos Acessibilidade para Deficiência psicossocial Psiquiatria com senso crítico Temas em Saúde Mental Prevenção quaternária Consumo informado Decisão compartilhada Autonomia "Movimento" de ex-usuários Alta psiquiátrica Justiça epistêmica
Evidências padrão ouro utilizadas como melhor evidência disponível sobre o tratamento contínuo da esquizofrenia. Revisão Cochrane.
Observe a ligação com várias empresas farmacêuticas e o desinteresse em relatar desfechos negativos.
O discurso com pretensões de realidade, assim como na ficção, precisa ter verossimilhança.
É possível avaliar o valor econômico intrínseco que as pessoas atribuem para internações como único recurso. O dinheiro é determinante da oferta de serviços mas é consequência de um anseio no lado da demanda social por internação.
O valor econômico vem de se livrar de um problema: o usuário/paciente que está incomodando. Prática na mesma lógica de antigamente mas de forma limitada.
Os remédios têm valor econômico por ser uma forma de calar, submeter, conter e coagir.
Em termos de aprendizagem operante, saúde mental seria definida como questão de dificuldade/desafio relativo de resolver circunstâncias de modo satisfatório. A pessoa com saúde mental é aquela que não se deparou com desafios grandes em termos de sofisticação necessária de repertório operante ou não teve boas condições de desenvolvimento de repertório operante. Outros fatores são as condições e processos de interferência na aprendizagem gradual e progressiva e a mudança repentina de repertório operante necessário que cria circunstâncias de se encontrar despreparado para resolução satisfatória de desafios.
O ideal científico comportamentalista no tratamento de conceitos é semelhante com o contextualismo de conceitos citado abaixo com forte dependência material realizado através de operacionalização de experimental de conceitos. É um programa científico louvável. No entanto, o diálogo integrativo com o campo de saúde mental e sociedade que busquei fazer segue o caminho de contato imersivo e longitudinal com o ambiente da saúde mental, e com as diferentes formas de conhecimento acadêmico. Isso é uma flexibilização da forte dependência material experimental dos conceitos no comportamentalismo. O quanto isso é levado a sério e considerado um bom método de conhecimento é discutível. O esclarecimento disso não é necessariamente uma recomendação. É antes uma forma de tornar legítimo no sentido de não absurdo.
O exame crítico do conceito de tipos naturais feito no vídeo referenciado abaixo é útil para a discussão de saúde mental. A crítica ao forte compromisso ontológico do essencialismo (como os diagnósticos psiquiátricos) com limites claros de pertencimento e não pertencimento de indivíduos a uma classificação é um dos pontos interessantes. A possibilidade de desconstrução de tipos naturais na sociedade uma vez que os determinantes contingenciais dessas categorias de pensamento são revertidas contrafactualmente é outra reflexão interessante suscitada.
"VAGUEZA E A DEPENDÊNCIA NO CONVENCIONALISMO
"Está claro então que somos capazes de nos confrontarmos com anomalias. Quando algo é firmemente classificado como anômalo, o esboço do conjunto no qual ele não é considerado como membro se torna claro.
(p. 53)
Há várias maneiras de tratar as anomalias. Negativamente, podemos ignorá-las, não percebê-las, ou, percebendo-as, condená-las. Positivamente, podemos, deliberadamente, confrontar as anomalias, e tentar criar um novo padrão de realidade onde elas tenham lugar. Não é impossível um indivíduo rever seu próprio esquema pessoal de classificações. Mas nenhum indivíduo vive isoladamente e seu esquema terá sido parcialmente recebido de outros indivíduos.
(p.54)
A cultura, no senso comum, padronizou os valores de uma comunidade, serve de mediadora da experiência dos indivíduos Prove, adiantadamente, algumas categorias básicas, um padrão positivo no qual as ideias e valores são cuidadosamente ordenados. E, acima de tudo, ela tem autoridade, uma vez que cada pessoa é levada a consentir porque outras assim o fazem. Mas seu caráter público torna suas categorias mais rígidas. Uma pessoa pode ou não rever seu padrão de pressupostos. É um assunto particular. Mas categorias culturais são assuntos públicos. Não podem ser tão facilmente sujeitas à revisão. Mas não podem negligenciar o desafio de formas aberrantes. Qualquer sistema dado de classificações deve dar origem a anomalias, e qualquer cultura dada deve confrontar os eventos que parecem desafiar seus pressupostos. Não pode ignorar as anomalias que seu esquema produz, a não ser com o risco de perder sua confiança. Suponho que seja por isso que encontramos em qualquer cultura, digna do nome, várias providências para lidar com eventos ambíguos ou anômalos.
Primeiro, decidindo-se por uma ou outra interpretação, a ambiguidade é frequentemente reduzida.
(p.54)
Segundo, a existência da anomalia pode ser fisicamente controlada. Ou tomemos os gaios que cantam à noite. Se seus pescoços forem prontamente torcidos, eles não viverão para contradizer a definição de galo como uma ave que canta ao alvorecer.
Terceiro, a regra de se evitar coisas anômalas confirma e reforça as definições às quais elas não se ajustam. Logo, onde o Levítico abomina coisas rastejantes, deveríamos ver a abominação como o lado negativo de um padrão de coisas aprovadas.
Quarto, eventos anômalos podem ser classificados como perigosos. Admite-se que os indivíduos sentem-se ansiosos quando confrontados com anomalias. Mas, seria um erro tratar as instituições como se elas evoluíssem da mesma maneira que as reações espontâneas de uma pessoa. É mais provável que semelhantes crenças públicas sejam produzidas no decurso da redução da dissonância entre as interpretações individuais e as interpretações gerais. Conforme o trabalho de Festinger, é óbvio que uma pessoa, quando suas convicções diferem das de seus amigos, ou hesita ou tenta convencê-los de que estão errados. Atribuir perigo é uma maneira de se colocar um assunto acima da discussão. Também ajuda a reforçar a conformidade, como mostraremos no capítulo sobre moral (Cap. 8).
Quinto, os símbolos ambíguos podem ser usados em ritual para os mesmos fins que são usados na poesia ou na mitologia, para enriquecer o significado ou para chamar a atenção a outros níveis de existência. Veremos no último capítulo de que maneira o ritual, utilizando símbolos de anomalias, pode incorporar maldade e morte ao mesmo tempo que vida e bondade, num modelo único, grandioso e unificante. (p. 56)
Concluindo, se impureza é um assunto inoportuno, devemos investigá-lo através da ordem. Impureza ou sujeira é aquilo que não pode ser incluído, se se quiser manter um padrão."
Referência
Mary Douglas. Pureza e perigo.
Em termos de taxa de reforço, a concepção manicomial e médica de tratamento tem o atrativo de permitir regular o comportamento de acordo com padrões e desejos do meio social utilizando a coerção. Nessa perspectiva o reforço positivo do usuário/paciente é indesejável pois implicaria em possível desadaptação e comportamentos de confronto com a coerção do meio social. A defesa conservadora e normativa de padrões é a prioridade.
Do ponto de vista antimanicomial, o uso de reforço positivo e redução de coerção implica em respeito a liberdade em termos de gostos, emoções, pensamentos e inclinações que poderiam ser diferentes em relação a padrões do meio social. Um desses padrões é o "tratamento adequado" de perspectiva manicomial e médica. A defesa do bem-estar de orientação crítica é priorizada em detrimento da defesa de padrões do meio social.
A taxa de reforço na utilização de cada perspectiva resulta no estabelecimento e manutenção da frequência da prática de saúde mental respectiva.
Conselho de medicina proibiu pessoas em "surto" pedirem o prontuário.
https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/pareceres/SC/2025/1
No raciocínio médico, o medicamento apenas faz a pessoa ser mais ela mesma porque acreditam que ele restaura o equilíbrio fisiológico. Para justificar isso, é necessária uma hipótese de deficiência. Reconhecer que se trata de uma droga com um efeito no comportamento abriria um caminho de pensamento que faz os antipsicóticos parecerem ruins.
Nos anos 60 e 70 nos Estados Unidos, época do movimento hippie ou desbunde, o retorno em termos de renda para educação formal adicional não tinha um diferencial de resultados. Essa tendência econômica de larga escala poderia ser uma parte da explicação pela qual as pessoas não se interessavam pela educação formal e adotaram tais comportamentos.
O termo 'surto' tem significados e implicações de discurso manicomial sobre risco de crises, incontrolabilidade, patologia interna, a internação ser imprescindível e insubstituível, impossibilidade de tratamento alternativo substituto e necessidade de hospitais ou outros locais fechados.
As estratégias básicas e simples de ajuste de normalidade ou de "senso das coisas" são:
1) Imitar o que a maioria das pessoas fazem
2) Confiar no que é dito sem necessidade de reflexão
3) Proteger-se repetindo o que todos dizem
4) Fuga-Esquiva de agir diferente de padrões hegemônicos
5) Evitar lidar com questões complexas e sistêmicas
6) Seguir tradições e conformar-se
7) Rejeitar inovações
8) Utilizar-se de formas de poder ao próprio alcance
A mudança dessas estratégias para estratégias mais refinadas envolve uma curva de aprendizagem desafiadora.
Um dos motivos pelo qual a psiquiatria é comumente vista como área pró-social é pela equiparação com a medicina física e a percepção social de heroísmo angelical a respeito dos médicos em geral. O contraste de identidades sociais entre psiquiatras, pessoas bem ajustadas e pessoas estigmatizadas e marginalizadas é um fator talvez mais profundo. O prestígio pela sua relação com o externo e o outro (ver Em defesa da Sociedade de Foucault) é mantido pelo desconhecimento das práticas internas da psiquiatria que não são facilmente analisáveis. Mesmo que sejam analisadas as práticas, as emoções frente ao contraste identitário mencionado acima não favorece o reconhecimento de limitações das práticas. Por isso, uma área que se propõe a ser realmente pró-social mantendo o distanciamento crítico em relação à sociedade (reforma psiquiátrica antimanicomial e perspectiva crítica) é mal-vista como área pró louco e contra a sociedade.
O termo surto é usado para qualquer ato de agressividade e assassinato. As duas coisas são sinônimos na cabeça das pessoas. É um estereótipo no imaginário social. É um linguagem que se usa e que beneficia politicamente a psiquiatria conservadora. Não é necessário supor psicose para atos agressivos e de assassinato. Em outra linguagem teórica são apenas comportamentos aprendidos sem suposições adicionais sobre estados orgânicos. As pessoas não toleram a possibilidade de contribuir para a aprendizagem de atos infames e atribuem tudo a disfunções genéticas ou orgânicas. É quase como um mito moderno e laico da possessão demoníaca.