"Um outro bom exemplo do método operante livre é dado pelo controle do comportamento verbal de uma paciente com esquizofrenia crônica, hospitalizada por dezesseis anos, conseguido por Ayllon e Haughton. Seu comportamento verbal consistia em referências à "Família Real" e a equipe do hospital concluiu que as referências que fazia de si mesma, como "Rainha", tinham sido virtualmente seu único tópico de conversação nos últimos oito anos. Uma lobotomia pré-frontal bilateral não produziu qualquer efeito observável em seu comportamento verbal.
Foram registradas duas classes de respostas: "psicóticas", incluindo referências à realeza, e "neutras", incluindo respostas como "Que horas são?" e "Eu quero um sabonete". As duas classes de respostas tanto foram reforçadas como extintas, durante diferentes estágios do experimento, com a finalidade de controlar a possibilidade de qualquer viés sistemático ou da passagem do tempo e influírem de modo a modificar o comportamento. Tanto o reforço como a extinção foram controlados pelas enfermeiras psiquiátricas. O reforçamento consistiu em dar um cigarro à paciente e conversar com ela três minutos. A extinção implicou em não dar o cigarro nem atenção social: a enfermeira agia como se estivesse interessada em alguma outras coisa e olhava para algo distante da paciente.
A figura 7 mostra o controle do comportamento verbal da paciente psicótica submetida a esse procedimento. Durante os primeiros quinze dias, nos quais o comportamento verbal foi registrado, mas não reforçado diferencialmentem as duas classes de respostas tiveram a mesma ocorrência. Durante 75 dias seguintes, quando se reforçou as respostas psicóticas e se extinguiu as respostas neutras, houve uma acentuada mudança no comportamento verbal da paciente. As respostas psicóticas ocorreram duas vezes acima da frequência registrada na linha de base e as respostas neutras praticamente desapareceram. Quando as contingências de reforçamento foram invertidas, constatou-se que o mesmo ocorreu no conteúdo verbal. O êxito desse e de outros experimentos semelhantes na modificação de comportamento verbal de psicóticos tem implicações importantes para a psiquiatria. Uma vez que o comportamento verbal bizarro que caracteriza algumas formas de esquizofrenia pode ser controlado pelo reforço social, o mesmo não precisa ser considerado um sintoma de disfunção de algum processo interior hipotético (Ayllon e Haughton, 1964)."
Autora: Ellen P. Reese
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