"Inspirados nos milagres dos antibióticos, os psiquiatras e outros especialistas do aprimoramento humano incumbiram-se de remediar cada enfermidade pessoal e social com uma droga, desenvolvida em um programa do governo (chamado "guerra") por burocratas e publicitários que o governo financiou (chamados "cientistas" e "educadores"). Havia chegado a era da cura química para os desequilíbrios e para as dependência químicas.
Não possuindo métodos terapêuticos próprios (salvo o monopólio da coerção, sob auspícios médicos), os psiquiatras, como já observei, puseram-se a imitar as tendências médicas em voga. Quando a mora era a sangria e as ventosas, os alienistas usavam sangria e ventosas. Quando a insulina foi descoberta como tratamento do diabetes, os psiquiatras deram aos pacientes overdoses de insulina e chamavam isso de terapia insulínica comatosa. Quando a eletrocardiografia e a eletroencefalografia se tornaram ferramentas populares, os psiquiatras induziram seus pacientes a acessos elétricos e chamaram isso tratamento eletroconvulsivo. Nos anos de 1950, os médicos tratavam os pacientes com antiácidos, antibióticos, anti-histamínicos, anti-hipertensivos e outras drogas com prefixo anti.Os antipsicóticos não se fariam esperar por muito tempo. Os químicos rapidamente descobriram vários compostos orgânicos cujo efeito farmacológico era o de estimular ou retardar pensamento e movimento. Os estimulantes se tornaram antidepressivos, e os calmantes, antipsicóticos e ansiolíticos. A pessoa demente poderia agora ser controlada por meio de uma camisa-de-força química, ao invés de mecânica: a limitação poderia agora ser introduzida nele, e não ser colocada ao redor dele.
Lembro-me bem de ter assistido - em 1954 ou 1955 - quando estava na Marinha - o que deve ter sido um dos primeiros filmes a promover a clorpromazina. Produzido por Smith, Kline & French, companhia farmacêutica que patenteou o composto com o nome de Thorazine, o filme mostrou macacos agressivos sendo "tranquilizados" - a expressão era nova, na época - pela droga. Essa disseram-nos, era a nova cura da esquizofrenia. Não gostei do que vi. Em 1956, escrevi:
A ampla aceitação e o amplo uso das chamadas drogas tranquilizantes constituem um dos eventos marcantes na história recente da psiquiatria... Essas drogas, em essência, funcionam como camisas-de-força químicas... Quando os pacientes tinham que ser contidos pelo uso da força - por exemplo - por uma camisa-de-força - era difícil para os que o tratavam convencerem-se de que estavam agindo em nome do paciente... Já a restrição por meio de químicos não faz [o psiquiatra] sentir-se culpado; e é aqui que reside o perigo para o paciente.
A história da Thorazina é impressionante. Utilizada primeiro na França como potenciador anestésico, a droga provou não ser comercialmente interessante. Foi divulgada, então, como um antiemético. Em 1953, foi experimentada em cerca de 100 pacientes psiquiátricos, foi declarada como sendo um "antipsicótico" eficaz e, um ano depois, foi aprovada pelo mercado americano. Provou ser uma das maiores bonanzas da história farmacêutica, provando, mais uma vez, que tratar não-doenças é ainda mais lucrativos que tratar doenças.
Mais uma vez, um novo tratamento psiquiátrico somático mostrou ser a causa de sérios danos aos pacientes. Henri Laborit, físico francês que primeiro registrou as propriedades tranquilizantes da clorpromazina, em 1951, descreveu seu efeito como "uma verdadeira lobotomia medicinal". A magnitude dessa epidemia de doença neurológica iatrogênica fez parecer ínfimas as consequências do choque insulínico, do eletrochoque e da lobotomia combinados.
Com o advento dos antipsicóticos, os psiquiatras cresciam em audácia. Em 1970, o falecido Nathan Kline, na época um dos mais respeitados psiquiatras-biológos nos Estados Unidos, sugeriu seriamente colocar as drogas antipsicóticas na água de beber. Escreveu: "Uma vez que já estamos introduzindo clorina e a fluorina na água potável, talvez devêssemos colocar também um pouco de lítio. Isso deve fazer do mundo um lugar melhor para se viver, para todos nós."
Depois de proclamar vitória em sua luta contra a esquizofrenia, os psiquiatras anunciaram sua próxima conquista, a descoberta de um grupo de drogas que provocava uma condição do tipo esquizofrênico, chamada "psicose modelo". Esses alcalóides - intimamente ligados a antigas drogas cerimoniais - provocavam estados alterados de consciência ou alucinações e eram chamados de "psicotomiméticos" ou "alucinógenos". Os efeitos dos antipsicóticos e psicotomiméticos foram interpretados como prova de que a esquizofrenia é uma doença cerebral causada por desequilíbrio químico. A realidade era menos romântica. Os mais recentes exageros da propaganda psiquiátrica nada mais eram do que uma malandragem bem-sucedida em relações públicas. Amparados por políticos e jornalistas, os psiquiatras conseguiram convencer o público de que tratar os pacientes mentais com os antipsicóticos era revolucionário, como havia sido o uso de antibióticos contra as doenças infecciosas. Essa absurda alegação ajudou os psiquiatras a ocultarem a verdadeira natureza dos problemas dos pacientes mentais e as soluções a eles oferecidas - especificamente, que o paciente mental crônico típico é sem-família e economicamente dependente de sua família e da sociedade; que ele viola as regras sociais mínimas (ou não tão mínimas); e que ele é contido, durante a internação e mesmo depois dela, por meio das drogas, da ameaça de confinamento e da internação involuntária em hospitais mentais."
Thomas Szasz - do livro Cruel Compaixão
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