Uma possibilidade de definição por extensão análoga a definição de mentalismo obtida por exame conceitual de relações empíricas com o mundo implica em descrever conceitos e processos sociais, modelos científicos e práticas correspondentes que tem como princípio pragmático de funcionamento a negação de relações com o mundo, isto é, o domínio empírico do conceito de comportamento operante.
Limitações da psiquiatria biomédica Controvérsias entre psiquiatras conservadores e reforma psiquiátrica Psiquiatria não comercial e íntegra Suporte para desmame de drogas psiquiátricas Concepções psicossociais Gerenciamento de benefícios/riscos dos psicoativos Acessibilidade para Deficiência psicossocial Psiquiatria com senso crítico Temas em Saúde Mental Prevenção quaternária Consumo informado Decisão compartilhada Autonomia "Movimento" de ex-usuários Alta psiquiátrica Justiça epistêmica
Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)
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domingo, 30 de novembro de 2025
quinta-feira, 27 de novembro de 2025
Fichamento sobre ciência e valores
"Utilizaremos dois autores importantes que irão direcionar o presente estudo: Thomas Kuhn, que apresenta uma abordagem científica baseada na emergência de um paradigma fruto de uma revolução científica e Hugh Lacey, que possui uma compreensão do desenvolvimento científico baseado na atuação de múltiplas estratégias no interior de uma determinada pesquisa.
Segundo Lacey, a estratégia constitui uma modificação da noção de paradigma de Kuhn. Enquanto o paradigma restringe os fatos que serão considerados por uma determinada comunidade científica para que esta possa conhecê-los mais profundamente, a estratégia possui o papel de restringir o tipo de teoria considerada e selecionar os dados empíricos a serem considerados para o fim de testar as várias teorias provisoriamente mantidas (LACEY, 2009). Considerada a ligação entre os dois elementos é possível afirmar que enquanto Kuhn apresenta uma ciência normal baseada em um paradigma vigente, Lacey admite a ação de múltiplas estratégias que poderão atuar simultaneamente, sendo a questão fundamental a escolha e compatibilidade entre elas (LACEY, 2001)
Em primeiro lugar, Lacey define o lugar e o papel que os valores ocupam em seu modelo de desenvolvimento científico. Os valores cognitivos possuem importância fundamental na escolha de teorias científicas e são constitutivos da ciência. Eles representam as propriedades das teorias que julgamos serem constituintes de uma boa teoria, por exemplo: adequação empírica, consistência, simplicidade, fecundidade, eficácia, poder explicativo, verdade e certeza. Os valores não cognitivos são aqueles que não possuem relação com a aceitabilidade de uma teoria científica como, por exemplo: valores éticos, sociais, políticos, religiosos, etc.
A tese de uma ciência livre de valores constitui uma das bases das discussões propostas por Lacey. Tendo sua base em Galileu Galilei, esta tese possui três elementos importantes: a imparcialidade, a neutralidade e autonomia (LANTIMAN, 2015, p. 18).
Em Valores e Atividade Científica, volumes 1 (LACEY, 2008) e 2 (LACEY, 2010), ele defende que a imparcialidade é a única que pode ser sustentada no interior das práticas científicas, uma vez que é baseada apenas em valores cognitivos. A imparcialidade sustenta que a teoria, para que seja corretamente aceita, deve manifestar critérios cognitivos em grau suficientemente elevado, a luz dos dados empíricos. Ela forma um escudo que impede que valores não cognitivos sejam inseridos ou desempenhem algum papel no momento de avaliação de teorias.
A autonomia está relacionada principalmente aos membros de determinada pesquisa, a pesquisa científica em si e suas metodologias e ao modo pelo qual são guiadas. É cada vez mais evidente que os anseios das grandes indústrias e corporações estão fundamentados em interesses econômicos (visando principalmente o lucro e o aumento do capital) e de mercado (onde há forte investimento na expansão de seus poderes e negócios). A determinação de prazos, muitas vezes reduzidos, impede o desenvolvimento das possibilidades que podem ser alcançadas pela ciência e suplantam os interesses de formação de conhecimento e entendimento de novos fenômenos.
A neutralidade, de modo geral, informa que os resultados produzidos pela pesquisa científica, avaliados e aceitos de acordo com a imparcialidade, não possuem implicação lógica para qualquer perspectiva valorativa, seja ela política, ética, social, etc. Ao mesmo tempo, promove que as teorias, quando corretamente aceitas, podem se adequar a qualquer perspectiva de valor, ideologia ou visão de mundo
Lacey proporciona uma variação do modelo kuhniano de desenvolvimento científico, onde a pesquisa científica é guiada pelo que ele denomina estratégias de restrição e seleção. A adoção de uma estratégia, segundo Lacey, define os tipos de fenômenos e as possibilidades que serão consideradas interessantes à pesquisa. A estratégia possui o papel de restringir os tipos de teorias que serão consideradas em determinada pesquisa e selecionar os dados empíricos relevantes (LACEY, 2008, p.109)
Durante muito tempo a ciência tendeu a utilizar um tipo específico de estratégias consideradas como exemplares às práticas científicas: as estratégias materialistas de restrição e seleção ou de abordagem descontextualizadas (LACEY, 2010, p. 91). Esse tipo de estratégia restringe a teoria de modo que esta represente os fenômenos de acordo com as leis da natureza, nos termos de sua geração, ordem, estrutura, processos e leis subjacentes. Os objetos dessa ordem subjacente são caracterizados em termos quantitativos e, assim, não podem ser interpretados tendo como base perspectivas valorativas, pois consideradas enquanto valores relativos à experiência humana, não são oriundas da ordem subjacente do mundo e, desta forma, são abstraídas do desenvolvimento da pesquisa científica.
Se, de acordo com Kuhn, o alvo da ciência é a resolução de quebra cabeças a sua verdadeira definição é demarcada por estratégias. Quando fenômenos e teorias aspirantes a paradigma são confrontados é necessário que, antes de o cientista se engajar na investigação, seja adotada uma estratégia de restrição e seleção que irá selecionar e restringir os tipos de dados e teorias aceitáveis (LACEY, 2010, p. 69)
No modelo de atividade científica proposto por Kuhn, a ciência opera com a utilização de um paradigma. Este é adotado para beneficiar a caracterização e solução dos quebra-cabeças que se apresentam à pesquisa. Enquanto permanecer fecundo o paradigma (ou a estratégia) obterá exclusividade dentro da pesquisa que será conduzida com base nele. (LACEY, 2010, p. 69).
Este fato configura um problema do processo de especialização e se torna claro na exposição de Lacey acerca das estratégias materialistas ou de abordagem descontextualizada. Não podemos negar que as pesquisas baseadas em tais estratégias geraram enorme quantidade de descobertas cientificas e inovações tecnológicas, mas também é necessário ponderar que as estratégias materialistas possuem um caráter limitador para a pesquisa, pois analisam os fenômenos nos termos de sua geração, sua estrutura, processos e leis subjacentes, dissociando-os de seus contextos sociológicos, históricos, da experiência humana e vinculação com valores externos a ciência (LACEY, 2006, p. 17).
A pluralidade apresentada deve ser fecunda, constituída por estratégias que se complementem a fim de atingir certa “democracia” no interior da pesquisa e na aplicação de seus resultados. Lacey afirma:
Em geral, as possibilidades encapsuladas pelas teorias desenvolvidas sob diferentes estratégias sobrepõem-se, no máximo, por sugerirem que um “entendimento completo” dos fenômenos do mundo da experiência vivida não pode ser obtido (mesmo a princípio) se for submetido a apenas um dos tipos de estratégias. Essa é a base para a complementariedade das estratégias (LACEY, 2012).
Para garantir a abrangência de entendimento sobre os fenômenos é importante que a pesquisa seja conduzida por uma multiplicidade de abordagens, uma vez que há diversas questões, interesses e valores envolvidos desde o momento do estabelecimento das metodologias, que serão a base dos estudos sobre determinado objeto, até a aplicação dos resultados obtidos pela pesquisa.
O que observamos nos dias atuais é que a ciência e a sua prática estão cada vez mais apressadas, sujeitas a prazos e a investimentos corporativos, institucionais e governamentais que visam, principalmente o lucro e o bem-estar de um pequeno grupo. O conhecimento científico obtido pode ser utilizado tanto para fins pacíficos quanto para fins hostis. Este fato não constituiria a própria ciência como ré, mas sim os indivíduos responsáveis pelo desenvolvimento e aplicação do conhecimento obtido através da pesquisa (LACEY, 2010, p. 95)."
Referência:
LANTIMAN, Camila. Pluralidade de estratégias e adoção de um paradigma: Hugh Lacey, Thomas Kuhn e as abordagens da pesquisa científica. Em Construção. ano 1, n. 1, 2017, pp. 69-80. DOI:10.12957/emconstrucao.2017.28125
quarta-feira, 26 de novembro de 2025
"Saúde mental" e "doença mental" como condição social
A condição de "normalidade mental" é definida geralmente como ausência de doença. A condição de "anormalidade mental" é definida como um evento fechado em si mesmo, no caso uma "patologia biológica". No entanto, definir "normalidade mental" como uma condição social de status social confortável, estável e seguro tem implicações descritivas interessantes como um experimento de pensamento. Ao pensarmos em "doença mental" como uma ausência de condição social de status social confortável, estável e seguro alguns tipos de eventos tornam-se visíveis e relevantes como condições determinantes de saúde mental e de saúde social. Apesar de ser uma definição em termos sociais não há necessidade de exclusão de variáveis biológicas uma vez que alterações biológicas, independentemente de origem causal, estabelecem alguma forma de perda de "condição social de status social confortável, estável e seguro". Portanto, uma definição positiva e social de "normalidade mental" permite uma leitura multifatorial de condições determinantes de "estigma" ou de atribuição de "valor social negativo" tratados como equivalentes de "doença mental". A partir desse conceito de "saúde mental", o fato de que haja estigma a respeito da "doença mental" é uma consequência de uma perda de condição social e a "doença mental" não necessariamente é o primeiro antecedente causal da sequência de eventos classificados como próprios desse domínio empírico. Uma condição social favorável tem como consequência a reorganização de eventos na direção de efeitos facilitadores e uma condição social desfavorável a reorganização de eventos na direção de efeitos dificultadores. Logo, a recuperação de "saúde mental" tem como desafio ou barreira a conquista de condição social, sendo essa conquista de condição social imersa em relações de poder que perpassam o funcionamento social.
domingo, 23 de novembro de 2025
Capacidade preditiva da psiquiatria biológica
segunda-feira, 17 de novembro de 2025
A omissão básica na avaliação psiquiátrica
Genética de Hitler
Os aliados tinham bases de pensamento semelhantes antes e continuaram tendo depois da 2a guerra. É mais um resultado ridículo da historiografia psiquiátrica. Esses trabalhos com casos históricos extremos funcionam como testes de modelo científico. O documentário apresenta a ciência de base como infalível. É uma inversão política anacrônica que mostra como a biologia também é política e ideológica.
quinta-feira, 13 de novembro de 2025
Explicação cognitiva de resposta/cérebro
O conceito cognitivista de explicação da interface resposta/cérebro é de que não são os fatos do mundo que explicam o comportamento e sim a representação cerebral dos fatos do mundo. Nessa perspectiva, as representações do mundo são variáveis dependentes ou resultantes das variáveis independentes de estados do cérebro. As respostas são tratadas teoricamente como variáveis dependentes da variável independente capacidade orgânica de responder. Logo, a terapia cognitiva envolve cortar o efeito da determinação de representações mentais pelo cérebro através da mudança de cognições no aspecto psicológico e cortar o efeito da "patologia cerebral" através de medicações ou outras intervenções cerebrais.
A interface resposta/cérebro
Há um entendimento comum análogo ao conceito de relação entre mente/cérebro como aspectos de um mesmo fenômeno unitário em relação ao conceito de comportamento. O conceito formado é de que a resposta observável ou relação resposta/forma do comportamento (topografia) e cérebro, parte do comportamento, são uma redução cerebral equivalente ao conceito completo de comportamento. Logo, se circunstâncias ou contingências de reforçamento favorecem respostas não entendidas como problemas, então é inferido que o cérebro ou o seu estado orgânico está ou é saudável independentemente de classes antecedentes ou classes consequentes ou possivelmente classes de respostas os quais não são reconhecidos como fenômenos válidos ou existentes. A inversão do raciocínio para as "respostas cerebrais patológicas" também é aplicável. Logo, qualquer "relação resposta/cérebro" que não esteja de acordo com o esperado, independentemente de circunstâncias ou contingências de reforçamento, está sujeito a ser potencialmente medicalizado ou patologizado.
sábado, 8 de novembro de 2025
Definição de níveis ótimos de dopamina
A definição de um padrão adaptativo ou excessivo de nível de dopamina para prescrição de dose de neurolépticos geralmente utiliza a observação da adaptação de comportamentos observados a um meio genérico entendido como neutro e constante. No entanto, definir níveis ótimos de dopamina, uma vez que se entenda isso como desejável, ocorre efetivamente de acordo com a disposição de taxa de demandas e custo (de função geralmente aversiva sem disponibilidade de repertório de comportamentos) de satisfação de contingências de reforçamento relativamente à quantidade de disposição de ocasiões para reforço positivo (consequências) minimamente suficientes para saciação, fortalecimento e manutenção de comportamentos. Extremos de cada tipo de disposição de contingências de reforço indicariam níveis diferentes de dopamina "adaptativa" através de observação de comportamentos interpretados como sinais para níveis correlacionados de dopamina. Portanto, os níveis de dopamina adaptativos ou excessivos nessa interpretação com base em tipos de ocasiões e consequências para o comportamento operante na verdade seriam um resultado de características de disposições ambientais ao invés de disfunção interna de produção dopaminérgica que na prática psiquiátrica é avaliada posteriormente à apresentação de comportamentos inapropriados e conforme o grau de supressão de comportamentos desejado.
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
Neurolépticos e deficiência: definição de processos
Nível biológico: indução de danos orgânicos e funcionais por uso de neurolépticos e negação sistemática dos mesmos por fundo motivacional emocional e comercial
Nível operante: redução de aprendizagem pela redução de interações constante com o ambiente ao longo do desenvolvimento, aumento de custo fisiológico de resposta e indução de extinção fisiológica global constante de repertório operante demonstrado por experimentos em farmacologia comportamental. Ambiente de condições de desenvolvimento de comportamentos operantes (aprendizagem) de baixa qualidade e eficácia de acordo com os princípios da análise experimental do comportamento
Nível social: imposição de dificuldades e exigências sistêmicas e complexas adicionais oriundas da implicação de negação sistemática de funcionalidade e adaptabilidade de comportamentos operantes da pessoa sob tratamento com antipsicóticos resultantes de explicação internalista do modelo médico (organicismo hierárquico) que implica logicamente em negação de princípios biológicos do comportamento operante. Imposição e validação sistemática e incondicional de exigências unilaterais à pessoa sob tratamento com antipsicóticos.