"Não explicitou que a livre escolha, tese programática da AMB, tem sido, ampla e abusivamente, utilizada como um biombo para escamotear o sistema de remuneração médica em função da quantidade de tarefas executadas, conhecido como "pagamento por unidades de serviço", fator incontrolável de corrupção".
"Em nome da liberdade a AMB tem defendido um sistema altamente corruptor, responsável pela deterioração da imagem do médico e do conceito da medicina. Quem melhor e mais detalhadamente definiu esse sistema de pagamento foi um dos mais destacados estudiosos do problema, Murillo Villela Bastos, que disse:
"O pagamento por tratamento realizado induz o médico a buscar, no paciente, algo que resulte em lucro. Os doentes crônicos passam a ser cultivados e, de certo modo, asseguram uma renda previsível. As pessoas que tem amídalas e apêndices são instadas a removê-los. Os casos graves são evitados porque a remuneração que propiciam não correspondem ao trabalho que dão. O parto tende a se transformar de ato fisiológico em ato operatório. O exagero de exames complementares e de aplicações terapêuticas passa a ser confundido com a boa qualidade da medicina. A assistência domiciliar tende a desaparecer por ser menos lucrativa em comparação com as facilidades do lucro no atendimento em consultório ou hospital. O médico é levado, quase inconscientemente, a fragmentar o tratamento em uma série de atos médicos, de acordo com a tabela de honorários, e, para finalizar, o diagnóstico passa a ser aquele que justifique maior remuneração, anulando o valor das estatísticas de morbidade que tenham por base esse registro".
Autor: Carlos Gentile de Mello
A Medicina e a Realidade Brasileira. Rio de Janeiro: Achiamé; 1983 (Série Saúde e Realidade Nacional, vol. 4
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