Skinner explica compartilhou a publicação de Alexandre Dittrich.
Vale a reflexão!
Alexandre Dittrich"Nenhuma opinião deveria ser defendida com fervor. Ninguém mantém fervorosamente que 7 x 8 = 56, pois se pode mostrar que esse é o caso. O fervor apenas se faz necessário quando se trata de sustentar uma opinião que é duvidosa ou demonstravelmente falsa."
(Bertrand Russell, 1958)
Daí o alto teor de envolvimento emocional em discussões sobre política e religião, por exemplo. Nós simplesmente não sabemos o que é melhor, mas gostamos de achar que sim, e tendemos a achar que a nossa própria opinião sobre qualquer assunto está especialmente próxima da verdade.
Contudo, discussões emocionadas não se restringem a esses campos - como qualquer um que já tenha participado de eventos científicos deve saber. (Eu arriscaria dizer que mesmo os congressos de matemática devem ter lá os seus arranca-rabos...)
Ao afirmar que “nenhuma opinião deveria ser defendida com fervor”, Russell faz uma prescrição questionável. Ele parece partir da antiga distinção platônica entre episteme (conhecimento, reservado ao filósofo/cientista) e doxa (opinião, expressão da ignorância do cidadão comum). E sugere uma confiança desmesurada sobre aquilo que conhecemos, ou podemos conhecer.
Muitas variáveis podem contribuir para explicar o fato de que nós raramente discutimos algo sem nos envolver emocionalmente, mas acho que uma delas é essa: nossa capacidade de demonstrar que qualquer coisa “é o caso” é muito limitada. Junte-se a isso o fato de que a academia é competitiva, e conclui-se que nos exaltamos emocionalmente não só porque não sabemos, mas porque o não saber é socialmente punido.
Acho que jamais chegará o dia em que veremos cientistas discutindo os fenômenos que estudam estoicamente, como monges budistas, sem que se alterem seu tom de voz e seus batimentos cardíacos. E que bom que assim seja. Eu defendo firmemente que, ao dialogar sobre qualquer assunto, nós devemos cultivar a empatia e a cortesia, e reprovar o pedantismo e a agressão. Mas entendo, por outro lado, que a exigência de Russell é excessiva. Um mundo onde “nenhuma opinião é defendida com fervor” seria um mundo intelectualmente homogêneo, sem discussões e dissidências, no qual verdades universais (reveladas?) seriam aceitas por todos. Isso é a antítese do caráter crítico do pensamento científico.
O exame histórico, filosófico e sociológico já realizado sobre a ciência deveria hoje nos permitir uma concepção mais modesta sobre sua capacidade de revelar “o mundo como ele é”. Quando discuto as características da ciência com meus alunos, com alguma frequência menciono a ideia básica contida nesta frase:
“Num mundo ideal, todo curso de ciência deveria incluir lembretes reiterados de que qualquer teoria apresentada para explicar as nossas observações do universo deve carregar a seguinte qualificação: ‘segundo o conhecimento que temos agora, a partir do exame da evidência disponível para nós hoje’.”
(Amicus Curae, 1986, p. 24)
Daí o alto teor de envolvimento emocional em discussões sobre política e religião, por exemplo. Nós simplesmente não sabemos o que é melhor, mas gostamos de achar que sim, e tendemos a achar que a nossa própria opinião sobre qualquer assunto está especialmente próxima da verdade.
Contudo, discussões emocionadas não se restringem a esses campos - como qualquer um que já tenha participado de eventos científicos deve saber. (Eu arriscaria dizer que mesmo os congressos de matemática devem ter lá os seus arranca-rabos...)
Ao afirmar que “nenhuma opinião deveria ser defendida com fervor”, Russell faz uma prescrição questionável. Ele parece partir da antiga distinção platônica entre episteme (conhecimento, reservado ao filósofo/cientista) e doxa (opinião, expressão da ignorância do cidadão comum). E sugere uma confiança desmesurada sobre aquilo que conhecemos, ou podemos conhecer.
Muitas variáveis podem contribuir para explicar o fato de que nós raramente discutimos algo sem nos envolver emocionalmente, mas acho que uma delas é essa: nossa capacidade de demonstrar que qualquer coisa “é o caso” é muito limitada. Junte-se a isso o fato de que a academia é competitiva, e conclui-se que nos exaltamos emocionalmente não só porque não sabemos, mas porque o não saber é socialmente punido.
Acho que jamais chegará o dia em que veremos cientistas discutindo os fenômenos que estudam estoicamente, como monges budistas, sem que se alterem seu tom de voz e seus batimentos cardíacos. E que bom que assim seja. Eu defendo firmemente que, ao dialogar sobre qualquer assunto, nós devemos cultivar a empatia e a cortesia, e reprovar o pedantismo e a agressão. Mas entendo, por outro lado, que a exigência de Russell é excessiva. Um mundo onde “nenhuma opinião é defendida com fervor” seria um mundo intelectualmente homogêneo, sem discussões e dissidências, no qual verdades universais (reveladas?) seriam aceitas por todos. Isso é a antítese do caráter crítico do pensamento científico.
O exame histórico, filosófico e sociológico já realizado sobre a ciência deveria hoje nos permitir uma concepção mais modesta sobre sua capacidade de revelar “o mundo como ele é”. Quando discuto as características da ciência com meus alunos, com alguma frequência menciono a ideia básica contida nesta frase:
“Num mundo ideal, todo curso de ciência deveria incluir lembretes reiterados de que qualquer teoria apresentada para explicar as nossas observações do universo deve carregar a seguinte qualificação: ‘segundo o conhecimento que temos agora, a partir do exame da evidência disponível para nós hoje’.”
(Amicus Curae, 1986, p. 24)
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