Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)

Essa avalanche de informações e conhecimento relacionada à saúde e despejada todos os dias sobre os indivíduos sem a menor cerimônia varia muito em termos de objetividade e credibilidade. Porém, é preciso admitir que ela consegue atrair cada vez mais a atenção pública para assuntos de saúde - e muda o relacionamento tradicional entre médicos e pacientes, encorajando os últimos a exercer uma atitude mais participativa na relação. Ironicamente, enquanto os pacientes conquistam mais acesso às informações sobre saúde, os médicos têm cada vez menos tempo para estudar as últimas descobertas científicas ou para ler publicações da área - on-line ou não -, e mesmo para se comunicar adequadamente com especialistas de áreas relevantes e/ou com os próprios pacientes. Além disso, enquanto os médicos precisam dominar conhecimentos sobre as diferentes condições de saúde de um grande número de pacientes cujos rostos eles mal conseguem lembrar, um paciente instruído, com acesso à internet, pode, na verdade, ter lido uma pesquisa mais recente do que o médico sobre sua doença específica. Os pacientes chegam ao consultório com paginas impressas contendo o material que pesquisaram na internet, fotocópias de artigos da Physician's Desk Reference, ou recorte de outras revistas e anuários médicos. Eles fazem perguntas e não ficam mais reverenciando a figura do médico, com seu imaculado avental branco. Aqui as mudanças no relacionamento com os fundamentos profundos do tempo e conhecimento alteraram completamente a realidade médica. Livro: Riqueza Revolucionária - O significado da riqueza no futuro

Aviso!

Aviso! A maioria das drogas psiquiátricas pode causar reações de abstinência, incluindo reações emocionais e físicas com risco de vida. Portanto, não é apenas perigoso iniciar drogas psiquiátricas, também pode ser perigoso pará-las. Retirada de drogas psiquiátricas deve ser feita cuidadosamente sob supervisão clínica experiente. [Se possível] Os métodos para retirar-se com segurança das drogas psiquiátricas são discutidos no livro do Dr. Breggin: A abstinência de drogas psiquiátricas: um guia para prescritores, terapeutas, pacientes e suas famílias. Observação: Esse site pode aumentar bastante as chances do seu psiquiatra biológico piorar o seu prognóstico, sua família recorrer a internação psiquiátrica e serem prescritas injeções de depósito (duração maior). É mais indicado descontinuar drogas psicoativas com apoio da família e psiquiatra biológico ou pelo menos consentir a ingestão de cápsulas para não aumentar o custo do tratamento desnecessariamente. Observação 2: Esse blogue pode alimentar esperanças de que os familiares ou psiquiatras biológicos podem mudar e começar a ouvir os pacientes e se relacionarem de igual para igual e racionalmente. A mudança de familiares e psiquiatras biológicos é uma tarefa ingrata e provavelmente impossível. https://breggin.com/the-reform-work-of-peter-gotzsche-md/

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Tireóide e poluição química

Como a produção de hormônio da tireóide tem um mecanismo complexo, existem várias formas de afetar o mecanismo em diferentes etapas. Um dos porquês é que os halogênios são muitos úteis para a indústria química por serem reativos para produzir muitos compostos químicos em grande volume. Esse tipo de molécula tem estrutura semelhante à estrutura dos hormônios da tireóide e por isso é plausível que muitos produtos químicos se liguem facilmente ao mecanismo biológico complexo (e portanto sensível) e atuam como desreguladores endócrinos dos hormônios da tireóide. Como a lista é enorme não é possível exaurir o tema num livro e a autora apenas cita classes de tipos de produtos químicos que tem maior produção na indústria química e evidências disponíveis.

Fonte: Barbara Demeneix. Toxic cocktail: how chemical pollution is poisoning our brains. Oxford University Press (2017)

Atribuições genéticas e relações fortes de determinação

Formulações de explicações genéticas para manifestações comportamentais se originam de relações fortes de determinações comportamentais os quais não se sabe modificar de forma simples e trivial.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Variáveis nominais na medicina e tratamentos

Utilizar nomes ou variáveis nominais de diagnósticos para definir tratamentos padrão para grupos na medicina é bastante impreciso e foge ao raciocínio experimental de intervenções em termos de variáveis bem identificadas e definidas. Os nomes de diagnósticos num raciocínio experimental devem ser substituídos por respostas fisiológicas e orgânicas isoladas sob efeito de variáveis independentes ou causais.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Atitude acadêmica: alternativa

A atitude acadêmica da pessoa inserida com sucesso na universidade é ter familiaridade inicial com os temas e objetos de estudo, ter contato limitado com os dados sociais e diferentes perspectivas teóricas alternativas, prezando pelo ambiente formal alheio ao mundo social, construindo conhecimento programático e disciplinar a partir de métodos já estabelecidos como tradicionais, a desvalorização da integração artesanal de conceitos e dados, utilizando-se de uma perspectiva teórica isolada e sem inclusividade e equitatividade de valores sociais e cognitivos alternativos, sem distanciamento crítico da constituição do campo científico como impregnado de valores sociais e econômicos, inserção nas redes sociotécnicas de suporte de forma comprometida com seus interesses, manutenção de discurso padronizado de grupo frente as limitações da própria área e de críticas baseadas em interesse de grupo em relação a áreas concorrentes.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Iluminismo e psiquiatria

A psiquiatria biológica e tradicional tem um discurso iluminista de se opor ao popular, ao mágico, à superstição, ao social, ao cultural, às tradições e às perspectivas não rigorosas e não teóricas. No entanto, existem teorias e dados sistemáticos tanto em antropologia e ciências humanas como em biologia que não são tão desqualificantes da experiência cotidiana não refinada.

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Tradição, conformidade, neutralidade e estabilidade

Tradição e conformidade são formas de aparentar neutralidade. Humor, comportamento, identidade e pensamento neutro são formas de aparentar naturalidade em relação ao modo como as coisas são. Logo, a estabilidade como critério de saúde mental implica em "não posicionamento", não intensidade, ou na verdade formas de adequar-se aparentando naturalidade.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Grupos / associações de pacientes

Grupos de Pacientes  

Este artigo faz parte do foco do Centro de Mídia e Democracia sobre grupos de fachada e manipulação corporativa.

Grupos de Pacientes, ou grupos de defesa de pacientes, são organizações que afirmam representar os interesses de pacientes que sofrem de várias doenças físicas e mentais. Muitos são financiados, e em alguns casos, geridos por empresas farmacêuticas que vendem tratamentos para as respectivas doenças.

"A Associação Americana de Diabetes, um dos principais grupos de saúde de pacientes, recrutou em particular um executivo da Eli Lilly & Co. para definir sua estratégia de crescimento e criar seu slogan. A Aliança Nacional sobre Doenças Mentais, um defensor vocal dos pacientes, faz lobby por programas de tratamento que também beneficiam seus doadores da indústria farmacêutica. ... Embora os pacientes raramente saibam disso, muitos grupos de pacientes e empresas farmacêuticas mantêm relacionamentos próximos de milhões de dólares, divulgando poucos ou nenhum detalhe sobre esses laços," relata Thomas Ginsberg, do Philadelphia Inquirer. [1]

Em alguns casos, empresas "emprestaram" os serviços de seus executivos para aconselhar ou até mesmo liderar grupos de pacientes. A investigação de Ginsberg descobriu que "os grupos raramente divulgam tais laços ao comentar ou fazer lobby sobre os medicamentos dos doadores. Eles também tendem a ser mais lentos em publicizar problemas de tratamento do que avanços. E poucos questionam abertamente os preços dos medicamentos." [2]

Características dos grupos de fachada de defesa de pacientes  

Grupos de defesa de pacientes que servem como fachada para empresas farmacêuticas podem exibir algumas ou todas as seguintes características.

Eles podem:

- Derivar a maior parte, se não toda, sua receita de fabricantes farmacêuticos;

- Fazer lobby por programas de tratamento que também beneficiem seus doadores da indústria farmacêutica;

- Ser mais lentos em publicizar problemas de tratamento do que avanços;

- Tendem a não questionar abertamente os preços dos medicamentos;

- Incentivar os pacientes a continuarem seus medicamentos e oferecer programas para ajudar os pacientes a manterem-se em seus tratamentos, e pressionar as seguradoras a pagarem por isso;

- O financiamento das empresas farmacêuticas para a organização geralmente vem das divisões de marketing ou vendas das empresas, não dos escritórios de caridade;

- Não discutir adequadamente, ou minimizar a discussão de efeitos colaterais adversos de medicamentos, como danos cerebrais ou suicídio;

- Não fazer lobby por mais ou pesquisas adicionais de segurança devido ao potencial de corte do financiamento pelas farmacêuticas [1];

- Focar em medicamentos como o tratamento preferido e negligenciar questões como moradia e apoio financeiro, treinamento vocacional, reabilitação e empoderamento, todos os quais podem desempenhar um papel na recuperação de doenças mentais. [2]

Grupos de defesa de pacientes verdadeiramente independentes são provavelmente controlados por voluntários que realmente tomam medicamentos para saúde mental. Grupos de defesa de pacientes verdadeiramente de base são propensos a ter "barreiras" contra a influência de doadores, como políticas contra aceitar financiamento de empresas farmacêuticas.

https://www.sourcewatch.org/index.php?title=Patient_Groups

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A função comercial do discurso genético

Em termos de função, o discurso sobre genética tem função de justificação comercial de produtos e tratamentos médicos. A genética é uma área sofisticada com muito investimento por ser viável construir grandes indústrias a partir de intervenções biológicas derivadas de seu conhecimento. Ao lado disso, há uma compreensão teórica que enfatiza a prioridade do papel dos genes no adoecimento e minimiza o papel do ambiente. A pesquisa biológica em genética é bastante viável já que há um fenômeno manipulável, especificável e definível. A pesquisa rigorosa em fatores ambientais não têm o mesmo incentivo de construir grandes indústrias, não na mesma proporção das indústrias de base biomédica, para se estabelecer como área sofisticada. A pesquisa biomédica é bastante compatível com lógica de mercado em escala. As intervenções com base ambiental não são simples, envolvem aprender comportamentos e lidar com fenômenos distribuídos, multifatoriais e em interação dinâmica.

Estratégias básicas de normalidade

As estratégias básicas e simples de ajuste de normalidade ou de "senso das coisas" são:

1) Imitar o que a maioria das pessoas fazem

2) Confiar no que é dito sem necessidade de reflexão

3) Proteger-se repetindo o que todos dizem

4) Fuga-Esquiva de agir diferente de padrões hegemônicos

5) Evitar lidar com questões complexas e sistêmicas

6) Seguir tradições e conformar-se

7) Rejeitar inovações

8) Utilizar-se de formas de poder ao próprio alcance

A mudança dessas estratégias para estratégias mais refinadas envolve uma curva de aprendizagem desafiadora.


terça-feira, 3 de setembro de 2024

Concepções de desenvolvimento

https://pedagogiaaopedaletra.com/a-abordagem-inatista-maturacionista/ 
A Abordagem Inatista Maturacionista 

A abordagem inatista-maturacionista parte do princípio de que fatores hereditários ou de maturação são mais importantes para o desenvolvimento da criança. Hereditariedade refere-se à herança genética que a criança recebe de seus pais. Maturação refere-se a um padrão de mudanças comum a todos os membros de determinada espécie. Apesar das diferenças, Binet e Gesell estabeleceram padrões de comportamento para avaliar a inteligência ou o desenvolvimento da criança. Os fatores biológicos são os mais decisivos na determinação da inteligência e desenvolvimento; tais padrões comportamentais são independentes de fatores externos ou do contexto social em que a criança vive. Não importa o lugar e a época em que a criança viva. Se o ritmo e o desenvolvimento são biologicamente determinados, espera-se que certos comportamentos apareçam na mesma idade. De acordo com a perspectiva inatista-maturacionista, a aprendizagem depende do desenvolvimento. Ou seja, o que a criança é capaz ou não de aprender é determinado pelo seu nível de inteligência. Para mais informações sobre como a psicologia pode ajudar no aprendizado, veja a psicologia escolar. 

https://www.willassuncao.com.br/2022/02/inatismo-ambientalismo-e-interacionismo.html 

INATISMO

A abordagem Inatista traz a concepção de que a prática pedagógica não advém de circunstâncias contextualizadas, ela baseia-­se nas capacidades básicas do ser humano. Ou seja, a personalidade, a forma de pensar, seus hábitos, seus valores, as reações emocionais e o comportamento são inatos, isto é, nascem com o indivíduo e seu destino já vem pré­-determinado. Os eventos que ocorrem após o nascimento não são essenciais ou importantes para o desenvolvimento. Destaca-se como teórico, Arnold Gessel. 

AMBIENTALISMO 

 A abordagem ambientalista, também chamada de behaviorista ou comportamentalista, privilegia a experiência como fonte do conhecimento e formação de hábitos, atribuindo um grande poder ao ambiente no desenvolvimento e na constituição das características humanas. 

O ambiente para B.F. Skinner é muito mais importante do que a maturação biológica. São os estímulos presentes numa dada situação que levam ao aparecimento de um determinado comportamento. 

INTERACIONISTA 

Segundo os interacionistas, o organismo e o meio exercem ações recíprocas, ou seja, um influencia o outro acarretando mudanças sobre o indivíduo. Eles discordam das teorias inatistas por desprezarem o papel do ambiente e das concepções ambientalistas por ignorarem fatores maturacionais. 

É na interação da criança com o mundo físico e social que características deste mundo vão sendo conhecidas e assim ela poderá, através de sua ação sobre ele, ir construindo seus conhecimentos. 

Portanto, a concepção interacionista de desenvolvimento acredita na ideia de interação entre o organismo e o meio, na qual resulta a aquisição de conhecimentos, como um processo construído pelo indivíduo que dura a vida toda. 

O bebê constrói suas características, ou seja, seu modo de agir, pensar, sentir e sua visão de mundo, através da interação com outras pessoas, adultos e crianças. Podemos destacar duas correntes teóricas que defendem a visão interacionista de desenvolvimento: a elaborada por Piaget e seus seguidores e a defendida por teóricos soviéticos, em especial por Vygotsky. Destaca-se como teórico também Wallon.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

"ABA" tem condições de ser mainstream?

Uma vez realizada a demonstração de evidências padrão-ouro da análise do comportamento aplicada, uma exigência de um grupo diferente, para desafios com transtornos mentais, isso seria suficiente para um amplo financiamento e para a análise do comportamento aplicada se tornar mainstream em um domínio de problemas? A história do sistema de saúde mental e os tratamentos inovadores indica que não. Se um tratamento não faz concessões e acordos comerciais sustentadores da indústria da saúde mental e a economia associada, o desafio de se tornar padrão é maior. 

Psicologia baseada em evidências e cognitivismo

 Grande parte da psicologia baseada em evidências é formada por psicólogos cognitivos que passaram do autoelogio para querer definir quem deve e não deve receber dinheiro. Os cacoetes metodológicos e interfaces teóricas são muito semelhantes.

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Saúde mental populacional e eugenia

Mensurações vaganóticas relativas em termos de saúde e doença populacional como representado pela porcentagem de prevalência epidemiológica de transtornos mentais tratados como primordialmente genéticos significa que a expansão da medicalização é apenas uma consequência natural dessa forma de pensar já que a saúde é relativa e isso é semelhante a práticas eugenistas.

Ler mais:


Loucos e degenerados - Sandra Caponi (livro)

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Medicamentos e tiróide

Tabela 1: Medicamentos e outras substâncias que interferem na função tireoidiana

1. Medicamentos que interferem na função hipotálamo-hipófise-tireoide

(a) Glicocorticoides  

(b) Dopamina, agonistas de dopamina e antagonistas de dopamina  

(c) Somatostatina e análogos da somatostatina  

(d) Retinoides  

2. Medicamentos que interferem na função tireoidiana  

(a) Lítio  

(b) Antidepressivos tricíclicos e inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS)  

(c) Antiepilépticos  

(d) Rifampicina  

(e) Metformina  

(f) Amiodarona

Referência:

Título: Thyroid Diseases - Pathogenesis, Diagnosis, and Treatment

Autores: Paolo Vitti e Laszlo Hegedüs (Editores)

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Escala de entendimento de atores da saúde mental

Existe uma escala hierárquica (nível de mensuração ordinal) de rótulos de capacidade de entendimento para cada tipo de ator na saúde mental:

O médico tem um entendimento muito superior e inacessível.

O psicólogo e outros profissionais de saúde tem um entendimento aceitável quando atuam como paramédicos (apoiadores do médico) e quando estão de acordo com o entendimento da sociedade.

O familiar confia, obedece, se conforma e segue tradições. Está de acordo com a sociedade.

O paciente/usuário tem um entendimento muito inferior (conceito manicomial) e seu posicionamento frente aos outros três atores é hierarquizado como discurso com baixo valor de validade.


Direção, assimetria, proporção e medicalização

Os aspectos de direção, assimetria e proporção das afirmações verbais e dos comportamentos são bastante vagos e maleáveis para atribuir sintomas conforme os interesses e as emoções.

Leis do comportamento operante e alterações orgânicas

O entendimento social da afirmação de que as leis do comportamento não funcionam quando há uma alteração orgânica é provavelmente muito diferente do entendimento de uma pessoa com formação em análise experimental do comportamento, biologia do comportamento e neurociências. O entendimento social comum é de que nomes de diagnósticos são explicações suficientes para atribuir disfunções a sinais componentes de construtos diagnósticos e isso está atrelado a conceitos socioculturais em relação a pessoas diagnosticadas. Os conceitos de senso comum sobre disfuncionalidade dos comportamentos que não estão de acordo com certos padrões e interesses provavelmente é a forma de receber a afirmação. Esse entendimento está em continuidade com o senso comum da medicalização, da manicomialidade e mau uso das explicações neurocientíficas.

O que realmente significa a afirmação é que uma alteração orgânica específica que tem múltiplas possibilidades de realização enquanto substrato orgânico, não é redutível a uma categoria diagnóstica, e contribui para alterar certos parâmetros delimitados e muito precisos dos mecanismos de aprendizagem de comportamentos operantes. Isso não significa que não é mais possível o entendimento do comportamento em termos de análise funcional sistemática, mas que é preciso pensar em análises funcionais diferentes e que os desafios de intervenção aumentam.

terça-feira, 20 de agosto de 2024

Expansão de mercado e campanhas de saúde mental

As campanhas de conscientização sobre saúde mental e redução de estigma tem objetivos econômicos atrelados e entram nas análises financeiras sobre expansão de mercado, indicando um componente relevante na constituição dessa forma de conhecimento a ser avaliado com distanciamento crítico.

"Em termos de receita, o segmento de aplicação de crescimento mais rápido para a paliperidona provavelmente será no tratamento da esquizofrenia em adultos. À medida que os transtornos psiquiátricos continuam a ser prevalentes em todo o mundo, espera-se que a demanda por medicamentos antipsicóticos eficazes, como a paliperidona, aumente. Além disso, a pesquisa e desenvolvimento contínuos na área da saúde mental e o crescente conhecimento sobre o diagnóstico e a intervenção precoces podem contribuir para o crescimento do mercado de antipsicóticos, incluindo o uso da paliperidona."

"O mercado de Paliperidona deve experimentar um crescimento substancial de receita no período de previsão devido a vários fatores significativos. Um dos principais impulsionadores do crescimento da receita no mercado de Paliperidona é a crescente prevalência de transtornos mentais globalmente.

Além disso, o crescente conhecimento e aceitação das questões de saúde mental também têm contribuído para o crescimento da receita do mercado de Paliperidona. Houve uma mudança significativa nas atitudes sociais em relação à saúde mental, levando mais indivíduos a buscar ajuda e tratamento profissional. Esse aumento na conscientização e a redução do estigma em torno da saúde mental resultaram em um maior número de prescrições para medicamentos como a Paliperidona.

Além disso, os avanços no desenvolvimento de medicamentos e na tecnologia impulsionaram ainda mais o crescimento do mercado de Paliperidona. As empresas farmacêuticas estão investindo pesadamente em pesquisa e desenvolvimento para descobrir novos e melhores medicamentos antipsicóticos que tenham maior eficácia e menos efeitos colaterais. Esses avanços não apenas impulsionam o crescimento da receita ao aumentar as taxas de prescrição, mas também apoiam a expansão geral do mercado.

As últimas tendências observadas no mercado de Paliperidona incluem uma mudança para formulações injetáveis de longa duração. Os antipsicóticos injetáveis de longa duração oferecem uma liberação prolongada do medicamento, permitindo uma dosagem menos frequente e melhor adesão ao tratamento. Essa tendência tem ganhado popularidade, pois aborda o desafio da não adesão frequentemente associada a medicamentos orais e melhora os resultados dos pacientes.

No entanto, [o relatório] também enfatiza os desafios dos potenciais efeitos colaterais e das restrições das políticas de preços/reembolso [planos de saúde e governos] [na acessibilidade econômica do produto]"

Referência: https://www.reportprime.com/paliperidone-r14161

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Modelo manicomial e análise do comportamento

Duas características do modelo manicomial são diretamente relevantes para a crítica à análise do comportamento pela reforma psiquiátrica brasileira: tratamentos em locais fechados e disciplina.

Uma das afirmações de Hugh Lacey e Chomsky é de que o behaviorismo radical e análise experimental do comportamento tem validade somente para ambientes fechados devido ao uso de laboratórios. Essa afirmação é inspirada pela negação do fenômeno reforço e pela concepção de que essa  área de conhecimento apenas controla de forma coercitiva o comportamento. No entanto, numa concepção que reconhece os efeitos do fenômeno reforço operante de forma amplamente replicada, não há motivos para afirmar que a aprendizagem ocorre apenas em locais fechados.

Na mesma linha, a crítica de que a análise do comportamento pratica a disciplina manicomial é inspirada no não reconhecimento do fenômeno do comportamento operante. A disciplina é entendida nessa concepção como coerção de acordo com objetivos de outras pessoas. No entanto, a análise experimental do comportamento promove a aprendizagem segundo as necessidades na vida do cliente. Nos momentos que promove adaptação, isso acontece devido à indisposição de pessoas do convívio. Numa concepção que rejeita a "disciplina", treinar a pessoa para manejar com sucesso sua vida é pejorativo ou uma forma de normalização violenta de uma pessoa "indisciplinável" que precisa de intervenções sociais e institucionais para viver sua vida e ser aceita como uma identidade diferente positiva. Nessa concepção, o "louco" é uma pessoa impossibilitada de aprender. Até que ponto isso é realmente uma virtude do tratamento em saúde mental?

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Estigma e capacidade social de solução técnica

É possível afirmar a relação quantitativa de que quanto menos uma sociedade é capaz de uma solução técnica efetiva de uma condição de saúde maior é o estigma alimentado e quanto mais uma sociedade é capaz de uma solução técnica efetiva para uma condição de saúde menor é o estigma. Historicamente, a contracultura valorizou a loucura por aperfeiçoar maneiras de lidar com a divergência. Em termos de uma linguagem comportamental, a experiência social ampla da capacidade social ou da incapacidade de oferecer uma solução técnica efetiva estabelece fatos para que se construam equivalências simbólicas (de estímulos) positivas ou negativas sobre uma condição de saúde tomada como uma classe de comportamento verbal. 

terça-feira, 30 de julho de 2024

Capacidade do autista: natural ou adquirida pela "ABA"?

Contemporaneamente foi criado um imaginário de que pessoas com características de autismo tem um grande potencial de realização em suas áreas de atuação. Ao mesmo tempo, uma realidade paralela do autismo é a deficiência profunda. O senso comum médico é de que o potencial e a deficiência profunda são características que ocorrem naturalmente a partir de uma predisposição em termos do pensamento de Kraeplin. O tratamento padrão-ouro do autismo é a análise do comportamento aplicada, o qual em termos simples é uma forma de aceleração da aprendizagem. Portanto, o imaginário de capacidade da pessoa com características de autismo foi criado a partir da aceleração da aprendizagem da análise do comportamento aplicada, mas entendido de forma Kraepliana. O fenômeno cultural da pessoa com características de autismo com potencial de realização deveria ser entendido como um resultado da qualidade do tratamento padrão-ouro em análise aplicada do comportamento. Como acontece habitualmente, os bons resultados da análise experimental do comportamento perdem a ligação com sua origem quando se inserem no senso comum.

segunda-feira, 22 de julho de 2024

Memória de trabalho - Funções cognitivas

Descrições de conceitos de "funções cognitivas" como essa apresentada da memória de trabalho em termos do componente comportamento do organismo (complementar ao componente de neurociência e característica orgânica do organismo da área de conhecimento Neurociência e Comportamento) são boas pistas para formular os conceitos cognitivos em termos de processos comportamentais e resultariam na descrição de múltiplos processos componentes. A "memória de trabalho" nesse caso é a manutenção de controle de estímulos adequados à tarefa. Manter controles de estímulos adequados à tarefa também exige comportamentos pré-requisitos para completar as tarefas com sucesso e ausência de comportamentos incompatíveis ou concorrentes. Exemplos de comportamentos pré-requisitos são repertório de comportar-se em relação aos textos lidos para alteração de controle de estímulos ou comportar-se em relação aos filmes para alteração de controle de estímulos (síntese de comportamentos).

Referência da imagem: 
no instagram @dranicollezimmermann



sexta-feira, 19 de julho de 2024

Borderline/limítrofe e variação cultural/geográfica

A identificação e nomeação de características como "transtorno borderline / limítrofe" a partir do senso comum apesar de parecer um fenômeno natural universal, é interpretação da borda de diferentes culturas com variações em suas regras sobre o correto, a borda entre o aceitável/reprovável e o errado. É possível que, assim como nos países do hemisfério norte há maior identificação de esquizofrenia devido a um limiar cultural para a loucura, o limiar que nomeação de características como pertencendo à borda também tenha variações de contexto geográficos e culturais.

sábado, 13 de julho de 2024

Teoria psiquiátrica e reforma psiquiátrica

A suposta necessidade de mais leitos psiquiátricos é uma consequência do conceito de que a "doença mental" (nos termos da psiquiatria biológica) é uma desregulação fisiológica e orgânica interna que só tem controle por meio de coerção física e tratamentos biológicos. Essa forma pensar envolve uma transformação de fatos contextuais em fatos acontextuais biológicos (reducionismo). Sobre a OMS estipular um número de leitos, isso é um número que deveria ser pensado de forma dinâmica de acordo com a rede de saúde mental e mesmo os recursos sociais disponíveis. Por causa da concepção teórica mencionada acima sobre a desregulação incontrolável não é visto como uma possibilidade reduzir leitos. A suposta necessidade de leitos também se fundamenta na ideia teórica de que as "doenças mentais" são progressivas e por isso só o hospital poderia tratar dos casos mais graves. A questão da radicalização da reforma psiquiátrica é um discurso que visa evitar que uma implementação das práticas da reforma psiquiátrica tornem essas concepções teóricas citadas provadas falsas e obsoletas de forma indiscutível. A questão de não ter psiquiatras disponíveis em alguns serviços entra na mesma necessidade de reprodução social das concepções teóricas. Se houvesse a implementação em larga escala de formas não medicalizadas de lidar com crises, essa concepção praticamente automática de "se crise, então medicina" se enfraqueceria assim como a influência dos psiquiatras e modos medicalizantes.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Mercado: terapia cognitiva, neuropsicologia e PBE

A terapia cognitiva, a psicologia baseada em evidências e a neuropsicologia tem um mercado atrativo. A oferta de terapia cognitiva está inserida em exigências para processos seletivos de clínicas gerenciadas provavelmente por diretores médicos. A psicologia baseada em evidências trabalha com recomendações mútuas de profissionais que estão "baseados em evidências" para certas finalidades em práticas validadas como eficazes. Já a neuropsicologia está baseada no mercado da avaliação psicológica e consegue cobrar caro por essas avaliações.

sexta-feira, 28 de junho de 2024

O senso comum, o TDAH e outros transtornos

Para aceitação, o tratamento psiquiátrico do TDAH recorre ao senso comum para se firmar. A percepção leiga da grande maioria das pessoas é que sucesso escolar é uma questão de atenção, inteligência e boa saúde cerebral. Esses requisitos são tomados como capacidades biológicas que estão dentro da pessoa. É mais desafiador compreender as relações (com o meio) de construção  dessas características.

Seria interessante aprofundar na temática do senso comum e aceitação de tratamentos psiquiátricos ou tratamentos mais comuns. O uso do senso comum para aceitação de tratamentos envolve limitações de percepção mais comuns presentes na grande maioria das pessoas. Essas percepções são resultados de limitações estruturais de aprendizagem presentes na sociedade e cultura.

segunda-feira, 24 de junho de 2024

Coleta de dados individualizante e medicalização

A coleta de dados de depoimentos a partir de perspectiva individualizante (pessoa separada do seu meio) é um dos raciocínios da medicalização e patologização. O ponto de partida são os sinais de estranhamento que são interpretados a partir de um modelo organicista. Um coleta de dados não individualizante com foco no ambiente distribuído da pessoa é desafiadora de ser realizada através de conversa com uma pessoa dentro de um consultório.

Obs: Esse texto foi censurado pelo facebook.

domingo, 16 de junho de 2024

Behaviorismo e controle artificial por tecnologia

É geralmente difundido no imaginário social que o behaviorismo está associado com controle artificial do comportamento por meio de tecnologia (principalmente implantes cerebrais ou outras tecnologias). Esse discurso contribui para a percepção de que a questão dos determinantes do comportamento não está presente de forma abrangente e pervasiva no mundo natural e social (cotidiano). Esse forma de percepção contribui para que convivamos com problemas sem solução ou com "soluções" muito insuficientes, assim como a percepção insuficiente das relações de construção do cotidiano, sua manutenção e suas possibilidades de alteração. O tratamento abstrato dos fatos do ser humano implica em não percepção de eventos materiais que seriam acessíveis e modificáveis para uma vida e sociedade melhores.

quinta-feira, 6 de junho de 2024

Indústria do autismo vs indústria da esquizofrenia

Por que é bom que haja uma indústria do autismo? Caso não houvesse dinheiro circulando no mercado do autismo não haveria pesquisa em quantidade e qualidade para ofertar tratamentos de sucesso nem pessoas dispostas a ofertar os serviços. O tratamento do autismo de acordo com a análise do comportamento aplicada está bem estabelecido como evidência de padrão-ouro e essa qualidade de oferta movimenta dinheiro pela demanda social e disposição a pagar pelo serviço. Se há exageros ou não, o importante é que ainda há crianças com necessidades de aprendizagem e desenvolvimento. Não há mal nisso. Essa circulação toda da economia cria uma identidade positiva para o autismo e espaço na sociedade.

A circulação de dinheiro na esquizofrenia/loucura está em manter a cronicidade através de tratamento farmacológico vitalício e no gerenciamento de crises periódicas através de hospitais psiquiátricos. Houveram propostas interessantes de tratamentos, mas esses precisaram entrar na contramão e na desconstrução de um sistema de atenção altamente lucrativo. Além disso, esse diagnóstico não parece ter um padrão unívoco e homogêneo a partir do qual seria formulado um pacote de tratamento padrão ouro de evidências. Os tratamentos tem suas particularidades e necessidades próprias. Na época da contracultura foi conquistada uma certa identidade positiva para a loucura. Penso que isso também era uma tentativa de criar uma indústria mesmo que alternativa.

O ponto é que não se resolve problemas e demandas sociais sem indústrias. A reforma psiquiátrica também é um mercado e uma indústria. Acontece de o sucesso nos tratamentos criarem indústrias grandes e isso não é uma forma de capitalismo destrutivo nesses casos. Uma indústria de sucesso gera disputas econômicas com outras formas de indústria e não é por uma proposta ter inserção no setor público que esta esteja justificada como a mais desinteressada e benéfica.

[Esse texto foi censurado pelo Facebook]

terça-feira, 4 de junho de 2024

Probabilidade de falso positivo de diagnósticos

Peça para o ChatGPT 4 versão gratuita calcular a probabilidade bayesiana (de Bayes) de falso positivo de um diagnóstico psiquiátrico para a população em um país. O cálculo irá considerar a prevalência do diagnóstico na população definida. A probabilidade de falso positivo calculada resultará alta quanto mais rara for a prevalência. A maioria dos diagnósticos psiquiátricos terá probabilidade alta de falso positivo. A esse valor de probabilidade ainda é possível adicionar a porcentagem de concordância de diagnósticos entre psiquiatras diferentes (confiabilidade), a diferença de formação entre médicos e a subjetividade envolvida na tarefa.

Depois faça o mesmo para calcular a probabilidade bayesiana de falso negativo de um diagnóstico psiquiátrico em uma população definida. O resultado irá ser uma probabilidade muito baixa.

No entanto, esse cálculo é a probabilidade a posteriori (empírico) inicial. Novas evidências são incorporadas em cálculos a posteriori(s). É importante essa distinção para evitar confusão.

sábado, 25 de maio de 2024

A resposta psiquiátrica à crítica contracultural

“Em primeiro lugar, o establishment, que a princípio ficou desconcertado com tantos problemas que não conseguia resolver, e que se sentiu aliviado, em alguns casos, por descartá-los, não demorou a montar uma contra-ofensiva. A crise passou, o sistema recuperou o controle da situação ao garantir que as leis que regem os padrões institucionais e profissionais no campo paramédico fossem mais rigorosas, tornando as concessões de ajuda financeira dependentes da prova de competência profissional (presumivelmente monopolizada pelo próprio sistema médico); e ao criticar e repudiar membros da profissão que se comprometeram ao se envolverem profundamente em atividades supostamente subversivas, os médicos estão agora de acordo geral que os “abusos” dos anos 60 devem ser lamentados e que a psiquiatria deve permanecer segura no seu nicho médico." (pág. 301-302).

"A saúde mental comunitária sobreviveu através do desenvolvimento de novas técnicas como a intervenção em crises, a psicoterapia de curto prazo, formas sofisticadas de aconselhamento para pessoas em posições de responsabilidade, e assim por diante. O problema era redefinir a relação entre a profissão psiquiátrica e a população, de modo a permitir a extensão dos serviços a novos grupos da sociedade: era necessária uma série de técnicas de intervenção específica e rápida, dirigidas mais aos sintomas do que à etiologia dos problemas subjacentes e concebidas para trabalhar tanto o ambiente como o equilíbrio interno do indivíduo, técnicas que dispensavam entrevistas prolongadas e que se centravam na neutralização de conflitos potencialmente explosivos. Esta nova ênfase representou uma ruptura com as noções tradicionais de técnica, mas não uma rejeição da técnica como tal. Na verdade, resultou numa renovada insistência nas virtudes do conhecimento especializado enraizado nos conhecimentos básicos ensinados pelas escolas médicas e que exigem uma longa aprendizagem profissional". (pág. 301-302)

Capítulo O MUNDO PSY. A sociedade psiquiátrica. Castel, Castel e Lovell.

[A questão da competência técnica, evidências validadas e a profissionalização utilizada nas práticas baseadas em evidências (medicina baseada em evidências e psicologia baseada em evidências) é semelhante à contraestratégia de reconquista de influência pela psiquiatria biológica após a críticas da contracultura nos anos 60. De forma semelhante, é possível utilizar essa proposta para restringir a influência da perspectiva crítica com ênfase social ou biológica.]

quarta-feira, 22 de maio de 2024

Significado explícito de estabilidade de dose

O significado explícito de estabilidade de dose é:

Estabilidade de administração de curva de dosagem suficiente.

Detalhando mais a variável temos mais duas variáveis: 

o nível mínimo da curva de dosagem

o grau de variação da curva de dosagem

É considerado um requisito necessário para a "compensação e estabilidade do quadro ou estado psiquiátrico orgânico".

terça-feira, 21 de maio de 2024

Saúde e doença: aprendizagem operante vs. medicalização

As concepções de saúde e doença segundo a aprendizagem operante e a concepção médica diferem quase que por oposição:

Na concepção de aprendizagem operante:

A vida é um processo difícil em que o ser humano vive sem aprender os pré-requisitos necessários (classes de comportamento operante).

Logo, a saúde é construída ativamente através da aprendizagem.

Na concepção médica:

A vida é um processo fácil para as pessoas intactas.

Logo, a saúde ocorre naturalmente sem necessidade de construção ativa de aprendizagens. Se houver esforço e dificuldade há patologia.

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Reforma psiquiátrica: comunidades multiculturais versus incorporação

A reforma psiquiátrica e luta antimanicomial analisada do ponto de vista sociopolítico é a busca da criação de uma comunidade multicultural da loucura com subsídios públicos, um padrão de esquerda.

A crítica que se faz à adaptação é a rejeição da incorporação à sociedade majoritária por ser vista como opressora e excludente para pessoas diferentes (fobia ao diferente).

A concepção de direita da loucura é que deve ser corrigida para possibilitar incorporação na sociedade majoritária. Por isso a ênfase nos tratamentos biológicos. Uma vez que possa haver dificuldade de incorporação recorre a formas de lidar com a exclusão.

terça-feira, 14 de maio de 2024

Transtornos mentais e padrões sociais

Para uma compreensão social das atribuições de transtorno mental como domínio de experiência seria preciso ampla compreensão de valores sociais, expectativas culturais, normas sociais, relações de poder e outros fenômenos sociais. Usos da razão, usos do corpo, valores estéticos, padrões de religiosidade, costumes, normas de higiene, expectativas de gênero, usos linguísticos, senso crítico sobre colonialismo, experiências de privação econômica e seus motivos, e muito mais. Felizmente essas caracterizações difíceis são substituíveis por acessíveis descrições de contingências de reforçamento e suas condições de satisfação ou modificação.

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Ficções e controle instrumental material: integração

Mesmo se conceitos sejam ficções do ponto de vista ontológico (Meinong), os mesmo ainda retém algum grau de relações instrumentais de controle material do mundo (operar sobre variáveis materiais). Ficções contribuem para construir ambientes culturais materiais. No entanto, descrições conceituais ficcionais mantém relações diluídas com as relações instrumentais mesmo que seja apenas agir de acordo com um entendimento que contribui para a predição em algum grau. Para solucionar problemas de forma mais efetiva é desejável ter domínio da linguagem extensional das relações instrumentais de controle material ou aproximar-se em maior grau da linguagem de tipo. A antropologia trabalha com as noções de construção simbólica (perspectiva dos atores sociais) e controle material como dois aspectos das culturas e é nesse sentido que a integração é interessante.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Psiquiatria como área pró-social

Um dos motivos pelo qual a psiquiatria é comumente vista como área pró-social é pela equiparação com a medicina física e a percepção social de heroísmo angelical a respeito dos médicos em geral. O contraste de identidades sociais entre psiquiatras, pessoas bem ajustadas e pessoas estigmatizadas e marginalizadas é um fator talvez mais profundo. O prestígio pela sua relação com o externo e o outro (ver Em defesa da Sociedade de Foucault) é mantido pelo desconhecimento das práticas internas da psiquiatria que não são facilmente analisáveis. Mesmo que sejam analisadas as práticas, as emoções frente ao contraste identitário mencionado acima não favorece o reconhecimento de limitações das práticas. Por isso, uma área que se propõe a ser realmente pró-social mantendo o distanciamento crítico em relação à sociedade (reforma psiquiátrica antimanicomial e perspectiva crítica) é mal-vista como área pró louco e contra a sociedade.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

A refutação do desequilíbrio químico é suficiente?

Refutar as hipóteses de desequilíbrio químico é suficiente, uma vez que o efeito externo sobre o comportamento é percebido como concreto e tranquilizador para observadores, e drogas psiquiátricas também são úteis para alterar comportamentos de interesse em interação com programas de reforço de acordo com exigências ambientais (contingências de reforçamento)? Será que as drogas psiquiátricas não são utilizáveis de forma positiva de acordo com uma base de conhecimentos mais objetiva que a utilizada atualmente? Será que a base de conhecimentos atual (um mosaico) que indica tratamentos padrão de acordo com diagnósticos genéricos não é parcialmente responsável pelos efeitos indesejados e inesperados? Uma vez conhecidos os efeitos de cada intervenção a partir de conhecimento experimental, estariam sendo produzidos efeitos indesejados e inesperados? A perspectiva crítica seria capaz de se tornar mainstream apenas recusando tratamentos biológicos e propondo tratamentos com base em conhecimento apenas social, tomando como ponto partida que as alegações da psiquiatria biológica tradicional sobre a doença mental são imprecisas e questionáveis?

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Neurotransmissores e comportamento

A questão dos neurotransmissores como causa de emoções e comportamentos não é tão simples como se pensa porque administrar um deles não os gera necessariamente já que os neurotransmissores são componentes e atuam em conjunto. A alteração do corpo que influencia o comportamento é real e isso é convincente, mas isso acontece em interação com o histórico de relações aprendidas estabelecidas com o ambiente e a alteração de relações atuais no ambiente. Nessa perspectiva, você não prescreve drogas pra alterar um cérebro alterado fechado em si mesmo mas para alterar relações estabelecidas com o ambiente (comportamentos).

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Ser produtivo e perspectivas ideológicas

Definir o que é produtivo é influenciado por perspectivas ideológicas

Alta psiquiátrica, eugenia e trabalho

A questão da alta psiquiátrica que é inexistente no pensamento psiquiátrico para situações mais desafiadoras utiliza o critério de prova de adequação aos princípios da eugenia através do trabalho (alegação de erro no diagnóstico).

terça-feira, 16 de abril de 2024

Usuários de drogas nas ruas e farmacologia comportamental

"Sem dúvida, existem múltiplos caminhos para a dependência de drogas. Um dos quais estou seguro de que existe é o seguinte. Considere um homem empobrecido e sem-teto vivendo nas ruas de qualquer centro urbano no mundo. Suponha que ele não seja um usuário de drogas. À medida que o tempo passa, seu desespero aumenta. Ele não tem comida suficiente nem mesmo água. Ele não tem condições de cuidar de suas necessidades pessoais. Sua saúde começa a se deteriorar. Ele é espancado e roubado de suas escassas posses com regularidade previsível. Ele vive em um ambiente que oferece pouco em termos de reforço. Seu horizonte de tempo é severamente reduzido. Ele não planeja para o futuro; apenas tenta sobreviver ao dia, ou momento. Ele vive em um ambiente que tem poucas, se houver, fontes alternativas de reforço. Se ele for introduzido às drogas, acredito que é quase certo que ele se torne dependente delas. Quando ele coloca uma agulha no braço e injeta heroína, será uma fonte de reforço extremamente poderosa que ele pode acessar. Poder-se-ia até sugerir que, sob as circunstâncias descritas, é compreensível do ponto de vista evolutivo por que alguém se envolveria em comportamentos de abuso de drogas. A droga fornece uma fonte confiável de reforço em um ambiente com pouca ou nenhuma chance de obter outras fontes de reforço.

A solução social óbvia para esse dilema seria para agentes externos fornecerem ao homem estabilidade, fornecendo-lhe as necessidades básicas da vida e oportunidades para se afastar do ambiente caótico. Se esse esforço for bem-sucedido, as fontes alternativas de reforço aumentarão em seu ambiente e a eficácia de reforço da droga diminuirá. Este é um dos métodos usados por agências de serviços sociais em grande parte do mundo com algum sucesso (por exemplo, Thompson, Sowell & Roll, 2009). Infelizmente, essas agências muitas vezes são subfinanciadas e incapazes de alcançar muitos daqueles que mais precisam de seus serviços. No entanto, dados epidemiológicos apoiam a ideia de que, se pudermos impedir que indivíduos entrem no caos do nosso homem hipotético, podemos evitar que eles se envolvam em um estilo de vida caracterizado pela dependência (por exemplo, Chilcoat & Johanson, 1998). Como mencionado anteriormente, este é apenas um dos muitos caminhos potenciais para a dependência de drogas. Pessoas que vivem em ambientes ricos em reforço potencial ainda podem desenvolver dependências. No entanto, só porque seu ambiente tem reforço disponível não garante que você terá as habilidades necessárias para acessar os reforços. O que foi mencionado acima é destinado a ser ilustrativo de um caminho para a dependência e o papel que o reforço desempenha nesse caminho. Acredito que seja um caminho comum, mas claramente não é o único caminho." 

John M. Roll - Behavioral Pharmacology.A Brief Overview. Do livro "The Wiley Blackwell Handbook of Operant and Classical Conditioning" Edited by Frances K. McSweeney and Eric S. Murphy

Ciência e política

CIÊNCIA, UNIVERSIDADE E IDEOLOGA: a política do conhecimento Simon Schwartzman

Um dos supostos mais difundidos no século XIX era o de que, graças à ciência, a humanidade poderia livrar-se da política. A ciência era considera- da o domínio da lógica e da razão, enquanto a política era a órbita da emoção e da paixão. [...] Na realidade, a ciência não eliminou, nem sequer reduziu a presença da política na vida social. Mas eliminou sua base de legitimidade, fazendo-a ser desdenhada como desprezível, irracional e indigna. Afastada a política do caminho, está aberta a via pela qual a ciência e a tecnologia podem transformar-se em tecnocracia. Podemos compreender melhor esse processo se olharmos mais de perto cada um dos meios pelos quais a ciência supostamente faria desaparecer a política.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Comportamento: fenômeno restrito versus abrangente

Noção de senso comum: Cérebro, mente, linguagem, sociedade e cultura são fenômenos abrangentes e comportamento é um fenômeno restrito. 

Logo, compreender a extensão da expressão "radical" na explicação abrangente dos fenômenos psicológicos a partir do behaviorismo radical é difícil.

A análise do comportamento têm reconhecimento social amplo em aplicações para dificuldades específicas e delimitadas como o transtorno do espectro autista ou desafios práticos. Como o comportamento é entendido no senso comum como fenômeno restrito, sua ampliação para a área dos conceitos entendidos como abrangentes (Cérebro, mente, linguagem, sociedade e cultura) é percebida como um reducionismo inapropriado.

sábado, 13 de abril de 2024

O desmame de neurolépticos e processos comportamentais

A partir de uma noção de processos comportamentais operantes em associação com processos fisiológicos do desmame de neurolépticos, é questionável se simplesmente amenizar o processo compensatório com uma retirada lenta e gradual de forma hiperbólica é suficiente para aumentar a recuperação funcional.

Os neurolépticos atuam estabelecendo extinção geral de comportamentos operantes através da interferência no processo fisiológico do reforço. Por isso, é razoável pensar que os comportamentos avaliados pelo meio como inapropriados precisem passar por um processo de extinção gradual que é o processo inicial de adaptação com a introdução e manutenção da droga.

Na redução ou retirada dos neurolépticos ocorre um processo fisiológico de compensação relacionado com o aumento da dopamina num cérebro adaptado para o uso da droga com o aumento de receptores de dopamina. Como a psiquiatria crítica não tem proximidade com a área de comportamento operante não percebe que a partir desse processo fisiológico há uma retomada de repertório comportamental previamente sob esquema de extinção (enfraquecimento e eliminação de comportamentos operantes) que se reflete em um aumento de atividade operante. Acontece que simplesmente reduzir a dose ou fazer desmame por mais que se desenvolva um processo de amenização da adaptação fisiológica não é necessariamente um fator protetor por si só mesmo que os efeitos prejudiciais que preocupam os profissionais e pacientes diminuam. Esse processo é antes um desafio maior de estabelecer repertório comportamental operante solidamente estabelecido em negociação com os desafios do meio e novidades do processo de transição fisiológica, comportamental e social. Por isso, ao invés de retirar a droga de pessoa com prognóstico menos favorável como está sendo pesquisado, o ponto de partida deveria ser estabelecer repertório adaptativo sólido antes, adicionalmente durante o processo de redução e retirada da droga e depois ainda acrescentar um processo de manutenção e consolidação de repertório comportamental operante.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Surto de agressividade

O termo surto é usado para qualquer ato de agressividade e assassinato. As duas coisas são sinônimos na cabeça das pessoas. É um estereótipo no imaginário social. É um linguagem que se usa e que beneficia politicamente a psiquiatria conservadora. Não é necessário supor psicose para atos agressivos e de assassinato. Em outra linguagem teórica são apenas comportamentos aprendidos sem suposições adicionais sobre estados orgânicos. As pessoas não toleram a possibilidade de contribuir para a aprendizagem de atos infames e atribuem tudo a disfunções genéticas ou orgânicas. É quase como um mito moderno e laico da possessão demoníaca.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Estratégias institucionais: aprendizagem limitada

Além das estratégias fisiológicas, as "soluções" institucionais também são formas de resolver situações difíceis sem aprendizagem [operante/comportamental], no modelo asilar ou manicomial de forma exacerbada e no modelo psicossocial ou antimanicomial de forma graduada e variável. Estratégias de aprendizagem operante/comportamental são utilizáveis de forma relativamente desassociável de estratégias institucionais embora essas direcionem em algum grau a forma de intervenção ofertada. O modelo psicossocial ao levar a sério a aprendizagem operante/comportamental potencializaria a resolutividade e qualidade das intervenções e seria menos dependente de contingências institucionais e legais em suas práticas.

terça-feira, 9 de abril de 2024

A formação da percepção de normalidade

Como se formou a percepção das pessoas defensoras de um padrão de normalidade que julga a diversidade e o pluralismo social e político como aberrações patológicas?

À primeira vista pode parecer que esta é uma característica fixa e interna das pessoas normais ou conservadoras. Mas algumas dinâmicas sociais ao longo do século 20 contribuíram para formar essas percepções.

- A não cidadania das pessoas fora do padrão, pessoas incômodas e minorias colocadas em colônias rurais e manicômios (modelo asilar) por toda a vida ao longo do século 20 (antes também) e durando até 2001.

- Campanhas eugenistas e higienistas fortes (exame de saúde para trabalhar, exame pré-nupcial para casar, esterilização de certos grupos sociais indesejados ou pessoas com características indesejadas) até pelo menos os anos 60 no Brasil. Além disso, a influência forte desse pensamento na sociedade em suas diferentes dimensões de impacto.

- A força do poder religioso ao longo do século 20.

- A seleção de pessoas pelo mercado e economia de pessoas que seguem certos requisitos e exigências de padronização.

- A presença reduzida de minorias sociais e de pluralismo social nos espaços influentes durante as ditaduras do século 20 no Brasil e posteriormente a força social, política e econômica reduzida desses grupos.

- O uso de práticas coercitivas e punição na educação escolar e na criação de filhos e que foi progressivamente perdendo legitimidade ao longo do século 20.

domingo, 7 de abril de 2024

O conceito de "real" e a filosofia

O termo "real" utilizado pelas ciências psi é problema filosófico sobre ontologia. A filosofia analítica que tem como partida a análise da linguagem também tratou desse termo. No texto ' O significado de "real" ' de G.E. Moore na coleção Os pensadores, um dos iniciadores da filosofia analítica visa decompor o conceito de "real". A continuação do tema está no artigo "The Conception of Reality" in Proceedings of the Aristotelian Society, 1917-18." (periódico) ou no livro Philosophical Studies de G. E. Moore.

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Estabilidade como negação da vida

Por vezes, a imposição da estabilidade retira o resto de vida que o paciente psiquiátrico tinha e isso é potencialmente fatal. A noção de estabilidade implica em negação da vida, isto é, ter um vida com acontecimentos e emoções.

Um dos fundamentos desse termo é a equiparação do estado orgânico "disfuncional" com um estado semelhante ao "estado orgânico normal" na medicina física. A analogia da medicina mental com a medicina física implica em certas distorções.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Crítica aos manicômios antigos e diagnósticos

A crítica aos manicômios se utiliza de uma vantagem histórica alcançada em termos de poder político de grupos minoritários. Em épocas passadas os manicômios atuavam coerentemente de acordo com um pensamento eugenista aplicado a certas características. Às vezes é feita a crítica de que os diagnósticos não estavam certos. Os diagnósticos não estavam certos do ponto de vista contemporâneo. Do ponto de vista antigo, o preconceito do pensamento eugenista aplicado a pessoas justificava os diagnósticos e o confinamento vitalício.

quarta-feira, 20 de março de 2024

[UOL] Pagamentos para médicos

https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2024/03/20/viagens-e-presentes-os-milhoes-que-a-industria-da-saude-paga-aos-medicos.htm

Reducionismo e comportamento

O filósofo da ciência Hempel afirma que o behaviorismo é reducionista por realizar uma transformação ou modificação artificial de fenômenos em outro formato ou de outra natureza para uma formulação em comportamento operante.

A definição e crítica ao mentalismo de Skinner, no entanto, é um reconhecimento do potencial produtivo do fenômeno do comportamento operante se respeitadas as suas características. Problemas de difícil solução ou soluções insuficientes e parciais são "equacionáveis" dentro de uma formulação como comportamento operante, o que aumenta a visibilidade sobre as aprendizagens ocorridas e amplia possibilidades de aprendizagem. Infelizmente, a formulação operante está fora da imaginação e repertório das pessoas ao se deparar com problemas e demandas e por isso a demanda no mercado é limitada em relação ao potencial que a formulação operante tem.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Saúde mental e comportamento: programas de pesquisa

Conversação possível e interessante

Como indica a citação abaixo, a conversação entre programas de pesquisa de tipo domínio ou problema (saúde mental) com programas de pesquisa do tipo teórico (análise experimental do comportamento) seria possível e interessante. Um dos motivos para o fato de as duas áreas não terem respeito mútuo são os tipos de programas de pesquisa que adotam.

“2.3.3.3 Diferenciação de Programas de Pesquisa de Herrmann

Inspirado nas reflexões apresentadas por Imre Lakatos ou Thomas Kuhn, Theo Herrmann descreveu programas de pesquisa de domínio (também chamados de “programas Tipo A” ou “programas problema”), por um lado, e programas de pesquisa quase-paradigmáticos (ou também chamados de “programas Tipo A” ou “programas problema”). Programas B” ou “programas teóricos”), por outro (Herrmann, 1976, 1994). Os programas de investigação de domínio são dedicados a campos problemáticos concretos (ver a área amarela na Figura 6). Estes campos problemáticos podem ser abordados por diferentes teorias, modelos e abordagens de resolução de problemas (“domínios de investigação”, Overton, 2006). A longo prazo, a competição contínua entre estas diferentes abordagens serve para identificar a “melhor” solução para um determinado campo problemático. Idealmente, estas soluções podem ser transformadas em recomendações, permitindo aos investigadores colmatar a lacuna entre os conhecimentos científicos e as ações práticas.

Em contraste, os programas de investigação quase-paradigmáticos têm a sua origem em ideias teóricas concretas. Essas elaborações teóricas normalmente têm validade mais ampla. Contudo, devido ao maior nível de abstração, os pesquisadores envolvidos em tais programas geralmente procuram oportunidades tangíveis de aplicação. No decurso de diferentes projetos, o investigador quase-paradigmático explora sucessivamente a utilidade da sua abordagem em diferentes populações, situações e contextos (ver a área azul na Figura 6). A acumulação de evidências, no entanto, também pode forçar o investigador a limitar o âmbito de aplicação ou a rever alguns “supostos secundários” (Herrmann, 1994, p. 263) da teoria ou modelo.

Para Theo Hermann, a diferenciação dicotômica em programas de pesquisa de domínio e quase-paradigmáticos tem um caráter descritivo e isento de julgamentos de valor, o que significa que ele não defendeu uma preferência fundamental por nenhuma das duas estratégias. Em contraste, enormes conhecimentos poderiam ser combinados se os investigadores que seguem estratégias opostas se encontrassem nas suas “encruzilhadas” correspondentes (ver a área verde na Figura 6) – por exemplo, se um teórico da abordagem do processo de ação em saúde (investigador quase-paradigmático ) pretendia cooperar com um especialista em atividade física na esclerose múltipla (investigador do domínio). No entanto, as oportunidades crescentes de financiamento de terceiros no HEPA (Rütten, 2017; Woll, 2019) melhoraram as condições da investigação do domínio porque a aquisição de recursos financeiros externos muitas vezes anda de mãos dadas com o objectivo de contribuir para a solução de problemas concretos e práticos. A direção correspondente seguida nestes projetos de investigação pode impedir que cientistas juniores (por exemplo, estudantes de doutoramento) estabeleçam estratégias de investigação abrangentes à população e ao contexto e apliquem uma abordagem teórica constante em diferentes projetos. Além disso, a prossecução de um programa de investigação quaseparadigmático depende de diversas condições a nível teórico e organizacional.”

Referência

Carl, Johannes. (2021). Physical Activity-Related Health Competence: From the Development of a Multidimensional Assessment Instrument to Population-Specific Model Results.

quarta-feira, 6 de março de 2024

Replicação dias 21 a 30 - Invega Sustenna e VFC

Instabilidade autonômica?

No primeiro estudo de mensuração da média da variabilidade da frequência cardíaca sob efeito de Invega Sustenna com duração de 30 dias os últimas dias indicaram instabilidade do sistema nervoso autônomo nos últimos 30 dias do mês. Fatores de confusão foram um evento altamente estressor ao longo do mês e a dúvida sobre a fidedignidade da medidas incompletas (consistência entre medidas).

Esse resultado de instabilidade autonômica não foi replicado. O resultado foi de redução gradual do efeito (média de 3 a 6 mensurações por dia). Esse resultado de um padrão consistente ao longo dos dias indica fidedignidade das medidas ao longo dos dias. A inferência teórica sobre a insuficiência de dose e predição de aparecimento de sintomas durante o período final de metabolização do neuroléptico Socian se mantém para Invega Sustenna. A amplitude de variação das médias diárias foi de 2 a 3 vezes entre sessões e a variação de RMSSD dentro das sessões foi alta, levando à suspeita de liberação irregular de doses em momentos micro e padrões de medidas não encobertas por médias e estatísticas, dado que o resto das variáveis independentes estavam relativamente constantes em repouso e com uma rotina de controle variáveis semelhante à descrita no primeiro estudo (variável controlada). O resultado de RMSSD reduzido (18) antes da aplicação da injeção pode indicar um efeito emocional condicionado antecipado.

Resultados

Replicação Variabilidade da frequência cardíaca e Invega Sustenna no fim do mês (21 a 30): instabilidade autonômica?

Conclusão: hipótese não replicada

Fevereiro de 2024

Sem parênteses = 5 ou 6 medições no dia

Dia      RMSSD

dia 21: 20,16

dia 22: 19,8

dia 23: 26,25

dia 24: 32,2

dia 25: 33,8

dia 26: 27,8

dia 27: 34,25 (4)

dia 28: 42,66 (3)

dia 29: 38 (3)

dia 30: 34.8

dia 31: Antes de aplicação: 18

Quem quiser receber uma anotação com descrição dos efeitos observados sobre o corpo no início e final do mês para fins de discriminação de efeitos e comparação me envie um e-mail para crisedapsiquiatria.qma56@simplelogin.com

segunda-feira, 4 de março de 2024

Virando a página por desinteresse social

Pensando em virar a página do projeto do blogue por desinteresse da sociedade na intersecção entre áreas com a saúde mental. Menos mal que o conteúdo acumulado contribui para o senso crítico sobre caminhos a seguir. Atividades com poucos incentivos me atraiam em certa medida. Atividades mais específicas que tem alguma perspectiva de fim e ao menos alguma possibilidade de incentivos agora me atraem mais. O blog agora receberá menos esforço. Textos a partir do blog também tem baixo interesse então também penso em reduzir o esforço. Por motivos que já não são tão misteriosos, nossa cultura privilegia meios fisiológicos de intervenção sobre o comportamento e produtividade que prescindem de aprendizagem e portanto não tem barreiras de acesso ao entendimento. É um caminho legítimo também e aparentemente não importa tanto que hajam alternativas.

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Psicologia cognitiva e indústria farmacêutica

Os estudos de validação da eficácia psicologia cognitiva, que são muitos e usados como prova de que é a melhor evidência que existe, são financiados pela indústria farmacêutica. Então tem algo na psicologia cognitiva que agrada os interesses da indústria farmacêutica como, por exemplo, o "pensar correto", a complementariedade e o apoio às concepções biomédicas.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Teorias idiográficas da etiologia e da terapia

As hipóteses de nível H referem-se de forma específica às descrições do comportamento do cliente e do terapeuta e da interação cliente-terapeuta que se encontram no nível D (dados); [...] As relações entre o nível H e o nível D devem ser determinadas de forma diferente para as teorias idiográficas da etiologia e para as teorias idiográficas da terapia.

As teorias etiológicas idiográficas centram-se principalmente no comportamento do cliente. Se fizermos uma diferenciação mais profunda, o foco pode estar no contexto em que o comportamento problemático do cliente surge ou nas circunstâncias que o mantêm. Estes dois aspectos das teorias etiológicas idiográficas são relevantes para a terapia em diferentes graus. Por conseguinte, é-lhes atribuído um peso diferente consoante o quadro teórico escolhido para a terapia. As teorias etiológicas da terapia, que se centram nas condições que mantêm o comportamento problemático do cliente, têm geralmente como objetivo diagnosticar esse comportamento e, eventualmente, prever comportamentos futuros; as teorias idiográficas etiológicas, por outro lado, que colocam a tônica no contexto de origem, preocupam-se sobretudo com explicações genéticas e, eventualmente, com retroprognósticos de acontecimentos passados. O diagnóstico, a explicação, o prognóstico e o retroprognóstico são formas de sistematização em que se podem identificar regularmente três componentes distinguíveis: pressupostos teóricos, condições de fronteira, explanandum (descrição do acontecimento a diagnosticar, a explicar, a prever ou a retroprognosticar). No nosso caso, os pressupostos teóricos foram geralmente retirados da teoria idiográfica etiológica, as condições de fronteira do comportamento passado, atual ou futuro do cliente, e o explanandum da descrição do ambiente e das interações entre o cliente e o seu ambiente (geralmente social). Algumas diferenças pragmáticas entre as formas de sistematização são ilustradas no Quadro I.

Dependendo da forma como se determina a relação entre os três componentes desta sistematização, resultam diferentes modelos de diagnóstico, prognóstico e retrognóstico.

Referência:

Livro de H. Westmeyer e N. Hoffmann - Verhaltenstherapie Grundlegende Texte

Tradução: Terapia comportamental - Textos básicos

Traduzida: Capítulo 7 O que é que se deve fazer? Métodos de observação em diagnósticos comportamentais
Hans Westmeyer e Marianne Manns (p.248)

Original: 7. Was ist zu tun? Beobachtungsverfahren in der Verhaltensdiagnostik Hans Westmeyer und Marianne Manns 248

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Estabilidade como sucesso terapêutico

Definir sucesso terapêutico como estabilidade tem boas chances de ter origem na psicofarmacologia já que é o mesmo que afirmar que é preciso manter estados orgânicos constantes ou doses constantes de drogas psiquiátricas. Em linguagem experimental isso se chama condição controle e significa manter um valor de variável igual ou constante e que você está suprimindo estados de transição e permitindo observar fatores adicionais introduzidos ou retirados. Dessa forma, a necessidade do tratamento psiquiátrico para a maioria dos casos é justificada pois a preocupação com o orgânico estará nessa perspectiva resolvida.  Ao definir sucesso terapêutico como estabilidade, a implicação é que é preciso manter a droga psiquiátrica por toda a vida e que o término do tratamento é indesejável ou impossível.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Estimulantes para TDAH e esquemas de reforço

Na forma de dosagem de liberação pulsátil de estimulantes para Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), que é como funcionam os estimulantes para TDAH segundo um curso de desenvolvimento de fármacos, são gerados picos de estímulos de dopamina no período de algumas horas por pulso. Isso é o equivalente farmacológico e orgânico do processo comportamental de esquemas/programas de reforçamento intermitentes que apresentam consequências ambientais de reforço positivo intercalado para produzir persistência. O que é uma forma de manter comportamento com baixo reforçamento. O efeito paradoxal de supressão de frequência de comportamentos provavelmente é baseado nesse mecanismo de liberação pulsátil que mantém comportamentos com baixo reforçamento e que é basicamente o tipo de demanda ambiental das atividades escolares e ocupacionais.

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Experimentação e industrialização da saúde

Há uma certa dificuldade de integrar conhecimento experimental com a industrialização em escala da saúde. Na farmacologia os estudos de covariância (estatística) com dados empíricos com baixas suposições geram mais erros de interpretação de resultados. Os modelos experimentais com altas suposições e discussão aberta das mesmas ajudam a interpretar dados acumulados e criar simulações que são mais eficientes e custo-efetivos.

Dificuldade análoga é encontrada na psicologia. O modelo de pacotes e manuais é facilmente industrializável em escala. O conhecimento experimental exige treinamento mais complexo que é desafiador implementar em larga escala e também adaptar ao modelo de evidências baseado em estatísticas (pirâmide de evidências). 

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Sistemas de saúde baseados em pacotes

A medicina baseada em evidências e a psicologia baseada em evidências são áreas atuariais que fazem parte de uma mudança nos sistemas de saúde que priorizam modelos de rotas definidas de cuidado, isto é, sistemas de saúde baseados em pacotes de tratamento. Pacotes de tratamento são criados para serem adaptações aos interesses dos principais pagadores nos sistemas de saúde que são os governos e seguradoras (planos de saúde). O modelo de pacotes também é uma adaptação à mudança de modelo de negócios do complexo industrial da saúde que começou a priorizar pacotes de tratamento ao invés de apenas produtos. O interesse desses pagadores é a previsibilidade de gastos e redução de custos. Os pacientes são assegurados de que tratamentos validados conforme o critérios de previsibilidade de gastos e redução de custos dos pagadores são a melhor evidência científica existente ou disponível. No entanto, existem evidências de qualidade que não são consideradas por não se ajustarem a esse modelo de negócios, que não são anticientíficos e que podem ser melhores que as rotas definidas de cuidado baseadas em pacotes de tratamento através da individualização ou personalização da atenção à saúde também baseada em evidências de qualidade e compatíveis com o conceito de protocolo pelo respeito aos procedimentos fundamentados em evidências, apesar de diferirem do modelo de validação atuarial dos tratamentos inspirados pelo modelo de negócios acima mencionado. Um desses modelos alternativos de evidências que têm alto rigor científico é o conhecimento experimental. Nada impede a princípio que outros modelos de evidências também entreguem resultados eficazes.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Perda de fé na proposta do blogue: motivos

Motivos para eu não acreditar mais na proposta do blogue Crise da Psiquiatria:

- Questionar o tratamento médico não é uma opção viável
- Compreender sistemas sociais relacionados ao sistema de saúde mental só é útil quando é viável se distanciar desses sistemas
- Quero aproveitar o potencial tecnológico derivado do conhecimento biológico
- A atitude integrativa é ampla e trabalhosa demais, levando a estudos e desdobramentos intermináveis
- A atitude conciliatória é mais viável economicamente e não é controversa ou polêmica
- A influência de grandes tendências sociais é possibilitada pela viabilidade econômica para os participantes na rede
- Além de ser custoso  demais em termos de tempo e esforço para o paciente e profissional desafiar o tratamento convencional, geralmente não obtém resultados sem cooperação das pessoas responsáveis pelas decisões

Adicionais:
- A maioria dos acessos ao blogue agora é do exterior e o Brasil tem baixo acesso
- A organização social está estabelecida tendo em vista que problemas de saúde mental são considerados incapacitantes e incuráveis. Uma pessoa que conseguir adaptar seu repertório não terá o reconhecimento social desse fato e continuará sendo pressionada e obrigada a fazer o tratamento como pessoa crônica.
- A leitura que as pessoas fazem é seletiva e por isso conteúdo diferente não suscita interesse.

Obs: Por inércia e facilidades de conhecimento acumulado novas postagens ainda podem ser feitas.


Diagnósticos como demarcação

É interessante pensar nos constructos ou diagnósticos psiquiátricos como a definição de um conjunto sistêmico de domínios de fatos biológicos, comportamentais, sociais, econômicos, históricos, culturais, políticos, jurídicos, estéticos, de gênero, etc. Cada domínio de fatos tem características próprias que devem ser entendidas como sistemas e possivelmente de forma superveniente (definir melhor superveniência: um conceito que expressa relação de interdependência entre conjuntos. que não é redutível a fatos específicos e que é um fenômeno em nível emergente). O reconhecimento de que as ciências naturais participam na produção de realidades é um dos possíveis elementos na análise desses sistemas. Em outras palavras: diagnóstico é demarcação.



sábado, 10 de fevereiro de 2024

As pesquisas biológicas e a complexidade da esquizofrenia

As pesquisas biológicas e a complexidade agrupada sob a categoria esquizofrenia

Os pesquisadores biológicos da esquizofrenia costumam dizer que essa é uma doença sem cura porque seria muito complexa e seriam necessárias muitas pesquisas a mais quase que indefinidamente. Uma interpretação alternativa seria que a categoria esquizofrenia movimenta muito dinheiro (análogo a uma marca) e que uma variedade de variáveis são agrupadas sob essa categoria que no entanto dificilmente consegue se estabelecer como categoria discreta com perfis típicos de variáveis. A categoria tem o papel de mostrar a relevância social de identificar essas variáveis e manter uma contínua alimentação das pesquisas e da indústria associada.

sábado, 3 de fevereiro de 2024

Definição geral de procedimentos de observação

"Para esclarecer esta questão, o termo "procedimento de observação", tal como o utilizaremos aqui, deve primeiro ser definido com mais pormenor. Partimos do princípio de que, num processo de observação, se podem distinguir pelo menos quatro componentes:
a) Conjunto de símbolos: dígitos ou números nos procedimentos de avaliação, caracteres nos sistemas de caracteres, nomes de categorias nos sistemas de categorias;
b) Conjunto de regras: Acordos sobre a utilização de símbolos, regras de utilização;
c) Conjunto de instruções: instruções para aprender as regras e o manuseamento dos símbolos de acordo com as condições de utilização; programa de formação;
d) Quantidade de condições: condições de aplicação do processo, informações sobre o domínio de aplicação.

Esta definição já torna claro que um procedimento de observação constitui, de fato, algo como uma linguagem de observação parcial. O conjunto de símbolos contém os sinais básicos descritivos essenciais desta linguagem, o conjunto de regras exprime a forma como esta linguagem deve ser utilizada, o conjunto de instruções sobre a forma como pode ser aprendida ou ensinada, e o conjunto de condições, em que situações a utilização desta linguagem é apropriada. A nova língua é quase sempre ensinada com referência à linguagem coloquial existente. Neste sentido, o fato de nos procedimentos de observação, serem frequentemente utilizados símbolos que também têm um significado na linguagem quotidiana não deve, por exemplo, ser tido em conta nos sistemas de categorias. O fato de, nos procedimentos de observação, serem frequentemente utilizados símbolos que também têm um significado na linguagem corrente não deve obscurecer o fato de os sistemas de categorias, por exemplo, serem símbolos aos quais pode ser atribuído um significado muito específico que difere, em maior ou menor grau, da utilização habitual de símbolos no contexto de um procedimento de observação." (p. 254)

Beobachtungsverfahren in der Verhaltensdiagnostik [Capítulo 7 - Procedimentos de observação em diagnósticos comportamentais]
Hans Westmeyer e Marianne Manns

H. Westmeyer e N. Hoffmann
Livro: Verhaltenstherapie - Grundlegende Texte [Terapia comportamental – textos básicos]

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Fisiologia, adaptação social e processos sociais

Alterar a fisiologia dificilmente é suficiente para prescindir da psicologia e aprendizagem porque a fisiologia de qualquer problema ou sintoma tem endofenótipos múltiplos (componentes) que atuam em partes limitadas (variáveis) dos comportamentos  (sejam apenas mediadores ou origem) e também porque as relações com o mundo que envolvem os comportamentos são algo a mais que apenas fisiologia interna. O que o tratamento biológico realiza é alterar a fisiologia para que a pessoa sob cuidados médicos cumpra demandas ambientais de forma socialmente adaptativa e isso abre espaço para o aspecto social e cultural.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Neurociência substitui a psicologia? (Neil deGrasse)

Neil deGrasse Tyson afirma que a neurociência substituirá a psicologia. Essa afirmação é dita por neurocientistas.

Uma resposta da filosofia, outra área menosprezada pelo divulgador científico Neil deGrasse Tyson. 

Filosofia é comportamento conceitual que está em continuidade com a formação do comportamento conceitual da ciência.

 "5. PROBLEMAS DE PREVISÃO


Encontro-me muito de acordo com o que Nelson tem a dizer sobre a psicologia ser possivelmente um assunto bem diferente da física. Podemos esperar precisar de uma teoria de previsão individual em vez de uma teoria de como a maioria dos organismos funciona na maior parte do tempo da mesma maneira. Não tentarei resumir seus argumentos, mas expor meus próprios pontos de vista de um ponto de vista ligeiramente diferente. A partir da inspeção do hardware do computador, é claramente ridículo pensar que alguém pode prever os tipos de programas de computador que serão escritos para o sistema de computador. É claro que certas declarações muito grosseiras e desinteressantes podem ser feitas, mas declarações que preveem em detalhes os programas reais que serão escritos estão obviamente fora de questão. Em termos científicos comuns, o conhecimento do hardware de forma alguma determina o conhecimento do software. Parece-me que há boas evidências de que a mesma situação é aproximadamente verdadeira para os seres humanos. O conhecimento de como o hardware físico do cérebro funciona não nos dirá necessariamente muito sobre os aspectos psicológicos das atividades humanas, especialmente as mais complexas. Por exemplo, é bom saber que a atividade da linguagem é normalmente centrada no hemisfério esquerdo do cérebro, mas parece bastante evidente que em nenhum futuro previsível a dissecação do hemisfério esquerdo de uma pessoa desconhecida será capaz de identificar a linguagem que ele realmente falou, seja inglês, russo, chinês ou qualquer outra coisa. A localização e identificação de habilidades ou memórias mais específicas por parte de humanos específicos é claramente uma tarefa ainda mais impossível. O software do cérebro [ou o repertório comportamental] não será reduzido ao hardware de nenhuma maneira que pareça viável no momento, e nesse sentido parece-me que pode ser feita uma forte afirmação de que a psicologia não será reduzida à fisiologia e à biologia.

É essa linha de argumentação que torna a psicologia uma ciência tão fundamental quanto a física. Em várias ocasiões, visões errôneas foram sustentadas sobre a redução da psicologia à fisiologia ou, em termos ainda mais ousados, a redução da psicologia à física. Nada, parece-me, está mais longe de ser o caso, e é por causa dessa ausência de qualquer evidência de que qualquer redução possa ocorrer que as teses sobre o behaviorismo permanecem importantes. Conceitos psicológicos, habilidades complexas e, em uma terminologia ainda mais tradicional, eventos mentais que ocorrem pelo menos em outras pessoas e outros animais podem ser conhecidos apenas a partir de evidências comportamentais. Não obteremos essa evidência por exame químico ou físico das células do corpo. Não o obteremos por métodos racionalistas de conhecimento. O behaviorismo como metodologia fundamental da psicologia veio para ficar [...]"

Suppes, P. (1993). From Behaviorism to Neobehaviorism. In: Models and Methods in the Philosophy of Science: Selected Essays. Synthese Library, vol 226. Springer, Dordrecht. https://doi.org/10.1007/978-94-017-2300-8_24

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Leitura sobre vinheta Ouçam Nossas Vozes

 Leitura sobre vinheta Ouçam Nossas Vozes - campanha da Janssen

https://youtu.be/AcHk5uaCfY8?si=CZB-nmLy7YZ1ugOD

A música tem um lado dramático e um lado feliz que representa sonhos.

A música inicia com tons felizes e infantis representando a infância feliz e que provavelmente é direcionado aos pais e familiares.

Depois há um tom dramático representando o neurodesenvolvimento alterado inicial e a fase prodomo.

Há uma virada com piano e iniciam tons com teclado eletrônico com efeitos sonoros representando bizarria e artificialidade de laboratório científico.

Depois há tons abafados que representam o início da administração dos neurolepticos e fim dos tons que representam bizarria.

Na preparação para o final há uma aceleração que pode representar a aceleração comportamental ao parar os neurolepticos. Essa aceleração representa o excesso de dopamina que a psiquiatria biológica afirma ser característica do organismo e a perspectiva crítica afirma ser uma adaptação à droga.

O final é uma superaceleração com tons de final feliz ou triunfo sobre a esquizofrenia e também de música de festa que em interpretação livre pode significar o estilo de vida das pessoas do complexo médico-industrial privado.

sábado, 20 de janeiro de 2024

Gøtzsche, ensaios clínicos randomizados e experimentação

Peter Gøtzsche tem um domínio excelente dos ensaios clínicos randomizados mas nessa metodologia não há tanto rigor no controle de variáveis como há na experimentação sem o uso de estatística pois pacotes ou conjuntos de variáveis são avaliados. Por isso, embora impopular com o público do blogue e da reforma psiquiátrica antimanicomial seria necessário comparar os resultados de Peter Gøtzsche e da psiquiatria crítica com as pesquisas experimentais em farmacologia comportamental, neurociência comportamental, psicobiologia e a área de biocomportamental. É o próximo passo que eu gostaria de tomar caso consiga aprofundar o suficiente nessas áreas.

Uma das tarefas e disputas da reforma psiquiátrica é um diálogo permanente com a área de substratos biológicos ou fisiologia do comportamento ou dos construtos diagnósticos. Considero que o blogue já conseguiu encontrar caminhos para o conhecimento sub-representado em críticas à psiquiatria biológica e a área de reforma psiquiátrica antimanicomial. No entanto, o diálogo com o conhecimento experimental geralmente não é feito por nenhum dos dois lados da disputa e por isso corresponde nessa caracterização ao estado atual de conhecimento sub-representado na área de saúde mental.

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Solidão do idoso e problemas físicos e mentais

As relações estatísticas entre isolamento e condições de saúde mental e física não devem ser tratadas como as variáveis independentes e variáveis dependentes do método experimental. Não é porque uma relação é comum que é necessariamente causal por si só. Existem diferentes maneiras de viver só. A estatística é um método sócio-científico e por isso seus resultados descrevem influências de condições sociais.

domingo, 14 de janeiro de 2024

TDAH: excesso de pens., ansiedade e depressão

Releitura de vídeo de Ana Beatriz Barbosa em termos de comportamento. 

1) Excesso de pensamento = frequência mais alta (de atividades também).
2) Depressão = aversividade, falta de "recompensa" ou de reforçamento
3) Ansiedade = efeito de punição / aversividade condicionada
4) A "desatenção" seria não "prestar atenção" na atividade requerida e sim em outras atividades ou eventos para a qual a pessoa está mais motivada. A "desatenção" também significaria que a pessoa não apresenta as respostas ou ações esperadas.

Frequência mais alta, "desatenção" às atividades requeridas e não apresentar as respostas ou ações esperadas incomodam na escola e em casa e levam à medicalização.

Ambos (1 e 4) levam à punição (efeito ansiogênico - 3), aversividade e perda de "recompensa" ou reforçamento (depressão - 2) 

Essa linguagem traduzida poderia indicar o que fazer sem remédios: por meio de aprendizagem (manejo de eventos ambientais). 


terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Top psychiatry professors and industry

 https://twitter.com/taperclinic/status/1742214057870975413

Resenha "Psicanálise e psicomodismos" (Pasternak e Orsi)

Resenha sobre o capítulo "Psicanálise e psicomodismos" no livro "Que bobagem" de Pasternak e Orsi

O capítulo no livro "Que bobagem" de Pasternak e Orsi sobre psicanálise tem tantos compromissos com pressupostos filosóficos e modelos teóricos que o texto pode ser virado do avesso em diferentes direções como em variados posicionamentos filosóficos sobre demarcação de ciência e unidade ou pluralidade dos conceitos de método científico e tipos de ciência, modelos científicos de avaliação de evidência clínica, avaliação crítica das ciências cognitivas e biológicas na área clínica, discussões em filosofia da ciência sobre conceitos e métodos biológicos e sua relação com o social, discussões em filosofia da ciência sobre ciências naturais e humanas/sociais, discussões em filosofia da ciência sobre a subdeterminação das teorias pelos dados e a possibilidade de validade de evidências empíricas independentemente de modelos teóricos prévios, e outros debates.

A reprodução do discurso triunfalista das ciências cognitivas e biológicas que são tratadas como hierarquicamente superiores, ciências legítimas que a partir de suas próprias áreas são relativamente incontroversas e não podem ser questionadas a partir de conhecimento social ou outras formas de conhecimento indica que há um conhecimento superficial da complexidade envolvida nesse debate. O texto tem o mérito de introduzir a discussão sobre evidências clínicas em psicologia para um público amplo, apesar do tratamento do tema apresentar a discussão oferecendo respostas simples para pessoas interessadas em tomar decisões sobre saúde mental sem uma discussão sobre a variedade de controvérsias, assim direcionando e limitando as possibilidades de decisões do leitor.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Psiquiatrização e ideologia

O termo ou nomeação "loucura" expressa uma relação negativa de julgamento com a cultura. É uma categoria social que tanto pode ser utilizada de acordo com a tradição manicomial como também ser problematizada. O uso da palavra loucura pelas pessoas sem conhecimento em reforma psiquiátrica antimanicomial, ciências humanas e sociais induz pensar as causas dos fenômenos e medidas sociais em termos manicomiais, isto é, inclusão de fatos e informações em suas categorias de forma a reforçá-las mutuamente com a sua ideologia social e valores.

A área da história mostra como o conhecimento psiquiátrico é uma cientifização da marginalização e do preconceito. Quando se enfatiza a crítica social de que as minorias padecem de medicalização e patologização injusta, anteriormente a isso houve conquista de certa influência social desses grupos.

A produção social dos acontecimentos negativos se torna silenciada quando os mesmos são entendidos como fenômeno manicomial (individual, puramente orgânico). Isso é uma forma de ideologia pois tem funções sociais não explícitas úteis a certas pessoas e grupos com poder. Essas pessoas e grupos utilizam estratégias discursivas (conforme análise crítica do discurso) que induzem ocultar as características centrais dos acontecimentos em suas relações de determinação social, cultural, econômicas, políticas, históricas, etc. ("a medicalização atua na periferia do fenômeno"). A indústria da loucura é altamente lucrativa e uma de suas práticas é a difusão de estigmas contra pessoas facilmente atacáveis e sem influência social ou poder.


Para ler mais:

O espelho do mundo - Maria Clementina Pereira Cunha (livro)

História da psiquiatria no Brasil - Jurandir Freire Costa (livro)

domingo, 17 de dezembro de 2023

Truques secretos com alimentos - medicalização

Truques com alimentos comuns são inventados e associados ao discurso médico para permitir vender truques secretos. Por exemplo, o truque da banana para emagrecer e o truque do azeite de oliva na nuca. O "discurso médico" (dentro do domínio de fatos médicos ou biológicos) tem a finalidade de que fique difícil avaliar se o truque tem plausibilidade biológica e de usar a autoridade científica que as pessoas mais confiam. É um mercado atraente porque as pessoas demandam por soluções simples, utilizando as concepções ingênuas de saúde já presentes na sociedade.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O sistema teórico e social de opressão do paciente psiquiátrico

"Embora a situação de opressão em relação ao "paciente psiquiátrico" seja singular, pois ele está amarrado a um sistema teórico e social de rotulação e desqualificação frente à sociedade, essa condição de exclusão no planejamento, nas decisões e nas próprias análises acadêmicas, atinge a maioria dos setores sociais oprimidos".

Tânia Maris Grigolo

GRIGOLO, T. M. (2000). “Dizem que sou louco” - um estudo sobre identidade e instituição psiquiátrica. Revista de Ciências Humanas (Série Especial Temática). Florianópolis: UFSC.

Lei dos erros Quetelet-Gauss: curva normal

O nome curva normal (estatística) tinha o nome de "Lei dos erros quetelet-gauss". Gauss fez a parte matemática e Queletet fez uma teologia da pessoa comum como mais saudável. Desse modelo surge a expressão "normotipo" que deu a origem a "normotípicos", equivalente a "normal".

O pensamento social segue esse modelo (vaganótico). A origem dele tem baixa divulgação. Não há senso crítico sobre o modelo e a alternativa é praticamente desconhecida. (ver em outra postagem).  

"Viola, discípulo de De Giovanni, "convencido de que a apreciação dos fenômenos biológicos só é possível com o auxílio do método e das leis estatísticas, foi buscar esse método e essas leis para sobre eles calcar os seus trabalhos" (Isaac Brown).

Viola demonstrou que as variações constitucionais obedecem à lei dos erros de Quetelet-Gauss, elevando todos os problemas sobre constituição do plano empirico ao ciêntifico. Segundo Viola, a distribuição dos tipos obedece à disposição de uma curva binominal, em que a ordenada máxima coincide com o tipo médio ou normotipo, enquanto os outros tipos se dispõem ao longo da curva. Seu perfil biotipológico entrosa quatro faces: - hereditaria, morfológica, dinamico-humoral e psicológica. Os indivíduos se classificam segundo os tipos fundamentais: normotipo, braquitipo e longitipo, havendo ainda dois tipos intermediários, muito aproximados do normotipo o paracentral superior e o inferior."

Exame das Funções Mentais (Semiologia e psiquiatria) - 1942
DR. JOUBERT T. BARBOSA 

Exame das funções mentais: (semiologia e psiquiatria)
Barbosa, Joubert T.
Rio de Janeiro; Livraria Atheneu; s.d. 219 p. ilus, tab, graf.
Monografia em Português | Coleciona SUS, IMNS | ID: biblio-922526
Biblioteca responsável: BR2510.1
Localização: Acervo Biblioteca Instituto IMNS