Uma atribuição de sintoma é a transformação de um estranhamento episódico e situado em uma interpretação de valor negativo de algo impregnada de conceitos. De acordo com a preferência epistemológica e ontológica opta-se por priorizar a interpretação entendida como significado ou nível de linguagem privilegiado do evento observado ou priorizar a descrição delimitada do evento observado sem um nível adicional de interpretação além do implícito na observação e descrição do evento. Nesse sentido, há duas direções possíveis e reversíveis no entendimento de atribuição de sintomas: como interpretação ou como evento, e ambas estão inter-relacionadas de acordo com compromissos com pré-condições de conhecimento.
Psiquiatria crítica
Limitações da psiquiatria biomédica Controvérsias entre psiquiatras conservadores e reforma psiquiátrica Psiquiatria não comercial e íntegra Suporte para desmame de drogas psiquiátricas Concepções psicossociais Gerenciamento de benefícios/riscos dos psicoativos Acessibilidade para Deficiência psicossocial Psiquiatria com senso crítico Temas em Saúde Mental Prevenção quaternária Consumo informado Decisão compartilhada Autonomia "Movimento" de ex-usuários Alta psiquiátrica Justiça epistêmica
Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)
Aviso!
sábado, 11 de outubro de 2025
Definição e problematização de sintoma (releitura)
quarta-feira, 1 de outubro de 2025
Releitura crítica de "surto"
Se definirmos a noção social de "surto" por seus elementos constituintes, isto é, não pela aceitabilidade do comportamento, definição que tem viés de poder social e econômico nas relações sociais, mas pela apresentação de comportamentos com alta dificuldade de manejo, tal definição comportaria maior equitatividade e inclusividade em diversidade de valores sociais implícitos, já que incluiria circunstâncias em que há apresentação de comportamentos-problemas em manutenção de boas condições sociais da pessoa que os apresenta mesmo que não seja evidente, esse geralmente é o critério de confirmação, a topografia (forma) de comportamento de aparência de "surto". O significado disso é a demonstração de que a noção social de surto é baseada em observações e descrições mal feitas do comportamento que confirmam ou reproduzem hierarquias sociais. Essa definição tem a virtude de permitir contrafactualidade entre condições sociais favoráveis e adversas.
sábado, 27 de setembro de 2025
Padrões não responsivos a argumentação
sábado, 13 de setembro de 2025
Identidade diagnóstica é representação comercial?
Seria a afirmação identitária diagnóstica análoga por função a uma forma de representação comercial não remunerada já que os conceitos de diagnósticos tem origem comercial nos Estados Unidos com a Associação Americana de Psiquiatria?
quinta-feira, 11 de setembro de 2025
Pressupostos biomédico-psicossociais e RAPS
A metafísica da psiquiatria biológica como definidora das possibilidades de vida das pessoas sob tratamento, da relação da psiquiatria biológica com áreas de conhecimento e de usuários com a sociedade
ChatGPT
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/a-metafisica-da-psiquiatria-biologica
Implicações da metafísica da psiquiatria biológica para posicionamentos médicos e sociais sobre medicalização e desmedicalização
ChatGPT
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/implicacoes-da-metafisica-da-psiquiatria
Contra-axiomas e silogismos sociais da desmedicalização usual
ChatGPT
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/contra-axiomas-e-silogismos-sociais
A compatibilização de modelo biomédico e desmedicalização na rede de atenção psicossocial em lógica paraconsistente/defeasible
ChatGPT
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/a-compatibilizacao-modelo-biomedico
sexta-feira, 5 de setembro de 2025
O organicismo como causa suficiente
O organicismo é entendido culturalmente como explicação suficiente para a saúde plena, vida produtiva e satisfação com a vida. Como consequência intervenções sobre o corpo são prioridade e são incorporadas como soluções para outros tipos de fenômenos biológicos e sociais. O fato de que o organicismo seja adjacente aos outros fenômenos é bem-vindo pois induz o fomento do uso de suas intervenções.
Ler mais:
Alternativas ao organicismo e orgânico como adjacente
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/alternativas-ao-organicismo-na-saude
A política da ciência técnica pura
A ciência clássica tem grande valor. No entanto, seus defensores a conceituam como um núcleo de valores cognitivos imparcial, o qual deveria ser o único critério para o conhecimento científico. A ciência descrita dessa maneira desconhece os valores dos sistemas sociais de sua justificação e fomento, os quais participam da construção de ciência. O mercado é capaz de ser flexível politicamente mas há uma política de crescimento de mercado que define posicionamentos. A crítica à uma ciência politizada e social é uma defesa da técnica alienada de seus determinantes sociais e impactos. Posicionamento limitado em relação à capacidade crítica e de contrafactualidade social. A ciência politizada e social geralmente tem perspectiva temporal de longo prazo e passa por decisões governamentais assim como aumenta as chances de inadaptação mercadológica. Então é de se esperar que os defensores da técnica pura tenham suas indisposições políticas.
segunda-feira, 1 de setembro de 2025
Relacionamentos e transtornos (Nature)
Fan, C.C., Dehkordi, S.R., Border, R. et al. Spousal correlations for nine psychiatric disorders are consistent across cultures and persistent over generations. Nat Hum Behav (2025). https://doi.org/10.1038/s41562-025-02298-z
domingo, 31 de agosto de 2025
Definição de capacitismo
"O que é capacitismo?
Capacitismo é um conjunto de crenças, processos e práticas que produzem — com base nas habilidades que alguém apresenta ou valoriza — um entendimento específico de si mesmo, do próprio corpo e da relação com outros seres humanos, outras espécies e o meio ambiente, incluindo também como a pessoa é julgada pelos outros (Wolbring, 2006a, 2007a, b, c, d). O capacitismo reflete o sentimento de certos grupos sociais e estruturas sociais que valorizam e promovem determinadas habilidades — por exemplo, produtividade e competitividade — em detrimento de outras, como empatia, compaixão e bondade. Essa preferência por certas habilidades em vez de outras leva à rotulação de desvios reais ou percebidos, ou da falta de habilidades consideradas “essenciais”, como um estado diminuído de existência, contribuindo para justificar diversos outros “ismos” (Wolbring, 2006a, 2007a, b, c, d).
O capacitismo é um “ismo” guarda-chuva para outros “ismos”, como racismo, sexismo, castismo, etarismo, especismo, antiambientalismo, produtivismo (baseado no PIB) e consumismo. É possível identificar muitas formas diferentes de capacitismo, como o capacitismo baseado na estrutura biológica (B), o baseado na cognição (C), o baseado na estrutura social (S) e o capacitismo inerente a um determinado sistema econômico (E).
O capacitismo e a preferência por determinadas habilidades têm sido predominantes ao longo da história. Ele moldou — e continua moldando — áreas como segurança humana (Wolbring, 2006c), coesão social (Wolbring, 2007f), políticas sociais, relações entre grupos sociais, indivíduos e países, relações entre humanos e não humanos, e entre humanos e o meio ambiente (Wolbring, 2007a, b, c). O capacitismo é um dos “ismos” mais profundamente enraizados e aceitos socialmente.
Historicamente, o capacitismo tem sido usado por diversos grupos sociais para justificar seu nível elevado de direitos e status em relação a outros grupos. Por exemplo, as mulheres eram vistas como biologicamente frágeis e emocionais e, portanto, incapazes de assumir responsabilidades como votar, possuir propriedades ou manter a guarda dos próprios filhos (capacitismo levando ao sexismo; Silvers et al., 1998; Wolbring, 2003).
Além do racismo e do especismo, a valorização de certas habilidades cognitivas também se manifesta nos estágios de desenvolvimento humano. Fetos e crianças pequenas são frequentemente vistos como não detentores de direitos humanos plenos devido à falta de determinadas habilidades. Da mesma forma, a ausência de certas habilidades cognitivas é usada como argumento para negar certos direitos a “humanos com deficiência cognitiva”.
O capacitismo é um dos “ismos” mais socialmente enraizados e aceitos, e um dos maiores facilitadores de outros preconceitos (por exemplo, o nacionalismo se expressa por meio dos esportes, especismo, sexismo, racismo, antiambientalismo etc.). O capacitismo relacionado à produtividade e à competitividade econômica é a base de muitas sociedades e de suas relações com outras sociedades, sendo frequentemente visto como um pré-requisito para o progresso.
O julgamento baseado em habilidades está tão enraizado na sociedade que seu uso para fins de exclusão dificilmente é questionado ou mesmo percebido. Pelo contrário, grupos marginalizados por alguma forma de capacitismo ou “disableismo” frequentemente utilizam esse mesmo sentimento para reivindicar mudanças de status (“nós somos tão capazes quanto vocês”; “podemos ser tão capazes quanto vocês com as devidas adaptações”).
Precisamos reconhecer que a aceitação e o apoio à “diversidade de habilidades” é tão importante quanto outras formas de diversidade, e que o capacitismo é tão limitador quanto — e muitas vezes a base de — outros preconceitos."
“Consideramos também que as capacidades normativas que sustentam o capacitismo são produzidas com base nos discursos biomédicos que, sustentados pelo binarismo norma/desvio, têm levado à busca de que todos os corpos reproduzam a capacidade de se afastar do que é considerado abjeção (corpos abjetos são aqueles que, por divergirem do que é considerado típico da espécie, busca-se distanciar a todo custo).”
sábado, 23 de agosto de 2025
Psiquiatria biológica: cerimônica ou tecnológica?
quarta-feira, 20 de agosto de 2025
O conceito de tutela e a aprendizagem
O conceito e prática ou comportamento de tutelar pessoas em tratamento de saúde mental definido como um gerenciamento externo parte do conceito segundo o qual esse grupo de pessoas é organicamente impossibilitado de aprendizagem operante, a qual é a aprendizagem efetiva, e portanto não tem capacidade de autonomia e independência. A análise experimental do comportamento e sua prática de ensino-aprendizagem correspondente não prevê que o uso de categorias (diagnósticas) como explicação justifique a atribuição de impossibilidade orgânica de aprendizagem operante, autonomia e independência. De forma geral, a análise experimental do comportamento prevê que a qualidade e efetividade do planejamento de condições de ensino-aprendizagem de desenvolvimento de comportamentos é o principal responsável pelo repertório de comportamentos operantes entendido como insuficiente. O fato de que a pessoa em tratamento de saúde mental não corresponde a certas expectativas, padrões e regras sociais é interpretado pelo modelo de Kraeplin como explicado por disposições ou traços internos de origem genética. Do ponto de vista do processo de ensino-aprendizagem a aprendizagem operante só é efetiva quando o sujeito aprende a emitir comportamento em contato direto com a situação de exigência ambiental sem gerenciamento externo. Em outras palavras, a aprendizagem efetiva ocorre quando repertório operante em termos de classes de comportamento operante é empregado para obtenção de sucesso na satisfação ou mudança de contingências de reforçamento. O organicismo prevê que tais fatos contingentes e circunstanciais são irrelevantes como determinantes dos comportamentos apresentados ou ausentes. Portanto, o gerenciamento externo e monitoramento contínuo de pessoas em tratamento de saúde mental proposto pela prática tradicional de psiquiatria biológica e pensamento manicomial correspondente é uma consequência dessa predição de que as disposições internas do organismo e intervenções biológicas correspondentes são prioridade absoluta para explicação de problemas de comportamento ou comportamentos bem-sucedidos.
domingo, 10 de agosto de 2025
Psicologia cognitiva como ideologia
quinta-feira, 7 de agosto de 2025
O sucesso psiquiátrico por coerção
A partir dos conceitos de análise experimental do comportamento, o fato de o tratamento psiquiátrico tradicional e manicomial utilizar coerção como meio de obtenção do que entende como sucesso terapêutico implica que processos de aprendizagem operante são desconsiderados e desrespeitados para de forma substitutiva criar através da conformidade uma negação de consequências das maneiras de impor os tratamentos biológicos e negação das consequências do tratamento biológico e social. Do ponto de vista do fenômeno do comportamento operante é uma falsa imagem de sucesso. O uso em larga escala de internação psiquiátrica e em estabelecimentos de características análogas segue o mesmo padrão.
O espantalho da "indústria ABA" do autismo
A crítica à medicalização do diagnóstico de autismo pelas áreas socialmente críticas costuma ser direcionada à construção de uma indústria da análise do comportamento aplicada no Brasil. No entanto, essa área de conhecimento é a parte menos problemática da cadeia produtiva em torno do autismo. Enquanto a disputa ocorre em torno da preferência de tratamento e suas implicações para o financiamento de saúde, é menos discutido sobre os fundamentos teóricos do diagnóstico de autismo sem uma distinção necessária de ser feita a respeito de compromissos com o organicismo e a psiquiatria biológica das áreas de neuropsicologia, neurociência cognitiva e cognitivismo de um lado e o comportamentalismo de outro lado. Os responsáveis pelo diagnóstico em parceria com a psiquiatria biológica são pessoas da vertente cognitivista e portanto os responsáveis pela introdução das pessoas no sistema de saúde e seu contato com possíveis aspectos problemáticos do mesmo. A análise do comportamento aplicada tem potencial de ser resolutiva independentemente de diagnóstico ou medicamentalização já que seu referencial é o comportamento operante sem necessidade de compromisso com o modelo biomédico em saúde mental. Basicamente, a crítica que está sendo feita é um argumento de espantalho que se aproveita do mau entendimento público da área de análise experimental do comportamento.
segunda-feira, 4 de agosto de 2025
Valor instável de fisiologia e comportamento
Valor instável de variável fisiológica é determinado por formação inexata de conceito e prática inconsistente correspondente. Em um entendimento experimental todos os momentos de variação de valor são considerados. Esse raciocínio é válido para relações entre variáveis determinantes ou independentes e variáveis determinadas ou dependentes na explicação de classes de comportamentos operante.
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
Estados fisiológicos e comportamento externo
O entendimento de senso comum é que os fenômenos do comportamento operante e suas classes de comportamento são mero subconjunto de estados fisiológicos (reducionismo). No entanto, uma nuance conceitual maior é necessária já que não há relação tão direta e inequívoca entre operar sobre o ambiente e processos fisiológicos alterados. Um tipo de circunstância ilustra bem essa falta de precisão conceitual. Se considerarmos as perspectivas da pessoa sob interesse de tratamento e a externa, nem sempre haverá concordância sobre o estado de saúde mental da pessoa sob interesse de intervenção de saúde mental e não seria justo ou completo considerar apenas a perspectiva externa. Circunstâncias de relativa distinguibilidade maior entre estados internos de saúde mental e comportamentos de operar sobre o ambiente seriam estar com estado de saúde mental insatisfatório sem manifestação em comportamentos abertos e estar com estado de saúde mental satisfatório sob a perspectiva da própria pessoa e manifestar comportamentos operantes que tensionam com os parâmetros exigidos e esperados pelo ambiente. Se não presumirmos com pretensão que esse reducionismo descrito acima não tem limitações, abrimos possibilidades de interpretação com mais nuances e mais produtivas que não recorreriam a explicações circulares.
domingo, 27 de julho de 2025
Ozzy em coquetel psiquiátrico
https://www.cbsnews.com/news/osbourne-overprescribed/
O roqueiro Ozzy Osbourne alega que um médico de Beverly Hills lhe receitou uma série de poderosos antipsicóticos e tranquilizantes em excesso, o que o levou a um hábito de tomar 42 comprimidos por dia, o que também foi responsável por seu comportamento desconcertante na série de TV de sucesso "The Osbournes".
A alegação de Osbourne, apoiada por registros de cartão de crédito e outros recibos, foi noticiada pelo Los Angeles Times.
Entrevistado pelo jornal em outubro, Osbourne se movimentava e falava normalmente, sem demonstrar a hesitação e a desorientação que havia demonstrado em "The Osbournes".
O astro do rock de 55 anos disse que lhe foram prescritos Valium, Dexedrine, Mysoline e outros medicamentos potentes, que especialistas médicos afirmaram serem, à primeira vista, inadequados para um único paciente tomar simultaneamente.
O médico de Osbourne, David Kipper, de Beverly Hills, está sendo investigado por prescrever medicamentos em excesso a outros pacientes famosos, informou o jornal.
O Conselho Médico da Califórnia decidiu revogar a licença de Kipper na semana passada, acusando-o de negligência grave no tratamento de outros pacientes. Nenhuma ação foi tomada.
terça-feira, 22 de julho de 2025
Cirurgia para depressão
https://youtube.com/shorts/tEuZ3vB58f4?si=pX4w7tgK3yEvcTlm
sábado, 19 de julho de 2025
Vício em jogos
A área de análise experimental do comportamento, embora mal vista e desconhecida, explica o problema do vício em jogos desde os anos 50 aproximadamente. É chamado de esquema de reforço progressivamente estendido para se tornar cada vez mais forte com redução gradual de "recompensa" (esquema cada vez mais pobre). É válido através de conhecimento experimental para sujeitos não humanos e para sujeitos humanos .
terça-feira, 15 de julho de 2025
Terapia para autismo é semi-manicomial?
Terapias sem qualidade científica podem ser mais distópicas do que terapias polemizadas por áreas concorrentes. A realidade das pessoas com deficiência não é simples para que baste colocá-las num lugar de tratamento em liberdade e pensar que basta aceitar a identidade da pessoa com deficiência. O questionamento sobre o modelo médico, pensamento manicomial e a análise experimental do comportamento que é um dos aspectos básicos na discussão é discutido aqui no blogue e nos artigos do substack. O questionamento não deveria ser feito à área de conhecimento como um todo, o que é ideia pré-concebida. A crítica à totalidade da área de conhecimento é indício de que se trata de uma disputa econômica. É bastante duvidoso que atividades estruturadas para tratamento de autismo por análise experimental do comportamento sejam um padrão reconhecido e amplamente aplicado de tratamento. Parece ser um estereótipo criado com base em vídeos de internet. Se for para questionar algo, que seja a oferta de falsas "terapia ABA" que não são representativas da área de conhecimento. O que expõe pessoas com autismo a estruturas manicomiais é a falta de acesso a terapia para casos complexos e supostamente perdidos.
domingo, 13 de julho de 2025
Leis singulares do comportamento e internação psiquiátrica
Um raciocínio clínico presente na psiquiatria biológica é a criação de leis especiais e singulares do funcionamento do comportamento ou "mente" da pessoa como um subproduto de suas características orgânico-genéticas cerebrais. Nessa perspectiva cada constructo diagnóstico ou pessoa tem suas leis próprias do comportamento e não há generalidade na explicação do comportamento além de singularidades especiais. Uma decorrência disso é a proposta de protocolos de tratamento de acordo as características especiais e singulares correspondentes de cada constructo diagnóstico. Outra decorrência desse tipo de pensamento é a criação de perfis de características orgânico-comportamentais ou orgânico-mentais. O significado disso é compatível com a suposição de imprevisibilidade e incontrolabilidade de comportamentos sem as intervenções biológicas entendidas como imprescindíveis. Em circunstâncias de inviabilidade de administração de tratamento biológico, a dedução é de risco imprevisível e incontrolável associado a impossibilidade de intervenções diferentes de internação psiquiátrica, a qual é entendida como imprescindível.
segunda-feira, 7 de julho de 2025
Discurso anti-ABA e mudança de ênfase
O discurso político e clínico contra a análise do comportamento aplicada considera que condições ótimas de aprendizagem que a área implementa são compensações para condições sociais adversas. Um fato da análise experimental do comportamento é que quanto mais adversa uma circunstância maior é a probabilidade de surgirem "comportamentos-problema". Em sociedades de pensamento biomédico em saúde mental hegemônico a primeira reação e primeira linha de tratamento são a medicação psiquiátrica. Então o discurso crítico é uma defesa da mudança de ênfase explicativa de forma semelhante a defesa da mudança epistemológica para as ciências humanas e sociais segundo o tradicional em reforma psiquiátrica. O que parece ser uma crítica a análise experimental do comportamento, e essa crítica é feita por pessoas que desconhecem a área, é uma defesa de outras áreas que promoveriam condições sociais menos adversas. Nada impediria que, dadas as condições sociais sejam favoráveis para uso da análise experimental do comportamento, essa fosse utilizada também para reduzir condições sociais adversas. A área é associada erroneamente a um subproduto da neurociência de base para a psiquiatra biológica ou modelo médico em saúde mental. No entanto, essa associação é um estereótipo pois a base mais tradicionalmente correta da análise experimental do comportamento é a crítica ao modelo médico (ver em Ullman e Krasner e textos de medicina comportamental).
A natureza político-ideológica desse discurso é a defesa de uma mudança política da organização da sociedade. O discurso anti-ABA seria na verdade uma crítica ideológica à sociedade de mercado e ao potencial de uso que a área tem para a adaptação ideológica. Então a área de conhecimento não é, mais uma vez, a foco da crítica. Para fins de defesa antecipada, essa análise não é uma defesa da neutralidade ideológica e política da sociedade de mercado e da ciência.
domingo, 6 de julho de 2025
Neurotípicos e neurodiversos (releitura)
Nós estamos enquanto sociedade elencando repertórios de comportamento operante de fácil adaptação social como norma, normais ou neurotípicos e classificando repertórios de comportamento operante com cuidados adicionais como anormais ou neurodiversos. Isso é científicamente incorreto com base na área de neurociência e comportamento pois repertórios de comportamento operante são formados pelo histórico de interação com o meio e não são redutíveis a meros subconjuntos de características cerebrais orgânicas. Essa é uma mudança de ênfase de explicação proveitosa e necessária de ser realizada ainda no âmbito das ciências naturais e que não é a mudança epistemológica para as ciências humanas e sociais que a reforma psiquiátrica tradicionalmente propõe. É provável que as pessoas classificadas como neurotípicas tenham alterações cerebrais orgânicas e as pessoas classificadas como neurodiversas tenham características cerebrais comuns. Repertórios de comportamento operante não são perfeitamente correlacionáveis com estado orgânico cerebral. Esse é o mesmo erro da redução da repertórios de comportamento operante a subconjuntos de características orgânicas do cérebro.
Ver mais:
Em postagem fixada no topo do blogue de série sobre hierarquia entre análise experimental do comportamento e modelo biomédico
segunda-feira, 30 de junho de 2025
Série: Saúde mental e equilíbrio de Nash
Estabilidade de saúde mental e equilíbrio de Nash nas teorias dos jogos
ChatGPT
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/estabilidade-de-saude-mental-e-equilibrio
Estabilidade Comportamental e Tratamento Psiquiátrico Contínuo: Uma Leitura Analógica com o Equilíbrio de Nash
ChatGPT
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/estabilidade-comportamental-e-tratamento
Análise do comportamento habitual em tratamento psiquiátrico contínuo como equilíbrio de Nash e os efeitos do desmame
ChatGPT
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/analise-do-comportamento-habitual
Série: Hierarquia entre AEC e Modelo Biomédico
Implicações do Modelo biomédico e Análise do Comportamento
Resultado de análise em lógica adaptativa LATAr
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/implicacoes-do-modelo-biomedico-e
Pressupostos ontológicos e propriedades lógicas do texto Implicações da análise experimental do comportamento e modelo biomédico
ChatGPT
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/pressupostos-ontologicos-e-propriedades
Axiomatização de “Implicações da Análise do Comportamento e Modelo biomédico”
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/axiomatizacao-de-implicacoes-da-analise
Modelo biomédico como explicação fundamental e análise experimental do comportamento como auxiliar
ChatGPT - Esclarecimento de prática social usual
Contingências de reforço subordinadas: crítica behaviorista à hierarquia biomédica em saúde mental
ChatGPT
ChatGPT
ChatGPT
Dedução: de modelos científicos organicistas e neurocomportamental integrado a percepções sociais e discursos/atitudes eugenistas
ChatGPT
Modelo organicista hierárquico: conflitos de interesses no conceito de determinantes ambientais secundários
ChatGPT
A autonomia e a independência segundo os modelos organicista hierárquico e neurocomportamental integrado: dedução a partir de axiomas
ChatGPT
Modelo organicista-cognitivista, testes neuropsicológicos e diagnósticos medicalizantes em parceria com psiquiatria biológica
ChatGPT
O modelo organicista-cognitivista hierárquico, o modelo neurocomportamental integrado e o diagnóstico de autismo sutil: dedução
ChatGPT
Axiomatização da noção de remissão espontânea no modelo organicista
ChatGPT
Implicações Bioéticas dos Modelos Organicista Hierárquico e Neurocomportamental Integrado na Saúde Mental
ChatGPT
Axiomatização das Funções Executivas no Contexto Organicismo + Cognitivismo (A-Cog) como operador técnico da noção de frontalização
https://eduardopopinhakfranco.substack.com/p/axiomatizacao-das-funcoes-executivas
Organicismo Hierárquico, implicação de Vazio Operante e resultado de Heteronomia Crônica em lógica de predicados de primeira ordem
Reconhecimento como blog autoral
Resolvi testar se o Google aprova esse site como autoral e foi aprovado. Por isso vai exibir anúncios. O lucro será irrisório.
domingo, 22 de junho de 2025
Pacotes para padrões impositivos
Pacotes para padrões impositivos incluem explicações científicas e de senso comum em níveis complementares, implicações, consequências, riscos e instruções para ação criados para facilitar a identificação de padrões como relevantes e problemáticos e aumentando a prontidão para a ação. O fato de haverem pacotes comerciais de intervenções prontos e campanhas de conscientização promove a demanda por esses produtos e serviços como bens de saúde inelásticos (definido como necessidade inflexível de consumo).
sábado, 21 de junho de 2025
Assimetria de sensibilidade e tolerância a padrões
As categorias nosológicas da psiquiatria tornam a sociedade altamente sensível a "desvios" de padrões almejados ou impositivos. Pessoas com características de comportamentos e fenômenos de aprendizagem diferentes dos padrões pré-estabelecidos de desvio tem um âmbito de liberdade que escapa ao escopo de avaliação. Por isso, a sociedade se torna altamente intolerante e reguladora de alguns padrões impositivos, por motivos e condições sociais não examinados, e são tolerantes e garantem a baixa regulação para pessoas para qual a sociedade não tem sistemas culturais de classificação sensíveis ou estereotipados a suas características de comportamento. A impositividade de certos padrões é determinante do grau de avaliação, controle, regulação, crítica, intolerância, discriminação, hostilidade, condições desfavoráveis, pressões sociais, exigência, etc.
quinta-feira, 19 de junho de 2025
Avaliação amadora de memória
É comum alegações de problemas de memória por erro de evocação verbal de controle de estímulos adequado para emissão de resposta esperada. O erro provavelmente está na evocação adequada e não necessariamente no estado orgânico do organismo.
quarta-feira, 18 de junho de 2025
Evidências do tratamento da esquizofrenia
Evidências padrão ouro utilizadas como melhor evidência disponível sobre o tratamento contínuo da esquizofrenia. Revisão Cochrane.
Observe a ligação com várias empresas farmacêuticas e o desinteresse em relatar desfechos negativos.
terça-feira, 17 de junho de 2025
A crítica ao complexo industrial do autismo
Nunca impliquei com psicanalistas mas quando desenvolvem uma tese sobre a perniciosidade das contribuições da análise experimental do comportamento para o desenvolvimento de crianças com autismo temos um problema grave. A psicanálise tem um hábito arraigado de fazer críticas sociais em interface com áreas das ciências humanas e sociais como uma forma de propaganda velada dos méritos da psicanálise. Portanto, a crítica ao complexo industrial do autismo na verdade é um discurso de campanha a favor dos méritos da psicanálise. O problema da crítica ao complexo industrial do autismo é a natureza de textualidade que aceita qualquer configuração de articulação de conceitos com pressupostos nem sempre explícitos. Enquanto que na análise experimental do comportamento o critério é o sucesso da aprendizagem e isso não significa aceitar qualquer coisa. As ideologias de tratamento e de sociedade não são uma responsabilidade da análise experimental do comportamento. São uma realidade social. O exame das ideologias é bem vindo mas é complemento. A crítica às ideologias sociais não deve ser o centro do tratamento em saúde mental se o tratamento não for bem sucedido a partir do critério de sucesso de aprendizagem. Negar a capacidade de contrafactualidade da análise experimental do comportamento é o maior prejuízo desse tipo de campanha comercial com pretenso objetivo de interesse social.
segunda-feira, 16 de junho de 2025
Verossimilhança do discurso sobre realidade
O discurso com pretensões de realidade, assim como na ficção, precisa ter verossimilhança.
sexta-feira, 13 de junho de 2025
Ficar rico com biologia e neurociência
Há bastante disposição de pagamento por conhecimento em biologia e neurociência útil para atingir padrões. O tamanho e sofisticação desse mercado é um resultado desses padrões.
sábado, 7 de junho de 2025
Valor econômico do modelo manicomial
É possível avaliar o valor econômico intrínseco que as pessoas atribuem para internações como único recurso. O dinheiro é determinante da oferta de serviços mas é consequência de um anseio no lado da demanda social por internação.
O valor econômico vem de se livrar de um problema: o usuário/paciente que está incomodando. Prática na mesma lógica de antigamente mas de forma limitada.
Os remédios têm valor econômico por ser uma forma de calar, submeter, conter e coagir.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
"Jejum de dopamina" = reduzir concorrentes
A negação da expressão "Jejum de dopamina" e sua fundamentação em neurobiologia omite que pragmaticamente significa reduzir frequência de comportamentos concorrentes com os comportamentos relacionados com objetivos desejados. Usar ou não usar a linguagem neurobiológica é secundário e possivelmente tem função de distanciamento crítico frente às próprias preferências, diversões, emoções e comportamentos relacionados. Desenvolver atividades produtivas também necessita de repertório relacionado às características da atividade e no caso de lacunas de aprendizagem apenas se privar seria insuficiente. O sucesso inicial na atividade é uma experiência que aumenta a motivação posterior e nisso o repertório de aprendizagens pré-requisito relacionados à atividade ajuda bastante.
sábado, 31 de maio de 2025
Conhecimento acadêmico e mov. de usuários da saúde mental
Médicos manicomiais sabem que familiares e pacientes tem um impacto maior nos depoimentos. Por isso incentivam também através de dinheiro para esse tipo de atividade ser feita.
Esse aspecto tem uma relação com as realidades produzidas por tipos de conhecimentos e pela influência social e política que um bom impacto na prática permite conquistar.
Depois de um tempo de implantação conhecimentos se tornam um senso social, realidade, experiência. É uma relação bidirecional e de diálogo contínuo. Quando um usuário fala de certa forma está falando em um resultado cultural e na experiência de algo com antecedentes históricos, culturais e de conhecimento formal.
O problema de ter um movimento só de usuários é a dificuldade de conseguir dialogar com o patrimônio de conhecimento e instituições. Assim como ser reconhecido como válido para as instituições. Ter alguém com domínio da tradição e patrimônio na saúde mental é útil para se posicionar. Não é que os usuários da saúde mental não conseguem contribuir. É que ter alguém para formalizar isso ajuda muito no reconhecimento e posterior implantação.
quinta-feira, 29 de maio de 2025
Admirável Mundo Novo, tecnologias polêmicas e as difundidas
Linhares & da Cunha (2023), Neurath's Utopianism Revisited
Exemplo de argumento relevante para a compreensão do significado da crítica e da defesa do uso de tecnologias decorrentes de aprendizagem operante e psicofarmacologia. Aplicável também a outras formas de conhecimento e intervenções menos polêmicas, bastante difundidas e menos problematizadas. As realidades de cada contexto de uso de conhecimento são observáveis e descritíveis.
Exemplo. Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley
T: certos princípios tecnológicos, como a engenharia genética, o condicionamento psicológico, a organização da sociedade em castas, ..., são desejáveis
C: o cenário descrito por Huxley em Admirável Mundo Novo
W: se as técnicas científicas são desejáveis no planejamento social, então a sociedade do Admirável Mundo Novo seria desejável
Não W: No entanto, a narrativa de Huxley nos leva a concluir que não é bem assim, Admirável Mundo Novo é uma distopia
Linsbichler & da Cunha (2023), Neurath's Utopianism Revisited
Há uma contradição entre as consequências utópicas W e as distópicas não W.
Diante de uma inconsistência, temos que fazer alguma coisa...
Geralmente, os proponentes de um experimento mental sugerem que rejeitemos a concepção de fundo T (o uso das tecnologias)
Mas também podemos afirmar
que C não é possível
que C é uma exceção irrelevante que não implica na consequência no mundo especificada W
que as vantagens de C compensam as desvantagens
Referência:
"Neurath's Utopianism between Science and Activism", Ivan Ferreira da Cunha.https://www.youtube.com/watch?v=CD8J2dsWwPc
quarta-feira, 28 de maio de 2025
sexta-feira, 23 de maio de 2025
A falsa segurança corretiva em saúde
Comportamentos corretivos de saúde e corretivos em geral tem aspectos emocionais de possível falsa segurança que num exame mais aprofundado poderiam se demonstrar prejudiciais e irracionais.
quarta-feira, 21 de maio de 2025
Probl. saúde mental como dificuldade relativa
Em termos de aprendizagem operante, saúde mental seria definida como questão de dificuldade/desafio relativo de resolver circunstâncias de modo satisfatório. A pessoa com saúde mental é aquela que não se deparou com desafios grandes em termos de sofisticação necessária de repertório operante ou não teve boas condições de desenvolvimento de repertório operante. Outros fatores são as condições e processos de interferência na aprendizagem gradual e progressiva e a mudança repentina de repertório operante necessário que cria circunstâncias de se encontrar despreparado para resolução satisfatória de desafios.
Análises metafísicas: saúde mental e comportamentalismo
O ideal científico comportamentalista no tratamento de conceitos é semelhante com o contextualismo de conceitos citado abaixo com forte dependência material realizado através de operacionalização de experimental de conceitos. É um programa científico louvável. No entanto, o diálogo integrativo com o campo de saúde mental e sociedade que busquei fazer segue o caminho de contato imersivo e longitudinal com o ambiente da saúde mental, e com as diferentes formas de conhecimento acadêmico. Isso é uma flexibilização da forte dependência material experimental dos conceitos no comportamentalismo. O quanto isso é levado a sério e considerado um bom método de conhecimento é discutível. O esclarecimento disso não é necessariamente uma recomendação. É antes uma forma de tornar legítimo no sentido de não absurdo.
O exame crítico do conceito de tipos naturais feito no vídeo referenciado abaixo é útil para a discussão de saúde mental. A crítica ao forte compromisso ontológico do essencialismo (como os diagnósticos psiquiátricos) com limites claros de pertencimento e não pertencimento de indivíduos a uma classificação é um dos pontos interessantes. A possibilidade de desconstrução de tipos naturais na sociedade uma vez que os determinantes contingenciais dessas categorias de pensamento são revertidas contrafactualmente é outra reflexão interessante suscitada.
"VAGUEZA E A DEPENDÊNCIA NO CONVENCIONALISMO
quarta-feira, 14 de maio de 2025
Clinical Drug Interaction Studies - FDA
Conteúdo sobre a influência da família de enzimas citocromo 450 nas interações entre medicamentos. Quanto mais medicamentos são utilizados maior o risco de interações.
Áudio (podcast):
A crítica da PBE aos campos críticos
Eu vejo psicólogos com afinidade por métodos científicos (psicologia baseada em evidências) criticando iniciativas críticas construtivas e produtivas por descrença puramente baseada em validação metodológica. Validação metodológica não é tudo o que importa, tem fins principalmente de financiamento e vendas. Na minha opinião isso é alienação oriunda de restrição da formação a critérios de metodologia e falta de contato com experiências e conhecimentos mais amplos.
Experiência vivida reconhecida na Lancet Psychiatry
Experiência vivida vai contar como adicional de validade de artigos científicos e ausência de experiência vivida como limitações. A nova política editorial propõe descrever a qual a relação do artigo com a experiência do autor.
Setting the research agenda for mental health
The Lancet Psychiatry
Via instagram @sobreviventesdapsiquiatria
Desafio aos críticos da "indústria ABA"
Um desafio conceitual-pragmático aos críticos da "indústria da análise do comportamento aplicada": são capazes de apontar os pressupostos equivocados na construção científica da análise experimental do comportamento que fazem com que o sucesso pragmático no ensino-aprendizagem (das práticas competentes) seja falso ou inventado. Provar que fatos não existem. Boa sorte.
O negacionismo mente/cérebro
De acordo com as concepções mais tradicionais de psicologia humana, tudo o que existe é conteúdo e cérebro. É um negacionismo forte em relação a análise experimental do comportamento.
segunda-feira, 12 de maio de 2025
Materialismo médico e sistemas simbólicos
Em Pureza e Perigo, Mary Douglas afirma que tanto as regras culturais não são bem explicadas por materialismo médico como as regras que entendemos como oriundas somente do materialismo médico são melhor compreendidas pela totalidade dos sistemas de classificação da cultura. Interessante para pensar regras, princípios e práticas na área de saúde mental como sistemas simbólicos integrados. O quanto de nossas regras de saúde são formas de controlar percepções oriundas dos sistemas simbólicos (classes de comportamento)?
sexta-feira, 9 de maio de 2025
Anomalias e sistemas de classificação
"Está claro então que somos capazes de nos confrontarmos com anomalias. Quando algo é firmemente classificado como anômalo, o esboço do conjunto no qual ele não é considerado como membro se torna claro.
(p. 53)
Há várias maneiras de tratar as anomalias. Negativamente, podemos ignorá-las, não percebê-las, ou, percebendo-as, condená-las. Positivamente, podemos, deliberadamente, confrontar as anomalias, e tentar criar um novo padrão de realidade onde elas tenham lugar. Não é impossível um indivíduo rever seu próprio esquema pessoal de classificações. Mas nenhum indivíduo vive isoladamente e seu esquema terá sido parcialmente recebido de outros indivíduos.
(p.54)
A cultura, no senso comum, padronizou os valores de uma comunidade, serve de mediadora da experiência dos indivíduos Prove, adiantadamente, algumas categorias básicas, um padrão positivo no qual as ideias e valores são cuidadosamente ordenados. E, acima de tudo, ela tem autoridade, uma vez que cada pessoa é levada a consentir porque outras assim o fazem. Mas seu caráter público torna suas categorias mais rígidas. Uma pessoa pode ou não rever seu padrão de pressupostos. É um assunto particular. Mas categorias culturais são assuntos públicos. Não podem ser tão facilmente sujeitas à revisão. Mas não podem negligenciar o desafio de formas aberrantes. Qualquer sistema dado de classificações deve dar origem a anomalias, e qualquer cultura dada deve confrontar os eventos que parecem desafiar seus pressupostos. Não pode ignorar as anomalias que seu esquema produz, a não ser com o risco de perder sua confiança. Suponho que seja por isso que encontramos em qualquer cultura, digna do nome, várias providências para lidar com eventos ambíguos ou anômalos.
Primeiro, decidindo-se por uma ou outra interpretação, a ambiguidade é frequentemente reduzida.
(p.54)
Segundo, a existência da anomalia pode ser fisicamente controlada. Ou tomemos os gaios que cantam à noite. Se seus pescoços forem prontamente torcidos, eles não viverão para contradizer a definição de galo como uma ave que canta ao alvorecer.
Terceiro, a regra de se evitar coisas anômalas confirma e reforça as definições às quais elas não se ajustam. Logo, onde o Levítico abomina coisas rastejantes, deveríamos ver a abominação como o lado negativo de um padrão de coisas aprovadas.
Quarto, eventos anômalos podem ser classificados como perigosos. Admite-se que os indivíduos sentem-se ansiosos quando confrontados com anomalias. Mas, seria um erro tratar as instituições como se elas evoluíssem da mesma maneira que as reações espontâneas de uma pessoa. É mais provável que semelhantes crenças públicas sejam produzidas no decurso da redução da dissonância entre as interpretações individuais e as interpretações gerais. Conforme o trabalho de Festinger, é óbvio que uma pessoa, quando suas convicções diferem das de seus amigos, ou hesita ou tenta convencê-los de que estão errados. Atribuir perigo é uma maneira de se colocar um assunto acima da discussão. Também ajuda a reforçar a conformidade, como mostraremos no capítulo sobre moral (Cap. 8).
Quinto, os símbolos ambíguos podem ser usados em ritual para os mesmos fins que são usados na poesia ou na mitologia, para enriquecer o significado ou para chamar a atenção a outros níveis de existência. Veremos no último capítulo de que maneira o ritual, utilizando símbolos de anomalias, pode incorporar maldade e morte ao mesmo tempo que vida e bondade, num modelo único, grandioso e unificante. (p. 56)
Concluindo, se impureza é um assunto inoportuno, devemos investigá-lo através da ordem. Impureza ou sujeira é aquilo que não pode ser incluído, se se quiser manter um padrão."
Referência
Mary Douglas. Pureza e perigo.