Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)

Essa avalanche de informações e conhecimento relacionada à saúde e despejada todos os dias sobre os indivíduos sem a menor cerimônia varia muito em termos de objetividade e credibilidade. Porém, é preciso admitir que ela consegue atrair cada vez mais a atenção pública para assuntos de saúde - e muda o relacionamento tradicional entre médicos e pacientes, encorajando os últimos a exercer uma atitude mais participativa na relação. Ironicamente, enquanto os pacientes conquistam mais acesso às informações sobre saúde, os médicos têm cada vez menos tempo para estudar as últimas descobertas científicas ou para ler publicações da área - on-line ou não -, e mesmo para se comunicar adequadamente com especialistas de áreas relevantes e/ou com os próprios pacientes. Além disso, enquanto os médicos precisam dominar conhecimentos sobre as diferentes condições de saúde de um grande número de pacientes cujos rostos eles mal conseguem lembrar, um paciente instruído, com acesso à internet, pode, na verdade, ter lido uma pesquisa mais recente do que o médico sobre sua doença específica. Os pacientes chegam ao consultório com paginas impressas contendo o material que pesquisaram na internet, fotocópias de artigos da Physician's Desk Reference, ou recorte de outras revistas e anuários médicos. Eles fazem perguntas e não ficam mais reverenciando a figura do médico, com seu imaculado avental branco. Aqui as mudanças no relacionamento com os fundamentos profundos do tempo e conhecimento alteraram completamente a realidade médica. Livro: Riqueza Revolucionária - O significado da riqueza no futuro

Aviso!

Aviso! A maioria das drogas psiquiátricas pode causar reações de abstinência, incluindo reações emocionais e físicas com risco de vida. Portanto, não é apenas perigoso iniciar drogas psiquiátricas, também pode ser perigoso pará-las. Retirada de drogas psiquiátricas deve ser feita cuidadosamente sob supervisão clínica experiente. [Se possível] Os métodos para retirar-se com segurança das drogas psiquiátricas são discutidos no livro do Dr. Breggin: A abstinência de drogas psiquiátricas: um guia para prescritores, terapeutas, pacientes e suas famílias. Observação: Esse site pode aumentar bastante as chances do seu psiquiatra biológico piorar o seu prognóstico, sua família recorrer a internação psiquiátrica e serem prescritas injeções de depósito (duração maior). É mais indicado descontinuar drogas psicoativas com apoio da família e psiquiatra biológico ou pelo menos consentir a ingestão de cápsulas para não aumentar o custo do tratamento desnecessariamente. Observação 2: Esse blogue pode alimentar esperanças de que os familiares ou psiquiatras biológicos podem mudar e começar a ouvir os pacientes e se relacionarem de igual para igual e racionalmente. A mudança de familiares e psiquiatras biológicos é uma tarefa ingrata e provavelmente impossível. https://breggin.com/the-reform-work-of-peter-gotzsche-md/

quarta-feira, 18 de junho de 2025

terça-feira, 17 de junho de 2025

A crítica ao complexo industrial do autismo

Nunca impliquei com psicanalistas mas quando desenvolvem uma tese sobre a perniciosidade das contribuições da análise experimental do comportamento para o desenvolvimento de crianças com autismo temos um problema grave. A psicanálise tem um hábito arraigado de fazer críticas sociais em interface com áreas das ciências humanas e sociais como uma forma de propaganda velada dos méritos da psicanálise. Portanto, a crítica ao complexo industrial do autismo na verdade é um discurso de campanha a favor dos méritos da psicanálise. O problema da crítica ao complexo industrial do autismo é a natureza de textualidade que aceita qualquer configuração de articulação de conceitos com pressupostos nem sempre explícitos. Enquanto que na análise experimental do comportamento o critério é o sucesso da aprendizagem e isso não significa aceitar qualquer coisa. As ideologias de tratamento e de sociedade não são uma responsabilidade da análise experimental do comportamento. São uma realidade social. O exame das ideologias é bem vindo mas é complemento. A crítica às ideologias sociais não deve ser o centro do tratamento em saúde mental se o tratamento não for bem sucedido a partir do critério de sucesso de aprendizagem. Negar a capacidade de contrafactualidade da análise experimental do comportamento é o maior prejuízo desse tipo de campanha comercial com pretenso objetivo de interesse social.

sexta-feira, 13 de junho de 2025

Ficar rico com biologia e neurociência

Há bastante disposição de pagamento por conhecimento em biologia e neurociência útil para atingir padrões. O tamanho e sofisticação desse mercado é um resultado desses padrões.

sábado, 7 de junho de 2025

Valor econômico do modelo manicomial

É possível avaliar o valor econômico intrínseco que as pessoas atribuem para internações como único recurso. O dinheiro é determinante da oferta de serviços mas é consequência de um anseio no lado da demanda social por internação. 

O valor econômico vem de se livrar de um problema: o usuário/paciente que está incomodando. Prática na mesma lógica de antigamente mas de forma limitada.

Os remédios têm valor econômico por ser uma forma de calar, submeter, conter e coagir.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

"Jejum de dopamina" = reduzir concorrentes

A negação da expressão "Jejum de dopamina" e sua fundamentação em neurobiologia omite que pragmaticamente significa reduzir frequência de comportamentos concorrentes com os comportamentos relacionados com objetivos desejados. Usar ou não usar a linguagem neurobiológica é secundário e possivelmente tem função de distanciamento crítico frente às próprias preferências, diversões, emoções e comportamentos relacionados. Desenvolver atividades produtivas também necessita de repertório relacionado às características da atividade e no caso de lacunas de aprendizagem apenas se privar seria insuficiente. O sucesso inicial na atividade é uma experiência que aumenta a motivação posterior e nisso o repertório de aprendizagens pré-requisito relacionados à atividade ajuda bastante.

sábado, 31 de maio de 2025

Conhecimento acadêmico e mov. de usuários da saúde mental

Médicos manicomiais sabem que familiares e pacientes tem um impacto maior nos depoimentos. Por isso incentivam também através de dinheiro para esse tipo de atividade ser feita.

Esse aspecto tem uma relação com as realidades produzidas por tipos de conhecimentos e pela influência social e política que um bom impacto na prática permite conquistar.

Depois de um tempo de implantação conhecimentos se tornam um senso social, realidade, experiência. É uma relação bidirecional e de diálogo contínuo. Quando um usuário fala de certa forma está falando em um resultado cultural e na experiência de algo com antecedentes históricos, culturais e de conhecimento formal.

O problema de ter um movimento só de usuários é a dificuldade de conseguir dialogar com o patrimônio de conhecimento e instituições. Assim como ser reconhecido como válido para as instituições.  Ter alguém com domínio da tradição e patrimônio na saúde mental é útil para se posicionar. Não é que os usuários da saúde mental não conseguem contribuir. É que ter alguém para formalizar isso ajuda muito no reconhecimento e posterior implantação.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Admirável Mundo Novo, tecnologias polêmicas e as difundidas

Linhares & da Cunha (2023), Neurath's Utopianism Revisited

Exemplo de argumento relevante para a compreensão do significado da crítica e da defesa do uso de tecnologias decorrentes de aprendizagem operante e psicofarmacologia. Aplicável também a outras formas de conhecimento e intervenções menos polêmicas, bastante difundidas e menos problematizadas. As realidades de cada contexto de uso de conhecimento são observáveis e descritíveis.

Exemplo. Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley

T: certos princípios tecnológicos, como a engenharia genética, o condicionamento psicológico, a organização da sociedade em castas, ..., são desejáveis

C: o cenário descrito por Huxley em Admirável Mundo Novo

W: se as técnicas científicas são desejáveis no planejamento social, então a sociedade do Admirável Mundo Novo seria desejável

Não W: No entanto, a narrativa de Huxley nos leva a concluir que não é bem assim, Admirável Mundo Novo é uma distopia

 Linsbichler & da Cunha (2023), Neurath's Utopianism Revisited

Há uma contradição entre as consequências utópicas W e as distópicas não W.

Diante de uma inconsistência, temos que fazer alguma coisa...

Geralmente, os proponentes de um experimento mental sugerem que rejeitemos a concepção de fundo T (o uso das tecnologias)

Mas também podemos afirmar

que C não é possível

que C é uma exceção irrelevante que não implica na consequência no mundo especificada W

que as vantagens de C compensam as desvantagens

Referência:

"Neurath's Utopianism between Science and Activism", Ivan Ferreira da Cunha.
https://www.youtube.com/watch?v=CD8J2dsWwPc

sexta-feira, 23 de maio de 2025

A falsa segurança corretiva em saúde

Comportamentos corretivos de saúde e corretivos em geral tem aspectos emocionais de possível falsa segurança que num exame mais aprofundado poderiam se demonstrar prejudiciais e irracionais.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Probl. saúde mental como dificuldade relativa

Em termos de aprendizagem operante, saúde mental seria definida como questão de dificuldade/desafio relativo de resolver circunstâncias de modo satisfatório. A pessoa com saúde mental é aquela que não se deparou com desafios grandes em termos de sofisticação necessária de repertório operante ou não teve boas condições de desenvolvimento de repertório operante. Outros fatores são as condições e processos de interferência na aprendizagem gradual e progressiva e a mudança repentina de repertório operante necessário que cria circunstâncias de se encontrar despreparado para resolução satisfatória de desafios.

Análises metafísicas: saúde mental e comportamentalismo

O ideal científico comportamentalista no tratamento de conceitos é semelhante com o contextualismo de conceitos citado abaixo com forte dependência material realizado através de operacionalização de experimental de conceitos. É um programa científico louvável. No entanto, o diálogo integrativo com o campo de saúde mental e sociedade que busquei fazer segue o caminho de contato imersivo e longitudinal com o ambiente da saúde mental, e com as diferentes formas de conhecimento acadêmico. Isso é uma flexibilização da forte dependência material experimental dos conceitos no comportamentalismo. O quanto isso é levado a sério e considerado um bom método de conhecimento é discutível. O esclarecimento disso não é necessariamente uma recomendação. É antes uma forma de tornar legítimo no sentido de não absurdo.

O exame crítico do conceito de tipos naturais feito no vídeo referenciado abaixo é útil para a discussão de saúde mental. A crítica ao forte compromisso ontológico do essencialismo (como os diagnósticos psiquiátricos) com limites claros de pertencimento e não pertencimento de indivíduos a uma classificação é um dos pontos interessantes. A possibilidade de desconstrução de tipos naturais na sociedade uma vez que os determinantes contingenciais dessas categorias de pensamento são revertidas contrafactualmente é outra reflexão interessante suscitada.

"VAGUEZA E A DEPENDÊNCIA NO CONVENCIONALISMO

Podemos constatar que a afinidade do convencionalismo às teses contextualistas da linguagem introduz a vagueza como um fator que determina características dos tipos produzidos.

Dependência material: Referente às condições materiais muito específicas produzidas pela prática científica. Quão controlado deve ser o meio para ser caracterizado como científico?

Dependência causal: É a crença compartilhada que traz à existência os tipos. Aspecto interativo que envolve graus, permitindo formulação de vagueza de propriedades ôntica e semântica."

WORKSHOP UFRJ - UNICAMP | METAFÍSICA ANALÍTICA

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Clinical Drug Interaction Studies - FDA

Conteúdo sobre a influência da  família de enzimas citocromo 450 nas interações entre medicamentos. Quanto mais medicamentos são utilizados maior o risco de interações.

https://www.fda.gov/drugs/guidances-drugs/guidance-recap-podcast-clinical-drug-interaction-studies-cytochrome-p450-enzyme-and-transporter

Áudio (podcast):

https://www.fda.gov/media/135490/download?attachment

A crítica da PBE aos campos críticos

Eu vejo psicólogos com afinidade por métodos científicos (psicologia baseada em evidências) criticando iniciativas críticas construtivas e produtivas por descrença puramente baseada em validação metodológica. Validação metodológica não é tudo o que importa, tem fins principalmente de financiamento e vendas. Na minha opinião isso é alienação oriunda de restrição da formação a critérios de metodologia e falta de contato com experiências e conhecimentos mais amplos.

Experiência vivida reconhecida na Lancet Psychiatry

Experiência vivida vai contar como adicional de validade de artigos científicos e ausência de experiência vivida como limitações. A nova política editorial propõe descrever a qual a relação do artigo com a experiência do autor.

Setting the research agenda for mental health

The Lancet Psychiatry

https://www.thelancet.com/journals/lanpsy/article/PIIS2215-0366(25)00103-8/fulltext?fbclid=IwQ0xDSwKRqjZjbGNrApGqJmV4dG4DYWVtAjExAAEeR0hVNJy1h8Q-1c13SzXrOpKD9uZtjTDdorCmF9vt0bPYQRwYhRr7BvC-9vM_aem_u6fcEAZUI-z8uR54V4YDmQ


Via instagram @sobreviventesdapsiquiatria


Desafio aos críticos da "indústria ABA"

Um desafio conceitual-pragmático aos críticos da "indústria da análise do comportamento aplicada": são capazes de apontar os pressupostos equivocados na construção científica da análise experimental do comportamento que fazem com que o sucesso pragmático no ensino-aprendizagem (das práticas competentes) seja falso ou inventado. Provar que fatos não existem. Boa sorte.

O negacionismo mente/cérebro

De acordo com as concepções mais tradicionais de psicologia humana, tudo o que existe é conteúdo e cérebro. É um negacionismo forte em relação a análise experimental do comportamento.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Materialismo médico e sistemas simbólicos

Em Pureza e Perigo, Mary Douglas afirma que tanto as regras culturais não são bem explicadas por materialismo médico como as regras que entendemos como oriundas somente do materialismo médico são melhor compreendidas pela totalidade dos sistemas de classificação da cultura. Interessante para pensar regras, princípios e práticas na área de saúde mental como sistemas simbólicos integrados. O quanto de nossas regras de saúde são formas de controlar percepções oriundas dos sistemas simbólicos (classes de comportamento)?

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Anomalias e sistemas de classificação

"Está claro então que somos capazes de nos confrontarmos com anomalias. Quando algo é firmemente classificado como anômalo, o esboço do conjunto no qual ele não é considerado como membro se torna claro.

(p. 53)

Há várias maneiras de tratar as anomalias. Negativamente, podemos ignorá-las, não percebê-las, ou, percebendo-as, condená-las. Positivamente, podemos, deliberadamente, confrontar as anomalias, e tentar criar um novo padrão de realidade onde elas tenham lugar. Não é impossível um indivíduo rever seu próprio esquema pessoal de classificações. Mas nenhum indivíduo vive isoladamente e seu esquema terá sido parcialmente recebido de outros indivíduos.

(p.54)

A cultura, no senso comum, padronizou os valores de uma comunidade, serve de mediadora da experiência dos indivíduos Prove, adiantadamente, algumas categorias básicas, um padrão positivo no qual as ideias e valores são cuidadosamente ordenados. E, acima de tudo, ela tem autoridade, uma vez que cada pessoa é levada a consentir porque outras assim o fazem. Mas seu caráter público torna suas categorias mais rígidas. Uma pessoa pode ou não rever seu padrão de pressupostos. É um assunto particular. Mas categorias culturais são assuntos públicos. Não podem ser tão facilmente sujeitas à revisão. Mas não podem negligenciar o desafio de formas aberrantes. Qualquer sistema dado de classificações deve dar origem a anomalias, e qualquer cultura dada deve confrontar os eventos que parecem desafiar seus pressupostos. Não pode ignorar as anomalias que seu esquema produz, a não ser com o risco de perder sua confiança. Suponho que seja por isso que encontramos em qualquer cultura, digna do nome, várias providências para lidar com eventos ambíguos ou anômalos.

Primeiro, decidindo-se por uma ou outra interpretação, a ambiguidade é frequentemente reduzida.

(p.54)

Segundo, a existência da anomalia pode ser fisicamente controlada. Ou tomemos os gaios que cantam à noite. Se seus pescoços forem prontamente torcidos, eles não viverão para contradizer a definição de galo como uma ave que canta ao alvorecer.

Terceiro, a regra de se evitar coisas anômalas confirma e reforça as definições às quais elas não se ajustam. Logo, onde o Levítico abomina coisas rastejantes, deveríamos ver a abominação como o lado negativo de um padrão de coisas aprovadas.

Quarto, eventos anômalos podem ser classificados como perigosos. Admite-se que os indivíduos sentem-se ansiosos quando confrontados com anomalias. Mas, seria um erro tratar as instituições como se elas evoluíssem da mesma maneira que as reações espontâneas de uma pessoa. É mais provável que semelhantes crenças públicas sejam produzidas no decurso da redução da dissonância entre as interpretações individuais e as interpretações gerais. Conforme o trabalho de Festinger, é óbvio que uma pessoa, quando suas convicções diferem das de seus amigos, ou hesita ou tenta convencê-los de que estão errados. Atribuir perigo é uma maneira de se colocar um assunto acima da discussão. Também ajuda a reforçar a conformidade, como mostraremos no capítulo sobre moral (Cap. 8).

Quinto, os símbolos ambíguos podem ser usados em ritual para os mesmos fins que são usados na poesia ou na mitologia, para enriquecer o significado ou para chamar a atenção a outros níveis de existência. Veremos no último capítulo de que maneira o ritual, utilizando símbolos de anomalias, pode incorporar maldade e morte ao mesmo tempo que vida e bondade, num modelo único, grandioso e unificante. (p. 56)

Concluindo, se impureza é um assunto inoportuno, devemos investigá-lo através da ordem. Impureza ou sujeira é aquilo que não pode ser incluído, se se quiser manter um padrão."

Referência

Mary Douglas. Pureza e perigo.

domingo, 4 de maio de 2025

Psicologia baseada em evidências basta?

Título do texto referido: [Doença] Bom-Senso versus Medicina Baseada em Evidências?

Esse texto discute se todas as práticas de saúde tem condições de serem avaliadas com o método da medicina baseada em evidências. Apesar dos desafios de superar o senso comum e o bom senso como procedimentos da psicologia, o conteúdo desse texto é extensível para a área de psicologia e saúde mental já que a medicina baseada em evidências é o modelo de inspiração da psicologia baseada em evidências. No entanto, existem métodos em psicologia e ciências humanas e sociais com contribuições diferentes dos testes de protocolos de tratamento padronizados.

Fonte: Site Medicina Complementar

Link para o texto:

https://www.enxaqueca.com.br/bom-senso-versus-medicina-baseada-em-evidencias/

sexta-feira, 2 de maio de 2025

Modelo clínico de Kraeplin: reinterpretação comportamental

O modelo clínico de Kraeplin, criador das bases da psiquiatria moderna e biológica contemporânea, tem uma base factual em circunstâncias: fazer alterações difíceis (Definição de difícil: insuficiência de aprendizagem operante) em contingências de reforçamento ocasiona problemas e tem baixa viabilidade. Por isso, contingências de reforçamento estabelecidas pelas pessoas com poder devem ser respeitadas, legitimadas e apoiadas. A pessoa que não satisfaz as contingências de reforçamento estabelecidas pelas pessoas com poder está clinicamente doente por alteração orgânica. Inversamente, a saúde mental é o valor reforçador do repertório de comportamentos para as contingências de reforçamento vigentes, as quais devem ser respeitadas ou alteradas sem problemas significativos.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Medicalização e interferência no desenvolvimento

A medicalização opera fundamentada num conceito de maturação interna segundo o qual funções e repertórios de comportamentos ocorrem naturalmente a partir desse processo. A implicação desse conceito de desenvolvimento é que o único tipo de interferência previsto sobre funções e repertórios esperados são de natureza genética principalmente e orgânica no início do desenvolvimento (gestação) ou de dano orgânico de fonte externa e clara (drogas ilícitas). Esse conceito não prevê que interferências no desenvolvimento originadas de condições ambientais sob o processo de contingências de reforçamento possam ocorrer, as considerando dispensáveis para o desenvolvimento de repertório de comportamentos e funções esperados. Nas circunstâncias em que ocorrem repertórios de comportamentos e funções não esperados o conceito de maturação interna induz a avaliação imediata de estado orgânico e tratamento biológico correspondente. 

Ler mais:

Implicações do Modelo Médico e Análise do Comportamento

https://crisedapsiquiatria.blogspot.com/2025/01/o-modelo-medico-e-analise-experimental.html

Determinantes orgânicos, organicismo e funcionalismo

https://crisedapsiquiatria.blogspot.com/2025/02/determinantes-organicos-e-logica.html

sábado, 26 de abril de 2025

Validade científica, formação e realidades

Para as pessoas que acreditam que seguir uma metodologia científica é suficiente para produzir conhecimento de qualidade: o conhecimento profundo de realidades, a formação ampla, diversificada e completa é capaz de fazer com que se tenha um distanciamento crítico de conhecimento e metodologia científicos que se concebem como o ápice da ciência. Uma formação científica com qualidade e rigor contribui para explicar esse distanciamento crítico adquirido.

sábado, 12 de abril de 2025

Ação sistêmica de fármacos

06.04.2025 | Natalia Kandybey

"Um efeito sistêmico é o efeito de uma substância ou intervenção terapêutica não apenas no local da aplicação ou em uma área específica do corpo, mas também em todo o organismo como um todo. Esse efeito ocorre quando a substância ativa entra na corrente sanguínea e se espalha por todos os órgãos e tecidos, afetando o funcionamento de vários sistemas simultaneamente. É por isso que o efeito sistêmico se diferencia do efeito local, que se limita a impactar apenas uma determinada região.

Exemplos de substâncias com ação sistêmica incluem a maioria dos medicamentos em comprimido, injeções, agentes hormonais, antibióticos e alguns suplementos alimentares. Por exemplo, um anti-inflamatório administrado por via intramuscular não apenas reduz a dor nas articulações, mas também pode afetar a temperatura corporal, a saúde do sistema imunológico ou a função gastrointestinal. Em alguns casos, o efeito sistêmico pode ser desejável (por exemplo, em inflamações generalizadas), e em outros, pode causar efeitos colaterais.

Compreender o efeito sistêmico é importante ao prescrever um tratamento, especialmente em pacientes com comorbidades ou hipersensibilidade a medicamentos. Isso permite avaliar não apenas os benefícios esperados, mas também os riscos potenciais associados ao impacto do medicamento sobre o corpo como um todo."

https://violapharm.com/en/system-action/

O efeito sistêmico ocorre porque as substâncias se conectam a receptores em todo o organismo e não apenas no alvo terapêutico.

Microbiota e antipsicóticos/neurolépticos

"Pouco se sabe sobre os efeitos dos antipsicóticos atípicos (AAPs) na microbiota; no entanto, um pequeno conjunto de evidências sugere que eles causam efeitos adversos graves. A olanzapina e a risperidona induziram um aumento de Firmicutes e uma diminuição de Bacteroidetes, além de alterações metabólicas como resultado de uma mudança para um perfil bacteriano potencialmente obesogênico, associado a ácidos graxos de cadeia curta e inflamação em adultos (348), crianças (349, 350) e roedores (351). Essas mudanças também foram dependentes do sexo (349, 352, 353), com mulheres apresentando uma resposta mais elevada de citocinas pró-inflamatórias (IL-8 e IL-1β) na circulação e infiltração de macrófagos; ainda assim, a disbiose da microbiota esteve igualmente presente em homens e mulheres.

Os antipsicóticos atípicos têm um potente efeito antibiótico, induzindo uma disbiose profunda na microbiota intestinal, seja de forma crônica ou após administração de curto prazo (205). A coadministração de antibióticos resultou em alterações adicionais na composição da microbiota. Curiosamente, essas mudanças na diversidade da microbiota dependentes de antibióticos reduziram os efeitos colaterais, incluindo a infiltração de macrófagos. Além disso, experimentos com camundongos germ-free (livres de germes) não mostraram alteração no perfil metabólico (352–355), indicando um papel claro da microbiota na disfunção metabólica associada aos antipsicóticos atípicos (352). Por fim, transplantes fecais de camundongos tratados com risperidona induziram ganho de peso excessivo em camundongos controle (354). Essas alterações foram associadas a uma diminuição de Bifidobacterium, Escherichia coli e Lactobacillus e a um aumento de Clostridium coccoides (353). A risperidona, in vitro, alterou a microbiota do cólon apenas 24 horas após a administração, induzindo metabólitos específicos (350). O tratamento com probióticos demonstrou um efeito protetor, restaurando a razão Bacteroidetes:Firmicutes, sem reduzir o efeito dos antipsicóticos atípicos (356)."


Immunoendocrine Peripheral Effects

Induced by Atypical Antipsychotics

Samantha Alvarez-Herrera 1†‡ , Raúl Escamilla 2†‡ , Oscar Medina-Contreras 3† ,

Ricardo Saracco 2† , Yvonne Flores 2† , Gabriela Hurtado-Alvarado 4† ,

José Luis Maldonado-García 1† , Enrique Becerril-Villanueva 1† , Gilberto Pérez-Sánchez 1†

and Lenin Pavón 1*†

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Produtos de saúde benignos e produtos malignos

No senso comum ocorre uma divisão entre produtos de saúde benignos (medicamentos, suplementos e produtos naturais) e produtos malignos (qualquer coisa que recebe o rótulo de "fazer mal"). A classificação de produtos dessa forma induz a uma quase santificação ingênua dos produtos classificados como benignos e negligência do potencial de risco e de danos de fato e uma atitude de eliminação dos produtos classificados como malignos. A percepção do potencial de risco do efeito cumulativo e atrasado dos produtos de saúde classificados como benignos necessita de uma compreensão maior de seus efeitos. Por isso, o uso racional desses produtos (redução de uso desnecessário ou prejudicial) não é levado adiante. Esses produtos de consumo recebem a aura de salvadores da saúde, dos problemas e desafios. Essa compreensão é estimulada comercialmente, há omissão de informações educativas de efeitos de forma equilibrada e a apresentação dessas informações educativas frequentemente é rechaçada como se fosse equivalente a atacar alguém de prestígio (um salvador, um herói).

terça-feira, 8 de abril de 2025

Coerção manicomial e reforço positivo antimanicomial

Em termos de taxa de reforço, a concepção manicomial e médica de tratamento tem o atrativo de permitir regular o comportamento de acordo com padrões e desejos do meio social utilizando a coerção. Nessa perspectiva o reforço positivo do usuário/paciente é indesejável pois implicaria em possível desadaptação e comportamentos de confronto com a coerção do meio social. A defesa conservadora e normativa de padrões é a prioridade.

Do ponto de vista antimanicomial, o uso de reforço positivo e redução de coerção implica em respeito a liberdade em termos de gostos, emoções, pensamentos e inclinações que poderiam ser diferentes em relação a padrões do meio social. Um desses padrões é o "tratamento adequado" de perspectiva manicomial e médica. A defesa do bem-estar de orientação crítica é priorizada em detrimento da defesa de padrões do meio social.

A taxa de reforço na utilização de cada perspectiva resulta no estabelecimento e manutenção da frequência da prática de saúde mental respectiva.

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Regras de saúde dependem de variáveis

Médicos e influenciadores ensinam regras de saúde supostamente válidas para todos de que de algo seria o "correto". Existe o correto para todos em biologia? Será que uma regra sobre fisiologia não deveria incorporar as variáveis das quais depende? É aproveitável aplicar regras de saúde sem conhecer essas variáveis? Essas regras poderiam ter o efeito contrário ou prejudicar se aplicadas sem se considerar as condições presentes nas variáveis que se busca controlar? A aplicação de uma regra de saúde de certa forma é semelhante a uma replicação experimental em que as condições semelhantes precisam estar presentes para o efeito da variável introduzida ocorrer.

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Inflamação, antipsicóticos e esquizofrenia

Enquantos estudos sem conflitos de interesses mostram que os antipsicóticos aumentam a resposta inflamatória, estudos com conflitos de interesse como esse concluem que antipsicóticos atuam na hipótese inflamatória da esquizofrenia.

Risperidone normalizes increased inflammatory parameters and restores anti-inflammatory pathways in a model of neuroinflammation

Declaração de interesse O Dr. Arango foi consultor ou recebeu honorários da AstraZeneca, Bristol-Myers Squibb, Janssen-Cilag, Lundbeck, Otsuka, Pfizer, Roche, Servier e Schering–Plough.


O Jornal Nacional da Globo tem uma preferência pré-estabelecida (pró-indústria) entre esses posicionamentos.

É apenas um exemplo. É fácil perguntar sobre críticas a essa hipótese numa pesquisa profunda do Grok por exemplo.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

CRM-SC proíbe pedir prontuário em crise

Conselho de medicina proibiu pessoas em "surto" pedirem o prontuário.

https://sistemas.cfm.org.br/normas/visualizar/pareceres/SC/2025/1

Transparência: médicos e empresas de saúde

https://lec.com.br/novas-regras-de-transparencia-dos-relacionamentos-entre-medicos-e-fornecedores-de-produtos-medicos/

A novidade está em que, a partir de março de 2025 (180 dias da publicação da Resolução, que se deu e 02/09/2024), os relacionamentos deverão ser DIVULGADOS EM SITE DA INTERNET DISPONIBILIZADO PELO CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA A QUE O MÉDICO ESTEJA VINCULADO.

Os médicos que já possuem vínculos com empresas de saúde terão um prazo de 60 (sessenta) dias para informar qualquer benefício recebido após a entrada em vigor da resolução.


segunda-feira, 31 de março de 2025

Tratamento contínuo = esperar complicação

O tratamento contínuo (vitalício) com medicamentos em psiquiatria é equivalente na prática a esperar complicações.

Facilitadores de modelo comercial de saúde

A estratégia comercial típica de produtos de saúde tem elementos em comum.
a) o estabelecimento de alto valor reforçador do produto de saúde devido a alta privação ou aversividade de um estado de coisas (operação estabelecedora ou motivacional)
b) a substituição inversa de cuidados custosos e sustentáveis com a saúde em termos de tempo, esforço, dinheiro e aprendizagem por soluções que utilizam probabilidades de comportamentos de baixo custo ou de viabilidade facilitada (custo de comportamento e facilidade de emissão de comportamentos)
c) o uso de autoridades para alegação de segurança e eficácia ou experiências anedóticas e baixa probabilidade de risco de propriedades naturais como estratégia equivalente de alegação de segurança e eficácia (seguimento de regras de pessoas estimadas)
d) o uso de concepções de saúde que prescindem de aprendizagem nova e comportamento ativo (experiências prévias de sucesso com a concepção organicista e bioquímica de saúde)
e) Dificuldade de avaliação de alegações de efeitos dos produtos de saúde e de intervenções substitutivas (baixa disponibilidade de repertório de avaliação de afirmações sobre saúde)
f) Consequências prejudiciais e cumulativas da substituição inversa de medidas de saúde e dos produtos de saúde são atrasadas (baixa discriminabilidade de consequências atrasadas)

sábado, 29 de março de 2025

Danos e mortes dentro do esperado

Os críticos da reforma psiquiátrica que alegam que o movimento é um perigo social tem padrões peculiares de tratamentos de saúde em que danos e mortes relacionados aos tratamentos biológicos e hospitalizações são vistos como dentro do esperado na sua defesa inflexível do próprio modelo científico e social conservador.

quarta-feira, 26 de março de 2025

Polifarmácia: sintoma -> remédio

A polifarmácia acontece pela prática médica habitual de consultas simplificadas em que a identificação de sintomas através de exames ou de entrevista clínica é associada com uma medicação remediativa sem uma avaliação aprofundada de efeitos do resto das prescrições e de variáveis que possam estar afetando a saúde/doença. Realmente tratar as variáveis que afetam a saúde/doença é muito mais complexo e difícil e consultas que realizassem isso seriam caríssimas. A população acredita que a prática médica considera as medicações em conjunto e as variáveis que influenciam a saúde/doença e por isso confia no médico quando sua prescrição e atitudes transmitem o conceito cômodo para ambos os lados da consulta e para a indústria que basta adicionar mais um medicamento e o conceito de que é tudo muito simples.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Dedução de fatos na clínica psiquiátrica

Na clínica psiquiátrica é comum que psiquiatras façam deduções de fatos a partir de seus conceitos com escuta e observação limitadas, sendo um procedimento incoerente com o discurso de área de conhecimento baseada em fatos científicos inegáveis e conhecimento inquestionável. O conceito em filosofia da ciência de impregnação teórica da "observação" no conhecimento científico é coerente com os acontecimentos cotidianos comuns de pensamento conceitual manicomial e biológico aplicado a pessoas que notam que suas experiências foram deslegitimadas e desconsideradas.


sexta-feira, 14 de março de 2025

"Behaviorismo" p/ Juliana Diniz (Folha de SP)

A participação de Juliana Belo Diniz no Ilustríssima Conversa fez algumas caracterizações imprecisas do comportamentalismo. No trecho que menciona modelos animais de dopamina e sua generalização para a clínica reconhece a relevância da dopamina mas o raciocínio de mudança epistemológica para um modelo menos reducionista, social e psicanalítico, o qual é típico da área de saúde mental, tem um tom de redução da importância do biológico e do "behaviorismo". No final da entrevista, segue o mesmo tipo de raciocínio, faz uma caracterização equivocada das terapias cognitivas de terceira onda (as quais só são comportamentais no sentido usado nos Estados Unidos como um termo amplo que inclui terapias cognitivas e as terapias comportamentais) para reduzir a importância e aplicabilidade do conhecimento experimental para a clínica de saúde mental. Não há cisão de aplicabilidade entre conhecimento experimental e clínica de saúde mental pois as áreas conversam, se fomentam e acumulam evidências conjuntamente e progressivamente.

quarta-feira, 12 de março de 2025

Estruturalismo, funcionalismo e tratamentos biológicos

Tratamentos biológicos em saúde mental são uma forma de "forçar" as funções dos comportamentos operantes ou repertório de comportamentos que as pessoas pensam que deveriam ocorrer (regras normativas) de forma estruturalista (funções fixas e iguais para todos). O estruturalismo e as regras normativas estão em contradição com o funcionalismo, o externalismo e a análise funcional sistemática e implica em uma leitura de teoria da degeneração (ou doença mental) para circunstâncias e funções de comportamentos operantes onde as expectativas do estruturalismo se mostram insuficientes. A coerção no cotidiano, equivalente a forçar,  é uma forma complementar dos tratamentos biológicos que inclusive também a utilizam para estabelecimento de "adesão ao tratamento".

terça-feira, 11 de março de 2025

Psicologia "com evidências" e planos de saúde

Preparar pacotes de saúde com número de sessões estipulado para condições de saúde formalizadas em diagnósticos é uma forma de reduzir gastos com sinistralidade dos planos de saúde (uso do seguro) pois o plano limita o pagamento de acordo com a suposta resolutividade dimensionada de pacotes de saúde padronizados. A psicologia baseada em evidências e a psicologia cognitiva participam desse modelo econômico e a validação de procedimentos nessas áreas ocorre dentro desse contexto e objetivo.

sábado, 8 de março de 2025

Neurolépticos e correção fisiológica

No raciocínio médico, o medicamento apenas faz a pessoa ser mais ela mesma porque acreditam que ele restaura o equilíbrio fisiológico. Para justificar isso, é necessária uma hipótese de deficiência. Reconhecer que se trata de uma droga com um efeito no comportamento abriria um caminho de pensamento que faz os antipsicóticos parecerem ruins.

sexta-feira, 7 de março de 2025

Transtornos mentais e crime

Estudos mostram que pessoas com transtornos mentais cometem menos crimes do que as ditas normais

Para o senso comum, pacientes psiquiátricos tendem a ser violentos, mas rótulo é injusto

https://www.uai.com.br/app/noticia/saude/2014/05/15/noticias-saude,192424/estudos-mostram-que-pessoas-com-transtornos-mentais-cometem-menos-crim.shtml


Doença mental não induz as pessoas a cometerem crimes

Pesquisadores dizem que apenas 7,5 por cento dos crimes estudados estavam diretamente relacionados com sintomas de doença mental
https://oglobo.globo.com/brasil/doenca-mental-nao-induz-as-pessoas-cometerem-crimes-12315605



“Os não loucos cometem mais crimes graves que os doentes mentais”


Créditos:
Publicação de "pessoa anônima"

O conformismo e a necessidade de alternativas

Um dos estágios do conformismo é defender que o comum e habitual está correto pela facilidade ou pela implicação de ausência de conhecimento e habilidades. Em um segundo estágio há o contato com demonstrações de que há opções superiores ao comum e habitual e nessa ocasião ocorre a defesa do erro por ser comum e habitual. O conformismo transmite a imagem de que não há responsabilidade na defesa do comum e habitual e que destoar implica em maior responsabilidade. Possivelmente por esses motivos há o medo de destoar do comum e habitual.

quinta-feira, 6 de março de 2025

Conhecimento organizacional e livre conhecimento

Para um conhecimento ser utilizado habitualmente pela sociedade é necessário que seja instituído formal e burocraticamente em organizações profissionais e de conhecimento. Alguns tipos de conhecimento não são facilmente organizáveis dessa forma ou não tem meios sociais de serem instituídos em organizações. É comum pensar que esse outro tipo de conhecimento provavelmente tenha uma validade duvidosa. No entanto, é possível que o conhecimento de qualidade exista sem estarem concentrados em organizações pois o conhecimento é a relação aperfeiçoada com o mundo e para a produção de conhecimento basta a formulação com qualidade da noção de determinantes de eventos, fenômenos e processos assim como a argumentação e o procedimento de qualidade. É possível também que a restrição ao perfil do conhecimento produzido em organizações tradicionais centralizadas e burocráticas tornem subaproveitados os potenciais de outras formas de produção de conhecimento em condições sociais diversas. Para que haja profissionalização e mercado, é comum que somente o conhecimento tradicional seja considerado válido. No entanto, o aperfeiçoamento das relações com o mundo é viável uma vez que haja uma formação de qualidade.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Determinantes orgânicos: organicismo e funcionalismo

Tese medicalizante/internalista/organicista: funções indesejáveis de comportamentos ocorrem se e somente se houver alterações orgânicas ou em formulação alternativa alterações orgânicas são sempre necessárias e suficientes.

Tese funcionalista e externalista: funções indesejáveis de comportamentos são possíveis sem alterações orgânicas significativas ou em formulação alternativa alterações orgânicas significativas nem sempre são necessárias e nem suficientes.


domingo, 16 de fevereiro de 2025

Terapia sem evidências: inversão de conceito

Se inverter o bordão de psicologia baseada em evidências para terapias sem evidências se torna mais claro que ao invés de uma falta de evidências o que está sendo discutido é falta de validação de evidências dentro de uma linha de produção industrial em saúde. Não se descartaria com confiabilidade terapias como sem evidências se essas apenas não são financiadas pela indústria farmacêutica e não estão formalizadas e padronizadas como um produto de saúde economicamente calculado.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Disposição a pagar psicoterapia e PBE

Em economia da saúde alguns resultados indicam que a efetividade de terapias psicológicas costuma ser subestimada. A percepção de baixa efetividade das psicoterapias diminui a disposição de pagar por psicoterapias, equivalendo a menor demanda por serviços de psicoterapia, menor atratividade de oferta do serviço e menores preços de mercado. O slogan "psicologia baseada em evidências" é uma forma esperta de resolver esse problema pois o bordão e o ponto de partida é validação de procedimentos que aumente a disposição a pagar por psicoterapias baseadas em tais procedimentos. A validação é um aspecto importante nas decisões de custeio de produtos e serviços de saúde. No entanto, a discussão sobre o modelo de evidências utilizado é mais mais profunda e mesmo duvidoso quando afirma que o único critério deve ser a pirâmide de evidências a partir do modelo médico e uso de métodos estatísticos. Esse modelo é complexo, manipulável e não deve ser a única palavra na questão de evidências de tratamentos psicológicos.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Eventos adversos dos neurolépticos/antipsicóticos

Apresentação com exemplos de discinesia tardia, distonia e acatisia no canal do Dr. Breggin

https://www.brighteon.com/77200350-075f-4b20-8a11-11e9a182a9ee

Síndrome Maligna Neuroléptica (NMS)


Este é Brian C, ele chegou à UTI com uma temperatura de 107,8 farenheit ou 42,1 celsius... uma das mais altas registradas no hospital para uma pessoa que sobreviveu. Os médicos o diagnosticaram com Síndrome Maligna Neuroléptica (NMS). Este é um vídeo dele depois que ele saiu de uma estadia de 3 semanas na UTI. 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Economia nos EUA na era hippie

Nos anos 60 e 70 nos Estados Unidos, época do movimento hippie ou desbunde, o retorno em termos de renda para educação formal adicional não tinha um diferencial de resultados. Essa tendência econômica de larga escala poderia ser uma parte da explicação pela qual as pessoas não se interessavam pela educação formal e adotaram tais comportamentos.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Modelo de mente e de comportamento

Modelo científico do fenômeno mente

1) Atitudes proposicionais são fundamentais para explicar a aprendizagem, como as pessoas são e agem

2) As leis não materiais da mente, da cognição e do inconsciente são explicações que respeitam a perspectiva de entendimento das pessoas

3) As leis não materiais da mente, da cognição e do inconsciente não são redutíveis ao cérebro ou estão além das leis materiais do cérebro.

4) As leis não materiais da mente, da cognição e do inconsciente são integráveis ao discurso cotidiano e áreas de conhecimento tradicionais.

5) As leis não materiais da mente, da cognição e do inconsciente respeitam o entendimento de agência e de livre-arbítrio das pessoas


Modelo científico do fenômeno comportamento operante

1) A materialidade dos eventos é mais importante para explicar a aprendizagem e probabilidade de comportamentos do que as atitudes proposicionais

2) As leis do comportamento operante respeitam a perspectiva das pessoas mas as insere em princípios explicativos biológicos

3) As leis do comportamento operante são um nível diferente de organização em relação ao cérebro e estão em continuidade explicativa, mas têm abertura grande para a grande relevância dos eventos ambientais na explicação da aprendizagem.

4) As leis do comportamento operante explicam o cotidiano de forma rigorosa e poderosa, traduzindo o conhecimento disponível em eventos e fenômenos tangíveis

5) As leis do comportamento operante são uma mudança revolucionária em relação ao conceito de agência, de iniciativa e de livre-arbítrio mas respeitam o papel ativo dos agentes e sua necessidade de determinação sobre a própria vida.

As cincos proposições de cada modelo são mutuamente contraditórias. No entanto, as leis da mente consideram a materialidade do comportamento e dos eventos dispensáveis, se posicionando pela negação de fatos científicos verificados e replicados e a favor de sua compatibilidade com entendimentos leigos, tradicionais e não científicos. As leis do comportamento operante afirmam a traduzilibilidade dos fenômenos do cotidiano em eventos tangíveis e modificáveis, ampliando o leque de possibilidades contrafactuais da realidade construída pelos conceitos e comportamentos.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Neurolépticos, riscos e tratamentos paliativos

Os riscos de uso em larga escala de neurolépticos/antipsicóticos por um período longo ou vitalício não são levados a sério pois supostamente são absolutamente necessários e insubstituíveis e se ocorrerem distúrbios do movimento a indústria da saúde tem tratamentos paliativos como a estimulação cerebral profunda para distonia (contração intensa e dolorosa dos músculos), tratamento farmacológico para discinesia tardia (movimentos involuntários incontroláveis) e UTI para síndrome neuroléptica maligna.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Economia e medicalização

Um medicamento ou aparelho de saúde com patente em vigor ou exclusividade de mercado é um monopólio de um bem no qual há maior poder de mercado para cobrar preço mais altos e cobrar preços diferentes para segmentos geográficos ou nacionais diferentes conforme a percepção de necessidade ou de alternativas de substituição para o tratamento de saúde (elasticidade menor ou maior) e conforme a capacidade de pagamento. Quando a indústria privada de saúde move seus esforços para convencer que não há possibilidade de substituição para tratamentos biológicos (tratamento farmacológico, internação psiquiátrica, tratamento involuntário, injeções de depósito, eletroconvulsoterapia, psicocirurgia ou estimulação magnética transcraniana), o que está realizando economicamente é reduzindo a elasticidade na percepção dos clientes ou cidadãos (aumentando a percepção da necessidade de consumir um bem). Com menor elasticidade tem maior poder de mercado e maior demanda pelos seus produtos. Com a economia de escala consegue reduzir os custos de produção e os preços enquanto expande os mercados e aumenta o lucro e a quantidade de produtos e firmas na indústria de saúde. Isto significa que a indústria de saúde mental privada manipula com sucesso a percepção das famílias de que não há alternativa possível para os tratamentos biológicos.

sábado, 1 de fevereiro de 2025

SM no Hospital Geral: percepção de risco

Giandinoto, J. A., Stephenson, J., & Edward, K. l. (2018). General hospital health professionals’ attitudes and perceived dangerousness towards patients with comorbid mental and physical health conditions: Systematic review and meta‐analysis. International Journal of Mental Health Nursing, 27(3), 942-955. https://doi.org/10.1111/inm.12433

"A maioria dos profissionais de saúde percebeu os pacientes com transtorno de uso de substâncias como perigosos 0,60 (IC 95%: 0,32–0,88) quando comparados com pacientes que tinham transtorno relacionado ao álcool, esquizofrenia e depressão. Os resultados também indicaram que uma grande proporção da equipe percebeu os pacientes com diagnóstico de esquizofrenia como perigosos 0,42 (IC 95%: 0,33–0,52). Atitudes negativas em relação a pessoas com doenças mentais em ambientes hospitalares gerais podem ser atribuídas à baixa alfabetização em saúde mental, habilidades e exposição limitada, e crenças sociais e culturais sobre doenças mentais. O desenvolvimento profissional contínuo visando o conhecimento em saúde mental é recomendado para profissionais de saúde que trabalham em ambientes hospitalares gerais."

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Oferta de psiquiatria e incidência de esquizofrenia

Duas relações entre oferta de práticas psiquiátricas e incidência de diagnósticos de esquizofrenia.

No primeiro estudo a incidência de dianósticos de esquizofrenia diminuiu e aumentou com o fechamento e reabertura de leitos psiquiátricos, sugerindo que a oferta de leitos psiquiátricos é um determinante na quantidade de diagnósticos de esquizofrenia.

Um estudo da Finlândia encontrou uma diminuição na incidência de esquizofrenia após uma diminuição de leitos psiquiátricos (22).

Salokangas RK, Helminen M, Koivisto AM et al. Incidence of hospitalised schizophrenia in Finland since 1980: decreasing and increasing again. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol 2011;46:343–350.

No segundo estudo, como mostra o gráfico há um aumento de diagnósticos precoces (de 13 a 18 anos) de esquizofrenia nas décadas mais recentes, sugerindo que o interesse maior da prática psiquiátrica no desenvolvimento de crianças e adolescentes com a oferta da prática de diagnóstico e prescrição é um determinante no aumento de incidência de diagnósticos de esquizofrenia.



Okkels, N., Vernal, D.L., Jensen, S.O.W., McGrath, J.J. and Nielsen, R.E. (2013), Changes in the diagnosed incidence of early onset schizophrenia over four decades. Acta Psychiatrica Scandinavica, 127: 62-68. https://doi.org/10.1111/j.1600-0447.2012.01913.x

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Práticas baseadas em evidências e a tradição

A medicina baseada em evidências e as práticas baseadas em evidências tem desafios sociais maiores do que apenas a condução metodológica de pesquisas de qualidade. Há um certo estranhamento de práticas que fazem afirmações não convencionais e não tradicionais. Uma evidência diferente sobre uma prática de saúde não é aplicável de forma individualista (separada do meio social) pois tem implicações sobre o funcionamento de sistemas sociais de pesquisas, de saúde e outros âmbitos sociais relacionados. Por isso, as práticas baseadas em evidências com qualidade são um nicho com uma seletividade no público-alvo atingido.

Manicomialidade (Definição autoral)

Manicomialidade são as circunstâncias sociais prejudiciais, hostis e difíceis de resolver dentro de relações de poder desequilibradas nos diversos âmbitos da sociedade (jurídico, econômico, social, sistema de saúde, etc).

domingo, 19 de janeiro de 2025

Implicações do Modelo biomédico e Análise do Comportamento

O modelo médico e a análise experimental do comportamento tem dois resultados finais diferentes em termos de explicação da estabilidade em saúde mental. Ambos os modelos tem implicações diferentes sobre possibilidades e impossibilidades de tratamento terapêutico em saúde mental.

24. A medicação contínua é o que está mantendo a estabilidade. MED (PREM)

25. A aprendizagem operante é o que está mantendo a "estabilidade" de comportamento esperado. AEC (PREM)

Como são utilizados na prática e em toda sua extensão como casos limite, cada modelo tem implicações diferentes sobre a dispensabilidade de intervenções a partir do modelo científico oposto.

Dispensabilidade mútua:

24 supõe que há um vazio de planejamento operante em termos de manutenção de contingências de reforçamento e de comportamento esperado (dispensabilidade do comportamento operante)

25 supõe que a medicação é dispensável em condições de bom controle de contingências de reforçamento (dispensabilidade de droga psiquiátrica)

Avaliação de inconsistências das proposições de dispensabilidade mútua

A afirmação costumeira de compatibilidade teórica entre terapia comportamental e tratamento contínuo com medicação psiquiátrica não testa os modelos em seus limites e extensão completa. A compatibilidade entre as duas práticas assimila a terapia comportamental dentro do modelo biomédico enquanto que a proposta de assimilação inversa do uso de drogas psiquiátricas pelo modelo científico da análise experimental do comportamento seria uma inversão de hierarquia teórica baseada no absurdo da dispensabilidade do comportamento operante e a explicação das alterações farmacológicas dentro do comportamento operante (farmacologia comportamental e biocomportamental).

Preferência epistêmica: dispensabilidade do comportamento operante é mais improvável que dispensabilidade de droga psiquiátrica pois a última é mais assimilável pela primeira sem implicação de negação da extensão de fatos científicos.

Logo, a afirmação 25 é mais retratável. A inconsistência entre as afirmações de dispensabilidade é resolvida. Infelizmente, o que aumenta as probabilidades de insucesso terapêutico em larga escala, as pessoas que acreditam nas explicações cerebrais como fundamentais e centrais, adotam na prática a dispensabilidade das considerações sobre planejamento e manutenção de contingências de reforçamento e comportamentos operantes ou a subutilização da extensão da aplicabilidade do modelo científico análise experimental do comportamento. No entanto, a questão dos tratamentos a serem utilizados é mais política, social e econômica do que científica.

Referências

Atocha Aliseda, Laura Leonides, Hypotheses testing in adaptive logics: an application to medical diagnosis, Logic Journal of the IGPL, Volume 21, Issue 6, December 2013, Pages 915–930, https://doi.org/10.1093/jigpal/jzt005

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Medicalização como preconceito

O raciocínio da medicalização tem semelhanças com o raciocínio do preconceito no sentido de negação da atitude antropológica (etnocentrismo). Nesse sentido, é uma forma de defesa contra a diversidade de padrões. Não me refiro apenas às categorias tradicionais de preconceito mas ao processo geral de preconceito.

sábado, 11 de janeiro de 2025

Medicalização, neurociência e valores sociais

Muitos acontecimentos e comportamentos que não ocorrem dentro de certos padrões e expectativas geram um sentimento de requisição de explicação.  A requisição de explicação necessita de um modelo explicativo. Os principais modelos explicativos que retiram a perplexidade sobre o comportamento são as neurociências e a psiquiatria. Esses modelos suprem uma expectativa de vincular um modelo conceitual a ações práticas simples e acessíveis que se propõem e se vendem como soluções possíveis embora imperfeitas. Essa vinculação com a prática é um fator motivador importante para sua popularidade e relevância social e econômica. O controle do comportamento e da fisiologia do comportamento através de linguagem pragmática e física, e de intervenções biológicas, promete impacto na resolução de problemas, realização de sonhos e desejos. No entanto, o apelo da ciência que se vende como canônica tem suas características de limitações institucionais e econômicas para produção de ciência e de mercados. Essas áreas tem aspectos sociais, culturais e político-ideológicos que são tomados como realidades dadas e necessárias oriundas da biologia. A análise da constituição da ciência por diversos valores sociais, políticos, cognitivos e econômicos que contribuem para uma rede de compromissos aumenta a clareza sobre possibilidades sociais e de produção científica diferentes.

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Fundamentos técnicos e função do conhecimento

A abertura ou fechamento para utilização de tipos de conhecimento sobre saúde mental de pessoas relacionadas com um caso de tratamento estão relacionados com a função que o conhecimento e as intervenções adquirem nas circunstâncias. No entanto, as alegações e discussões geralmente são sobre os fundamentos técnicos dos conhecimentos e intervenções. Para observar a função do conhecimento é útil observar como se constroem vidas a partir de determinado tipo de conhecimento. A função que o conhecimento e as intervenções adquirem é relevante até o ponto de que a discussão sobre fundamentos técnicos se torna secundária nas discussões sobre tratamentos de casos de saúde mental pelas pessoas relacionadas, inclusive profissionais.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Biologia, sociedade e ideologia

Imagine duas sociedades em que uma privilegia o certinho ou fechado com o sucesso e outra que privilegia o malandro e o aberto com o sucesso. Essas características seriam semelhantes a nichos sociais de obtenção de recursos. Os valores sociais sobre o que é produtivo nessas sociedades ou nichos são opostos. Numa sociedade um tipo faz sucesso e o outro tipo fracassa, inclusive econômicamente. Qual dos dois tipos tem características biológicas superiores? Isso seria relativo ao sucesso ou fracasso em cada tipo de sociedade com seus valores sociais. A partir disso, talvez fique mais claro o entendimento de que áreas biológicas sobre saúde mental pelo menos não são separáveis de fatores sociais como se fossem biologia pura. Fica mais claro também que aspectos biológicos e sociais tem interrelação mútua em suas consequências. Por isso, uma área de conhecimento que se diz pura está sendo ideológica de forma não transparente e sub-reptícia.

domingo, 5 de janeiro de 2025

A imagem de confiança de Jordan Peterson

Utilizar a postura de confiança como diz Jordan Peterson ou é uma simulação de disponibilidade de repertório sem condições de sustentação social, ou uma atuação de imagem de sucesso para pessoas que já tem capacidade de sustentação dessa imagem. Nas duas situações a imagem é secundária em relação ao desenvolvimento de repertório assertivo e de repertório necessário para as próprias atividades. O comportamento de cuidar da imagem é fortalecedor de classes de comportamento que são probabilisticamente produtivas. Mais uma vez a imagem é secundária em relação ao fortalecimento de classes de comportamento produtivas através de suas instâncias. A utilização de exemplos ilustrativos para mudança de comportamento permite entender processos psicológicos de forma acessível. Mas uma descrição conceitual tem maior grau de clareza e aplicabilidade na síntese de novas relações comportamentais. Os temas são interessantes para o público geral sem muitos desafios psicológicos mas duvido que sejam promotores de aprendizagem operante significativa. Qualquer conteúdo exposto em grande escala interage de diversas formas com os repertórios das pessoas e que ajudem uma proporção delas significa que há um aproveitamento de repertório anteriormente disponível. Algumas pessoas, talvez muitas, precisam de aprendizagem feita de forma profunda. Infelizmente a influência social para esse tipo de trabalho é baixa e um dos maiores méritos que Jordan Peterson tem é sua influência social atribuída.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

Transtornos, felicidade e a aprendizagem operante (estudos)

Um artigo da Nature demonstrou que os transtornos mentais se estabelecem no início da vida durante a janela de desenvolvimento do cérebro. Apesar do fato orgânico, o aspecto de condições ambientais de desenvolvimento de repertório operante também é relevante pois também é nesse período que se estabelecem desafios variáveis, repertórios e lacunas de aprendizagem. É uma explicação alternativa para o pensamento organicista, permitindo opções de fazer algo a respeito. Outro estudo longitudinal diz que as pessoas mais felizes são abertas à mudança (não resistentes). Esse resultado não é facilmente alcançável apenas com a cognição de ter que ser aberto à mudança pois ser aberto à mudança significa ter desenvolvido repertório de aprendizagem operante em condições ambientais boas e fortuitas de desenvolvimento de novo repertório. Esses dois estudos tem como fenômeno subjacente os fenômenos da aprendizagem operante.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

A PBE e o ensino de ciência

A Psicologia Baseada em Evidências não quer fazer educação científica democrática como alega. A Psicologia Baseada em Evidências tem o objetivo de definir uma forma de fazer ciência particular em contraposição com áreas de baixo rigor científico. Essa contraposição é geralmente assimétrica em termos de qualidade de formação científica. No entanto, isso é análogo à indústria de produtos de saúde incutir naturezas causais de desafios de saúde que contribuam para promover uma indústria particular. A democratização da educação científica vai além dessa estratégia. A educação científica de qualidade não obtém a mesma popularidade e interesse comercial que a Psicologia Baseada em Evidências. Por isso, não é desejável se restringir a essas definições de métodos de fazer ciência que visam se eleger como padrão hegemônico ou canônico.

Intervenções genéricas e variáveis dependentes

Há um estilo de pensamento no senso comum que, para controlar o organismo e o comportamento, parte sempre da suposição de que a resposta do organismo está errada (variável dependente) e recorre a intervenções genéricas padrão para alterar a resposta de interesse de controle pela suposta generalidade de causa e efeito que essas teriam. Essa forma de pensar deixa de considerar as variáveis independentes atuando sobre o organismo com as quais geralmente não se produz conteúdo sobre intervenções genéricas e produtos de efeitos maravilhosos.

sábado, 14 de dezembro de 2024

Controle experimental é maior que metanálise

Está circulando um documento e postagem sobre um estudo do Hospital Sírio Libanês afirmando que a análise do comportamento aplicada tem grau baixo de evidência. Chama a atenção que o estudo não menciona os seus autores. Quem gostou do resultado tem uma lacuna na formação científica. Controle experimental de um fenômeno é evidência muito mais inequívoca do que uma metanálise com uso de estatística. Quem já viu funcionar não se deixa levar por estudos com motivações não declaradas. A questão da diferença de métodos de fazer ciência entre medicina e análise experimental do comportamento deixa espaço para confusões como esta.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Psicofármacos: seguros ou roleta russa?

Psicofármacos são considerados seguros pela percepção originada do hábito de uso amplo pela sociedade. No entanto, o risco sutil e atrasado não é perceptível a olho nu e precisa de métodos científicos para avaliação. Por isso, esses riscos sutis e atrasados são ocultáveis por razões mercadológicas de aumento de potencial comercial dos fármacos. O risco de reações adversas graves geralmente não são mencionados pelos médicos nem ao introduzir e nem na fase de manutenção de tratamento contínuo. Há uma preferência emocional dos profissionais da medicina de se perceberem como apenas grandes benfeitores e uma rejeição emocional de considerar riscos iatrogênicos dos tratamentos. Logo, a percepção de segurança do consumo de psicofármacos é mantida em parte pelas razões acima e em parte porque a grande maioria das pessoas só aprendem ou levam a sério os riscos quando a roleta russa leva a consequências negativas impactantes ou trágicas.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Discriminação de efeitos de injeções depot

Comprimidos tem grau de discriminabilidade de efeitos maior já que a percepção de introdução e de efeito ocorre rapidamente e diariamente. Injeções de depósito, principalmente as mais prolongadas, tem grau de discriminabilidade menor de efeitos já que as variações da curva de dosagem ao longo de 1 mês, 3 meses e 6 meses são mais facilmente confundidas como cognições sobre efeitos de condições de vida. Isso tem implicações para adesão de tratamento farmacológico que estão além da praticidade de administração.

Para aumentar a discriminação dos efeitos das injeções de depósito é possível mensurar o nível basal de variabilidade da frequência cardíaca todo dia pela manhã após acordar, ir no banheiro e esperar alguns minutos para passar o efeito de exercício de ter ido ao banheiro. O aplicativo HRV4Training tem um preço acessível e utiliza a câmera do celular e o dedo como sensor. O aplicativo tem uma seção de análise de gráficos e tags. Sabendo o valor basal de VFC/HRV no início do dia a discriminação dos efeitos das injeções de depósito é facilitada.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

A crítica ao controle na reforma psiquiátrica

A mentalidade das pessoas identificadas com a reforma psiquiátrica tem inspiração nas filosofias da liberdade contra formas de opressão e coerção. Apesar de isso ser útil para promoção de práticas benéficas em saúde e na relação de grupos vulneráveis com a sociedade, o centro do discurso é a negação de determinantes sobre o comportamento os quais são vistos como maquiavelismo localizado de alguns grupos sociais, teorias, categorias profissionais e sociais, e pessoas interessadas em ganhos financeiros e políticos (poder). Uma alternativa conceitualmente mais sólida e mais útil para efetivação de práticas substitutivas seria o reconhecimento da onipresença dos determinantes sobre o comportamento.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

A redução da coerção e o conceito de controle

A prática de coerção é facilmente perceptível, causando impressão óbvia, como um controle indesejável. A coerção é a forma mais rudimentar de controle no sentido técnico em ciência de produção de um fenômeno. A coerção também é duvidosa do ponto de vista ético. Para que a prática de coerção seja reduzida ou extinta, é necessário pensar na produção de aprendizagem como controle rigoroso de variáveis no sentido de classe ampla que inclui diversos fenômenos de aprendizagem de comportamento operante. A proibição da coerção contribui para a exigência de aprendizagem, mas exigência de aprendizagem não é suficiente para promover aprendizagem efetiva.

terça-feira, 26 de novembro de 2024

A omissão de tratamentos substitutivos

A psiquiatria tradicional que acusa a reforma psiquiátrica de omissão de socorro por não defender o financiamento público de hospitais psiquiátricos e ambulatórios tem sua versão de omissão de socorro que consiste em omitir qualquer tratamento substitutivo e não farmacológico que vá além de internação psiquiátrica, medicação, psicocirurgia e eletroconvulsoterapia. Uma vez que esses recursos sejam insuficientes para resolutividade de uma circunstância difícil (Def.: insuficiente aprendizagem) há uma omissão de menção a tratamentos com lógicas não reducionistas e um discurso de que a "doença mental complicada é responsabilidade deles", o que possivelmente é um discurso político pela volta da internação asilar.

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Cuidados, a gratidão e as patologias

O conceito social de cuidado tem dois elementos básicos: a gratidão como consequência natural e a gratidão como dívida. Os elementos de gratidão a cuidados como consequência natural e como dívida são entendidos como um sinal de capacidade cognitiva intacta. Esse conceito tem também dois outros elementos de utilização implícitos: uma atribuição de relação funcional e uma atribuição de relação disfuncional. A generalidade e a validade do conceito são protegidas pela atribuição de relação disfuncional para circunstâncias onde as relações funcionais de consequência natural e de dívida não ocorrem. Esse conceito de cuidado induz a desconsideração de condições de cuidados como determinantes ambientais que podem gerar complicações comportamentais. A análise funcional sistemática de comportamentos, que atribuem ordem e funcionalidade a todos os comportamentos como uma questão a ser resolvida através de previsão e controle, é uma alternativa com generalidade, validade e maior capacidade explicativa.

O falso diagnóstico das intolerâncias alimentares

https://www.zonediet.com.br/o-falso-diagnostico-das-intolerancias-alimentares/

Conflito com a generalidade do comportamento operante

Há um conflito em termos de formação de conceito entre a generalidade dos princípios da análise experimental do comportamento e tipos específicos de condições biológicas e fisiológicas subjacentes que causariam comportamentos com um funcionamento próprio particular para cada classificação diagnóstica, sem generalidade, sem ordem, sem previsibilidade e sem controlabilidade além dos tratamentos biológicos.

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

O significado de controle no senso comum

O significado de controle no senso comum é impor regras do que fazer ou não fazer atreladas a consequências de descumprimento. A reforma psiquiátrica brasileira se refere a tal forma de comportamento presente na psiquiatria e na saúde mental de forma crítica como se a natureza ou origem dessa prática fosse o comportamentalismo. Certamente a forma implícita de descrição é compreensível a partir do comportamentalismo. No entanto, enquanto essa é uma forma precária de influência sobre comportamentos feita por pessoas leigas em princípios comportamentalistas, uma proposta comportamentalista não tem o mesmo entendimento fragmentado, pejorativo e atrapalhado do conceito de controle, propondo alternativas sofisticadas de promoção de aprendizagens no interesse do desenvolvimento da pessoa sob intervenção as quais após as intervenções não são mais necessárias pois são mantidas pela experiência de benefício no contato com o ambiente biológico e social produzidos pelo repertório comportamental da pessoa.

sábado, 16 de novembro de 2024

Os filtros nos sistemas privado e público de saúde mental

Os sistemas privado e público de saúde mental tem filtros diferentes de pacientes/usuários os quais são capazes de acolher. O sistema privado tem o filtro de capacidade ou desejo de pagamento. Segundo o pensamento do sistema público de saúde o critério de capacidade de pagamento é uma restrição da cidadania (acesso a direitos sociais) e do acesso a tratamentos de saúde (direito à saúde). Sob o ponto de vista do capitalismo ou mercado livre, a condição de capacidade ou desejo de pagamento é uma forma de acesso sem quaisquer tipo de distinções e discriminações além da econômica. Apesar disso, o sistema público também tem filtros. Os centros de atenção psicossocial adotam a prática de exigência de adesão ao tratamento farmacológico, obediência e cordialidade com os funcionários públicos, desejo de acessar um serviço de público popular, sem os quais os funcionários públicos de saúde mental concluem sobre a impossibilidade de tratamento e decidem pela alta administrativa. A capacidade ou desejo de pagamento também tem seus problemas pois os médicos respondem às necessidades de famílias que nem sempre são saudáveis para dizer em linguagem de eufemismo.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Liberdade, determinantes e reforma psiquiátrica

A questão da dificuldade de apoio público aos equipamentos de álcool e drogas da reforma psiquiátrica está relacionado com a simplicidade que envolve o modelo de coerção manicomial, a percepção de que louco e drogado não tem real liberdade ou capacidade de liberdade e a ausência de uma resposta na reforma psiquiátrica dentro de uma base naturalista de explicação dos comportamentos. Intuitivamente, a grande maioria das pessoas entende que a noção de determinantes, mesmo que de forma paternalista, do comportamento tem validade maior do que a liberdade para pessoas em situação precária ou a todo custo. A direita e o modelo manicomial obtém influência política porque esse reconhecimento dos determinantes, apesar de serem modelos precários de influência sobre o comportamento, obtém ganhos segundo a sociedade ou evita riscos percebidos pela sociedade. Se as leis sociais e biológicas conservadoras não forem substituídas por propostas de maior qualidade e sofisticação de forma que inclua a diversidade de valores e preocupações sociais a reforma psiquiátrica dificilmente vai obter apoio além dos gabinetes políticos e de gestão da saúde.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Limitações da psicoterapia por IA

A terapia rotinizada em protocolos formais de propensões a erros cognitivos, como proposta pela terapia cognitiva e seus materiais de autoajuda, é potencialmente automatizável por inteligência artificial. No entanto, uma terapia baseada em biologia do comportamento e do cérebro, descrições complementares de níveis diferentes do fenômeno de aprendizagem, supera as limitações dos padrões de racionalidade matemáticos e formais. Uma terapia baseada em biologia da aprendizagem em interação com o mundo e o próprio organismo postula que é uma necessidade fundamental observar emoções e comportamentos concretos para ser capaz de perceber de forma individualizada as dinâmicas circunstanciais em sua relação com os fenômenos de aprendizagem e do cérebro. Além disso, as descrições de experiências concretas em contextos sociais e culturais, outra base fundamental para a psicoterapia, são realizáveis apenas por pessoas com inteligência natural, observação concreta e formação em ciências humanas e sociais. Por isso, o essencial em terapias com fundamento em aprendizagem biológica e social não é atingido por modelos de psicoterapia por inteligência artificial. Qual a sua opinião sobre recorrer a esse método? O sentimento de que isso seja deprimente, compreensível a partir desse texto, é sinal da falta da consideração necessária da biologia e a experiência de interação com sistema sociais.

Antropologia e ciências psi

Nessa apresentação sobre a obra do antropólogo Gilberto Velho há a menção a descrições antrpológicas de sistemas sociais acusatórios de desvio e divergência presentes na obra do autor. O autor também foi iniciador de leituras antropológicas em interação com as ciências psi. Além de Gilberto Velho, os principais autores são RUSSO, J. A.; DUARTE, Luiz Fernando Dias; VENÂNCIO, Ana Teresa.

A PSICANÁLISE CONTRA A PAREDE: ENTREVISTA COM GILBERTO VELHO

RUSSO, Jane A. (1999), “Uma leitura antropológica do mundo psi”, in Ana Maria Jacó Vilela, Fabio Jabur e Heliana C. Rodrigues (orgs.), Clio-psyché: histórias da psicologia no Brasil, Rio de Janeiro, Editora da Uerj.

Apresentação de Gilberto Velho - Canal Saúde

Documentário: Utopia Urbana: o arquivo de Gilberto Velho

domingo, 3 de novembro de 2024

Noções intuitivas de reforço e comportamento

Há no senso comum entendimentos intuitivos do que sejam a definição de comportamento e de reforço. As noções formadas são que topografia equivale a comportamento operante e que reforço artificial equivale a reforço positivo. Como tais noções são imprecisas, outras formas de intervenção sobre o comportamento são utilizadas no repertório comportamental como complementos adicionais para obtenção de influência sobre a frequência de comportamentos.

Bem-estar corporal e cuidados com químicos

É possível aperfeiçoar a sensação de bem-estar ou prazer corporal com alguns cuidados com elementos químicos em produtos para cuidado pessoal, aditivos alimentares, utensílios de cozinha, etc. Estamos como sociedade banhados em um coquetel tóxico como afirma um livro com esse título. Utilizando alguns métodos como leitura de base teórica, o aplicativo Desrotulando e Ingred em conjunto para descontinuar o uso de elementos químicos agressivos com disruptores endócrinos, imunotoxicidade e alguns casos produtos cancerígenos o efeito possível é que as relações corporais e físicas com o mundo sejam mais satisfatórias à medida que os efeitos sejam acumulados na saúde física. Existem produtos alimentares e de cuidados pessoais que imaginamos serem inofensivos mas que numa avaliação mais cuidadosa se mostram agressivos. Tais efeitos são testáveis e demonstráveis e sua discriminabilidade depende de um acúmulo de efeitos de variáveis somados em um período de tempo necessário para recuperação do corpo.

Esse efeito é mensurável como um aumento na variável RMSSD da variabilidade da frequência cardíaca. A variabilidade da frequência cardíaca (VFC) é um indicador de saúde física e mental que é sensível por exemplo a alterações de inflamação, equilíbrio hormonal e estresse. 

Obs.: Fazer alegações de efeitos não é confortável. Apesar de envolverem possíveis riscos às finanças pessoais, como os cuidados envolvem redução de riscos à saúde não vejo porque omitir informações.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Implicações do termo 'surto'

O termo 'surto' tem significados e implicações de discurso manicomial sobre risco de crises, incontrolabilidade, patologia interna, a internação ser imprescindível e insubstituível, impossibilidade de tratamento alternativo substituto e necessidade de hospitais ou outros locais fechados.

sábado, 26 de outubro de 2024

Reconhecimento de efeitos colaterais

A pessoa sem conhecimento do significado dos termos utilizados nas bulas não tem boas condições de reconhecimento de efeitos colaterais. Além disso, existem efeitos que são descritos apenas em artigos científicos e em sites de relatos anedóticos frequentes de pacientes como o https://rxisk.org

Para melhorar as condições de reconhecimento de efeitos colaterais é preciso pesquisar uma descrição e uma representação física de todos os termos utilizados nas bulas. Também é desejável utilizar inteligência artificial para fazer diagnóstico diferencial de sintomas que nos parecem claramente mas enganosamente explicados por outras causas e também que parecem características da pessoa.

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Ingredientes em cosméticos e aditivos alimentares (App)

O aplicativo Ingred lê o rótulo de cosméticos e alimentos, identifica ingredientes prejudiciais e descreve os efeitos. Um dos tipos de ingredientes são os químicos disruptores endócrinos que a autora de Coquetel Tóxico (Toxic cocktail, ed. Oxford) descreve em seu livro. Segundo a autora esses compostos químicos prejudicam o Quociente intelectual desde o útero até crianças com idades maiores, assim como prejudicam o sistema endócrino e a tireóide de adultos.

domingo, 20 de outubro de 2024

Riscos de mercado de tratamentos substitutos

Existe uma seção Riscos de tratamentos substitutos nos relatórios de empresas de estimativa de valor de mercado e acompanhamento de resultados financeiros da indústria farmacêutica. Enquanto isso os familiares não suportam a ideia e a sociedade não assimila.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Formação não assumida de conceitos

Fazer afirmações a partir de exemplos e regras pragmáticas (práticas) de ação é mau uso da linguagem pois as oculta, as apresenta em formato fragmentado, não assume e não se compromete com as afirmações. A formação de conceitos, do ponto de vista biológico e não necessariamente verbal, consiste no agrupamento de características (propriedades) de eventos a partir de ocorrências. Formar conceitos tem decorrências para o emprego de repertório comportamental diferente conforme semelhanças e diferenças percebidas conceitualmente. A formação de conceitos estáveis e sem exceções em relação às suas consequências ocorre através de múltiplos exemplares e variações de propriedades que não pertencem ao conceito.

Condicionais lógicos e cuidados psiquiátricos

Muito das crenças sobre cuidados psiquiátricos adequados na sociedade e pelos profissionais está baseado em condicionais lógicos materiais no formato "se... então..." e portanto consistem em generalizações teóricas do ponto de vista lógico. Os psiquiatras gostam de afirmar que se baseiam em fatos e dados comprovados. Na verdade estão se baseando condicionais lógicos, que não são afirmações sobre fatos do mundo, mas predições teóricas ou baseadas em exemplos de acontecimentos passados. O mesmo acontece com os familiares preocupados e sociedade. Uma das consequências disso é que afirmações condicionais permitem refutação e contrafactualidade.

segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Tireóide e poluição química

Como a produção de hormônio da tireóide tem um mecanismo complexo, existem várias formas de afetar o mecanismo em diferentes etapas. Um dos porquês é que os halogênios são muitos úteis para a indústria química por serem reativos para produzir muitos compostos químicos em grande volume. Esse tipo de molécula tem estrutura semelhante à estrutura dos hormônios da tireóide e por isso é plausível que muitos produtos químicos se liguem facilmente ao mecanismo biológico complexo (e portanto sensível) e atuam como desreguladores endócrinos dos hormônios da tireóide. Como a lista é enorme não é possível exaurir o tema num livro e a autora apenas cita classes de tipos de produtos químicos que tem maior produção na indústria química e evidências disponíveis.

Fonte: Barbara Demeneix. Toxic cocktail: how chemical pollution is poisoning our brains. Oxford University Press (2017)

Atribuições genéticas e relações fortes de determinação

Formulações de explicações genéticas para manifestações comportamentais se originam de relações fortes de determinações comportamentais, comportamentos os quais não se sabe modificar de forma simples e trivial.

quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Variáveis nominais na medicina e tratamentos

Utilizar nomes ou variáveis nominais de diagnósticos para definir tratamentos padrão para grupos na medicina é bastante impreciso e foge ao raciocínio experimental de intervenções em termos de variáveis bem identificadas e definidas. Os nomes de diagnósticos num raciocínio experimental devem ser substituídos por respostas fisiológicas e orgânicas isoladas sob efeito de variáveis independentes ou causais.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Atitude acadêmica: alternativa

A atitude acadêmica da pessoa inserida com sucesso na universidade é ter familiaridade inicial com os temas e objetos de estudo, ter contato limitado com os dados sociais e diferentes perspectivas teóricas alternativas, prezando pelo ambiente formal alheio ao mundo social, construindo conhecimento programático e disciplinar a partir de métodos já estabelecidos como tradicionais, a desvalorização da integração artesanal de conceitos e dados, utilizando-se de uma perspectiva teórica isolada e sem inclusividade e equitatividade de valores sociais e cognitivos alternativos, sem distanciamento crítico da constituição do campo científico como impregnado de valores sociais e econômicos, inserção nas redes sociotécnicas de suporte de forma comprometida com seus interesses, manutenção de discurso padronizado de grupo frente as limitações da própria área e de críticas baseadas em interesse de grupo em relação a áreas concorrentes.

segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Iluminismo e psiquiatria

A psiquiatria biológica e tradicional tem um discurso iluminista de se opor ao popular, ao mágico, à superstição, ao social, ao cultural, às tradições e às perspectivas não rigorosas e não teóricas. No entanto, existem teorias e dados sistemáticos tanto em antropologia e ciências humanas como em biologia que não são tão desqualificantes da experiência cotidiana não refinada.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Tradição, conformidade, neutralidade e estabilidade

Tradição e conformidade são formas de aparentar neutralidade. Humor, comportamento, identidade e pensamento neutro são formas de aparentar naturalidade em relação ao modo como as coisas são. Logo, a estabilidade como critério de saúde mental implica em "não posicionamento", não intensidade, ou na verdade formas de adequar-se aparentando naturalidade.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Grupos / associações de pacientes

Grupos de Pacientes  

Este artigo faz parte do foco do Centro de Mídia e Democracia sobre grupos de fachada e manipulação corporativa.

Grupos de Pacientes, ou grupos de defesa de pacientes, são organizações que afirmam representar os interesses de pacientes que sofrem de várias doenças físicas e mentais. Muitos são financiados, e em alguns casos, geridos por empresas farmacêuticas que vendem tratamentos para as respectivas doenças.

"A Associação Americana de Diabetes, um dos principais grupos de saúde de pacientes, recrutou em particular um executivo da Eli Lilly & Co. para definir sua estratégia de crescimento e criar seu slogan. A Aliança Nacional sobre Doenças Mentais, um defensor vocal dos pacientes, faz lobby por programas de tratamento que também beneficiam seus doadores da indústria farmacêutica. ... Embora os pacientes raramente saibam disso, muitos grupos de pacientes e empresas farmacêuticas mantêm relacionamentos próximos de milhões de dólares, divulgando poucos ou nenhum detalhe sobre esses laços," relata Thomas Ginsberg, do Philadelphia Inquirer. [1]

Em alguns casos, empresas "emprestaram" os serviços de seus executivos para aconselhar ou até mesmo liderar grupos de pacientes. A investigação de Ginsberg descobriu que "os grupos raramente divulgam tais laços ao comentar ou fazer lobby sobre os medicamentos dos doadores. Eles também tendem a ser mais lentos em publicizar problemas de tratamento do que avanços. E poucos questionam abertamente os preços dos medicamentos." [2]

Características dos grupos de fachada de defesa de pacientes  

Grupos de defesa de pacientes que servem como fachada para empresas farmacêuticas podem exibir algumas ou todas as seguintes características.

Eles podem:

- Derivar a maior parte, se não toda, sua receita de fabricantes farmacêuticos;

- Fazer lobby por programas de tratamento que também beneficiem seus doadores da indústria farmacêutica;

- Ser mais lentos em publicizar problemas de tratamento do que avanços;

- Tendem a não questionar abertamente os preços dos medicamentos;

- Incentivar os pacientes a continuarem seus medicamentos e oferecer programas para ajudar os pacientes a manterem-se em seus tratamentos, e pressionar as seguradoras a pagarem por isso;

- O financiamento das empresas farmacêuticas para a organização geralmente vem das divisões de marketing ou vendas das empresas, não dos escritórios de caridade;

- Não discutir adequadamente, ou minimizar a discussão de efeitos colaterais adversos de medicamentos, como danos cerebrais ou suicídio;

- Não fazer lobby por mais ou pesquisas adicionais de segurança devido ao potencial de corte do financiamento pelas farmacêuticas [1];

- Focar em medicamentos como o tratamento preferido e negligenciar questões como moradia e apoio financeiro, treinamento vocacional, reabilitação e empoderamento, todos os quais podem desempenhar um papel na recuperação de doenças mentais. [2]

Grupos de defesa de pacientes verdadeiramente independentes são provavelmente controlados por voluntários que realmente tomam medicamentos para saúde mental. Grupos de defesa de pacientes verdadeiramente de base são propensos a ter "barreiras" contra a influência de doadores, como políticas contra aceitar financiamento de empresas farmacêuticas.

https://www.sourcewatch.org/index.php?title=Patient_Groups

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

A função comercial do discurso genético

Em termos de função, o discurso sobre genética tem função de justificação comercial de produtos e tratamentos médicos. A genética é uma área sofisticada com muito investimento por ser viável construir grandes indústrias a partir de intervenções biológicas derivadas de seu conhecimento. Ao lado disso, há uma compreensão teórica que enfatiza a prioridade do papel dos genes no adoecimento e minimiza o papel do ambiente. A pesquisa biológica em genética é bastante viável já que há um fenômeno manipulável, especificável e definível. A pesquisa rigorosa em fatores ambientais não têm o mesmo incentivo de construir grandes indústrias, não na mesma proporção das indústrias de base biomédica, para se estabelecer como área sofisticada. A pesquisa biomédica é bastante compatível com lógica de mercado em escala. As intervenções com base ambiental não são simples, envolvem aprender comportamentos e lidar com fenômenos distribuídos, multifatoriais e em interação dinâmica.

Estratégias básicas de normalidade

As estratégias básicas e simples de ajuste de normalidade ou de "senso das coisas" são:

1) Imitar o que a maioria das pessoas fazem

2) Confiar no que é dito sem necessidade de reflexão

3) Proteger-se repetindo o que todos dizem

4) Fuga-Esquiva de agir diferente de padrões hegemônicos

5) Evitar lidar com questões complexas e sistêmicas

6) Seguir tradições e conformar-se

7) Rejeitar inovações

8) Utilizar-se de formas de poder ao próprio alcance

A mudança dessas estratégias para estratégias mais refinadas envolve uma curva de aprendizagem desafiadora.


terça-feira, 3 de setembro de 2024

Concepções de desenvolvimento

https://pedagogiaaopedaletra.com/a-abordagem-inatista-maturacionista/ 
A Abordagem Inatista Maturacionista 

A abordagem inatista-maturacionista parte do princípio de que fatores hereditários ou de maturação são mais importantes para o desenvolvimento da criança. Hereditariedade refere-se à herança genética que a criança recebe de seus pais. Maturação refere-se a um padrão de mudanças comum a todos os membros de determinada espécie. Apesar das diferenças, Binet e Gesell estabeleceram padrões de comportamento para avaliar a inteligência ou o desenvolvimento da criança. Os fatores biológicos são os mais decisivos na determinação da inteligência e desenvolvimento; tais padrões comportamentais são independentes de fatores externos ou do contexto social em que a criança vive. Não importa o lugar e a época em que a criança viva. Se o ritmo e o desenvolvimento são biologicamente determinados, espera-se que certos comportamentos apareçam na mesma idade. De acordo com a perspectiva inatista-maturacionista, a aprendizagem depende do desenvolvimento. Ou seja, o que a criança é capaz ou não de aprender é determinado pelo seu nível de inteligência. Para mais informações sobre como a psicologia pode ajudar no aprendizado, veja a psicologia escolar. 

https://www.willassuncao.com.br/2022/02/inatismo-ambientalismo-e-interacionismo.html 

INATISMO

A abordagem Inatista traz a concepção de que a prática pedagógica não advém de circunstâncias contextualizadas, ela baseia-­se nas capacidades básicas do ser humano. Ou seja, a personalidade, a forma de pensar, seus hábitos, seus valores, as reações emocionais e o comportamento são inatos, isto é, nascem com o indivíduo e seu destino já vem pré­-determinado. Os eventos que ocorrem após o nascimento não são essenciais ou importantes para o desenvolvimento. Destaca-se como teórico, Arnold Gessel. 

AMBIENTALISMO 

 A abordagem ambientalista, também chamada de behaviorista ou comportamentalista, privilegia a experiência como fonte do conhecimento e formação de hábitos, atribuindo um grande poder ao ambiente no desenvolvimento e na constituição das características humanas. 

O ambiente para B.F. Skinner é muito mais importante do que a maturação biológica. São os estímulos presentes numa dada situação que levam ao aparecimento de um determinado comportamento. 

INTERACIONISTA 

Segundo os interacionistas, o organismo e o meio exercem ações recíprocas, ou seja, um influencia o outro acarretando mudanças sobre o indivíduo. Eles discordam das teorias inatistas por desprezarem o papel do ambiente e das concepções ambientalistas por ignorarem fatores maturacionais. 

É na interação da criança com o mundo físico e social que características deste mundo vão sendo conhecidas e assim ela poderá, através de sua ação sobre ele, ir construindo seus conhecimentos. 

Portanto, a concepção interacionista de desenvolvimento acredita na ideia de interação entre o organismo e o meio, na qual resulta a aquisição de conhecimentos, como um processo construído pelo indivíduo que dura a vida toda. 

O bebê constrói suas características, ou seja, seu modo de agir, pensar, sentir e sua visão de mundo, através da interação com outras pessoas, adultos e crianças. Podemos destacar duas correntes teóricas que defendem a visão interacionista de desenvolvimento: a elaborada por Piaget e seus seguidores e a defendida por teóricos soviéticos, em especial por Vygotsky. Destaca-se como teórico também Wallon.