"O princípio básico da atividade médica continua sendo "primeiro não fazer mal" (primum non nocere), e seu cumprimento implica o respeito à experiência pessoal de saúde e à normalidade (e suas variações) e evitar a arrogância de estabelecer normas, questionários e medidas que transformam a alegria de viver em preocupação ansiosa por não se ver incluído nos limites estreitos "saudáveis", determinados com rigor mais comercial do que científico. A atividade de saúde tornou-se poderosa com as suas técnicas, medicamentos e intervenções. Por isso, requer prudência na sua aplicação, pois a sua capacidade de fazer muita coisa boa corre paralela à sua capacidade de produzir um dano imenso. É perigoso alterar artificialmente os limites da saúde para estreitá-la com definições que transformam situações normais em patológicas (a medicalização da vida). Com isso se justificam mais e mais intervenções preventivas que transformam pessoas saudáveis em pacientes (ou se comportam como tal, uma vez que são doentes imaginários com consultas e retornos, exames e mais exames e medicamentos, por vezes, para a vida toda, com a angústia e o sofrimento decorrentes)."
Do livro São e Salvo. E livre de intervenções médicas desnecessárias.
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