Li a conclusão de 20 páginas de "Os donos do poder" de Raymundo Faoro mencionado no livro de antropologia "Você sabe com quem está falando? Um estudo sobre o autoritarismo brasileiro" de Roberto DaMatta, para compreender melhor o livro de antropologia.
Faoro se refere ao estamento como uma estrutura de poder que se mantém ao longo do tempo histórico e que reprime ou atrai as pessoas de acordo com a utilidade ao estamento. Não tem apenas um lado ideológico. A parte mais importante que ele menciona para o outro livro é que o aspecto moderno recente da sociedade é apenas um verniz e que os aspecto histórico profundo e mais antigo se mantém.
A cultura aristocrática e autoritária do Brasil que DaMatta se refere foi formada nesse ambiente histórico mais antigo. Então como relaciono tudo com saúde mental e psiquiatria, fiquei pensando na função social da psiquiatria de manter um status quo tradicional usando as estratégias manicomiais. Portanto, psiquiatria combina muito com a ideia de "pessoa" (aquele que é alguém) como supercidadão com pessoas conhecidas que dão um apoio à parte das normas e leis aplicadas ao "ninguém" (indivíduo) como subcidadão sem poder. A dinâmica psiquiátrica não poderia ser separada dessa tradição mais profunda e portanto a psiquiatrização na cultura brasileira poderia envolver o poder do supercidadão sobre o subcidadão. Os métodos autoritários da psiquiatria seriam aplicados aos "ninguém", aqueles que não trabalham ou não tem poder social. A subcidadania chegando ao ponto de construir instituições com lógica de campo de concentração no passado (Holocausto Brasileiro).
Então porque a psiquiatria biológica e tradicional (manicomial) sente mal-estar com a reforma psiquiátrica? Não estariam eles a serviço dos supercidadãos (aqueles que merecem ser protegidos) da loucura alheia entendida de forma manicomial? Mas mais importante: não seriam os psiquiatras biológicos supercidadãos?
A "doença mental biológica" é discurso ideológico (demonstrável com referências teóricas de análise do discurso) que mantém essa lógica histórica da tradição profunda, cobrando das pessoas se curvar às pessoas com poder.
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