Estudo 1
Prevalência de ansiedade e fatores associados em adultos
Camilla Oleiro da Costa
Jerônimo Costa Branco
Igor Soares Vieira
Luciano Dias de Mattos Souza
Ricardo Azevedo da Silva
As variáveis sexo, anos de estudo, renda, doenças crônicas, tabagismo e abuso de álcool foram associadas a mais de três transtornos de ansiedade investigados.
Tinham relação com o grupo social em que estavam inseridos os indivíduos estudados, a pouco apoio social e a dificuldades de adaptação ao meio, ou ainda à existência de problemas no trabalho ou ambiente educacional, com a experimentação de situações de desaprovação e rechaço 11
Por fim, problemas econômicos também podem estar relacionados à alta prevalência desses quadros, em virtude da dificuldade de cumprir com a responsabilidade de efetuar pagamentos, comprar bens necessários e manter hábitos.
Outra possível justificativa pode estar relacionada à exposição à violência que a mulher vem enfrentando cotidianamente, o que pode deixá-la em constante sensação de medo, angústia e ansiedade14.
Causa prejuízo funcional na vida dos indivíduos e consequências graves, como a dificuldade de arranjar emprego, a de conviver em grupos e de participar de atividades de lazer.
A raça/cor da pele pode interferir nas oportunidades educacionais, financeiras e sociais, influenciando a posição socioeconômica no contexto atual de quem vive no Brasil. E as características socioeconômicas apresentam maior relação com os transtornos de ansiedade do que a própria raça do indivíduo15.
O Brasil, onde o transtorno de ansiedade está presente em 9,3% da população geral, se destaca, possuindo o maior número de casos de ansiedade entre todos os países do mundo16.
Os participantes da pesquisa apresentam uma idade mais vulnerável para a ansiedade, por estarem em busca do engajamento no mercado de trabalho, reconhecimento profissional e, muitas vezes, passando pela experiência da maternidade e formação de família, visto que essa amostra está compreendida entre 18 e 35 anos de idade.
*Quando analisados, estudos com crianças e adolescentes mostram que a prevalência de ansiedade na vida adulta pode ser um reflexo originado desde a infância e juventude.
O grupo com menos anos de estudo foi o que apresentou maior prevalência de transtornos de ansiedade (p < 0,001). Os anos de estudo também apresentaram relação com a prevalência dos quadros individuais de transtornos de ansiedade (exceto para o transtorno de pânico, que não teve relação estatisticamente significativa). Quanto menos anos de estudo, maior a prevalência de TAG, fobia social, TOC, TEPT e agorafobia. Na literatura, é encontrada relação da maior prevalência de transtornos de ansiedade e menor escolaridade19, e uma das hipóteses para esse achado pode estar relacionada às dificuldades que os jovens enfrentam no ambiente escolar e acadêmico, como as preocupações com o desempenho ou déficits de aprendizagem, e os transtornos de ansiedade podem limitar os indivíduos na tentativa de atingirem maior rendimento escolar11. A baixa escolaridade ainda pode estar relacionada a menor renda e piores oportunidades de trabalho. Dado semelhante ao do presente estudo foi encontrado por Souza20 e Torres et al.21, que associaram a renda mais baixa à presença de TAG20 e TOC21. A exposição a condições socioeconômicas mais desfavorecidas e fatores relacionados (violência, dificuldade de acesso aos serviços de saúde, desemprego, má distribuição econômica, entre outros) pode ser potencializadora dos quadros de ansiedade, facilitando tanto o surgimento como o agravo daqueles já existentes.
A presença de doenças crônicas (de diferentes ordens), a iminência de agravos e a dificuldade de acesso aos serviços de saúde podem ser geradoras de ansiedade. Esse estudo encontrou essa associação, ou seja, o grupo que relatou ter alguma doença crônica apresentou maior prevalência de ansiedade (p < 0,001). E quando os transtornos foram avaliados individualmente, o grupo com doenças crônicas apresentou maior prevalência em todos os quadros.
O presente estudo identificou que os indivíduos do sexo feminino, com menos anos de estudo, baixo nível socioeconômico, histórico de doenças crônicas, usuários de tabaco e abusadores de álcool foram os que apresentaram maior probabilidade de apresentar transtornos de ansiedade.
estudo 2
Epidemiologia dos transtornos de ansiedade em regiões do Brasil: uma revisão de literatura
Vitor Iglesias Mangolini 1, Laura Helena Andrade 2, Yuan-Pang Wang 3
O Estudo São Paulo Megacity estimou que somente 23% dos indivíduos diagnosticados com algum tipo de transtornos de ansiedade obtiveram acesso a algum tipo de serviços17. Entre os indivíduos que buscaram por serviços em São Paulo, apenas uma reduzida parcela obteve cuidados em serviços especializados (médicos psiquiatras, psicólogos ou enfermeiras especialistas em saúde mental). Além disso, a proporção de pacientes que utilizaram formas de terapia complementar ou alternativa (grupos de autoajuda, conselheiros religiosos e outros tipos de curandeiros) também foi limitada. Ainda que dados comparativos inexistem, esta taxa de uso de serviços deve ser considerada superior a outras regiões brasileiras17.
A elevada prevalência da ansiedade encontrada no Brasil está em compasso com os dados relativos a outros países. Os transtornos de ansiedade são as condições psiquiátricas mais frequentes no globo1. Tanto a América Latina como o Brasil apresentam taxas de prevalência de ansiedade maiores do que a média global, sendo que o Brasil está situado na 4a. posição entre os países em que a ansiedade apresenta as maiores taxas ao redor do mundo1
.Esse grupo de transtornos mentais apresenta início precoce e persiste ao longo do tempo6,12, atingido um pico durante a vida adulta na 4a.e 5a. década e tendendo a reduzir nos idosos após a 6a. década.
Em relação aos fatores determinantes da ansiedade no Brasil, muitos deles estão de acordo com os estudos em outros países. Alguns fatores usuais foram confirmados por trabalhos com metodologia semelhante à utilizada no Brasil são: idade, sexo, etnia, status socioeconômico familiar, tipo de composição familiar e ter crescido em grandes centros urbanos20.
Em termos de saúde pública, os trabalhos brasileiros indicaram uma associação entre a ansiedade e custos sociais, decorrentes de tratamento e dias perdidos de trabalho. Essas observações estão de acordo com estimativas de outros países, sendo estimado que a ansiedade seja a 2a.principal causa de incapacitação entre os transtornos psiquiátricos1. Na comparação com outros países, o Brasil ocupa a 3a.posição entre os países no mundo com as maiores cargas de incapacitação1.
Assim como no Brasil, em outros países também foram observadas reduzidas taxas de usos de serviços para tratamento da ansiedade e sem adequação clínica21.
Todavia, em países de alta renda, que apresentam serviços de saúde mais estruturados em comparação ao sistema brasileiro, as taxas de uso de serviços nos EUA22 foram quase duas vezes maior que o nosso meio. Assim como no Brasil, o transtorno do pânico também foi o quadro mais frequente nos serviços especializados de outros países, sendo associado a maiores custos para cuidado4. Estes resultados sugerem a necessidade de melhorar o diagnóstico dos transtornos de ansiedade, bem como ampliar o acesso aos tratamentos oferecidos.
Políticas públicas devem otimizar a alocação de recursos de saúde, para facilitar acesso da população ao tratamento dos transtornos de ansiedade. Somente assim, os custos sociais e dias perdidos de trabalho associados à ansiedade podem ser reduzidos juntamente com a sua carga social. Campanhas de conscientização na comunidade devem ser intensificadas para aumentar a identificação dos transtornos de ansiedade, motivando os portadores de ansiedade a buscar cuidados adequados.
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