Algumas reflexões sobre o setembro amarelo (nos limites do facebook)...
Há um grande desejo, manifesto em parte da sociedade, de que as pessoas não tirem suas vidas.
Uma expressão disso é o crescimento, ano após ano, do interesse em
estudar, discutir, divulgar e principalmente prevenir o suicídio, que no
mês de setembro torna-se ainda mais evidente, por conta de uma campanha
internacional que ficou conhecida como setembro amarelo.
Ano após
ano o setembro amarelo vem ganhando força e expressividade, mais e mais
pessoas vêm aderindo às propostas desenvolvidas por entidades diversas,
como o CVV (Centro de Valorização è Vida), grupos de caráter mais
acadêmico e/ou vinculados à universidade, organizações não
governamentais e, principalmente, a ABP (Associação Brasileira de
Psiquiatria), que se arroga a responsabilidade de ter trazido a campanha
para o Brasil (o que parece dizer-nos algo sobre o caráter dessa
campanha).
É certo que dar visibilidade ao fenômeno é necessário, todavia, de que maneira e qual visibilidade se pretende dar?
Sempre que se fala em suicídio (termo que para a grande parte das
pessoas já traz, em si, uma conotação negativa, pejorativa), isso é
feito a partir de uma determinada perspectiva, de uma certa concepção,
que muitas vezes – principalmente quando estamos falando da
popularização de um tema – não fica explícita, o que tem implicações
para a própria compreensão desse tema.
Há várias formas de se
compreender o suicídio, todas elas marcadas por momentos históricos e
características sociais distintas, ou seja, todas elas produtos de uma
cultura, numa dada sociedade, em um certo momento histórico, defendendo
determinados interesses, queiram ou não, saibam ou não, explicitem ou
não; aqueles que manifestam essas compreensões.
O que é mais visível
nessas manifestações referentes ao setembro amarelo é que há, em grande
parte das pessoas, principalmente aquelas que são leigas (ou quase)
sobre o assunto, uma profunda boa vontade e intenção de ajudar, de forma
voluntária e espontânea, partindo de suas crenças e concepções de
mundo, de humano, de vida e de morte; sem pararem para pensar, muitas
vezes, o que significa aquilo que estão defendendo e outras tantas
vezes, fazendo coro com ideias que sequer sabem de onde vieram e a quais
interesses compõem.
Vivemos em uma sociedade em que a morte em
geral (e não só o suicídio) é um fenômeno do qual uma parte considerável
das pessoas quer manter distância. Apesar de sua inevitabilidade, as
pessoas querem que ela seja o mais tarde possível, para si e para seus
próximos. Nessa sociedade, em que se quer ter distância da morte,
busca-se, ao mesmo tempo, a manutenção da saúde e da vida a qualquer
custo. Em uma sociedade em que a grande maioria quer viver o máximo
possível e ser saudável, o que significa alguém tirar a própria vida? A
interdição do suicídio aparece como algo premente, a valorização da vida
deve ser a qualquer custo, agora, de qual vida!?
Deseja-se que as
pessoas permaneçam vivas, não que elas possam ter uma vida que não lhes
faça desejar a morte, a preocupação está muito mais em que elas não se
matem do que nelas terem uma vida que seja digna de ser vivida.
O
suicídio é historicamente um tabu porque ele faz emergir um conjunto de
informações sobre a sociedade que não se deseja que venha à tona, já que
explicita os melindres daquela sociedade. Assim, para se falar
abertamente sobre o suicídio, sem expor esse conjunto de informações, é
necessário atribuir-lhe determinadas características, que costumam
reforçar um conjunto de concepções ideológicas acerca desse fenômeno, em
geral aquelas que costumam encontrar nos próprios indivíduos as causas e
os determinantes para que busquem suas próprias mortes, seja por conta
de transtornos psíquicos (em geral explicados a partir de determinantes
biológicos) ou de características psicológicas, reforçando assim o
caráter individual desse fenômeno e velando o que nas relações que esses
sujeitos estabelecem lhes produz o desejo de tirar suas próprias vidas.
Ao aparecer, ideologicamente, como uma questão de ordem individual
(como uma parte considerável dos fenômenos sociais costumam aparecer),
frequentemente patologizada, a forma de se lidar com o fato também toma
esse mesmo caráter, assim, a questão deve ser resolvida no próprio
indivíduo, por ele ou por quem possa impedi-lo, entretanto, as condições
que lhe fazem desejar e buscar a própria morte permanecem intactas e
ocultas.
Utilizam-se a terapia, os remédios e até mesmo as
internações, produzem-se cartilhas para a prevenção, busca-se das mais
diversas formas impedir que os sujeitos atentem contra si mesmos, mas a
vida, as relações, as condições de existência, de saúde, de educação,
afetivas,... Todas elas permanecem não apenas intocadas, como ocultas,
causando naquele mesmo indivíduo e em um conjunto de outros indivíduos
os mesmos desejos de não quererem vivê-las.
Nesse ano de 2016 a
discussão tem tomado grandes proporções (significativamente maiores que
nos anos anteriores), muitas matérias de jornal, muitas atividades nos
mais diversos locais, muita gente envolvida, participando dessas
atividades e compartilhando nas redes sociais o conjunto dessas
iniciativas, muito apelo, tudo isso, na maior parte das vezes, motivado
por um voluntarismo espontaneísta de fazer com que as pessoas permaneçam
vivas, mas sem refletir criticamente sobre isso e sem se colocarem as
questões acima expostas. São reproduzidas as visões hegemônicas sem
qualquer questionamento, algumas vezes um tanto de informações que
sequer são convergentes, mas o importante é dar visibilidade, é falar
sobre, é fazer algo, não importa exatamente o quê, chegando ao ponto de
um enorme conjunto de pessoas começar a disponibilizar seus celulares,
whatsapp’s, chats privados e afins para escutarem e acolherem aqueles
que estão sofrendo de alguma maneira, como se isso fosse, de fato,
resolver alguma coisa. Essas concepções e compreensões acríticas,
voluntaristas e espontaneístas, no final das contas, apenas contribuem
para que a sociedade se mantenha como é, para que tudo permaneça como
está, para que os problemas sigam sendo localizados nos indivíduos.
Na medida em que a mídia assumisse um papel crítico e parasse de
reproduzir as concepções hegemônicas, em que os profissionais da saúde
avançassem aos determinismos (principalmente biológico e psicológico) e
explicitassem as contradições dessa sociedade, que as pessoas começassem
a refletir sobre essas mortes para além dos indivíduos, que houvesse
uma disposição em mudar radicalmente as condições de saúde e de vida das
pessoas, então começaríamos a dar alguma visibilidade de fato a essa
questão tão delicada e importante, não mais no sentido de ideologizar a
realidade, mas no sentido de explicitá-la, para explicitar a necessidade
de superação dessa sociedade em que a imensa maioria das pessoas vive
em condições miseráveis para que uma ínfima quantidade tenha uma vida
desejável. Entretanto, esperar que isso ocorra me parece um tanto
ingênuo, a mídia está cumprindo seu papel, as ciências particulares
estão cumprindo seus papéis, a ideologia está cumprindo seu papel... O
setembro amarelo é isso, uma estratégia de visibilidade para ocultar
onde de fato os problemas se encontram, com ampla participação das
pessoas, para que todas se sintam colaborando... e estão... só não sabem
exatamente para quê!
Não deve nos bastar manter as pessoas vivas,
vivendo uma vida indesejável, que para se tornar suportável exige que,
muitas vezes, lancem mão de vitaminas, fármacos e outras drogas, lícitas
ou ilícitas. Ou nós extinguimos o capitalismo, ou ele seguirá nos
matando, das mais diversas formas, entre as quais o suicídio.
Limitações da psiquiatria biomédica Controvérsia entre psiquiatras farmacológicos e reforma psiquiátrica Psiquiatria não comercial e íntegra Suporte para desmame de drogas psiquiátricas Concepções psicossociais Gerenciamento de benefícios/riscos dos psicoativos Acessibilidade para Deficiência psicossocial Psiquiatria com senso crítico Temas em Saúde Mental Prevenção quaternária Consumo informado Decisão compartilhada Autonomia "Movimento" de ex-usuários Alta psiquiátrica Justiça epistêmica
Pacientes produtores ativos de saúde (prosumo)
Essa avalanche de informações e conhecimento relacionada à saúde e despejada todos os dias sobre os indivíduos sem a menor cerimônia varia muito em termos de objetividade e credibilidade. Porém, é preciso admitir que ela consegue atrair cada vez mais a atenção pública para assuntos de saúde - e muda o relacionamento tradicional entre médicos e pacientes, encorajando os últimos a exercer uma atitude mais participativa na relação.
Ironicamente, enquanto os pacientes conquistam mais acesso às informações sobre saúde, os médicos têm cada vez menos tempo para estudar as últimas descobertas científicas ou para ler publicações da área - on-line ou não -, e mesmo para se comunicar adequadamente com especialistas de áreas relevantes e/ou com os próprios pacientes.
Além disso, enquanto os médicos precisam dominar conhecimentos sobre as diferentes condições de saúde de um grande número de pacientes cujos rostos eles mal conseguem lembrar, um paciente instruído, com acesso à internet, pode, na verdade, ter lido uma pesquisa mais recente do que o médico sobre sua doença específica.
Os pacientes chegam ao consultório com paginas impressas contendo o material que pesquisaram na internet, fotocópias de artigos da Physician's Desk Reference, ou recorte de outras revistas e anuários médicos. Eles fazem perguntas e não ficam mais reverenciando a figura do médico, com seu imaculado avental branco.
Aqui as mudanças no relacionamento com os fundamentos profundos do tempo e conhecimento alteraram completamente a realidade médica.
Livro: Riqueza Revolucionária - O significado da riqueza no futuro
Aviso!
Aviso!
A maioria das drogas psiquiátricas pode causar reações de abstinência, incluindo reações emocionais e físicas com risco de vida. Portanto, não é apenas perigoso iniciar drogas psiquiátricas, também pode ser perigoso pará-las.
Retirada de drogas psiquiátricas deve ser feita cuidadosamente sob supervisão clínica experiente. [Se possível] Os métodos para retirar-se com segurança das drogas psiquiátricas são discutidos no livro do Dr. Breggin: A abstinência de drogas psiquiátricas: um guia para prescritores, terapeutas, pacientes e suas famílias.
Observação: Esse site pode aumentar bastante as chances do seu psiquiatra biológico piorar o seu prognóstico, sua família recorrer a internação psiquiátrica e serem prescritas injeções de depósito (duração maior). É mais indicado descontinuar drogas psicoativas com apoio da família e psiquiatra biológico ou pelo menos consentir a ingestão de cápsulas para não aumentar o custo do tratamento desnecessariamente.
Observação 2: Esse blogue pode alimentar esperanças de que os familiares ou psiquiatras biológicos podem mudar e começar a ouvir os pacientes e se relacionarem de igual para igual e racionalmente.
A mudança de familiares e psiquiatras biológicos é uma tarefa ingrata e provavelmente impossível.
https://breggin.com/the-reform-work-of-peter-gotzsche-md/
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