Aqueles que representam ameaças para si mesmos ou para a
sociedade em geral, freqüentemente, são entregues às instituições.
Ali, permitimos a eles apenas relações sociais limitadas, privamos os
mesmos de liberdade de movimento e de oportunidades de tomar
decisões; proibimos, ainda, a maioria das comodidades que eles
desfrutariam no mundo exterior. Freqüentemente justificamos estas
instituições como instrumentos para mudanças benéficas: "escolas"
para deficientes supostamente ensinam a seus alunos novas habili-
dades para ajudá-los a superar suas limitações, "hospitais" para
doentes mentais supostamente curam-nos, "instituições" correcio-
nais supostamente reabilitam infratores.
Entretanto, a localização destas instalações em áreas relati-
vamente despovoadas e de difícil acesso (pelo menos inicialmente,
antes que as cidades ou subúrbios tenham crescido à sua volta)
indicam o que realmente pretendemos com elas. Espera-se que elas
mantenham o retardado, o louco e o criminoso fora de circulação.
Entregamos estas instalações "humanas" a membros de profissões
assistenciais — médicos, enfermeiros, psicólogos, analistas do com-
portamento, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, professores, assistentes
sociais e funcionários penitenciários — e lavamos nossas mãos dos
problemas.
Seu isolamento geográfico, seus muros, grades, portões e
torres de segurança e a tendência pública de ignorar o simples fato
de sua existência deixam essas instituições quase que completamen-
te sem controle externo. Sejam quais forem os impulsos humanitá-
rios que possam de início ter gerado seu estabelecimento, sua isen-
ção da obrigatoriedade de prestar contas ao público transforma a256
Murray Sidrrvan
maioria delas em um pouco mais dos que depósitos para os social-
mente desajustados. As prioridades imediatas das equipes de fun-
cionários, a conveniência administrativa, a docilidade do interno e a
obediência às normas e regulamentos substituem os objetivos edu-
cacionais, terapêuticos ou correcionais de longo prazo. A coerção
torna-se a técnica preferida para fazer os internos "se comportarem".
Uma instituição que funciona principalmente para o benefí-
cio do corpo de funcionários dá pouca importância aos nocivos efei-
tos colaterais da coerção. Desta forma, encontramos a predominân-
cia da coerção no tratamento de pessoas retardadas, dos doentes
mentais e de criminosos de todos os tipos. Quando a pressão públi-
ca ou judicial por reforma surge efetivamente, ela é efêmera e geral-
mente ineficaz, já que concentra a atenção nas instalações físicas e
nos procedimentos administrativos. Raramente uma investigação
avalia de fato a racionalidade e a aplicação das técnicas de controle
do comportamento. Por causa da incompreensão e da incompetên-
cia, alguns dirigentes institucionais e membros das profissões assis-
tenciais deturpam e alteram o conceito de reforçamento, tornando-o
irreconhecível, tentando transformar até mesmo o reforçamento po-
sitivo em um instrumento de coerção.
Coerção e suas implicações - Sidman
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