"Suponhamos, por exemplo, que alguém nos garante que todo comportamento criminoso, ou todo desvio sexual, ou todos os desejos e decisões suicidas, são sintomáticos de doença mental. Hoje em dia é frequente ouvir coisas destas, notadamente por pessoas que são pagas para saber acerca disso. A primeira questão a opor a esses porta-vozes psiquiátricos, antes de começarmos e perguntar-nos se o que está sendo dito é verdade, é: "Que coisa está realmente sendo dita?" Estamos realmente perante uma autêntica afirmação contingente, ou trata-se simplesmente, em última análise, de uma questão de definição e de critérios mais ou menos arbitrariamente escolhidos? Ou seja, o que eles afirmam é que fizeram uma descoberta, talvez a descoberta de que todos os que cometem crimes são também doentes mentais, conformemente a critérios completamente independentes; ou será que eles estão tomando o próprio cometimento de um crime como um critério de doença mental, insistindo, de fato, que um tal comportamento constitui uma condição logicamente suficiente para ser doente mental, e que portanto para eles seria contraditório dizer que alguém está cometendo um crime mas não é doente mental? Em resumo, será que estamos na mesma situação do tempo em que o suicídio ainda era considerado crime pelas leis inglesas, e os júris, sem examinarem qualquer evidência psiquiátrica tecnicamente especializada, regularmente concluíam pelo veredito "Suicídio, durante perturbação do equilíbrio mental"?"
pág. 38
Livro: Pensar direito. Autor: Antony Flew.
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