"A boa vida que Huxley retratou (com desprezo, naturalmente) era
sentida como boa. Não foi acidental ter incluído uma forma de arte
chamada feelies (to feel = sentir) e drogas que produziam ou mudavam
os sentimentos.
As
boas coisas da vida têm, entretanto, outros efeitos. Um deles é a
satisfação das necessidades, no sentido simples de alívio do
desconforto. Algumas vezes comemos para escapar das cãibras de fome
e tomamos comprimidos para aliviar a dor, e por compaixão
alimentamos os famintos e curamos os doentes. Para tais propósitos
planejamos uma cultura que dê a cada qual “ de acordo com suas
necessidades”. Mas a satisfação é um objetivo limitado; não
ficamos necessariamente felizes por termos tudo quanto queremos. A
palavra sated (saciado) tem relação com a palavra sad (triste). A
simples abundância, quer numa sociedade afluente, quer num clima
benévolo, quer num Estado paternalista, não é o suficiente. Quando
as pessoas recebem de acordo com as suas necessidades
independentemente do que fizerem, permanecem inativas. A vida
abundante é uma terra de montanha-de-doce ou o País de Cocanha. É
a Schlaraffenland a terra dos preguiçosos — de Hans Sachs, e o
ócio é o único objetivo dos que estiveram compulsivamente ou
ansiosamente ocupados.
O
céu é comumente descrito pela lista das coisas boas que nele se
encontram, mas ninguém ainda planejou um céu de fato interessante,
seguindo esse princípio. O importante quanto às coisas boas da vida
é o que as pessoas estão fazendo quando as obtêm.
As
contingências de seguir as regras são freqüentemente mal
planejadas e os membros da cultura dificilmente levam em conta as
conseqüências líquidas. Ao contrário, resistem a essa espécie de
controle. Recusam-se a fazer o que se lhes pede e abandonam a cultura
— como ermitãos, vagabundos ou hippies — ou permanecem nela
contestando seus princípios."
Skinner. Contingências do reforço.
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