O problema central do modelo biomédico não reside em uma espécie de maldade intrínseca que o caracterizaria, mas no fato de que ele é demasiado restrito no seu poder explicativo, o que implica em óbices importantes para a prática de médicos e pacientes. Tal como ressalta Bennet (1987), médicos sensíveis estão insatisfeitos com o referido modelo, não propriamente porque o mesmo não responde a muitos dos problemas clínicos e sim, devido ao fato de que se dão conta das reações psicológicas dos seus pacientes e dos problemas socioeconômicos envolvidos na doença, mas não vêem como incorporar essas informações na formulação diagnóstica e no programa terapêutico.
No que respeita aos medicamentos, ao hipervalorizar as funções que os mesmos podem vir a desempenhar, além da geração de uma dependência pela qual se crê que, para todo e qualquer problema, independentemente de sua gravidade ou nexos causais, haverá uma pílula salvadora, deparamo-nos com um incremento nos custos, tanto econômicos, quanto, propriamente, sanitários. Essa verdadeira "cultura da pílula", identifica bons níveis de saúde, com alto grau de consumo. Prescritos ou não por médicos - já que, em nosso país, os balconistas de farmácia também atuam como prescritores (Barros, 1997) - ou consumidos através da automedicação, a expectativa criada é sempre favorável, em relação às novidades, continuamente, lançadas no mercado pela indústria ou prometidas para logo mais, desconsiderando-se por um lado que, muitas das supostas novidades, na realidade não o são (Barros, 1996) e, sobretudo, que um padrão de saúde adequado, menos que fármacos, com mais freqüência, requer mudanças sociais ou comportamentais ou, no caso do Estado, menos gastos com compra de medicamentos e mais com saneamento básico, educação ou melhoria nas oportunidades de emprego e de distribuição da renda.
O uso mais adequado dos medicamentos, ao lado de controles mais estritos sobre o registro de novos produtos, implementação de um sistema de farmacovigilância, indispensável ao acompanhamento das reações adversas que surgem pós-comercialização, implica, entre outras estratégias, na disponibilidade de informações isentas do viés mercadológico, tanto para prescritores, como para consumidores. Já está mais do que provado que os produtores de medicamentos investem intensivamente em atividades promocionais (sobre as quais, aliás, urge impor regras que defendam os interesses da coletividade), tendo, inclusive, um duplo padrão de conduta, segundo o país onde disseminam seus produtos e as informações veiculadas sobre os mesmos (Schulte-Sasse, 1988; US Congress OTA, 1993; Barros, 2000).
https://www.saudedireta.com.br/docsupload/133988112808.pdf
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