Eu comecei esse blogue para investigar o substrato biológico dos problemas de saúde mental e os fundamentos da psiquiatria biológica e reforma psiquiátrica. Tive essa ideia porque aprendi numa aula de reforma psiquiátrica e atenção psicossocial que essa era uma disputa da reforma psiquiátrica. Também aprendi durante o curso de psicologia (texto de Ullman e Krasner) que o modelo médico se opõe ao modelo psicológico. O modelo médico explica através de uma causa subjacente interna ao organismo e o modelo psicológico descreve o próprio comportamento em sua relação com o ambiente. Também aprendi que todo comportamento é funcional (tem uma função) e portante é sempre adaptativo. A partir disso, quis investigar se o discurso dos psiquiatras biológicos ou da reforma psiquiátrica tinha mais fundamento. Conclui que muito do que se diz na psiquiatria biológica está mais para ideologia e manipulação de pesquisas do que para boa ciência.
No que diz respeito à análise do comportamento, uma palestra sobre o conceito de função num evento de filosofia da biologia ajudou a pensar o assunto e a chegar a um esboço de resposta. O conceito sistêmico de função na biologia atribui função a tudo e pode ser aplicado a qualquer sistema, seja biológico ou não. Esse conceito tem dificuldades com a disfunção biológica (porque não trabalha origem? Não ficou claro). Acredito que esse seja o conceito usado na análise funcional da análise do comportamento. Não é necessário buscar a origem pois pode-se verificar o que está mantendo o comportamento atualmente. Mas na verdade faz sentido porque todo comportamento tem uma relação com o ambiente e a disfunção precisa ser investigada em outro nível de análise.
Por outro lado, sociedade e psiquiatria biológica são muito rápidos para atribuir disfuncionalidade e incompreensibilidade sem levar em conta os determinantes sociais e ambientais ou sem fazer uma análise funcional. É desejável expandir a capacidade de manejo dos comportamentos através de análises funcionais sistêmicas. É algo realmente poderoso se bem realizado e podem fazer dispensar as intervenções biomédicas. As intervenções biomédicas, por outro lado, são insuficientes e paliativas. A rapidez com que se atribui causas subjacentes disfuncionais aos comportamentos é tão grande quanto a discutibilidade (falta de fundamento) da origem patológica desses comportamentos ou dos diagnósticos psiquiátricos. Por outro lado, a disfunção biológica existe e deve ser melhor investigada. Mesmo assim, a prática psiquiátrica atual é psicológica (e não corporal como o resto da medicina) e se baseia nos efeitos dos fármacos e das intervenções biomédicas nos "sintomas" (comportamentos) e não na origem.
Quanto maior a disfunção biológica mais é exigido da capacidade da análise funcional sistêmica para otimizar a aprendizagem. É possível em casos graves recorrer às intervenções reducionistas/neurológicas. Mas isso depois de análises funcionais sistêmicas competentes se mostrarem insuficientes. A psicologia mentalista tem limitado poder de descrição e manipulação de determinantes do comportamento. Quine se refere às características da linguagem mentalista como sendo linguagem intensional que se refere a contextos opacos (amplos e concretamente pouco definidos). A linguagem mentalista projeta significados a partir de abstrações e é a linguagem comum do cotidiano. A linguagem não mentalista (da análise do comportamento) é extensional, isto é, se refere a eventos concretos definíveis operacionalmente. A psicologia mentalista recorre ao discurso de disfunção da psiquiatria biológica e às intervenções biomédicas como escudo para sua limitada capacidade de manipulação dos determinantes dos comportamentos ("sintomas").
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