Há uma sutileza na relação entre diferença e patologia. Há duas relações simples possíveis:
1 - o patológico é diferente (equivalente a aberrante, anômalo)
ou
2 - o diferente é patológico (leitura sociocultural equivalente a crítica da medicalização e patologização)
O modelo biomédico recorre ao critério de anomalia estatística para definir o patológico. Já as ciências sociais buscam legitimar as diferenças enquanto elementos legítimos da sociedade e cultura.
Para tornar um pouco mais claro:
Em 1, a diferença é uma propriedade (característica) do patológico (o qual é o fenômeno de interesse).
Em 2, o patológico é propriedade (característica) atribuída socioculturalmente ao diferente (o qual é fenômeno de interesse das ciências humanas e sociais).
Desenvolvendo (especificando o aspecto natural e normativo):
1 - o patológico é diferente (equivalente a aberrante, anômalo), sendo a diferença propriedade natural (disfunção) e de natureza normativa (desvio da norma).
ou
2 - o diferente (ou a variabilidade biológica, comportamental e sociocultural dentro de sociedades ou entre sociedades) é patológico (leitura sociocultural equivalente a crítica da medicalização e patologização)
O desvio da norma em 1 é relativo às normas estipuladas contingencialmente e que variam em conteúdo de acordo com circunstâncias, sociedades, culturas, etc. Por outro lado, é possível que a patologia como fato natural em 1 não seja reconhecida culturalmente enquanto tal em certas circunstâncias.
Já a variabilidade de diferentes naturezas em 2 é fato básico da realidade natural e social. Logo, atribuição de patologia em 2 utilizaria valores de tipos diferentes e variáveis aplicados a fatos naturais e sociais. A atribuição de patologia à diferença ou variabilidade portanto teria um interesse normativo. Em linguagem explícita, o interesse normativo precisaria ter suas condições especificadas como: o que, qual, quando, onde, como, por quê, com que finalidade, para quem, etc.
Nenhum comentário:
Postar um comentário