Um problema que não pode ser omitido e que, de certo modo, incomoda
e constrange, é o fato de que, no final das contas, é o médico
quem define se o paciente é competente ou não para decidir se o que
ele faz deve ser considerado sensato, racional, ou não. A propósito,
Abernethy (10) chama a atenção para a possibilidade de o paciente
ser considerado incapaz de decidir simplesmente porque recusa o
tratamento. Alerta para o fato de que o paciente pode ter uma atitude
considerada inadequada em relação ao tratamento, não por ser
incompetente para decidir, mas por mobilizar sentimentos de raiva e
hostilidade em virtude de se sentir coagido a aceitar um tratamento
com o qual não concorda. Tal situação pode, por sua vez, despertar
hostilidade e contra-transferência do médico assistente, que podem
influir negativamente na avaliação da competência do paciente.
Em outras palavras, que seja estabelecida uma parceria entre o médico
e o paciente em que o médico não tente apenas corrigir erros do
paciente, mas seja capaz de aceitar conclusões do paciente
diferentes das suas e de compartilhar com ele os objetivos do
tratamento. Ademais, propõem que as avaliações e decisões sejam
revistas periodicamente, sempre que a mudança das circunstâncias
assim o recomende. Mahler e Perry (13)
asseveram que nem a psicose nem o internamento em hospital
psiquiátrico tornam o paciente incompetente para tomar
decisõesacerca do seu tratamento.
Do texto Doença mental e autonomia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário