Existem estatísticas que demonstrem as taxas de reabilitação de um modelo comparado a outro?
Vamos usar um termo mais geral: indicador de sucesso. A primeira questão, se formos comparar, é literalmente quantitativa. Qual a demonstração da experiência brasileira de reforma psiquiátrica brasileira de 2002 para cá? Basicamente, com o mesmo percentual do orçamento federal, na média 2% do orçamento do Ministério da Saúde – que se manteve mais ou menos estável nesses anos todos – você atende 50 vezes mais pessoas do que antes. Porque se gastava muito dinheiro com poucos hospitais. E esse dinheiro não se revertia em benefícios para o conjunto da população. Proporcionalmente, poucas pessoas eram atendidas com muito dinheiro. O que aconteceu ao longo do tempo? Os recursos do governo federal passaram a ser destinados aos CAPS. Foi havendo cada vez mais recursos para a rede CAPS e cada vez menos para os hospitais. E acompanha essa curva descendente de recursos para os hospitais o aumento do número de pessoas da população atendidas. Essa é a primeira questão. Hoje, muito mais pessoas são atendidas e custa o mesmo X.
Isso não tem a ver com o sucesso do ponto de vista clínico, mas tem a ver com o sucesso do ponto de vista de administração. Do ponto de vista clínico, existe uma geração inteira que nunca passou por um manicômio. Nunca passou por internações prolongadas em hospitais psiquiátricos. O quadro clínico desses pacientes hoje é muito diferente do quadro clínico, digamos caricato, de quem passou por manicômios. Não é que nós encontramos a cura dos doentes mentais, é que eles se encaixam hoje em outro contexto. Tende a haver mais pessoas que mantêm minimamente suas capacidades, muita gente trabalhando, alguma atividade produtiva, mantêm suas articulações e suas relações. Então, qualitativamente, é bem claro: as pessoas têm uma vida melhor. Elas adquirem algum grau de respeito e conseguem respeitar.
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