O conhecimento primário relativo à ordem institucional é o conhecimento situado no nível pré-teórico. É a soma de tudo aquilo que "todos sabem", a respeito do mundo social, um conjunto de máximas, princípios morais, frases proverbiais de sabedoria, valores e crenças, mitos, etc., cuja integração teórica exige considerável força intelectual, conforme comprova a longa linha de heróicos integradores, de Homero aos últimos construtores de sistemas sociológicos. No nível pré-teórico, porém, toda instituição tem um corpo de conhecimento transmitido como receita, isto é, conhecimento que fornece as regras de conduta institucionalmente adequadas.
Este conhecimento constitui a dinâmica motivadora da conduta institucionalizada. Define as áreas institucionalizadas da conduta e designa todas as situações que se localizam dentro destas áreas. Define e constrói os papéis que devem ser desempenhados no contexto das instituições em questão. Ipso facto, controla e prediz todas estas condutas. Sendo este conhecimento socialmente objetivado como conhecimento, isto é, um corpo de verdades universalmente válidas sobre a realidade, qualquer desvio radical da ordem institucional toma caráter de um afastamento da realidade. Este desvio pode ser designado como depravação moral, doença mental ou simplesmente ignorância crassa. Emboras essas delicadas distinções tenham consequências óbvias para o tratamento do indivíduo que se desviou, todas elas participam de um status cognoscitivo inferior no particular mundo social. [Entendi que essas distinções são subprodutos do conhecimento institucional e sua violação]
Do livro A construção social da realidade (p. 93)
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